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Rio celebra história e resistência negra neste domingo

Repro­dução: © Agên­cia Brasil/Tomaz Sil­va

Exposição e circuito histórico fazem parte do Dia da Consciência Negra


Pub­li­ca­do em 20/11/2022 — 08:12 Por Ake­mi Nita­hara – Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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Insti­tuí­do por decre­to em 2011, o Cir­cuito da Her­ança Africana no Rio de Janeiro, que abrange a região por­tuária con­heci­da como Peque­na África, rev­ela escav­ações arque­ológ­i­cas e locais de resistên­cia e ten­ta­ti­va de apaga­men­to da história negra na cidade.

O pro­fes­sor Flávio Hen­rique Car­doso, que pro­move aulas públi­cas para ensi­nar a história da região e da chega­da dos africanos escrav­iza­dos no país, lamen­ta a situ­ação de aban­dono de alguns espaços. Antes da pan­demia, em 2019, ele aler­ta­va para a fal­ta de inves­ti­men­tos na região, o que não mudou muito, des­de então.

“A Peque­na África con­tin­ua nas mes­mas condições que esta­va em 2019, ou seja, os locais que estavam com fal­ta de ilu­mi­nação con­tin­u­am. Mas os cir­cuitos con­tin­u­am acon­te­cen­do da mes­ma for­ma. No pós-pan­demia piorou um pouco, mas nada que impeça de faz­er o cir­cuito.”

Ques­tion­a­da sobre inves­ti­men­to nos equipa­men­tos nos últi­mos três anos, a Com­pan­hia de Desen­volvi­men­to Urbano da Região do Por­to (Cdurp) respon­deu ape­nas sobre a inau­gu­ração do Museu da História e Cul­tura Afro-Brasileira (Muh­cab), no ano pas­sa­do. O espaço fun­ciona no Cen­tro Cul­tur­al José Bonifá­cio e é uma das atrações que não abre aos domin­gos.

Out­ra que não abre no domin­go é o Insti­tu­to dos Pre­tos Novos (INP), que abri­ga parte do cemitério onde eram enter­radas as pes­soas trafi­cadas de África que mor­ri­am após a entra­da na Baía de Gua­n­abara. Mas a Pedra do Sal, o Jardim Sus­pen­so do Val­on­go, o Largo do Depósi­to e o Cais do Val­on­go estão aber­tos todos os dias.

Cais do Val­on­go

Pas­sa­dos cin­co anos do tomba­men­to do Cais do Val­on­go como Patrimônio Cul­tur­al da Humanidade pela Orga­ni­za­ção das Nações Unidas para a Edu­cação, a Ciên­cia e a Cul­tura (Unesco), o local requer obras de revi­tal­iza­ção, con­ser­vação e sinal­iza­ção, bem como a elab­o­ração de um plano gestor do patrimônio e a efe­ti­va implan­tação do Comitê Gestor.

Um pro­je­to de lei para ampli­ar a pro­teção do bem trami­ta na Câmara dos Dep­uta­dos e a Coor­de­nado­ria Exec­u­ti­va de Pro­moção da Igual­dade Racial da prefeitu­ra infor­ma que tem tra­bal­ha­do para suprir a fal­ta do Comitê Gestor, com ações por meio do Cír­cu­lo do Val­on­go.

Segun­do o Insti­tu­to do Patrimônio Históri­co e Artís­ti­co Nacional (Iphan), o órgão tem tra­bal­ha­do na cap­tação de recur­sos e na imple­men­tação de ações como a elab­o­ração do pro­je­to de restau­ração e ade­quação do pré­dio das Docas Pedro II, que fica em frente ao local, para abri­gar o Cen­tro de Inter­pre­tação do Cais do Val­on­go, pon­to de infor­mações sobre a história do cais a vis­i­tantes e tur­is­tas.

O Cais do Val­on­go foi con­struí­do em 1811, sendo o prin­ci­pal pon­to de desem­bar­que e comér­cio de africanos escrav­iza­dos nas Améri­c­as até 1831, quan­do foi proibido o trá­fi­co transatlân­ti­co de pes­soas. A esti­ma­ti­va é que entre 500 mil e um mil­hão de escrav­iza­dos ten­ham desem­bar­ca­do no Brasil pelo Val­on­go. O local foi ater­ra­do nas refor­mas urbanas de 1911 e os vestí­gios foram rev­e­la­dos em 2011, durante as obras do pro­je­to Por­to Mar­avil­ha.

Em jul­ho de 2017, a Unesco incluiu o sítio na lista de patrimônio cul­tur­al mundi­al, descrito como “a mais impor­tante evidên­cia físi­ca asso­ci­a­da à chega­da históri­ca de africanos escrav­iza­dos no con­ti­nente amer­i­cano”.

Museu de Arte do Rio

Geri­do pela Orga­ni­za­ção de Esta­dos Ibero-amer­i­canos no Brasil (OEI) des­de janeiro deste ano e como um museu inseri­do na região da Peque­na África, com ações de inclusão social e cul­tur­al da pop­u­lação do entorno, o Museu de Arte do Rio (MAR) cel­e­bra o 20 de novem­bro com qua­tro exposições de artis­tas negros e com temáti­cas raci­ais em car­taz.

