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Rincon Sapiência oferece oportunidades para jovens talentos do rap

Repro­dução: © Arte sobre foto de Rove­na Rosa/Agência Brasil

Rapper diz que trabalho envolve ajuda mútua, esforço e criatividade


Pub­li­ca­do em 16/11/2023 — 07:30 Por Daniel Mel­lo — Repórter da Agên­cia Brasil — São Paulo

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Arte Vozes do Hip Hop 50 anos - Entrevista Soberana Ziza. Arte: EBC

Sem deixar de lado o tra­bal­ho autoral, o rap­per Rin­con Sapiên­cia tem se ded­i­ca­do a apoiar jovens tal­en­tos da zona leste paulis­tana, onde nasceu e cresceu. “É uma opor­tu­nidade que eu não tive, de sair andan­do de casa e ir para um estú­dio, no qual eu pos­sa pro­duzir, gravar, pas­sar min­has vozes. Isso aí eu não tin­ha condição”, con­ta o artista sobre a estru­tu­ra que bus­ca fornecer aos novos MCs.

Essa for­ma de con­strução, com aju­da mútua, esforço e cria­tivi­dade, ape­sar das situ­ações nem sem­pre favoráveis, é tam­bém, segun­do Rin­con, parte do hip hop.

“Se você pegar as minú­cias da história da cul­tura, sem­pre tem alguém agin­do, empreen­den­do, fazen­do acon­te­cer. Então, a ideia hip hop é muito impor­tante para o jovem de per­ife­ria”, enfa­ti­zou durante a gravação do pro­gra­ma Cam­in­hos da Reportagem, da TV Brasil.

Rin­con con­ta que ain­da tra­bal­ha­va no setor de tele­mar­ket­ing, quan­do lançou, em 2009, o sin­gle Elegân­cia. Com o suces­so, decid­iu aban­donar os tra­bal­hos for­mais e focar na car­reira musi­cal. A canção, que saiu acom­pan­ha­da de um video­clipe, explo­ra a importân­cia da moda e do esti­lo para a cul­tura hip hop e para os jovens de per­ife­ria. “É sobre autoes­ti­ma tam­bém, é sobre estéti­ca tam­bém”, defende a respeito do papel que ess­es ele­men­tos têm na for­mação da autoes­ti­ma da juven­tude.

São Paulo (SP), 10/11/2023 - O rapper Rincon Sapiência, que lançou os álbuns Galanga Livre e Mundo Manicongo, fala sobre a cultura Hip Hop. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Repro­dução: “Meu tra­bal­ho não fun­ciona se eu não estiv­er conec­ta­do com a que­bra­da”, diz Rin­con Sapiên­cia — Rove­na Rosa/Agência Brasil

Conexão que acon­tece, na visão do artista, porque são as per­ife­rias que aces­sam cada vez mais os recur­sos de pro­dução, que têm deter­mi­na­do os rumos do hip hop. “Quem indi­ca as tendên­cias, o esti­lo de pro­dução, a gira do momen­to, o que está sendo feito, são os artis­tas da que­bra­da”, enfa­ti­za.

O con­tex­to atu­al tam­bém pede novas for­mas de comu­ni­cação, na opinião do artista, espe­cial­mente para tratar de temas his­tori­ca­mente pelo rap, como a denún­cia das condições soci­ais. “Há espaço, sim, à críti­ca social, a traz­er infor­mação para as pes­soas, mas des­de que essa infor­mação seja lev­a­da de fato às pes­soas, que não seja algo que pareça que você quer impor algo que você quer, que soe moral­ista”, avalia.

Con­fi­ra os prin­ci­pais tre­chos da entre­vista com Rin­con Sapiên­cia.

