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Resultado das eleições definirá política externa dos Estados Unidos

América Latina e China devem reavaliar estratégia diplomática

Pedro Peduzzi – Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 05/11/2024 — 07:48
Brasília
Repro­dução: Agên­cia Brasil / EBC

Os reflex­os da eleição que definirá, nes­ta terça-feira (5), quem será o futuro pres­i­dente dos Esta­dos Unidos (EUA) vão muito além das fron­teiras norte-amer­i­canas, taman­ha influên­cia que a maior potên­cia mil­i­tar do mun­do tem no cenário exter­no.

Espe­cial­is­tas ouvi­dos pela Agên­cia Brasil avaliam que tal influên­cia não se restringe às atu­ais áreas de con­fli­to na Europa e no Ori­ente Médio. Brasil, Améri­ca Lati­na e Chi­na tam­bém aguardam ansiosa­mente o des­fe­cho da dis­pu­ta entre a democ­ra­ta Kamala Har­ris, atu­al vice-pres­i­dente dos EUA, e o repub­li­cano Don­ald Trump, que pre­sid­iu o de 2017 a 2021, para traçar, de for­ma mais pre­cisa, seus planos estratégi­cos na relação com o próx­i­mo gov­er­nante norte-amer­i­cano.

O pesquisador do Insti­tu­to Nacional de Estu­dos sobre os EUA (Ineu) e pro­fes­sor do Insti­tu­to de Relações Inter­na­cionais da Uni­ver­si­dade de Brasília (UnB), Rober­to Goulart Menezes, expli­ca que, para o Brasil, efeitos mais sig­ni­fica­tivos poderão ocor­rer caso o vence­dor das eleições seja o repub­li­cano.

Risco Trump

“Trump, se eleito, será um pres­i­dente de extrema dire­i­ta que ten­derá a reforçar laços e vín­cu­los com a extrema dire­i­ta de país­es lati­no-amer­i­canos. Algo pre­ocu­pante, pois não ocorre há uns 15 anos, é o risco de ele pro­mover, na região, can­di­dat­uras con­trárias à democ­ra­cia, tan­to na Améri­ca da Sul como na Améri­ca Lati­na em ger­al”, disse à Agên­cia Brasil o pesquisador, que tem doutora­do em ciên­cia políti­ca pela Uni­ver­si­dade de São Paulo (USP).

Pro­fes­sor do Depar­ta­men­to de História da UnB, Virgílio Caix­e­ta Arraes avalia que, inde­pen­den­te­mente de quem vencer a eleição, a relação com o Brasil será a mes­ma: “ter­e­mos importân­cia secundária para os EUA”, disse Arraes. “Com exceção de poucos país­es da Améri­ca Lati­na e Caribe, como Méx­i­co, Venezuela, Colôm­bia ou Cuba, por motivos difer­entes, a atenção de Wash­ing­ton para a região é menor que a de out­ras local­i­dades do plan­e­ta, como o Ori­ente Médio ou o sud­este asiáti­co.”

China

Para Goulart Menezes, do Insti­tu­to Nacional de Estu­dos sobre os EUA, é pos­sív­el que os Esta­dos Unidos façam maior pressão nos país­es por­tuários da Améri­ca do Sul, a fim de difi­cul­tar a entra­da de pro­du­tos chi­ne­ses e, con­se­quente­mente, a ampli­ação da influên­cia políti­ca chi­ne­sa na região.

A tendên­cia é que, inde­pen­den­te­mente de quem for o vence­dor, seja man­ti­da a políti­ca de pressão sobre a Chi­na, disse o pro­fes­sor.

Nesse sen­ti­do, diante dos avanços da Chi­na na Améri­ca Lati­na e, e espe­cial, na Améri­ca do Sul, os EUA têm con­sid­er­a­do arrisca­da a pre­sença daque­la potên­cia na região. Por­tan­to ten­derá a faz­er pressão em país­es por­tuários como Brasil e Peru, na ten­ta­ti­va de afas­tar os chi­ne­ses com­er­cial e politi­ca­mente”, disse o pesquisador.

Retórica da segurança

Segun­do Goulart Menezes, todas essas questões – econômi­ca, com­er­cial, políti­ca e até mes­mo ambi­en­tal – resumem-se à mes­ma tese argu­men­ta­ti­va, por parte dos norte-amer­i­canos: riscos à própria segu­rança.

“O tema que mais mobi­liza os EUA ain­da é o da segu­rança. Até porque eles cos­tu­mam pegar temas que nada têm a ver com segu­rança e tratam de cri­ar uma asso­ci­ação. É o caso, por exem­p­lo, da migração e das dro­gas. Ao abor­darem os temas dessa for­ma, os EUA sem­pre respon­s­abi­lizam out­ros gov­er­nos e, de algu­ma for­ma, dizem que impli­cam riscos à segu­rança do país”, argu­men­tou Menezes.

“No caso da relação com o Brasil, que tem como tema chave de suas políti­cas a questão ambi­en­tal, esta tam­bém vira uma questão de segu­rança. Se o Trump vencer, retomará a retóri­ca nega­cionista, asso­cian­do a pau­ta ambi­en­tal à econo­mia. Por­tan­to, de segu­rança para os EUA. Veja bem: ele [Trump] não tra­ta o tema ambi­en­tal como uma questão de sobre­vivên­cia ou de crise climáti­ca, mas como meio para aumen­tar o poten­cial econômi­co dos EUA”, acres­cen­tou.

Na avali­ação do his­to­ri­ador Caix­e­ta Arraes, a Chi­na é uma pedra no sap­a­to dos EUA. A for­ma de lidar com a situ­ação, tan­to da can­di­da­ta democ­ra­ta Kamala quan­to do repub­li­cano Trump, é uma questão de inten­si­dade a ser apli­ca­da em cada situ­ação a ser enfrenta­da.

