...
quarta-feira ,11 setembro 2024
Home / Cultura / Rapper Sharylaine luta para abrir caminho para mulheres no hip hop

Rapper Sharylaine luta para abrir caminho para mulheres no hip hop

Repro­dução: © Arte/Agência Brasil

Artista avalia que machismo ainda é obstáculo a ser superado


Pub­li­ca­do em 14/11/2023 — 07:32 Por Daniel Mel­lo — Repórter da Agên­cia Brasil — São Paulo

ouvir:

testeira 3
Repro­dução @Agência Brasil

Ao lon­go de 38 anos de car­reira, a rapper Shary­laine não só lutou para abrir cam­in­ho no hip hop, mas tam­bém tra­bal­hou para deixar as por­tas aber­tas para as mul­heres que vier­am depois. Para a artista, mes­mo 40 anos após a chega­da dessa cul­tura ao Brasil, o machis­mo ain­da é um obstácu­lo a ser super­a­do. “É um prob­le­ma mundi­al, mas que nós mul­heres começamos em vários lugares, em vários momen­tos, a tra­bal­har isso, e tra­bal­har jun­tas, porque a gente entende que só jun­tas nós con­seguimos alcançar mais, dar mais pas­sos. Acho que esse é um proces­so que não tem fim”, ressalta.

Ape­sar das difi­cul­dades, há ale­gria de ver que os diver­sos pro­je­tos con­struí­dos nes­sa tra­jetória têm tor­na­do o ambi­ente do hip hop mais acol­he­dor para as mul­heres. “Me emo­ciono de ter as meni­nas hoje em pata­mares mel­hores, com aces­sos mel­hores, pen­san­do e desen­vol­ven­do sua pro­dução. Não, nec­es­sari­a­mente, depen­den­do de um pro­du­tor para diz­er o que ela vai ter que faz­er”, acres­cen­ta a rap­per que par­ticipou da fun­dação, entre out­ras ini­cia­ti­vas, da Frente Nacional de Mul­heres no Hip Hop.

Toda essa história começou no cen­tro de São Paulo, na Estação São Ben­to de metrô, no iní­cio da déca­da de 1980. Além da boa local­iza­ção, Shary­laine con­ta que o local foi escol­hi­do por questões práti­cas. “O chão é bom, você poder dançar, de cer­ta for­ma, num espaço seguro, e tam­bém tin­ha aces­so à ener­gia elétri­ca, para não gas­tar tan­to com as pil­has”, con­ta a pio­neira.

São Paulo (SP), 10/11/2023 - A rapper Sharylaine fala sobre a cultura Hip Hop no Largo de São Bento. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Repro­dução: Rap­per Shary­laine diz que o machis­mo ain­da é um obstácu­lo a ser super­a­do na cul­tura hip hop — Rove­na Rosa/Agência Brasil

Foi pela dança que a artista chegou ao hip hop. Mas logo Shary­laine pas­sou a empun­har o micro­fone para faz­er rimas. “Eu pen­sa­va assim: ‘não pos­so ser uma mul­her que fala só sobre a questão da mul­her’. Porque não é só isso. A gente não vive só isso. Pen­sar mun­do mes­mo, pen­sar políti­ca, pen­sar a história do meu povo”, lem­bra.

Para a gravação do pro­gra­ma Cam­in­hos da Reportagem, da TV Brasil, Shary­laine voltou à estação de metrô onde a cul­tura hip hop tomou for­ma, reper­cutin­do em todo o país nos anos seguintes. Foi a par­tir dos encon­tros ali que a jovem rap­per, com 20 anos à época, inte­grou a coletânea Con­sciên­cia Black, vol­ume 1, ao lado dos Racionais MC’s. “Eu nem imag­i­na­va que aqui­lo ia ser tão impor­tante para a min­ha tra­jetória”, con­ta.

Con­fi­ra abaixo os prin­ci­pais tre­chos da entre­vista com Shary­laine.

