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Refugiados compartilham histórias e vivências em feira no Rio

Repro­dução: © Tomaz Silva/Agência Brasil

Evento marca o Dia Mundial do Refugiado


Publicado em 22/06/2024 — 18:30 Por Mariana Tokarnia — Repórter da Agência Brasil* — Rio de Janeiro

 A libane­sa Farah Al Naj­jar está há 3 anos no Brasil; o venezue­lano Ale­jan­dro Echezuria, há 7 anos; e, o con­golês Alfred Cama­ra vive no país há 8 anos. Os três pre­cis­aram deixar os país­es de origem seja por con­ta de guer­ras, de con­fli­tos soci­ais e econômi­cos ou das mais vari­adas for­mas de vio­lação de dire­itos humanos e bus­car refú­gio no Brasil. Aos poucos, eles con­stroem uma nova vida, mas con­tam que o per­cur­so não é fácil.

Antes de vir para o Brasil, Cama­ra vivia na cap­i­tal da Repúbli­ca Democráti­ca do Con­go, Kin­shasa. O país vive con­stantes con­fli­tos. Foi para fugir da guer­ra que Cama­ra chegou ao Brasil, onde con­seguiu refú­gio. Ele fez cur­sos de coquete­lar­ia e chegou a tra­bal­har em um restau­rante no Leblon, bair­ro nobre da zona sul car­i­o­ca, mas acabou sendo demi­ti­do na pan­demia. Hoje ele tem a própria bar­ra­ca, onde vende drinks na Pedra do Sal, local de importân­cia históri­ca e cul­tur­al no cen­tro do Rio.

Rio de Janeiro (RJ), 22/06/2024 – O refugiado congolês, Alfred Camaradurante prepara drinks no Rio Refugia 2024, no Sesc Tujuca, zona norte da capital fluminense. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Repro­dução: Alfred Cama­radu­rante prepara drinks no Rio Refu­gia 2024, no Sesc Tuju­ca — Tomaz Silva/Agência Brasil

“Até hoje tô lutan­do. Tu sabe, a vida do camelô como é que é. Às vezes chega a Guar­da Munic­i­pal. É difí­cil mes­mo, é difí­cil”, diz. Ele son­ha em abrir a própria empre­sa, mas não ape­nas para ele, para os demais refu­gia­dos que lutam por um espaço em um novo país.

“Meu son­ho, o que eu queira um dia, se Deus quis­er, é abrir uma empre­sa para poder aju­dar o povo refu­gia­do para chegar no Brasil”.

Cama­ra trans­feriu, neste final de sem­ana, a bar­ra­ca da Pedra do Sal para o Rio Refu­gia 2024. O even­to está na nona edição e mar­ca o Dia Mundi­al do Refu­gia­do, dia 20 de jun­ho. A feira real­iza­da no Sesc Tiju­ca, na zona norte do Rio de Janeiro, reúne gas­trono­mia, ofic­i­nas cul­tur­ais, moda, arte­sana­to e ativi­dades para as cri­anças. São 27 bar­ra­cas com rep­re­sen­tantes de 12 país­es.

Próx­i­ma à Ngolonisadrinks, de Cama­ra, está a bar­ra­ca Comi­da Ché­vere, de Echezuria. “Vendemos uma comi­da típi­ca da Venezuela, que se chama arepa, fei­ta com far­in­ha de mil­ho pré-cozi­da”, expli­ca o venezue­lano, que veio para o Brasil há 7 anos com dois fil­hos, um de 7 e out­ro de 10 anos e com a esposa, na época, grávi­da de oito meses da ter­ceira fil­ha do casal.

“Na ver­dade, não foi uma escol­ha, porque quan­do a gente foge da Venezuela, ou quan­do qual­quer pes­soa foge de um país, a gente não tem escol­ha, a gente vai para onde tem que ir. Então, não foi uma escol­ha, assim, vou para lá. A gente chegou aqui de paraque­das e a gente ficou”, con­ta Echezuria.

Rio de Janeiro (RJ), 22/06/2024 – O refugiado venezuelano Alejandro Echezuria prepara arepas no Rio Refugia 2024, no Sesc Tujuca, zona norte da capital fluminense. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Repro­dução: Ale­jan­dro Echezuria prepara arepas no Rio Refu­gia 2024, no Sesc Tuju­ca — Tomaz Silva/Agência Brasil

Deslocados

De acor­do com o Alto Comis­sari­a­do das Nações Unidas para Refu­gia­dos (Acnur), mais de 120 mil­hões de pes­soas em todo o mun­do estão deslo­cadas à força de suas casas dev­i­do a perseguições, con­fli­tos, vio­lên­cia e vio­lação de dire­itos. Isso sig­nifi­ca que se todas essas pes­soas vivessem atual­mente em um mes­mo ter­ritório, elas for­mari­am o 12º país mais pop­u­loso do mun­do. Segun­do o Acnur, esse número vem crescen­do, e é mais do que o dobro do que havia há dez anos, em 2014, quan­do havia 59 mil­hões de pes­soas viven­do nes­sa condição.