“Com a Chi­na, ape­sar de os dois país­es viven­cia­rem meio sécu­lo de aprox­i­mação, o quadro não é ani­mador porque o avanço de Pequim no mer­ca­do inter­na­cional e na geopolíti­ca region­al inco­modam Wash­ing­ton, haja vista ali­a­dos como Tóquio, ou Seul, ou Taipé, por exem­p­lo”, disse o his­to­ri­ador.

“Con­tu­do, nen­hum dos dois par­tidos tem de fato políti­ca efe­ti­va de con­tenção ao cresci­men­to da Chi­na. Ora apela-se a dire­itos humanos, ora à questão ambi­en­tal, ou ain­da a regras com­er­ci­ais inter­na­cionais, ou então à ten­são mil­i­tar. A difer­ença entre os dois par­tidos é na cal­i­bragem dos com­po­nentes do pode­rio à dis­posição”, disse o his­to­ri­ador.

Guerras

Dois con­fli­tos chamam de for­ma mais inten­sa a atenção na políti­ca exter­na estadunidense: o de Israel, par­ceiro estratégi­co dos EUA, con­tra a Palesti­na e con­tra o Líbano; e aque­le entre Rús­sia e Ucrâ­nia.

“No Ori­ente Médio, a políti­ca dos EUA é uma políti­ca de Esta­do. Não de gov­er­no. Por­tan­to, não se alter­ará nen­hu­ma lin­ha ger­al, a despeito do par­tido políti­co vence­dor”, desta­cou Caix­e­ta Arraes.

Opinião semel­hante sobre o con­fli­to no Ori­ente Médio tem Goulart Menezes. Segun­do o pesquisador, com relação a esse con­fli­to não há nen­hu­ma difer­ença entre Repub­li­canos e Democ­ratas. “O apoio norte-amer­i­cano a Israel é incondi­cional”, enfa­ti­zou.

“Em maio de 1948, Israel se declara Esta­do. Os Esta­dos Unidos, de ime­di­a­to, recon­hecem. Des­de então, os palesti­nos foram per­den­do ter­ritórios. Não falo isso de um pon­to de vista ide­ológi­co. Bas­ta com­parar os mapas da época e o de ago­ra”, disse o pro­fes­sor.

Ele expli­cou que, atual­mente, o que há de difer­ente é o fato de Israel viv­er um momen­to em que sua margem de autono­mia em relação aos EUA está maior. “Israel sem­pre foi depen­dente de fornec­i­men­to de armas vin­das dos EUA. Ao dar esse apoio, os EUA con­seguiam dire­cionar cer­tas ações de Israel. Atual­mente, eles ain­da têm algu­ma rédea, mas em parte, ela não tem mais efeito”, disse Menezes.

O pesquisador acres­cen­tou que essa per­da, ain­da que sutil, de influên­cia sobre as ações mil­itares de seu par­ceiro estratégi­co é perce­bi­da, inclu­sive, em meio às ameaças dos EUA de sus­pender a aju­da em caso de ataque de Israel a civis palesti­nos e libane­ses. “Vemos que, mes­mo assim, as tropas israe­lens­es con­tin­u­am fazen­do seus ataques, e que o apoio dos EUA no Con­sel­ho de Segu­rança da ONU [Orga­ni­za­ção das Nações Unidas] se man­tém”.

Menezes citou como exem­p­lo o veto norte-amer­i­cano à pro­pos­ta de paz apre­sen­ta­da pelo Brasil para o con­fli­to. “Foi uma pro­pos­ta muito boa que, inclu­sive, rece­beu sinal de apoio da Inglater­ra e da França, ain­da que na for­ma de abstenção. “O que vemos é os EUA con­tin­uan­do a enviar armas e din­heiro para apoio mil­i­tar a Israel. Apoio este que se deve à relação históri­ca entre os dois país­es, bem como ao lob­by israe­lense na políti­ca e nas eleições norte-amer­i­canas. Vale lem­brar que é bem forte pre­sença de judeus de diver­sas nacional­i­dades no sis­tema finan­ceiro”, expli­cou Menezes.

Há, por­tan­to, “cer­ta pressão por meio do poder econômi­co”, acres­cen­tou o pro­fes­sor, ao lem­brar que, por out­ro lado, há tam­bém muitos judeus, tan­to nos EUA como em out­ros país­es, com posi­ciona­men­to críti­co em relação à pos­tu­ra de Israel neste e em out­ros con­fli­tos. “Essa pressão está cada vez maior nos EUA”.

Rússia x Ucrânia

Quan­to à guer­ra entre Rús­sia e Ucrâ­nia, as expec­ta­ti­vas são difer­entes entre repub­li­canos e democ­ratas. “Caso Trump retorne à Casa Bran­ca, a políti­ca exter­na poderá mudar no Leste da Europa. O aspi­rante repub­li­cano disse que, caso vença, vai reduzir de maneira grada­ti­va o socor­ro finan­ceiro e mil­i­tar e, por con­seguinte, a incli­nação políti­ca. Em caso de vitória da democ­ra­ta, o apoio à Ucrâ­nia man­tém-se no mes­mo pata­mar”, afir­mou Caix­e­ta Arraes.

Na avali­ação de Menezes, caso Trump vença a dis­pu­ta, a pos­tu­ra do repub­li­cano nesse con­fli­to será opos­ta à dos democ­ratas. “Ele já ace­nou com a reti­ra­da de apoio à Ucrâ­nia. Não sabe­mos se ela será grad­ual ou abrup­ta, mas sabe­mos que, com isso, a guer­ra tomará out­ro cur­so.”

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