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Reconstrução mamária melhora qualidade de vida de pacientes

Repro­dução: © Divulgação/Sociedade Brasileira de Mas­tolo­gia

Saiba como é feita a reconstrução mamária após a mastectomia


Pub­li­ca­do em 06/11/2021 — 09:30 Por Lud­mil­la Souza – Repórter da Agên­cia Brasil — São Paulo

A empresária Eliane de Sousa Cane­do Mari­no, de 54 anos, esta­va dis­pos­ta a faz­er uma cirur­gia plás­ti­ca estéti­ca, em 2015. Mas, quan­do fez os exam­es pré-oper­atórios, foi detec­ta­do um tumor na mama esquer­da.

“Eu já vin­ha sentin­do umas dores, mas não tin­ha detec­ta­do nada, então foi muito difí­cil no iní­cio, foi uma sur­pre­sa, ao mes­mo tem­po foi assim, um pavor, um medo mas, como eu sou uma pes­soa muito católi­ca, eu sem­pre entreguei a Nos­sa Sen­ho­ra e a Deus tudo que tin­ha para acon­te­cer”, con­ta Eliane.

Eliane de Sousa Cane­do Mari­no fez uma cirur­gia de recon­strução mamária após tumor na mama esquer­da — Reprodução/ Arqui­vo pes­soal

Por causa do tumor, ela pas­sou pelo proces­so de mas­tec­to­mia total, quan­do a mama é total­mente removi­da. Mas o pior veio depois da cirur­gia: “uma sem­ana depois da cirur­gia tive infecção hos­pi­ta­lar, aí começou a difi­cul­dade porque eu sen­tia muito dor, muito medo, fiz todas as med­icações, tudo que o médi­co indi­cou para faz­er, mas foi muito difí­cil porque eu esta­va em out­ra cidade, longe do meu fil­ho, da min­ha casa, do meu mari­do, da família mas, sem­pre muito con­fi­ante em Deus. E tam­bém durante o trata­men­to eu fiz quimioter­apia e radioter­apia”.

O trata­men­to acon­te­ceu entre 2015 e 2016, com altos e baixos, rela­ta a empresária. “Foi um ano e pouco de trata­men­to. Ao mes­mo tem­po em que eu tin­ha segu­rança, depois me dava medo, mas fui forte e ven­ci. Tive a infecção hos­pi­ta­lar e depois de um ano ela ficou alo­ja­da no meu organ­is­mo, e não se alas­trou, não caiu na min­ha cor­rente san­guínea. Eu falo que eu sou um mila­gre vivo. Porque sen­tia dores há muito tem­po e não foi detec­ta­do o câncer”.

Pas­sa­dos qua­tro anos da cura do câncer, ela então decid­iu faz­er a recon­strução mamária, no ano pas­sa­do. “Eu não que­ria faz­er a recon­strução porque eu tin­ha medo, porque foi muito doloroso o trata­men­to. Mas Deus colo­cou o doutor Luís na min­ha vida, e deu tudo cer­to, fiz a recon­strução, fiquei muito feliz, real­iza­da e só ten­ho a agrade­cer a Deus por tudo”, comem­o­ra.

O médi­co que aten­deu a Eliane é o cirurgião plás­ti­co Luís Felipe Maatz, espe­cial­ista em Cirur­gia Ger­al e Cirur­gia Plás­ti­ca pelo Hos­pi­tal das Clíni­cas da Fac­ul­dade de Med­i­c­i­na da USP-SP e espe­cial­ista em recon­strução mamária pelo Hos­pi­tal Sírio-Libanês, de São Paulo. A expec­ta­ti­va dele é de que depois da pan­demia, a taxa de pacientes que irão faz­er a recon­strução mamária deve aumen­tar.