Agên­cia Brasil: Na músi­ca Pon­ta de Lança, você can­ta: “A depen­der de mim, a cul­tura MC ain­da vive”. Eu que­ria saber como é que você entrou nes­sa cul­tura, que MCs te influ­en­cia­ram para ser um mestre de cer­imô­nia?
Rin­con Sapiên­cia: Eu me conectei com a cul­tura hip hop des­de cri­ança, por con­ta do meu irmão mais vel­ho, que sem­pre ouvia rap, a cul­tura que tem os qua­tro ele­men­tos, e eu me apaixonei pelos qua­tro ele­men­tos. O DJ era um pouco mais difí­cil, por con­ta de equipa­men­tos e esse tipo de coisa. Mas, eu fazia grafite, ten­ta­va dançar break e prin­ci­pal­mente gosta­va de com­por, de escr­ev­er. Foi a parte que eu mais con­segui me desen­volver tam­bém.

O rap­per que me influ­en­ciou inclu­sive a dar car­reira de MC foi o Xis, isso [em] mea­d­os de 99, por con­ta do dis­co dele Seja como For. Ele tin­ha lança­do a músi­ca De Esquina, que já tin­ha feito min­ha cabeça. Eu ama­va essa músi­ca, amo. Quan­do saiu o dis­co, eu ador­ei mais ain­da, aí saiu o video­clipe com ima­gens na min­ha que­bra­da, na Cohab – 1 [con­jun­to habita­cional con­struí­do pelo gov­er­no estad­ual], aí eu gostei muito. Os Racionais tam­bém, obvi­a­mente, for­maram muito o nos­so caráter, a gente que é de que­bra­da. Mas, quan­do eu vi os Racionais eu sen­ti uma cer­ta dis­tân­cia do que eles falavam, da pro­fun­di­dade, com a min­ha idade, que eu tin­ha 15 anos e tudo mais. Então, o Xis foi o cara que eu con­segui visu­alizar que eu pode­ria faz­er rap, falar de out­ras coisas, de out­ras for­mas difer­entes e por aí foi.

Quan­do eu falo da cul­tura do MC, é de val­orizar o mestre de cer­imô­nia, aque­le que ten­ta dar seu mel­hor, apre­sen­tar téc­ni­cas de rima, que quer botar pra que­brar em cima do pal­co, que gos­ta de inter­a­gir com o públi­co, que se movi­men­ta, que chama atenção exercendo a função de MC.

Agên­cia Brasil: Qual papel você acha que a batal­ha de rima tem na for­mação do MC?
Rin­con Sapiên­cia: Eu peguei muito o freestyle, mas não nec­es­sari­a­mente batal­has, era um momen­to onde a gente fazia sessões de freestyle, prin­ci­pal­mente no cen­tro de São Paulo, mea­d­os… Nos­sa, vou ser ruim com a data, talvez 2003, 2004, quan­do tin­ha, na Gale­ria Oli­do, a ban­da Cen­tral Acús­ti­ca, era uma ban­da de três inte­grantes, bate­ria, gui­tar­ra, baixo. O MC era o Kamal e ele, aleato­ri­a­mente, con­vi­da­va pes­soas pra can­tar um tre­cho de algu­ma rima. Era livre, na ver­dade. Eu esta­va sem­pre lá, as quin­tas-feiras, e eu me desta­ca­va fazen­do freestyle.

A par­tir dis­so eu me conectei com mui­ta gente, eu lem­bro quan­do o KL Jay aper­tou a min­ha mão e falou que eu man­da­va bem. Eu lem­bro os detal­h­es mín­i­mos, eu con­stru­in­do tijolin­ho por tijolin­ho. Lógi­co que eu já can­ta­va antes dis­so, mas essa época foi uma época que eu con­segui apare­cer. A gente não tin­ha condição de gravar, então faz­er freestyle era uma for­ma de a gente apare­cer, porque você não pre­cisa­va ter uma gravação, era uma for­ma de a gente per­for­mar, can­tar e con­seguir mostrar o tra­bal­ho.

Com a cres­cente das batal­has, logo em segui­da veio o perío­do da [Estação] San­ta Cruz, o [rap­per] Emi­ci­da, que se desta­cou muito, entre out­ros rap­pers tam­bém. Essa fase talvez seja o momen­to em que esta­va mais efer­ves­cente essa ideia de batal­has. Eu apoio muito, porque imag­i­no que, para mui­ta gente dessa época, foi uma for­ma de ter o seu primeiro con­ta­to com o rap, de poder can­tar e tam­bém de poder assi­s­tir. Porque é algo na rua, é algo que é na voz ali, é só você colar, trom­bar, rapazi­a­da, aque­la coisa toda assim. Eu sou um cara que, por mais que não ten­ha o hábito de fre­quen­tar, apoia muito essa ideia das batal­has e acho que é muito necessário pra cul­tura.

