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Rádio Nacional chega onde falta energia e ajuda população do RS

Repro­dução: © Tânia Rêgo/Agência Brasil

Rádio de pilha ressurge como principal meio de comunicação


Publicado em 18/05/2024 — 10:23 Por Pedro Peduzzi — Repórter da Agência Brasil — Brasília

Um veícu­lo ressurgiu, em meio às águas que levaram caos a cen­te­nas de municí­pios do Rio Grande do Sul. Com a fal­ta de ener­gia e a ausên­cia de sinais de inter­net, boa parte da pop­u­lação gaúcha abriu, como nun­ca, seus ouvi­dos às infor­mações repas­sadas pelo vel­ho rad­in­ho de pil­ha.

Diante desse cenário – e ciente do poten­cial des­ta fer­ra­men­ta de comu­ni­cação –, a Empre­sa Brasil de Comu­ni­cação (EBC) apon­tou um de seus trans­mis­sores de ondas cur­tas para a região e, a exem­p­lo do que há tem­pos faz para a Região Norte do país, está pro­por­cio­nan­do reen­con­tros e aces­sos a serviços bási­cos para a pop­u­lação que, des­de o final de abril, vive tan­tas situ­ações emer­gen­ci­ais.

“Ontem, em um momen­to ter­rív­el que vive nos­so esta­do, sem luz, água e inter­net, sin­tonizei meu bom e vel­ho com­pan­heiro na Rádio Nacional da Amazô­nia, bem no momen­to em que o comu­ni­cador do horário man­da­va uma men­sagem de força para o nos­so povo gaú­cho. Sou comu­ni­cador há 24 anos e apaixon­a­do por rádio. Con­fes­so, ami­gos, às vezes, den­tro do estú­dio não temos a real dimen­são de quan­tos mil­hares de pes­soas, nos locais mais dis­tantes, nos acom­pan­ham. Esse é o rádio”, man­i­festou, por redes soci­ais, o radi­al­ista e morador de Por­to Ale­gre Rafa Hot­to.

As difi­cul­dades de comu­ni­cação não estão restri­tas às tec­nolo­gias de pon­ta que pre­cisam de inter­net. “Até para quem é radioa­mador está difí­cil se comu­nicar, porque nos­so equipa­men­to pre­cisa de mui­ta ener­gia”, disse à Agên­cia Brasil o radioa­mador, telegrafista e téc­ni­co em eletrôni­ca Cianus Luiz Colos­si.

Ex-dire­tor de radiod­i­fusão e ex-chefe do Depar­ta­men­to de Retrans­mis­são da TV Educa­ti­va do Rio Grande do Sul, Colos­si avalia que a tragé­dia no Sul demon­stra a neces­si­dade de o país ter, em mãos, planos mais con­cre­tos para lidar com as difi­cul­dades de comu­ni­cação em momen­tos críti­cos como o atu­al.

“ O país pre­cisa rev­er sua rede nacional de emergên­cia, de um pon­to de vista mais téc­ni­co. A tele­fo­nia bási­ca como nós con­hece­mos colap­sou aqui no esta­do. E, por incrív­el que pareça, a fal­ta de incen­ti­vo dos gov­er­nos que se suced­er­am ao lon­go dos últi­mos anos acabaram tam­bém reduzin­do a capaci­dade e a ini­cia­ti­va das redes dos radioa­madores brasileiros”, acres­cen­tou.

Da Amazônia ao Rio Grande do Sul

Brasília (DF) 06-04-2023 - Por dentro da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), estúdio da rádio nacional da Amazônia durante apresentaçāo de sua programaçāo ao vivo.Foto: Joédson Alves/Agência Brasil
Repro­dução: Estú­dio da Rádio Nacional da Amazô­nia — Foto: Joéd­son Alves/Agência Brasil

Ao dire­cionar um trans­mis­sor de ondas cur­tas para o Rio Grande do Sul, a EBC res­ga­tou, para a região, “a essên­cia do que as ondas cur­tas são para a sociedade”, expli­cou o ger­ente exec­u­ti­vo de Rádios da empre­sa, Thi­a­go Regot­to.

“A gente já vem fazen­do as pau­tas na pro­gra­mação que orig­i­nal­mente esta­va só para a Amazô­nia, mas com o ajuste das ante­nas, feito no últi­mo final de sem­ana, a gente começou a faz­er faixas exclu­si­vas para falar com a pop­u­lação do Rio Grande do Sul”, acres­cen­tou.

