...
sexta-feira ,21 março 2025
Home / Educação / Reajustes das mensalidades deixam estudantes sem opção

Reajustes das mensalidades deixam estudantes sem opção

Repro­dução: © Val­ter Campanato/Agência Brasil

UNE defende mudanças no Fundo de Financiamento Estudantil


Pub­li­ca­do em 25/06/2023 — 14:25 Por Mar­i­ana Tokar­nia — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

ouvir:

Os recentes rea­justes das men­sal­i­dades do ensi­no supe­ri­or podem deixar vários estu­dantes de fora da fac­ul­dade, por não terem condições de pagar, de acor­do com estu­do feito pela Quero Edu­cação. O lev­an­ta­men­to mostra que enquan­to os futur­os alunos bus­cam men­sal­i­dades de cer­ca de R$ 500, a média cobra­da pelas insti­tu­ições é R$ 722. Isso faz com que 68% daque­les que estão em bus­ca de uma for­mação supe­ri­or não encon­trem opções viáveis.

O lev­an­ta­men­to foi real­iza­do a par­tir das bus­cas feitas na platafor­ma Quero Bol­sa, um dos braços da Quero Edu­cação. Pela platafor­ma, estu­dantes podem obter bol­sas de estu­dos de 5% a 80% de descon­to em insti­tu­ições pri­vadas. Hoje, as bol­sas ofer­tadas cobrem, de acor­do com a Quero, 10% das matrícu­las nas fac­ul­dades. Mais de 1,3 mil insti­tu­ições ofer­tam bol­sas de estu­do pela platafor­ma.

Segun­do a Quero Edu­cação, no iní­cio deste ano as maiores insti­tu­ições do mer­ca­do prat­i­cavam, na platafor­ma, um preço médio nas men­sal­i­dades de R$ 530, enquan­to os alunos bus­cav­am cur­sos com preço médio de R$ 526. Ao lon­go do ano, em meio à que­da no poder de com­pra, os estu­dantes pas­saram a bus­car grad­u­ações pres­en­ci­ais com um preço médio de R$ 495, enquan­to o val­or médio das men­sal­i­dades ofer­tadas na platafor­ma foi ele­va­do para R$ 722, rep­re­sen­tan­do um aumen­to de 45% em relação a faixa bus­ca­da pelos alunos.

Se antes as insti­tu­ições aten­di­am a 63% dos estu­dantes que bus­cav­am vagas, ago­ra essa por­cent­agem caiu para 32%. “Não hou­ve aumen­to do poder de com­pra dos alunos, eles não podem pagar esse preço. É isso que a gente vem aler­tan­do. Está fican­do mui­ta gente de fora. E o fato é que as insti­tu­ições não vão con­seguir encher as suas salas”, aler­ta o dire­tor da Quero Edu­cação, Marce­lo Lima.

Para Lima os descon­tos nas men­sal­i­dades e as bol­sas de estu­dos são mais van­ta­josas que os finan­cia­men­tos, pois podem garan­tir a for­mação dos alunos sem que eles fiquem endi­vi­da­dos quan­do deix­am a uni­ver­si­dade. “É uma grande opor­tu­nidade para as fac­ul­dades que quis­erem tra­bal­har nesse mer­ca­do num preço mais acessív­el para os alunos. É uma opor­tu­nidade para elas encherem suas salas, porque é muito mel­hor ter uma sala cheia de alunos pagan­do R$ 500 do que ter uma sala pela metade, con­seguin­do cap­tar aque­les alunos que estão dis­pos­tos a pagar R$ 720”.

Reajustes necessários

Enti­dades rep­re­sen­ta­ti­vas do ensi­no supe­ri­or recon­hecem a difi­cul­dade dos estu­dantes em pagar as men­sal­i­dades, mas ressaltam que os rea­justes são necessários, uma vez que muitas das insti­tu­ições, durante a pan­demia, não aumen­taram as men­sal­i­dades. “O preço é for­ma­do com base no cus­to. Hou­ve, pela inflação, aumen­to real de cus­tos nas uni­ver­si­dades, aumen­to de luz, aluguel, cor­reção de salários”, argu­men­ta o dire­tor pres­i­dente da Asso­ci­ação Brasileira de Man­tene­do­ras de Ensi­no Supe­ri­or (ABMES), Cel­so Niski­er. De acor­do com ele, cer­ca da metade das vagas ofer­tadas pelas insti­tu­ições não são preenchi­das.

Segun­do o dire­tor exec­u­ti­vo do Seme­sp, que tam­bém rep­re­sen­ta as man­tene­do­ras de ensi­no supe­ri­or do Brasil, Rodri­go Capela­to, cer­ca de 30% a 35% dos estu­dantes têm atual­mente algum descon­to ou bol­sa. “Em 2023, hou­ve peque­na recu­per­ação do setor, mas sem­pre com muito descon­to, pre­cisan­do ajus­tar val­ores porque o poder aquis­i­ti­vo ain­da está muito baixo e as famílias estão muito endi­vi­dadas”, disse.

Capela­to ressalta que não é pos­sív­el ofer­e­cer descon­tos a todos os estu­dantes. “O val­or médio das men­sal­i­dades é R$ 800 a R$ 1,5 mil. Senão, não pag­amos os cus­tos, prin­ci­pal­mente no ensi­no pres­en­cial”.