Agên­cia Brasil: Você tro­cou em dois pon­tos inter­es­santes. Você falou dessa importân­cia dessa cena do cen­tro, você esta­va ali na Gale­ria Oli­do, per­to de out­ros pon­tos, como a 24 de Maio, São Ben­to, que são pon­tos que têm importân­cia históri­ca na cul­tura hip hop da cidade de São Paulo. Mas você tam­bém falou que você sen­tia importân­cia de falar da que­bra­da, de ver a que­bra­da rep­re­sen­ta­da na músi­ca. Como é que a que­bra­da está no seu tra­bal­ho, está nas suas canções?
Rin­con Sapiên­cia: São perío­dos. Esse perío­do do iní­cio dos anos 2000 foi um perío­do onde os grandes expoentes do rap que a gente con­hece acabaram dan­do um tem­po, os gru­pos ficaram um tem­po sem lançar músi­cas. Então aque­les nomes de refer­ên­cia, que eram extrema­mente influ­entes nos anos 1990, nos anos 2000, tiver­am essa vira­da. Então, o rap tam­bém se refor­mu­lou no que diz sen­ti­do à estéti­ca, ao dis­cur­so, e acabou mudan­do tam­bém a área de atu­ação, se tornou um movi­men­to um pouco menor e acabou se con­cen­tran­do no cen­tro durante um perío­do.

Mas, com toda essa vira­da, o rap acabou gan­han­do uma pro­porção que está des­de o under­ground na rua até o grande mer­ca­do da músi­ca. Vide os artis­tas aí que alcançam números incríveis nesse proces­so. Já faz alguns anos que a que­bra­da está muito conec­ta­da, está muito infor­ma­da, aces­san­do inter­net. Está ten­do recur­sos tam­bém de pro­dução musi­cal, de poder gravar e faz­er as coisas. O momen­to do rap é a que­bra­da, por mais que você pos­sa falar: “Mas eu fui para tal even­to, tin­ha o pes­soal de uma out­ra classe social.” Ok, mas a base, quem indi­ca as tendên­cias, o esti­lo de pro­dução, a gira do momen­to, o que está sendo feito, são os artis­tas da que­bra­da.

O fato de eu estar próx­i­mo da que­bra­da, onde eu sou nasci­do e cri­a­do, e, nat­u­ral­mente, já é min­ha natureza. Tam­bém próx­i­mo de out­ros artis­tas, tem feito eu con­seguir me ren­o­var muito, eu con­seguir me man­ter conec­ta­do com o que está acon­te­cen­do. É o que está me fazen­do con­tin­uar pro­du­ti­vo tam­bém. Eu diria que meu tra­bal­ho não fun­ciona se eu não estiv­er conec­ta­do com a que­bra­da.

Ago­ra, a gente tem uma cena de rap indí­ge­na, tem gente pro­duzin­do a par­tir da temáti­ca LGBT, da sua própria real­i­dade. Como é que você vê aí o rap e o hip hop nes­sa questão da plu­ral­i­dade de vozes? Qual­quer movi­men­to cul­tur­al começa de uma for­ma, mas ele muda de acor­do com a sociedade. E a ideia prin­ci­pal, imag­i­no eu, do iní­cio da cul­tura hip hop foi essa plu­ral­i­dade. Ele começa com os pre­tos, com a músi­ca pre­ta, com a influên­cia do sound sys­tem da Jamaica. O DJ Kool Herc fez uma fes­ta, que eles chamam de block par­ty, uma fes­ta na rua. É uma cul­tura pre­ta, mas, pelo fato de estar na que­bra­da, acabou con­tem­p­lan­do os lati­nos tam­bém, acabou con­tem­p­lan­do que a vida do imi­grante fora do seu país sem­pre é uma luta tam­bém, de algu­ma for­ma.

