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Religiosos e pesquisadores defendem fé que acolha população LGBTQIA+

1º Seminário Nacional LGBTQIA+ de Fé começa hoje no Rio

Rafael Car­doso — Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 04/02/2025 — 09:02
Rio de Janeiro
Brasília (DF) 04/02/2025 -Religiosos e pesquisadores defendem fé que acolha população LGBTQIA+ Arte Fundo Positivo/Divulgação
Repro­dução: © Arte Fun­do Positivo/Divulgação

As religiões podem se tornar espaços de acol­hi­men­to e de inclusão das difer­entes ori­en­tações sex­u­ais e iden­ti­dades de gênero. É com essa visão que pesquisadores, ativis­tas e reli­giosos se reúnem a par­tir de hoje (4) no 1º Sem­i­nário Nacional LGBTQIA+ de Fé: diál­o­go inter-reli­gioso e luta con­tra fun­da­men­tal­is­mos. O even­to vai até o dia 6 de fevereiro na Bib­liote­ca Par­que Estad­ual, na região cen­tral do Rio de Janeiro.

A cien­tista da religião Gio­van­na Sar­to é uma das curado­ras do encon­tro, que vai reunir rep­re­sen­tantes de tradições reli­giosas difer­entes: Bud­is­mo, San­to Daime, Islamis­mo, Can­domblé, Umban­da, Hin­duís­mo, Catoli­cis­mo, religião pagã, além de insti­tu­ições evangéli­cas tradi­cionais, pen­te­costais e neopen­te­costais.

Ela diz ter esper­ança de que, por meio do diál­o­go e da mobi­liza­ção cole­ti­va, fé e plu­ral­i­dade sex­u­al sejam ele­men­tos cada vez mais com­patíveis.

“No Brasil hoje, a gente vê que há maior aber­tu­ra para a diver­si­dade sex­u­al e de gênero, por exem­p­lo, entre as religiões de ter­reiro, como umban­da e can­domblé. Mas em todas as religiões há nuances de con­ser­vadoris­mos e de fun­da­men­tal­is­mos que impe­dem o diál­o­go. Por out­ro lado, há gru­pos da Igre­ja Católi­ca e de igre­jas pen­te­costais que são bem aber­tos ao diál­o­go”, diz a pesquisado­ra.

Um dos prin­ci­pais obstácu­los nesse sen­ti­do é o do for­t­alec­i­men­to mais recente dos fun­da­men­tal­is­mos reli­giosos, impul­sion­a­dos em parte por políti­cos rea­cionários.

“Fun­da­men­tal­is­mos são difer­entes tendên­cias entre gru­pos e insti­tu­ições de pro­mover inter­pre­tações lit­erais ou fun­da­men­tais de tex­tos reli­giosos. Muitas vezes, sem levar em con­ta o con­tex­to do que foi escrito, qual é a base históri­ca e políti­ca dele. E isso para jus­ti­ficar vio­lên­cia, exclusão e seg­re­gação”, expli­ca Gio­van­na.

Brasília (DF) 04/02/2025 -Religiosos e pesquisadores defendem fé que acolha população LGBTQIA+. Foto: Giovanna Sarto/Arquivo Pessoal
Repro­dução: Brasília — Reli­giosos e pesquisadores defen­d­em fé que acol­ha pop­u­lação LGBTQIA+ — Foto Gio­van­na Sarto/Arquivo Pes­soal

Para a pesquisado­ra, é uma con­tradição que religiões orig­i­nal­mente plu­rais e acol­he­do­ras hoje se apre­sen­tem de for­ma exclu­dente e vio­len­ta con­tra a pop­u­lação LGBTQIA+.

“Se a gente olhar nos tex­tos do Cris­tian­is­mo, que rep­re­sen­ta o cal­do mais grosso da reli­giosi­dade brasileira hoje, é uma religião extrema­mente plur­al. Quan­do a gente abre a bíblia judaico-cristã, vê inúmeras histórias de vivên­cias sex­u­ais, difer­entes iden­ti­dades e for­mas de relação. Que na época, inclu­sive, afrontaram o sis­tema e per­tur­baram a ordem”, diz Gio­van­na.

“Muito para­dox­al ver hoje o Cris­tian­is­mo como esse grande for­mu­lador do que é a ver­dade, do que deve ser a sex­u­al­i­dade, do que não se deve aceitar em ter­mos morais. Quan­do, na ver­dade, ele nasce desse lugar de plu­ral­i­dade, de vivên­cia mais livre, respeito e de uma cole­tivi­dade dialo­gal”, com­ple­men­ta.