“Em 2017 a taxa de pacientes sub­meti­das a cirur­gia para câncer de mama que fiz­er­am a recon­strução era de aprox­i­mada­mente 34%. Não pos­suí­mos dados ofi­ci­ais, mas é bem prováv­el que, com a pan­demia de covid-19, essa taxa ten­ha dimin­uí­do. Em 2022 esper­amos que a taxa aumente e pos­samos aumen­tar a cada ano”, afir­mou.

Segun­do o últi­mo Cen­so da Sociedade Brasileira de Cirur­gia Plás­ti­ca (SBCP), o per­centu­al da taxa de recon­strução mamária (razão de recon­struções pelo número total de mas­tec­to­mias, mul­ti­pli­ca­dos por 100, a cada ano), que em 2008 foi de 14,9%, con­tin­u­ou estáv­el até 2012; em 2014 era de 29,3%; e pas­sou a aumen­tar a par­tir da implan­tação da lei de recon­strução mamária, em 2013. Em 2017, aprox­i­mada­mente 34% das mul­heres realizaram a recon­strução mamária.

Legislação

lei de recon­strução mamária dis­põe sobre a cirur­gia plás­ti­ca recon­stru­ti­va da mama em casos de muti­lação decor­rente de trata­men­to de câncer. Ela deter­mi­na que os pro­ced­i­men­tos de sime­tria da mama e de recon­strução do com­plexo aréo­lo-mami­lar pas­sam a ser con­sid­er­a­dos partes inte­grantes da cirur­gia plás­ti­ca.

A lei esta­b­elece ain­da que, quan­do exi­s­tirem condições téc­ni­cas, a recon­strução da mama seja efe­t­u­a­da de for­ma ime­di­a­ta, ou seja, logo após a mas­tec­to­mia. Quan­do não for pos­sív­el, a paciente será encam­in­ha­da para acom­pan­hamen­to e terá garan­ti­da a real­iza­ção da cirur­gia logo após alcançar as condições clíni­cas exigi­das.

Na opinião do cirurgião plás­ti­co Luís Felipe Maatz, mes­mo com a lei, o aces­so às cirur­gias recon­stru­toras ain­da é fal­ho. “Sou total­mente a favor do dire­ito à recon­strução mamária con­ce­di­do às pacientes pela lei. Infe­liz­mente o aces­so à recon­strução pelo Sis­tema Úni­co de Saúde ain­da é precário em muitas partes do Brasil. Há muitos cirurgiões plás­ti­cos que são espe­cial­is­tas nes­sa área, mas o sis­tema públi­co não pos­sui uma estru­tu­ra ade­qua­da para aten­der a todas as pacientes”.

Procedimento

A recon­strução mamária é real­iza­da através de várias téc­ni­cas para restau­rar a mama, con­sideran­do for­ma, aparên­cia e o taman­ho; após a mas­tec­to­mia, que pode ser total ou par­cial (quan­do ape­nas uma parte da mama é removi­da).

“A mama é uma das prin­ci­pais mar­cas exter­nas da fem­i­nil­i­dade, e a sua per­da, par­cial ou total, traz pre­juí­zos na imagem cor­po­ral e no psi­cológi­co. Quan­do o cirurgião plás­ti­co real­iza a recon­strução mamária, atua de maneira sig­ni­fica­ti­va na mel­ho­ra da autoes­ti­ma da mul­her”, opina Maatz, que tam­bém é mem­bro da SBCP.

Segun­do ele, a recon­strução envolve vários pro­ced­i­men­tos real­iza­dos em múlti­p­los está­gios. Sai­ba como são as eta­pas, de acor­do com as nor­mas da SBCP:

Eta­pa 1: medica­men­tos anestési­cos são admin­istra­dos para o con­for­to da paciente durante o pro­ced­i­men­to cirúr­gi­co. As opções de aneste­sia incluem sedação intra­venosa e aneste­sia ger­al.