Ambos defen­d­em o Fun­do de Finan­cia­men­to Estu­dan­til (Fies) como for­ma de man­ter os alunos e garan­tir a for­mação, já que mes­mo com bol­sas, eles não têm condições de pagar até o final do cur­so. Atual­mente, o setor pri­va­do con­cen­tra 77% das matrícu­las do ensi­no supe­ri­or brasileiro, de acor­do com o últi­mo Cen­so da Edu­cação Supe­ri­or. “A gente pre­cisa de uma for­ma de ingres­sar via setor pri­va­do, senão não con­segue dar cober­tu­ra. E a mel­hor for­ma é ampli­ar o finan­cia­men­to estu­dan­til”, defende Capela­to.

“As pes­soas que bus­cam ensi­no supe­ri­or care­cem de finan­cia­men­to estu­dan­til, um novo Fies até para retomar o caráter social que defend­emos, como era da origem. No Brasil, se não tiv­er finan­cia­men­to com esse caráter, vai ter mais gente pre­cisan­do faz­er cur­so supe­ri­or e não con­seguin­do”, defende Niski­er.

Qualidade

Para os estu­dantes, é impor­tante que o ensi­no ofer­ta­do seja de qual­i­dade, o que muitas vezes não tem ocor­ri­do, de acor­do com a coor­de­nado­ra de Comu­ni­cação da União Nacional dos Estu­dantes (Une), Manuel­la Sil­va.

“A gente pre­cisa, nesse momen­to, para além de garan­tir que estu­dantes ten­ham aces­so ao ensi­no supe­ri­or, garan­tir a qual­i­dade do ensi­no supe­ri­or. O que nós vemos é o lucro aci­ma da qual­i­dade”, disse.

Segun­do Manuel­la, a UNE recebe recla­mações de estu­dantes que acabam ten­do aulas gravadas há muitos anos, já desat­u­al­izadas, que não tem lab­o­ratórios para práti­cas, entre out­ras recla­mações.

Sobre os rea­justes, a estu­dante ressalta que os aumen­tos estão recain­do não ape­nas para os estu­dantes que estão ingres­san­do na uni­ver­si­dade, mas para aque­les que já estão matric­u­la­dos e que acabam não ten­do condições para se man­ter estu­dan­do.

De acor­do com Manuel­la, a UNE defende, além de um Fies que con­si­ga asse­gu­rar que os estu­dantes con­clu­am os cur­sos, uma garan­tia de emprego, para que pos­sam, assim que for­ma­dos, quitar suas dívi­das com o pro­gra­ma.

“A gente defende o Fies, mas defende que ele con­si­ga garan­tir o pleno emprego, para que os estu­dantes con­sigam ter aces­so ao mer­ca­do de tra­bal­ho. O Fies é impor­tante para garan­tir entra­da na uni­ver­si­dade, mas que seja um Fies que os estu­dantes con­sigam entrar, per­manecer e con­cluir um cur­so com qual­i­dade, que não o deix­em pela metade”, defende.

Fies

Atual­mente, o Fies está sendo dis­cu­ti­do em um grupo de tra­bal­ho cri­a­do pelo Min­istério da Edu­cação. As dis­cussões, em tese, ter­mi­nam em setem­bro. A Por­taria 390, que ofi­cial­i­zou o grupo de tra­bal­ho, foi pub­li­ca­da no Diário Ofi­cial da União (DOU) no dia 8 de março, com a final­i­dade de pro­mover estu­dos téc­ni­cos rela­ciona­dos ao Fun­do, como diag­nós­ti­cos sobre a situ­ação atu­al do Fies, a reavali­ação do lim­ite de finan­cia­men­to e a des­buro­c­ra­ti­za­ção do pro­gra­ma.

Cri­a­do em 1999, o Fies ofer­ece finan­cia­men­to a estu­dantes de baixa ren­da em insti­tu­ições par­tic­u­lares de ensi­no a condições mais favoráveis que as de mer­ca­do. O pro­gra­ma, que chegou a fir­mar, em 2014, mais de 732 mil con­tratos, sofreu, des­de 2015, uma série de mudanças e enx­uga­men­tos. Em 2019, foram cer­ca de 67 mil ingres­santes no ensi­no supe­ri­or pelo Fies.

Um dos prin­ci­pais motivos para as mudanças nas regras do Fies, de acor­do com gestões ante­ri­ores do Min­istério da Edu­cação, foi a alta inadim­plên­cia, ou seja, estu­dantes que con­tratam o finan­cia­men­to e não quitam as dívi­das após for­ma­dos. O per­centu­al de inadim­plên­cia reg­istra­do pelo pro­gra­ma chegou a atin­gir mais de 40%, de acor­do com dados do min­istério, de 2018.

Edição: Fer­nan­do Fra­ga

LOGO AG BRASIL

Você pode Gostar de:

Tire dúvidas sobre consignado para CLT, que entra em vigor nesta sexta

Nova modalidade de empréstimo promete ser menos cara Well­ton Máx­i­mo – Repórter da Agên­cia Brasil …