Agên­cia Brasil: Como surgiu a ideia de faz­er encon­tros de hip hop aqui na Estação São Ben­to?
Shary­laine: Foi uma questão de ocu­pação da galera do break­ing, um espaço que via­bi­liza­va: o chão é bom, você poder dançar, de uma cer­ta for­ma, num espaço seguro e tam­bém tin­ha aces­so à ener­gia elétri­ca, para não gas­tar tan­to com as pil­has. As pil­has para rádio eram muito grandes e muito caras. Você pre­cisa­va às vezes de qua­tro, seis, oito pil­has para o rádio fun­cionar. Aqui era um pal­co, que 30 anos atrás a gente fez a mostra nacional que se tornou até inter­na­cional, pelas pes­soas que vier­am. Nós fize­mos a mostra de break­ing com apoio do Geledés em parce­ria tam­bém com o Metrô de São Paulo.

Agên­cia Brasil: Como você começou como b‑girl?
Shary­laine: Havia uma intenção de dançar. Eu anda­va com os meni­nos do break­ing, da gangue. Mas, era mais difí­cil pra mim dançar no chão. O que eu apren­di foi smurf danc­ing, que, hoje, a galera chama de dança de rua, que é uma dança mais no alto. Eu tive uma que­da no bas­quete que zoou meu joel­ho e que invi­a­bi­liza­va mes­mo.

Agên­cia Brasil: E como foi essa tran­sição da dança pra ser MC?
Shary­laine: Eu con­heço os meni­nos em 1985 no baile do meu tio, José Augus­to. Eu começo a acom­pan­há-los e, den­tro da gangue mes­mo, eu con­heci o rap. Eu falei: “Bom, isso é pos­sív­el”. Come­cei a ensa­iar, can­tar o rap de um ami­go, até que eu resolvi que a gente devia ir pro pal­co. Em 1986 fun­dei o Rap Girls, que é con­sid­er­a­do um dos primeiros ou o primeiro grupo de rap fem­i­ni­no do Brasil.

Agên­cia Brasil: Até hoje tem batal­has de rimas aqui na parte de cima da estação, no Largo São Ben­to?
Shary­laine: É uma retoma­da mes­mo do movi­men­to, porque o movi­men­to sem­pre acon­te­ceu no âmbito cen­tral da cidade. Diz­er que hoje a gente tem batal­ha fem­i­ni­na é um avanço muito impor­tante porque a cul­tura hip hop con­tin­ua machista, con­tin­ua mas­culi­na e, se a gente quer ter algum espaço nesse lugar, nós pre­cisamos cri­ar este espaço.

Agên­cia Brasil: Como foi isso de ser mul­her e se inserir nesse mun­do machista do hip hop?
Shary­laine: Luta, porque ain­da hoje há home­ns hip hop­pers, den­tro da cul­tura que acred­i­tam que a mul­her só é boa se ela rimar feito um homem. E tam­bém que o rap foi feito para homem. Eu já ouvi isso, e não estou falan­do de uma déca­da atrás, estou falan­do de 2023, quan­do a cul­tura hip hop com­ple­ta 50 anos, mundial­mente falan­do, e 40 anos, no Brasil, e de pro­du­tores que pro­duzi­ram mul­heres. Tem algu­ma coisa erra­da aí, né?

Eu fiquei bem choca­da, mas, ao invés de me retrair, eu acho que me deu mais força pra reforçar a luta que eu já encam­pei ao lon­go do tem­po. Nós, mul­heres, a gente acabou se orga­ni­zan­do em núcleos, em gru­pos, nos quais as pes­soas falavam pra gente: “Ago­ra vai ser o Clube da Luluz­in­ha? Vocês estão queren­do dividir o movi­men­to?”. Não, a gente não está queren­do dividir, mas a gente não está se ven­do rep­re­sen­ta­da. A gente não está se ven­do recon­heci­da no proces­so, porque você vai ver home­ns citan­do home­ns como refer­ên­cias. Rara­mente você vai ver um homem citan­do uma mul­her como refer­ên­cia para o tra­bal­ho dele. Você pode falar nacional­mente ou inter­na­cional­mente.

