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Retrospectiva 2023: produtores querem recuperar áreas atingidas no Sul

Repro­dução: © Dênio Simões /  MIDR

Ciclone causa prejuízos para a lavoura


Pub­li­ca­do em 01/01/2024 — 13:44 Por Cristi­na Índio do Brasil — Repórter da Agên­cia Brasil — Brasília

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Pequenos pro­du­tores da agropecuária do Vale do Taquari, que se estende a 40 municí­pios na região cen­tral do Rio Grande do Sul, estão amar­gan­do pre­juí­zos cau­sa­dos pela pas­sagem, em setem­bro, de um ciclone extra­t­rop­i­cal que provo­cou fortes chu­vas.

O mau tem­po que atingiu o esta­do resul­tan­do na cheia do rio Taquari con­tin­u­ou até novem­bro. Os pre­juí­zos das lavouras de soja, mil­ho, tri­go, aip­im e taba­co não são os úni­cos. É que os pro­du­tores perder­am gado, por­cos e fran­gos, além da pecuária de corte e da pro­dução de leite. O Vale do Taquari foi a área mais atingi­da no esta­do.

O coor­de­nador da Fed­er­ação dos Tra­bal­hadores na Agri­cul­tura no Rio Grande do Sul (Fetag), no Vale do Taquari, Mar­cos Hin­rich­sen, disse que ain­da é pre­ciso anal­is­ar a qual­i­dade do solo após a erosão cau­sa­da pelas enchentes.

“[É] uma avali­ação de muito pre­juí­zo com relação à erosão do solo, porque as chu­vas tor­ren­ci­ais levaram mui­ta ter­ra boa emb­o­ra. Perdeu-se mui­ta qual­i­dade de solo. Tem nos pre­ocu­pa­do como podemos recu­per­ar as ter­ras para con­tin­uar pro­duzin­do, fora a questão de ani­mais com uma per­da bem grande, casas e galpões atingi­dos”, disse em entre­vista à Agên­cia Brasil.

Pas­sa­do o perío­do de chu­va e de lev­an­ta­men­to dos danos, o tra­bal­ho de recu­per­ação é inten­so. O coor­de­nador desta­cou que os impactos entre os pro­du­tores são difer­entes. Tudo depende do que foi per­di­do. O esforço para a retoma­da está começan­do pelo plan­tio de soja em algu­mas pro­priedades.

“Como são peque­nas áreas, o agricul­tor pre­cisa rap­i­da­mente faz­er o plan­tio porque depende dis­so. Ele se orga­ni­zou. Não dá para diz­er que são 100%, mas naqui­lo que é pos­sív­el ele está estru­tu­ran­do e plan­tan­do nova­mente. Cada caso é um caso”, afir­mou, acres­cen­tan­do que o resul­ta­do dos pre­juí­zos das lavouras vai ser um baque na safra de grãos, como já ocor­reu com a per­da de 80%, 90% do tri­go na região.

Prejuízos

Segun­do Hin­rich­sen, os pro­du­tores estão investin­do den­tro de suas pos­si­bil­i­dades, mas ações dos gov­er­nos fed­er­al, estad­ual e munic­i­pal têm sido real­izadas para mel­ho­rar a condição de quem sofreu pre­juí­zos. O per­fil da região é de peque­nas pro­priedades de até 15 hectares. “Mes­mo quem não perdeu pelas cheias do rio, perdeu pelo exces­so de chu­vas”, acen­tu­ou.

A recu­per­ação do solo tem apoio de pro­gra­mas do gov­er­no estad­ual de for­ma sub­sidi­a­da, com análise da ter­ra e adubação necessária. O Ban­co do Brasil abriu uma lin­ha de crédi­to para aju­dar os pro­du­tores, a Caixa desen­volve um pro­gra­ma de habitação no for­ma­to calami­dade e há, ain­da, doações que estão chegan­do às famílias.

“São várias frentes tra­bal­hadas por órgãos dos gov­er­nos fed­er­al, do esta­do e dos municí­pios, na medi­da do pos­sív­el para aux­il­iar as famílias a via­bi­lizar suas pro­priedades e con­tin­uar pro­duzin­do”, salien­tou.