Como uma das mil­hões de pes­soas refu­giadas no mun­do, Echezuria son­ha em se esta­b­ele­cer e con­seguir ter qual­i­dade de vida. “Sobre os planos, a gente tem o nos­so empreendi­men­to, que é o Comi­da Ché­vere. É crescer com o empreendi­men­to, tratar de abrir um restau­rante, uma loja. A gente ago­ra é um microem­preende­dor, tra­bal­ha em feiras, em even­tos, mas o futuro é crescer, ter uma loja físi­ca, estar um pouco mais estru­tu­ra­do”, diz.

Dos três, Al Naj­jar é a que está há menos tem­po no Brasil, 3 anos. Na época, era casa­da, mas acabou se sep­a­ran­do e hoje luta para viv­er soz­in­ha com a fil­ha de 3 anos, que nasceu já em solo brasileiro. “Eu estou ten­tan­do me adap­tar, porque estou soz­in­ha, não ten­ho família, não ten­ho suporte”, diz. Ela con­ta que encon­trou apoio em orga­ni­za­ções como a Car­i­tas. Tam­bém por con­ta da orga­ni­za­ção, hoje ela dá aulas de inglês.

Na feira, ela mostra aos vis­i­tantes a caligrafia árabe. “Na real­i­dade, é bom mostrar a nos­sa cul­tura para as pes­soas porque, nor­mal­mente, só se con­hece a parte neg­a­ti­va da nos­sa cul­tura. E espe­cial­mente a cul­tura libane­sa, ela é uma mis­tu­ra de cul­turas, por estar próx­i­ma à Europa, Ásia e África. Eu pen­so que está no cen­tro do mun­do. É uma mis­tu­ra, as pes­soas falam árabe, inglês, francês, tudo jun­to. Eu gostaria que as pes­soas con­hecessem o lado boni­to da nos­sa cul­tura, que é fei­ta de amor e gen­erosi­dade”, diz.

Para a fil­ha, ela faz questão de ensi­nar a culinária libane­sa e tam­bém de cria-la da for­ma como os pais a cri­aram, tratan­do bem as pes­soas e val­orizan­do a edu­cação. Al Naj­jar tem mestra­do e diz que sem­pre estu­dou muito. A pro­fes­so­ra con­ta ain­da que não é ape­nas ela que ensi­na a fil­ha, mas que tam­bém aprende muito com a cri­ança. “Ela ama dançar e tem essa per­son­al­i­dade que eu acho que é bem brasileira, ela ama pes­soas. Eu era mais tími­da, mas ago­ra, mudei muito por causa dela. Ela me ensi­na muito”.

Rio de Janeiro (RJ), 22/06/2024 – A refugiada libanesa, Farah Al Najjar durante oficina de escrita árabe, no Rio Refugia 2024, no Sesc Tujuca, zona norte da capital fluminense. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Repro­dução: Farah Al Naj­jar durante ofic­i­na de escri­ta árabe, no Rio Refu­gia 2024 — Tomaz Silva/Agência Brasil

Rio Refugia

As tro­cas são o obje­ti­vo final da feira, de acor­do com a orga­ni­za­ção. “É um lugar onde a gente ten­ta pro­por­cionar um encon­tro entre as pes­soas, entre as histórias, entre as cul­turas, para que a gente pos­sa con­hecer um pouco mais da cul­tura dos refu­gia­dos e enten­der como que a gente gan­ha quan­do a gente recebe essas pes­soas”, diz a coor­de­nado­ra do Pro­gra­ma de Atendi­men­to a Refu­gia­dos (Pares) Car­i­tas, Aline Thuller.

“A gente sem­pre tem a tendên­cia de pen­sar que o Brasil está aju­dan­do refu­gia­dos. Na ver­dade, a gente cumpre um com­pro­mis­so human­itário que foi assum­i­do pelo país e quan­do a gente recebe essas pes­soas, a gente gan­ha”, acres­cen­ta.

“Quan­do a gente fala de refú­gio, muitas vezes a gente quer saber o que motivou a saí­da, como que foi a chega­da, o que teve de sofri­men­to. São pes­soas que estão viven­do, con­stru­in­do suas vidas, fazen­do coisas muito bacanas, muito dinâmi­cas, trazen­do e movi­men­tan­do a econo­mia e a cul­tura da cidade”,  diz a dire­to­ra pedagóg­i­ca do Abraço Cul­tur­al , Cacau Vieira. “São pes­soas de vários lugares do mun­do, com seus tal­en­tos com suas cul­turas, o que tor­na o ambi­ente mais dinâmi­co. Mais impor­tante, eu acho que é uma data, então, para a gente falar sobre dig­nidade humana, sobre os dire­itos mais fun­da­men­tais”, com­ple­men­ta, o anal­ista de pro­je­tos soci­ais do Sesc, Daniel Moura.

Rio de Janeiro (RJ), 22/06/2024 – Festival Rio Refugia 2024, no Sesc Tujuca, zona norte da capital fluminense. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Repro­dução: Fes­ti­val Rio Refu­gia 2024, no Sesc Tuju­ca, zona norte da cap­i­tal flu­mi­nense — Tomaz Silva/Agência Brasil

O Rio Refu­gia 2024 é real­iza­do todo ano pelo Abraço Cul­tur­al, PARES Cári­tas RJ, Feira Chega Jun­to e Sesc RJ, com o apoio do Acnur. O even­to ocorre no sába­do (22) e domin­go (23), entre 11h e 18h, no Sesc Tiju­ca, na Zona Norte do Rio de Janeiro.

Edição: Aline Leal

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