Ele [o hip hop] sem­pre con­tem­plou aque­les menos ouvi­dos, menos rep­re­sen­ta­dos. E eu acho que nos dias de hoje esse recorte tá tam­bém den­tro do LGBT, dos indí­ge­nas. Eu acho que o hip hop pre­cisa ser um suporte tam­bém pra essas pes­soas. Eu acho necessário.

Vozes Hip Hop arte
Repro­dução: @Agência Brasil

 

Agên­cia Brasil: Em Elegân­cia, que, jun­to com o video­clipe, foi o primeiro tra­bal­ho seu a gan­har grande reper­cussão, você fala que “pre­to for­ma­do, sem­pre perigoso, paga um pouco nos panos, mas é vai­doso”. Traz­er autoes­ti­ma para a juven­tude pre­ta e per­iféri­ca tam­bém é uma for­ma de enfrentar o racis­mo?
Rin­con Sapiên­cia: Com certeza, porque o hip hop no iní­cio aqui no Brasil pegou muito nes­sa veia, que foi muito impor­tante, inclu­sive, ele pegou muito essa veia social. Mui­ta influên­cia dos movi­men­tos pre­tos de fora do Brasil, do Black Pan­ther [Pan­teras Negras, ativis­tas con­tra o racis­mo nos EUA]. Tin­ha as ban­das tam­bém que can­tavam isso, Pub­lic Ene­my [grupo de rap norte-amer­i­cano] e tudo mais.

Mas parte dos sig­nos do hip hop tam­bém envolve o com­por­ta­men­to, a ati­tude e a autoes­ti­ma tam­bém. Tan­to é que você vai ver uma foto anti­ga dos anos 1990, 1980, eles estão sem­pre posan­do, sem­pre aque­la mar­ra, sem­pre aque­le esti­lo de roupa. É sobre autoes­ti­ma tam­bém, é sobre estéti­ca tam­bém. Não é somente isso, mas é sobre as cor­rentes, o ouro, a pos­tu­ra, o jeito que dança, a mar­ra, o jeito que posa, que anda, que se com­por­ta. Então, traz­er autoes­ti­ma, fazen­do hip hop, é você faz­er hip hop.

Agên­cia Brasil: Você acha que o hip hop tam­bém tem um lugar de abrir pos­si­bil­i­dades para essa juven­tude per­iféri­ca, abrir hor­i­zontes?
Rin­con Sapiên­cia: É uma for­ma de abrir pos­si­bil­i­dades, sim. Porque é isso, o hip hop tem os qua­tro ele­men­tos — DJ, MC, o break, o grafite — mas eu acred­i­to muito que o hip hop é uma ideia. Essa ideia do faça você mes­mo, de você não depen­der. Eles [pio­neiros da cul­tura] não tin­ham, por exem­p­lo, condição de mon­tar uma ban­da com bate­ria, tudo. Eles pegavam tre­chos livres de algu­ma músi­ca, fazi­am esse tre­cho se repe­tir, usavam isso pra dançar, pra can­tar em cima. Não tin­ha um lugar pra expor seus quadros, sua arte, uma gale­ria. Eles iam pra rua, para o trem, grafi­tavam e tal, dançavam na rua.

A ideia de faz­er acon­te­cer por você mes­mo é hip hop. De você crescer e traz­er alguém pra per­to de você, isso é hip hop tam­bém. Para além do que é deter­mi­na­do como qua­tro ele­men­tos, ser hip hop é você empreen­der, você aju­dar seu par­ceiro, você faz­er algu­ma coisa pelo seu par­ceiro, você faz­er algu­ma coisa pela sua que­bra­da, você traz­er a autoes­ti­ma, é você se empoder­ar de algu­ma for­ma. Se você pegar des­de o iní­cio, sem­pre tem alguém que pux­ou a primeira fes­ta, tem alguém que lev­ou o mate­r­i­al de tal artista para uma deter­mi­na­da gravado­ra e con­seguiram lançar. Se você pegar as minú­cias da história da cul­tura, sem­pre tem alguém agin­do, empreen­den­do, fazen­do acon­te­cer. Então, a ideia hip hop é muito impor­tante para o jovem de per­ife­ria.