Agên­cia Brasil: Por falar em refer­ên­cia, a gente fala muito do Kool Herc como um grande pro­du­tor, mas a Cindy Camp­bell esta­va lá fazen­do a pro­dução da primeira fes­ta de hip hop nesse pio­neiris­mo. Qual é a importân­cia da Cindy Camp­bell, ela te influ­en­ciou pra você estar nesse lugar?
Shary­laine: Não me influ­en­ciou, jus­ta­mente porque ela foi invis­i­bi­liza­da. Eu con­heci três home­ns antes de saber que ela era o pivô dis­so tudo [da block par­ty de 1973, em Nova York, que fun­dou a cul­tura hip hop]. Décadas depois eu fui saber da Cindy Camp­bell. Décadas depois eu fui saber que a pro­du­to­ra do Sug­ar Hill Gang era uma mul­her, a Sil­via Robin­son, que tam­bém ficou invis­i­bi­liza­da no proces­so. As pes­soas sabi­am qual era o nome da gravado­ra, mas ninguém falou quem era a pro­du­to­ra, não se teve a neces­si­dade de falar quem era o pro­du­tor porque o pro­du­tor não era um homem. Ela ficou nesse proces­so de invis­i­bil­i­dade. Esse é um proces­so tan­to lá quan­to aqui é um proces­so de con­strução.

Mes­mo lá, nesse perío­do de cinquentenário que a gente teve a opor­tu­nidade de acom­pan­har cel­e­brações. A gente perce­beu a invis­i­bil­i­dade das mul­heres. Então você teve, por exem­p­lo, um even­to no Yan­kee Sta­di­um que as mul­heres que foram foram con­vi­dadas por home­ns. Elas não estavam no fly­er de divul­gação. Isso não é um prob­le­ma só do Brasil, é um prob­le­ma mundi­al, mas que nós mul­heres começamos em vários lugares, em vários momen­tos, tra­bal­har isso, e tra­bal­har jun­tas, porque a gente entende que só jun­tas nós con­seguimos alcançar mais, dar mais pas­sos. Acho que esse é um proces­so que não tem fim.

Agên­cia Brasil: Con­ta um pouco da história da fun­dação da a frente de mul­heres do hip hop.
Shary­laine: Eu sou cofun­dado­ra do Fem­inrap­pers, que nasceu em Geledés, o Insti­tu­to da Mul­her Negra. Tam­bém sou cofun­dado­ra do Minas da Rima, que veio do embrião do Fem­i­ni­rap­pers, para pen­sar essa movi­men­tação da mul­her do rap na cena, mas abri­g­an­do os out­ros ele­men­tos, e da Frente Nacional de Mul­heres no Hip Hop — um cole­ti­vo de vários cole­tivos, que abri­ga mul­heres de todos os ele­men­tos. Todos com um fun­da­men­to úni­co, que é pen­sar essa mul­her no cenário, como que ela chega, como que ela é acol­hi­da, o que a gente faz pra man­tê-la pra que ela não desista, pra que ela con­tin­ue e como que a gente via­bi­liza espaços pra ela mostrar sua arte. Espaços respeitosos, que elas pos­sam colo­car o seu equipa­men­to e não ter o equipa­men­to sab­o­ta­do por ter­ceiros, para ver se real­mente ela é boa.

Porque, quan­do é a mul­her na pro­dução, há sem­pre a questão: “Será que ela é boa mes­mo?”. “Será que ela é com­pe­tente?”. Então, você tem algu­mas sab­o­ta­gens pra tes­tar essas mul­heres. E pos­so falar que é em todos os ele­men­tos da cul­tura hip hop, não é só com a mul­her MC, mas é uma prob­lemáti­ca pra b‑girlbreak-girl, que dança o break­ing, para a DJ, para a grafiteira, que muitas vezes tem uma parede pra ser grafi­ta­da e eles deix­am um can­tinho pra ela. Ocu­pam todo o lugar e deixa só um pon­tin­ho pra ela. São sab­o­ta­gens que a todo tem­po a gente ten­ta que­brar ou, de fato, con­stru­ir esse espaço pra gente con­seguir faz­er a cul­tura.

Vozes Hip Hop arte
Repro­dução: Agên­cia Brasil

Agên­cia Brasil: Ain­da falan­do dessas ini­cia­ti­vas de que você par­ticipou pra apoiar as mul­heres no hip hop, em todos os ele­men­tos, você vê isso dan­do fru­tos, teve gente que con­seguiu crescer mel­hor porque tin­ha esse tipo de apoio?
Shary­laine: Sim, eu me orgul­ho em diz­er e até me emo­ciono de ter as meni­nas hoje em pata­mares mel­hores, com aces­sos mel­hores, pen­san­do e desen­vol­ven­do sua pro­dução não nec­es­sari­a­mente depen­den­do de um pro­du­tor pra diz­er o que ela vai ter que faz­er. Sou muito feliz com isso, mas tam­bém ten­ho que diz­er que Brasil afo­ra a coisa é mais difí­cil.