Eta­pa 2: uti­liza­ção de téc­ni­cas de retal­hos com mús­cu­lo, gor­du­ra e pele próprios da paciente para cri­ar ou cobrir o local da mama. “Às vezes, a mas­tec­to­mia, ou o trata­men­to com radi­ação, podem deixar teci­do insu­fi­ciente na parede torá­ci­ca para cobrir e sus­ten­tar o implante mamário. O uso de implante mamário para recon­strução exige quase sem­pre uma ou demais téc­ni­cas de retal­ho ou expan­são de teci­do”, expli­ca o cirurgião.

O retal­ho TRAM (Retal­ho do Mús­cu­lo Reto Abdom­i­nal) é a téc­ni­ca que usa teci­dos do mús­cu­lo, gor­du­ra ou pele do abdô­men da paciente para recon­stru­ir a mama. O retal­ho pode per­manecer com o supri­men­to san­guí­neo orig­i­nal, com a cri­ação de um aces­so para ser posi­ciona­do na caixa torá­ci­ca ou ser com­ple­ta­mente sep­a­ra­do para for­mar a nova mama.

Eta­pa 3: pro­ced­i­men­to de expan­são da pele saudáv­el para dar cober­tu­ra a um implante mamário. Nes­ta eta­pa, uma espé­cie de balão esvazi­a­do, chama­do de expan­sor, é intro­duzi­do na região mamária e, peri­odica­mente enchi­do para expandir o teci­do. A recon­strução com expan­são do teci­do per­mite recu­per­ação mais ráp­i­da que os pro­ced­i­men­tos uti­lizan­do retal­hos. No entan­to, é um proces­so de recon­strução mais demor­a­do. “Este pro­ced­i­men­to requer muitos retornos ao con­sultório, por 4 a 6 meses, após a colo­cação do expan­sor, para enchê-lo através de uma válvu­la inter­na e expandir a pele. Um segun­do pro­ced­i­men­to cirúr­gi­co será necessário para sub­sti­tuir o expan­sor, que não é con­ce­bido para servir como implante per­ma­nente”, diz o médi­co.

Repro­dução: Tat­u­agem para a recon­strução da aréo­la após mas­tec­to­mia — divul­gação do Pro­je­to Y Rosa

Eta­pa 4: é fei­ta a cirur­gia de colo­cação do implante mamário. O implante pode ser um com­ple­men­to ou uma alter­na­ti­va para téc­ni­cas de retal­hos. Implantes de sil­i­cone estão disponíveis para a recon­strução. O cirurgião irá aju­dar a decidir qual alter­na­ti­va é mel­hor para cada paciente. Recon­strução com implantes geral­mente requerem expan­são de teci­do

Eta­pa 5: tam­bém exis­tem difer­entes téc­ni­cas para recon­strução do mami­lo e da aréo­la, que vão de enx­er­tos à pig­men­tação local com téc­ni­ca de tat­u­agem.

Benefícios

Os resul­ta­dos finais da recon­strução pós mas­tec­to­mia podem aju­dar a min­i­mizar o impacto físi­co e emo­cional da remoção da mama. Com o tem­po, a sen­si­bil­i­dade da região pode voltar, e as cica­trizes ten­dem a mel­ho­rar, emb­o­ra nun­ca desa­pare­cerão com­ple­ta­mente, pon­tua Maatz.

Há algu­mas lim­i­tações, mas a maio­r­ia das mul­heres con­sid­era que são peque­nas em com­para­ção à mel­ho­ria na qual­i­dade de vida, obser­va o cirurgião. “Mon­i­toração cuida­dosa da saúde da mama através do autoex­ame, mamo­grafia e demais téc­ni­cas de diag­nós­ti­co são essen­ci­ais para sua saúde a lon­go pra­zo. Antes de decidir realizar a recon­strução mamária, é fun­da­men­tal bus­car sem­pre um médi­co com­pro­vada­mente qual­i­fi­ca­do, expe­ri­ente e que seja mem­bro da Sociedade Brasileira de Cirur­gia Plás­ti­ca”, acon­sel­ha o médi­co.

Edição: Denise Griesinger

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