Agên­cia Brasil: A críti­ca social esta­va ali na origem do rap, do hip hop, mas depois a gente vai se expandin­do, abrindo esse leque de pos­si­bil­i­dades. Mas, hoje, a críti­ca social ain­da tem lugar no rap con­tem­porâ­neo?
Rin­con Sapiên­cia: Eu acho que a sociedade con­tem­porânea em si se dis­põe menos a falar sobre. Talvez a ideia social, hoje em dia, ela é apli­ca­da de uma for­ma difer­ente do que era apli­ca­da antes. Eu acred­i­to que ten­ha espaço, sim, des­de que você con­si­ga esta­b­ele­cer um con­ta­to, um diál­o­go com as pes­soas. O que eu pen­so é que alguns dis­cur­sos, da for­ma que era fei­ta anos atrás, para se comu­nicar com os jovens hoje em dia, são um pouco difer­ente. Então, acho que achan­do essa veia de falar com os jovens, de esta­b­ele­cer um con­ta­to, uma comu­ni­cação com eles, acho que é pos­sív­el.

Acho que tam­bém essa man­i­fes­tação social talvez ela já este­ja acon­te­cen­do, mas com out­ros dis­cur­sos, com uma out­ra for­ma de ser, de rebel­dia, vamos diz­er assim, de out­ras maneiras. Mas eu acred­i­to que há espaço, sim, à críti­ca social, a traz­er infor­mação para as pes­soas, mas des­de que essa infor­mação seja lev­a­da de fato às pes­soas, que não seja algo que pareça que você quer impor algo que você quer, que soe moral­ista. Às vezes, quan­do a gente não toma cuida­do, parece que você é o pai cha­to, aque­le cara, não, isso aí não, não sei o que e tal. Tem que saber con­ver­sar com os jovens e com as pes­soas no ger­al. Acer­tan­do isso, essa comu­ni­cação, nos dias de hoje, é pos­sív­el, sim, traz­er esse dis­cur­so.

Agên­cia Brasil: Hoje, o que te inter­es­sa aí no rap e no hip hop? No que você tá tra­bal­han­do hoje?
Rin­con Sapiên­cia: Eu con­tin­uo fazen­do min­has coisas, pro­duzin­do. Me sin­to ain­da inspi­ra­do a pro­duzir, a com­por, a falar, a gravar e tudo. Ten­ho feito meus tra­bal­hos, ten­ho tido uma exper­iên­cia nova, que é de agên­cia artista. A gente está tra­bal­han­do com três artis­tas aqui da que­bra­da, são dois MCs, o Bren­ove e o França e um pro­du­tor musi­cal que se chama Hiroshi. Todos eles aqui da região, da que­bra­da e todos eles muito tal­en­tosos, todos eles jovens.

Quan­do eu digo jovens, a gente já tem uma for­ma jovem de se por­tar, de se comu­nicar, de faz­er a músi­ca, de falar. Então, não seria uma exten­são do Rin­con e sim novos artis­tas. Eu acho que a gente pre­cisa dar opor­tu­nidade a novos artis­tas e isso está sendo bem legal, sim. Na ver­dade, se eu tivesse ain­da mais recur­sos, eu estaria agre­gan­do muito mais artis­tas além deles três. Porque con­heço mui­ta gente tal­en­tosa aqui na região. Eu acho que eu me inspiro, con­tin­uo inspi­ra­do a diz­er coisas por con­ta das min­has exper­iên­cias pes­soais mes­mo, mas essa ener­gia jovem tam­bém que eu vejo neles, musi­cal­mente tam­bém, me inspi­ra muito tam­bém.