Em São Paulo, nós esta­mos cam­in­han­do. As meni­nas fora do que a gente chamaria grande cen­tro – que é São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Rio Grande do Sul – têm uma difi­cul­dade maior. Tem a questão do assé­dio para poder par­tic­i­par do even­to, o assé­dio para poder ser pro­duzi­da musi­cal­mente, enfim, isso ain­da é uma prob­lemáti­ca que a gente está o tem­po todo em dis­cussão para ver como a gente age. A questão da vio­lên­cia que tam­bém parte pra ações de fem­i­nicí­dio, que está den­tro da cul­tura tam­bém. Faze­dores da cul­tura, home­ns, com­pan­heiros, que são atu­antes na cul­tura repro­duzin­do esse machis­mo. A gente tam­bém sofre por esse lado.

Mas enten­der essa luta pra aque­las que não estão orga­ni­zadas. Enten­der que essa luta é pos­sív­el. Aqui­lo que diziam: “Ah, jun­ta uma mul­her­a­da no quar­to, ou elas vão ficar fofo­can­do ou vão ficar se matan­do”. Isso não existe. Lógi­co que somos difer­entes, mas temos o que nos une, que são coisas grandes e peque­nas. Sejam situ­ações difí­ceis que a gente pre­cisa lidar, ou sejam cam­in­hos para sair de situ­ações, a gente tro­ca as nos­sas exper­iên­cias e infor­mações pra uma aju­dar a out­ra. E para uma não pas­sar pelo que a out­ra pas­sou. Não que a gente ten­ha a recei­ta per­fei­ta, mas são exper­iên­cias que a gente tro­ca e vai se for­t­ale­cen­do.

Agên­cia Brasil: Vamos falar um pouco da sua tra­jetória? Você par­ticipou de um dis­co que é um dos mais emblemáti­cos do hip hop brasileiro, que é o Con­sciên­cia Black. Que­ria que você falasse o que foi pra você estar nesse momen­to.
Shary­laine: Não era pra eu ir soz­in­ha, era pra ir Rap Girls eu e min­ha par­ceira City Lee, que não foi porque ela desis­tiu, parou. Eu ain­da titubeei se ia ou não gravar. Eu tive aju­da dos ami­gos enfim, indo comi­go, me inscreven­do pra can­tar nos clubes e até para eu me sen­tir segu­ra. Acabei indo gravar.

Foi bom porque eu nem imag­i­na­va que aqui­lo ia ser tão impor­tante para a min­ha tra­jetória que eu olho pra trás hoje e vejo. Mas foi num momen­to que eu ain­da era muito crua. Eu que­ria ter escol­hi­do a min­ha bati­da, que­ria ter escol­hi­do o meu sam­pler. Eu fui meio que impul­sion­a­da pelo pro­du­tor exec­u­ti­vo, pelo pro­du­tor da músi­ca a escol­has como uni-duni-tê. Acho que, se eu tivesse um pouco mais de maturi­dade, teria feito a músi­ca do jeito que eu que­ria e ela teria pul­sa­do mais.

Mas foi muito impor­tante pra min­ha tra­jetória, eu agradeço à equipe [da pro­du­to­ra] Zim­bab­we por ter gosta­do primeiro do tra­bal­ho e acred­i­ta­do e investi­do para eu poder estar lá e fir­mar a mar­ca de ter sido a primeira mul­her solo a gravar, e acho que, ago­ra, com o recon­hec­i­men­to de âmbito nacional. Isso me ren­deu e me rende vários títu­los de recon­hec­i­men­to pela min­ha tra­jetória. Pos­so diz­er que foi um grande pre­sente para quem fazia aqui­lo que gosta­va, porque de fato a gente não tin­ha dimen­são do que podia ser. Pen­sar que 38 anos atrás eu esta­va só me divertin­do, não tin­ha uma expec­ta­ti­va de seriedade.