Como empre­sa públi­ca fed­er­al, gesto­ra da maior parte das ondas cur­tas do país, a EBC, segun­do ele, está pro­por­cio­nan­do, via ondas cur­tas e tam­bém stream­ing e satélite, que emis­so­ras locais acessem con­teú­do radiofôni­co infor­ma­ti­vo de qual­i­dade, bem como sir­vam de espaço para o ouvinte inter­a­gir e con­tar a sua real­i­dade.

“A gente dá espaço a espe­cial­is­tas e a notí­cias, por meio dessa que é a úni­ca fer­ra­men­ta que fun­ciona ness­es momen­tos com muitas cidades sem luz. E infor­mação é algo trans­for­mador”, disse ao lem­brar que, “pela exper­iên­cia tradi­cional, o rádio é um com­pan­heiro”.

“Em situ­ações como a atu­al, ele [rádio] real­mente vira os braços dire­ito e esquer­do [da pop­u­lação]. Bas­ta ter um rad­in­ho de pil­ha para ter­mos con­teú­dos que fazem a difer­ença”.

Ponto de Encontro

De acor­do com Regot­to, o con­teú­do colo­ca­do no ar pela Rádio Nacional inclui espe­cial­is­tas e pes­soas que pas­sam por difi­cul­dades neste momen­to. “Há tam­bém mui­ta inter­ação entre os ouvintes. O que a gente já fazia em ondas cur­tas para Amazô­nia, esta­mos fazen­do ago­ra em ondas cur­tas para o Rio Grande do Sul”, com­ple­men­tou ao se referir a pro­gra­mas como o Pon­to de Encon­tro, da Rádio Nacional da Amazô­nia, que tem como apre­sen­ta­do­ra Edileia Mar­tins, ou Didi Mar­tins, como é chama­da pelos ouvintes mais assí­du­os.

“O Pon­to de Encon­tro é um pro­gra­ma muito inspi­rador, ded­i­ca­do a cri­ar um espaço que não ape­nas infor­ma, mas tam­bém conec­ta e for­t­alece, com infor­mações, as pes­soas. A gente pas­sa men­sagens de pes­soas que estão pre­cisan­do man­dar reca­do a suas famílias. Sou uma espé­cie de ponte entre os ouvintes. Essa inter­ação é um dos aspec­tos mais grat­i­f­i­cantes. Ouço histórias e respon­do às neces­si­dades, crian­do vín­cu­los muito espe­ci­ais e con­tribuin­do para a val­oriza­ção das pes­soas e da cidada­nia”, expli­cou a apre­sen­ta­do­ra do pro­gra­ma.

Didi Mar­tins vê poten­cial sim­i­lar no novo desafio de cen­trar esforços na aju­da às víti­mas das enchentes no Rio Grande do Sul. “É esse o meu dese­jo nesse momen­to, já que as nos­sas ante­nas estão voltadas para lá, nes­sa conexão. Quem pre­cis­ar enviar um reca­do, seja para avis­ar que está tudo bem, seja para falar de suas neces­si­dades ou mes­mo para ter, no rádio, um lugar de car­in­ho, afe­to, acol­hi­men­to, amizade ou o que mais for, podem con­tar com a gente”, acres­cen­tou.

Principal forma de comunicação

Brasília (DF) 06-04-2023 - Por dentro da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), vista de todas as redações do complexo EBC (Rádio Nacional, TV Brasil, Agência Brasil e Radioagência Nacional). Foto: Joédson Alves/Agência Brasil
Repro­dução: Redação da Rádio Nacional, TV Brasil, Agên­cia Brasil e Radioagên­cia Nacional — Foto: Joéd­son Alves/Agência Brasil

Morador da cidade de Canoas, o zelador Belmiro Prates, 62 anos de idade, é uma das víti­mas das cheias. A por­taria do pré­dio onde mora foi inva­di­da pelas águas, que chegaram à mar­ca dos 4 met­ros, deixan­do inclu­sive seu car­ro sub­mer­so. Ele foi res­gata­do na segun­da-feira (13) por uma equipe da Defe­sa Civ­il. Des­de então, com a fal­ta de ener­gia, tele­fo­nia e inter­net, teve difi­cul­dades para se infor­mar e para infor­mar seus entes e ami­gos queri­dos sobre sua situ­ação.

Segun­do ele, os rad­in­hos de pil­ha que­braram bar­reiras para quem está sem TV e luz, tor­nan­do-se a prin­ci­pal for­ma de comu­ni­cação. “Daqui, só foi pos­sív­el ficar a par das coisas graças ao rádio e à pro­gra­mação da Rádio Nacional. Ten­ho con­heci­dos no Ama­zonas, e foi graças à entre­vista que dei, que con­segui man­dar reca­do a todos, dizen­do que estou bem”, rev­el­ou à Agên­cia Brasil.