Agên­cia Brasil: Quan­do você decide apoiar ess­es jovens, você pen­sa em apoios que você teve no pas­sa­do? Você acha que teve fig­uras que foram impor­tantes pra você no pas­sa­do pra você chegar onde você chegou hoje?
Rin­con Sapiên­cia: Eu tive fig­uras inspi­rado­ras. Des­de pes­soas que eu não con­heço, como Xis , Racionais, Con­sciên­cia Humana, o De Menos Crime, o Sis­tema Negro, que me inspi­ravam muito, até gru­pos da região, o Raciocínio Negro, o De Olho no Crime, Con­tra Sis­tema, o Mentes Crim­i­nais, o Códi­go 44, o Facção X, muito grupo aqui da região. Eu muito novo, eles já mais vel­hos, fazen­do as coisas me inspi­raram muito.

Mas, de toda for­ma, para eu ter aces­so a com­puta­dores, pro­dução musi­cal e várias coisas, eu sem­pre tin­ha que sair da que­bra­da, ir até um ami­go na zona norte, no cen­tro ou em out­ra região, que não fos­se a Cohab 1. Quan­do eu vejo vários artis­tas da Cohab 1, muito bons, tal­en­tosos, o que eu pen­so? Que eu pos­so dar opor­tu­nidade para eles terem o mel­hor deles, mas sem pre­cis­ar sair e ir lá para não sei aonde para faz­er a para­da deles. Acho que a gente pode con­cen­trar por aqui mes­mo e con­tin­uar fazen­do as coisas. Isso é uma opor­tu­nidade que eu não tive. De sair andan­do de casa e ir para um estú­dio do qual eu pos­sa pro­duzir, gravar, pas­sar min­has vozes, isso aí eu não tin­ha condição.

A gente tem o nos­so QG, que é aqui próx­i­mo tam­bém, e os mole­ques ficam lá dire­to, pro­duzin­do, gra­van­do e estão com a mente fres­ca. O rit­mo deles de pro­dução é incrív­el, de faz­er músi­ca toda sem­ana. Toda hora man­dan­do no What­sApp escu­ta essa, escu­ta essa. Toda hora sai coisa nova e eu fico feliz por isso. Lógi­co que é um tra­bal­ho de formigu­in­ha, ain­da não somos aque­la pro­du­to­ra com um aporte enorme, mas a gente se vê com o recur­so de poder pro­por­cionar a parte artís­ti­ca, pelo menos, que é de eles gravarem, rodarem o video­clipe, colo­carem as paradas na rua. Então, muito em breve, a gente vai estar colo­can­do na rua e apre­sen­tan­do o tra­bal­ho deles por aí.

Agên­cia Brasil: O que você vê hoje como mar­cos na sua car­reira?
Rin­con Sapiên­cia: Tiver­am dois fortes. O primeiro é o Elegân­cia [lança­men­to da músi­ca e video­clipe], que é quan­do eu saio do tele­mar­ket­ing e vejo um cam­in­ho na músi­ca. Falo: “Ó, tem cam­in­ho, músi­ca tem cam­in­ho”. Eu paro de tram­par for­mal­mente e começo a inve­stir, tra­bal­har com arte, gan­har o din­heiro, mes­mo pouco, com músi­ca. O [sin­gle] Pon­ta de Lança é quan­do esse pro­je­to meio que dá cer­to, quan­do fir­ma. É quan­do eu começo a faz­er shows de fato, ter agen­da, ter equipe, ter um tra­bal­ho mais estru­tu­ra­do.

Agên­cia Brasil: Você usa diver­sos sím­bo­los de religião afro-brasileira, qual papel a espir­i­tu­al­i­dade tem no seu tra­bal­ho?
Rin­con Sapiên­cia: Tem um papel forte, porque eu me aden­tro na religião de fato, como um fil­ho, muito recen­te­mente. É de dois anos pra cá, na pan­demia, me torno fil­ho mes­mo. Antes eu era um estu­dante de livros, sim­pa­ti­zante. Mas, [hoje], enten­den­do algu­mas coisas, ela já agia des­de antes na min­ha vida. A min­ha cabeça, o meu orixá de cabeça, tudo isso já atu­a­va na min­ha vida, na parte artís­ti­ca tam­bém. Eu que descon­hecia. Con­forme eu fui me aden­tran­do, fui ven­do a influên­cia que tin­ha.

Assista na TV Brasil ao Caminhos da Reportagem sobre hip hop:

Edição: Juliana Andrade

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