Seminário

O 1º Sem­i­nário Nacional LGBTQIA+ de Fé tam­bém vai reunir ativis­tas, artis­tas e políti­cos. O even­to é orga­ni­za­do pelo Fun­do Pos­i­ti­vo, uma orga­ni­za­ção sem fins lucra­tivos, volta­da prin­ci­pal­mente para ações nas áreas de saúde pre­ven­ti­va, HIV/AIDS e diver­si­dade. Além de Gio­van­na Sar­to, a teólo­ga queer Ana Ester tam­bém responde pela curado­ria do sem­i­nário.

Entre os par­tic­i­pantes con­fir­ma­dos estão a vereado­ra Mon­i­ca Bení­cio (PSOL/RJ), a dep­uta­da estad­ual Dani Bal­bi (PcdoB/RJ), Pai Rod­ney de Oxós­si, os ativis­tas Fred Nicá­cio e Valéria Bar­cel­los.

Os prin­ci­pais temas tra­bal­ha­dos no encon­tro são Ter­apia de Rever­são, O enfrenta­men­to aos fun­da­men­tal­is­mos a par­tir da éti­ca da diver­si­dade, Bíblia e diver­si­dade sex­u­al e de gênero e Intol­erân­cia reli­giosa no Brasil”. No fim do encon­tro, será pub­li­ca­da a Car­ta do Rio de Janeiro con­tra a LGBT­fo­bia, des­ti­na­da a políti­cos e autori­dades, com o obje­ti­vo de incen­ti­var políti­cas públi­cas de defe­sa à vida.

Traumas religiosos

Héder Bel­lo vai par­tic­i­par do sem­i­nário como coor­de­nador do grupo de tra­bal­ho que pede a crim­i­nal­iza­ção da chama­da “cura gay”. Ele se apre­sen­ta como um sobre­vivente desse proces­so, que acon­te­ceu quan­do tin­ha entre 14 e 27 anos de idade. Nat­ur­al de Nova Fribur­go, na Região Ser­rana do Rio, cresceu em uma família evangéli­ca fun­da­men­tal­ista que enten­dia a homos­sex­u­al­i­dade como um desvio moral.

Brasília (DF) 04/02/2025 -Religiosos e pesquisadores defendem fé que acolha população LGBTQIA+. Foto: Hélder Bello/Arquivo Pessoal
Repro­dução: Brasília — Reli­giosos e pesquisadores defen­d­em fé que acol­ha pop­u­lação LGBTQIA+ — Foto Héder Bello/Arquivo Pes­soal

“Pas­sei por psicól­o­gos cristãos que ten­tavam me reori­en­tar, por exor­cis­mos, jejuns de três dias (um dos quais me lev­ou ao des­maio, inter­pre­ta­do como pos­sessão demonía­ca), aut­ofla­ge­lação, orações inces­santes e con­fis­sões públi­cas sobre meus dese­jos, tudo em bus­ca de uma ‘cura’ que nun­ca viria”, diz Héder.

“Eu esta­va pre­so em um regime de con­stante con­t­role e repressão emo­cional, o que afe­tou min­ha autoes­ti­ma, meu amor próprio e fez com que eu lit­eral­mente me odi­asse, fazen­do com que pen­sa­men­tos sui­ci­das fos­sem muito fre­quentes”, com­ple­men­ta.

Héder cur­sou psi­colo­gia na uni­ver­si­dade e, ao ter aces­so a novas per­spec­ti­vas, começou a ques­tionar as visões neg­a­ti­vas da religião sobre a diver­si­dade sex­u­al. Atual­mente, está con­cluin­do um doutora­do na área, em que pesquisa os efeitos neg­a­tivos das ter­apias de con­ver­são sex­u­al.

“Hoje, min­ha luta é para que o Brasil avance no com­bate à cura gay, não ape­nas com a proibição éti­ca pelo Con­sel­ho de Psi­colo­gia, mas com uma crim­i­nal­iza­ção efe­ti­va dessas práti­cas, garan­ti­n­do que nen­hum jovem LGBTQIA+ pre­cise pas­sar pelo que eu pas­sei. Além dis­so, defen­do que o poder públi­co imple­mente políti­cas de reparação para as víti­mas dessas práti­cas, recon­hecen­do os danos irre­ver­síveis que elas causam”, diz Héder. “A cura gay não é uma ter­apia. É um mecan­is­mo de tor­tu­ra psi­cológ­i­ca e emo­cional que destrói vidas”.

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