Foi tam­bém pela rádio que ele teve aces­so a infor­mações impor­tantes sobre a pre­visão do tem­po e sobre a situ­ação em out­ras local­i­dades da região, onde moram pes­soas queri­das.

Belmiro Prates vê na tragé­dia do Rio Grande do Sul motivos para se repen­sar muitas coisas rela­cionadas ao rádio. “Isso vai além da questão do entreten­i­men­to. Está mais clara do que nun­ca a util­i­dade das ondas cur­tas e médias, e isso pre­cisa ser expli­ca­do às pes­soas”, afir­ma.

Ondas curtas

Rádio Nacional da Amazônia
Repro­dução: Rádio Nacional da Amazô­nia — Mar­cel­lo Casal Jr/Agência Brasil

As rádios de ondas cur­tas pos­si­bili­tam a sin­to­nia de estações em áreas remo­tas. Ao con­trário das rádios AM e FM, que usam ondas de maior com­pri­men­to, as rádios OC uti­lizam ondas de rádio que podem refle­tir na ionos­fera (cama­da elet­ri­fi­ca­da da atmos­fera ter­restre). Dessa for­ma, pos­si­bili­ta, ao sinal, via­jar por dis­tân­cias mais lon­gas, alcançan­do inclu­sive ouvintes em difer­entes con­ti­nentes.

Com uma autor­iza­ção dada pelo Min­istério das Comu­ni­cações, a pro­gra­mação veic­u­la­da pela Rádio Nacional pode tam­bém ser repro­duzi­da por out­ras rádios enquan­to durar a situ­ação de calami­dade públi­ca no esta­do.

A coor­de­nado­ra da Rádio Nacional em ondas cur­tas para a Amazô­nia e para o Rio Grande do Sul, Taiana Borges, ressalta que o inter­esse de diver­sas emis­so­ras de rádio em usar o mate­r­i­al pro­duzi­do pela EBC foi ime­di­a­to e tomou pro­porção maior do que a imag­i­na­da.

“O [pro­gra­ma] Sin­to­nia com o Sul vai ao ar das 7h às 7h30 e das 17h às 18h30. Nele traze­mos notí­cias, prestação de serviço, pre­visão do tem­po, aler­tas, situ­ação dos rios no Sul, entre­vis­tas e todo tipo de infor­mação que pos­sa aju­dar a pop­u­lação do Rio Grande do Sul neste momen­to de calami­dade públi­ca”, expli­cou a coor­de­nado­ra referindo-se à pro­gra­mação que vai ao ar nas fre­quên­cias de 6.180 kHz e 11.780 kHz das ondas cur­tas.

Para retrans­mi­tir a pro­gra­mação da EBC, bas­ta às emis­so­ras entrar no site www.ebc.com.br . “Na parte de destaque, bas­ta clicar na matéria Rádio Nacional amplia pro­gra­mação em ondas cur­tas para Região Sul. Lá você vai encon­trar infor­mações como retrans­mi­tir pela inter­net e pelo satélite”, expli­ca.

Faltam radinhos de pilha

rádio,

A situ­ação no sul mostrou tam­bém um out­ro prob­le­ma, fal­tam rádios de pil­ha no Brasil. “Hoje vemos a neces­si­dade de se estim­u­lar a fab­ri­cação desse item, de for­ma a mel­hor via­bi­lizar o uso das ondas cur­tas em situ­ações emer­gen­ci­ais como a atu­al no Rio Grande do Sul”, defende Taiana Borges.

Enquan­to isso não acon­tece, ela sug­ere que as pes­soas doem rádios de pil­ha às víti­mas das enchentes. A coor­de­nado­ra cita ini­cia­ti­vas como as ado­tadas por algu­mas uni­ver­si­dades do sul. “Há uma cam­pan­ha inter­es­sante que está sendo fei­ta pela Uni­ver­si­dade de San­ta Cruz do Sul (Unisc), em parce­ria com a Uni­ver­si­dade Fed­er­al de San­ta Maria (UFSM). Elas estão cole­tan­do e dis­tribuin­do rádios de pil­ha em municí­pios afe­ta­dos pelas enchentes, que estão sem sinal de inter­net ou sem ener­gia”, desta­cou.

Edição: Fer­nan­do Fra­ga

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