A mostra prin­ci­pal no momen­to é Um Defeito de Cor, que pode ser vista até o dia 14 de maio de 2023. Ela traz uma inter­pre­tação do livro homôn­i­mo de Ana Maria Gonçalves, lança­do há 16 anos e já con­sid­er­a­do um clás­si­co da lit­er­atu­ra afro­fem­i­nista brasileira.

É uma “história real romancea­da”, expli­cou a auto­ra, o livro traz a saga de Kehinde, nat­ur­al do Reino de Daomé e sequestra­da na cos­ta de onde é hoje a Repúbli­ca do Benin, aos seis anos de idade, e trazi­da para o Brasil como escra­va no iní­cio do sécu­lo 19.

A revisão his­to­ri­ográ­fi­ca da escravidão abor­da lutas, con­tex­tos soci­ais e cul­tur­ais do sécu­lo, com 400 obras como desen­hos, pin­turas, vídeos, escul­turas e insta­lações de mais de cem artis­tas brasileiros e africanos, incluin­do tra­bal­hos inédi­tos de Kwaku Ananse Kin­tê, Kika Car­val­ho, Anto­nio Oloxedê, Goya Lopes, pro­duzi­dos espe­cial­mente para a mostra.

Um dos artis­tas par­tic­i­pantes é o pin­tor Renan Teles, de Ita­que­ra (SP). Para ele, a pre­sença negra nas artes visuais é uma for­ma de cor­ri­gir o pas­sa­do de exclusão em todos os níveis que a pop­u­lação negra sofreu ao lon­go da história brasileira.

“Nós não fomos lev­a­dos como a potên­cia que somos. Se eu, como pes­soa negra, não ten­ho aces­so às min­has raízes e à min­ha história, como eu pos­so pen­sar no futuro e usar isso como base no pre­sente?”.

A exposição está divi­di­da em dez núcleos que se espel­ham nos 10 capí­tu­los do livro, sobre revoltas negras, empreende­doris­mo, pro­tag­o­nis­mo fem­i­ni­no, cul­to aos ances­trais, África Con­tem­porânea. Um dos locais que a per­son­agem pas­sa na bus­ca por seu fil­ho, Luiz Gama, ven­di­do como escra­vo pelo próprio pai, um barão por­tuguês, é a região da Peque­na África no Rio de Janeiro.

Literatura afrofeminista

Out­ra exposição atu­al pro­movi­da pelo MAR com raízes na lit­er­atu­ra afro­fem­i­nista clás­si­ca brasileira é Car­oli­na Maria de Jesus: um Brasil para os brasileiros. A ocu­pação artís­ti­ca gra­tui­ta pode ser vista até o dia 15 de dezem­bro no Par­que Madureira, na zona norte da cidade. A mostra apre­sen­ta cer­ca de cem obras de dez artis­tas, entre fotografias, vídeos, cola­gens e reporta­gens de jor­nal, para hom­e­nagear a escrito­ra fave­la­da e cata­do­ra de papel de Quar­to de Despe­jo, lança­do em 1960 e com tradução para 13 lín­guas.

Já a mostra indi­vid­ual Agnal­do Manuel dos San­tos – A con­quista da mod­ernidade apre­sen­ta 70 escul­turas de madeira do artista negro baiano, mor­to em 1962, pro­duzi­das em difer­entes fas­es de sua car­reira. A exposição pode ser vista até o dia 23 de fevereiro de 2023 e reúne obras de museus e coleções pri­vadas orga­ni­zadas nos eixos Esculpin­do uma Tra­jetória, O Uni­ver­so das Car­ran­cas, Sobre Gente e Afe­to, A África de Agnal­do e Entre San­tos e Ex-votos.

Tam­bém res­gatan­do a temáti­ca racial, a mostra itin­er­ante da 34ª Bien­al de São Paulo em car­taz no MAR traz, até 22 de janeiro de 2023, a exposição Os retratos de Fred­er­ick Dou­glass, escritor, orador e políti­co negro que fugiu da escravidão na ado­lescên­cia e se tornou sím­bo­lo da luta abo­l­i­cionista nos Esta­dos Unidos no sécu­lo 19. Inte­gram a mostra cer­ca de 30 obras de 13 artis­tas de oito país­es.

Além dis­so, no mês pas­sa­do o MAR has­teou uma nova ban­deira, em que expres­sa o con­ceito da filó­so­fa negra brasileira Lélia Gon­za­les (1935–1994) do pre­tuguês, com reflexões sobre o lugar de fala da mul­her negra e da ances­tral­i­dade afro-brasileira.A ban­deira foi cri­a­da pela artista Rosana Pauli­no e ficará hastea­da até o primeiro semes­tre.

Out­ra ini­cia­ti­va, inau­gu­ra­da nes­ta sem­ana, é o mur­al Pre­tas no Poder, pin­ta­do na Rua Pin­to­ra Tia Lúcia, resul­ta­do de uma ofic­i­na de grafite pro­movi­da em parce­ria com o cur­so de exten­são Uni­ver­si­dade das Que­bradas, da Uni­ver­si­dade Fed­er­al do Rio de Janeiro (UFRJ), e Insti­tu­to Cul­tur­al Vale. Os par­tic­i­pantes foram ori­en­ta­dos pelo grafiteiro Airá Ocre­spo.

Edição: Maria Clau­dia

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