De acor­do com o sindi­cal­ista, ain­da não é pos­sív­el avaliar em quan­to tem­po será con­cluí­da a recu­per­ação. “Cada pro­priedade é uma real­i­dade. Às vezes o rio tira mais de uma e na out­ra tra­bal­ha de for­ma difer­ente. Tem casos que acred­i­to que levará anos para recu­per­ar com­ple­ta­mente se não hou­ver uma out­ra enchente. Out­ras não neces­si­tam tan­to”, expli­cou, lem­bran­do que durante os três anos antes de 2023 os agricul­tores sofr­eram com a esti­agem.

Chapadão do céu - GO. Aplicação de herbicida, fertilizante. Agricultura de precisão. Agro 4.0. Foto: Wenderson Araujo/Trilux
Repro­dução: Chu­vas dan­i­ficaram agri­cul­tura no sul do país  Foto: Wen­der­son Araujo/Trilux

Hin­rich­sen obser­vou que há muito tem­po o esta­do não pas­sa­va por uma inten­si­dade tão grande de chu­vas e isso desan­i­mou os pro­du­tores. “Muitos agricul­tores estão abal­a­dos psi­co­logi­ca­mente e pre­cisamos enten­der que o nos­so bem maior é a vida e temos que recon­stru­ir o nos­so Vale do Taquari, que é tão pujante e com uma econo­mia muito pos­i­ti­va e de muito tra­bal­ho”, disse.

Mudanças climáticas

As chu­vas atin­gi­ram o Rio Grande do Sul em um mes­mo momen­to em que ocor­ri­am ondas de calor inten­so no Sud­este e no Cen­tro-Oeste. Ess­es fenô­menos têm uma mes­ma expli­cação: as pre­ocu­pantes mudanças climáti­cas que atingem o plan­e­ta.

“A esti­agem e o exces­so de chu­vas pre­cisam entrar na pau­ta do movi­men­to sindi­cal na agri­cul­tura famil­iar. As mudanças climáti­cas estão pre­sentes e pre­cisamos debater como podemos nos orga­ni­zar para não ter essas sur­pre­sas que esta­mos ten­do ago­ra”, sus­ten­tou.

“Se a gente olhar para fora do Brasil tam­bém está acon­te­cen­do isso. Na nos­sa casa comum, no nos­so plan­e­ta, a situ­ação é pre­ocu­pante. Pre­cisamos dis­cu­tir isso”.

Temperatura

O cli­ma­tol­o­gista do Depar­ta­men­to de Geografia da Uni­ver­si­dade Fed­er­al do Rio Grande do Sul, Fran­cis­co Aquino, disse que — se não for o ano mais quente — 2023 vai repe­tir 2016 que alcançou pata­mar mais alto. Naque­le ano, avali­ações de cien­tis­tas da Nasa e da Agên­cia Oceâni­ca e Atmos­féri­ca dos Esta­dos Unidos (Noaa, na sigla em inglês) apon­taram que foi o ano mais quente des­de 1880, quan­do começaram os reg­istros históri­cos de tem­per­atu­ra. Con­forme os dados, a média da tem­per­atu­ra da super­fí­cie da ter­ra em 2016 atingiu 0,94ºC aci­ma da média reg­istra­da ante­ri­or­mente: 13,9%.

Para o pro­fes­sor, 2023 é um ano total­mente anô­ma­lo com com­por­ta­men­to com­ple­ta­mente difer­ente de out­ros con­sid­er­a­dos mais quentes até ago­ra, o que, na sua avali­ação, causa espan­to o fato de o ano ter per­maneci­do — a par­tir de jun­ho — com tem­per­at­uras ele­vadas.

“Está nos assu­s­tan­do por con­ta de ver tan­ta ener­gia nos oceanos e na atmos­fera [em razão de] mudanças climáti­cas que estão encam­in­han­do a ocor­rên­cia dess­es even­tos extremos, mun­do afo­ra, inclu­sive no Brasil”, afir­mou.

Segun­do o cli­ma­tol­o­gista, a com­bi­nação com­plexa de tan­tos fenô­menos ao mes­mo tem­po na Amazô­nia e nas regiões Sul, Cen­tro-Oeste e Sud­este, que pode ser chama­da pop­u­lar­mente de “tem­pes­tade per­fei­ta”, infe­liz­mente, foi vivi­da em 2023 em todo o plan­e­ta alian­do o aque­c­i­men­to dos oceanos à ocor­rên­cia do El Niño. “Os dois se com­bi­nam para ger­ar even­tos extremos de todos os tipos”, enfa­ti­zou.