Agên­cia Brasil: Tem out­ros momen­tos que você destacaria como mar­cos da sua car­reira?
Shary­laine: Mar­co, acho que é em 1985 quan­do eu con­heci a cul­tura, através da Gangue Nação Zulu. 1986, qua­do come­cei a can­tar e fui subir num pal­co pela primeira vez pra can­tar um rap de minis­sa­ia falan­do de políti­ca. Em 1989, quan­do foi a gravação do dis­co. A chega­da em Geledés, que é o Insti­tu­to da Mul­her Negra, que foi um divi­sor de águas de enten­der o mun­do, enten­der o racis­mo, o machis­mo, o fem­i­nis­mo, a sociedade, a vio­lên­cia poli­cial. Con­hecer sobre a cul­tura negra, sobre os nos­sos ído­los e líderes negros, a história do meu povo, isso tam­bém foi um grande divi­sor.

Acho que os três momen­tos, que eu chamo de três ondas desse movi­men­to de mul­heres, que foram o Fem­i­ni­rap­pers, Minas da Rima e a Frente Nacional de Mul­heres no Hip Hop e de par­tic­i­par dos embriões da Sem­ana de Cul­tura Hip Hop. Par­ticipei ali do embrião, das reuniões para a gente começar a orga­ni­zar com a [orga­ni­za­ção não gov­er­na­men­tal] Ação Educa­ti­va e depois ela se tornar lei [Lei munic­i­pal 13.924 de 2004, que criou a Sem­ana do Hip Hop em São Paulo].

Agên­cia Brasil: Pen­san­do ness­es quase 40 anos de car­reira, quan­do você começou, o que te incen­tivou? Que assun­tos, que temas que te tocavam, te afe­tavam, te fazi­am rimar? Ain­da são os mes­mos que te fazem rimar hoje?
Shary­laine: Ness­es 38 anos, foi um proces­so de ir con­hecen­do a cul­tura hip hop. Você vê o hip hop em todo lugar. Olha que coisa mais lin­da: está nos pré­dios, no cen­tro da cidade, está nas comu­nidades, nas casas, nas fave­las col­ori­das que os grafiteiros e grafiteiras pro­movem. Naque­la época, quer diz­er, os primeiros con­tatos que eu tive com a escri­ta daque­la época era pen­sar em políti­ca, pen­sar no mun­do, pen­sar fora da caixa, como jovem que nasceu na sua ado­lescên­cia com liber­dade, fora do perío­do de ditadu­ra. Era isso. Quan­do eu con­heço o Geledés é que isso se vol­ta mais para as questões fem­i­ni­nas.

Eu pen­sa­va assim: “Não pos­so ser uma mul­her que fala só sobre a questão da mul­her”. Porque não é só isso. A gente não vive só isso. Pen­sar mun­do mes­mo, pen­sar políti­ca, pen­sar a história do meu povo. Poder con­tar a história do meu povo através da min­ha rima, da min­ha lev­a­da. Falar sobre o que é o hip hop, porque até hoje, depois de 40 anos, as pes­soas ain­da têm dúvi­das.

Você vê as pes­soas dis­cutin­do se são qua­tro ele­men­tos, se são cin­co ele­men­tos, se são nove, se são 20. Mes­mo lá fora tem essas incertezas. Tem gente que comem­o­rou o 11 de agos­to lá fora [como data de origem do hip hop], tem gente que vai comem­o­rar o 12 de novem­bro [data de fun­dação da Zulu Nation, por Afri­ka Bam­baataa] e tem gente que só vai comem­o­rar em 2024 [como data da reunião dos qua­tro ele­men­tos no Brasil]. Por quê? Por causa dessas divergên­cias, por causa do con­hec­i­men­to de cada um, da vivên­cia que cada um tem e car­rega. Essa pro­dução, para mim, é muito ampla. Eu olho o mun­do. E aqui­lo que me agra­da ou que me inqui­eta, eu quero com­par­til­har. É sobre isso.

Assista na TV Brasil ao Caminhos da Reportagem sobre o hip hop:

Edição: Juliana Andrade

LOGO AG BRASIL

Você pode Gostar de:

Falta de chuvas deixa em alerta cidades da região metropolitana do Rio

Repro­dução: © Jef­fer­son Rudy/Agência Sena­do Cedae pede aos consumidores que usem água de forma equilibrada …