Aquino disse, ain­da, que um El Niño forte só pode ger­ar impacto da mag­ni­tude que se ver­i­fi­cou porque há oceano e atmos­fera mais quentes, além do atu­al nív­el de des­mata­men­to entre Amazô­nia, Cer­ra­do e Pan­tanal. Entre 2020 e 2022, o fenô­meno La Niña provo­cou even­tos severos con­trários. Enquan­to a Amazô­nia pas­sa­va por chu­vas inten­sas, o sul enfrenta­va a esti­agem.

Permanência

A ação do El Niño pode ser sen­ti­da ain­da em 2024. Segun­do o cli­ma­tol­o­gista, os mod­e­los oceâni­cos e atmos­féri­cos indicam que há 50% de chance de o fenô­meno estar pre­sente em maio e, a par­tir de jun­ho, começar a ocor­rer a chama­da con­fig­u­ração neu­tra que sig­nifi­ca a vol­ta ao nor­mal.

“O detal­he é que já estará pelo meio de 2024, o que sig­nifi­ca que o inver­no do sul do Brasil ain­da pode ter influên­cia de chu­va um pouco aci­ma da média e ter tem­per­atu­ra e esti­agem ou diminuição da chu­va na região amazôni­ca. Um El Niño forte ou um El Niño médio podem ger­ar um impacto impor­tante”, avaliou, desta­can­do que esse panora­ma é o que está sendo obser­va­do no momen­to para os próx­i­mos seis meses, o que não afas­ta a pos­si­bil­i­dade de alter­ações.

Reflexos

Entre tan­tos efeitos, as ondas de calor no sud­este e o rompi­men­to de uma adu­to­ra na Baix­a­da Flu­mi­nense levaram a Com­pan­hia Estad­ual de Águas e Esgo­tos do Rio de Janeiro (Cedae) a adi­ar por três vezes em novem­bro a manutenção pre­ven­ti­va anu­al do Sis­tema Guan­du.

Inte­gra­do pela Estação de Trata­men­to de Água do Guan­du e pelos dois sub­sis­temas de água trata­da Mara­picu e Lameirão, o Sis­tema Guan­du é respon­sáv­el pelo abastec­i­men­to de mais de 10 mil­hões de pes­soas no Rio de Janeiro e na Baix­a­da Flu­mi­nense. Por fim, o serviço começou a ser real­iza­do no dia 5 de dezem­bro e foi con­cluí­do na madru­ga­da do dia seguinte.

Morte no Rio

O calor inten­so foi sen­ti­do pelos fãs da can­to­ra amer­i­cana Tay­lor Swift, que — no primeiro dia de três apre­sen­tações, em novem­bro últi­mo — esper­aram horas sob sol forte para entrar no Está­dio Olímpi­co Nil­ton San­tos, o Engen­hão, no Rio, para pres­en­ciar um show da artista.

O públi­co reclam­ou tam­bém da fal­ta de água no local e da obri­gação pela TF4 — orga­ni­zado­ra do even­to — de deixar gar­rafas de água na entra­da do está­dio. O públi­co teve de com­prar água a preços ele­va­dos den­tro do está­dio.

Logo no iní­cio do espetácu­lo na noite da sex­ta-feira (17), a estu­dante de psi­colo­gia Ana Clara Bene­v­ides Macha­do, de 23 anos, mor­reu. Ela teve duas paradas car­dior­res­pi­ratórias. A biólo­ga Daniele Menin, que com Ana Clara saiu de Ron­donópo­lis, no Mato Grosso, para ver a artista, disse que a ami­ga pas­sou mal na segun­da músi­ca da apre­sen­tação e des­maiou. Ana Clara foi lev­a­da para o Hos­pi­tal Munic­i­pal Sal­ga­do Fil­ho, tam­bém na zona norte, mas não resis­tiu.

Depois da morte, o show mar­ca­do para o sába­do (17) foi adi­a­do para segun­da-feira (20), um dia chu­voso e de tem­per­atu­ra mais ame­na, o que, pelo menos, reduz­iu descon­for­to do públi­co que foi ao Engen­hão.

Edição: Kle­ber Sam­paio

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