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Rio Negro sobe lentamente e pescadores esperam retomar rotina

Repro­dução: © Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Volume do rio registrou 13,20 metros nessa terça-feira


Pub­li­ca­do em 22/11/2023 — 08:20 Por Luciano Nasci­men­to — Repórter da Agên­cia Brasil — Man­aus

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Em meio à expec­ta­ti­va da subi­da no vol­ume das águas do Rio Negro, pescadores, donos de flu­tu­antes e feirantes de Man­aus, afe­ta­dos pela seca no Ama­zonas, ain­da man­i­fes­tam receio com a retoma­da das ativi­dades. O vol­ume do rio, que enfrenta a pior seca em 121 anos, vem subindo lenta­mente e reg­istrou nes­sa terça-feira (21) a cota de 13,20 met­ros. Os tra­bal­hadores torcem para que, com a chega­da das chu­vas, pos­sam retornar grada­ti­va­mente à sua roti­na.

Bole­tim do Serviço Geológi­co do Brasil (CPRM) divul­ga­do ontem mostra que o Rio Negro apre­sen­tou subidas em Tapu­ruquara e Barce­los e que, em Man­aus, o rio voltou a subir, ini­cial­mente 2 cen­tímet­ros (cm) e no reg­istro mais recente 9 cm, “con­tu­do os níveis ain­da são con­sid­er­a­dos muito baixos para o perío­do.”

Pescador há cer­ca de 20 anos e vende­dor de pesca­do na beira do Rio Negro, próx­i­mo ao Por­to de Man­aus, Mar­cos César Antônio rela­tou à Agên­cia Brasil que durante o mês de out­ubro hou­ve que­da no vol­ume de peix­es no rio, o que resul­tou em pequeno aumen­to de preços e diminuição das ven­das. O moti­vo: os bar­cos de médio porte já não con­seguiam sair para pescar, deixan­do a tare­fa para as peque­nas embar­cações.

Manaus (AM), 20/11/2023, Marcos César Antonio, o Marcos do Pescado, comerciante, vende peixes na região do Porto de Manaus. Manaus sofrre com a maior seca em 121 anos. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
Repro­dução: Man­aus — Mar­cos César Anto­nio, o Mar­cos do Pesca­do, vende peix­es na região do Por­to de Man­aus — Foto Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

“Teve um aumen­to no preço, mas não foi muito”, afir­mou. A situ­ação está difí­cil por causa da fal­ta de peixe dev­i­do ao fato de o motor ficar encal­ha­do no rio. Espero que essa situ­ação mel­hore em breve”, afir­mou Antônio.

Ele man­i­festou pre­ocu­pação com o fato de o iní­cio do perío­do de cheias do rio coin­cidir com o iní­cio do defe­so para algu­mas espé­cies da região. No perío­do de 15 de novem­bro a 15 de março, a pesca de matrinxã, suru­bim, pirapitin­ga, sardinha, pacu, caparari, aru­anã e mapará fica proibi­da por causa da repro­dução.

“O rio vol­ta deva­garz­in­ho, mas ago­ra vem a proibição e vai ficar pior. Com o defe­so, a situ­ação vai pio­rar, como é que vai traz­er o peixe”?, indagou.

Em razão da situ­ação de emergên­cia dev­i­do à seca, o gov­er­no fed­er­al pagará um auxílio extra­ordinário de R$ 2.640 para pescadores arte­sanais ben­efi­ciários do seguro-defe­so cadastra­dos nos municí­pios da Região Norte. O pescador terá dire­ito, mes­mo que seja tit­u­lar de out­ros bene­fí­cios assis­ten­ci­ais, prev­i­den­ciários ou de qual­quer natureza. O auxílio será pago em parcela úni­ca. A esti­ma­ti­va é de que sejam aten­di­dos pescadores profis­sion­ais arte­sanais de 94 municí­pios da região.

Mais otimista, o pescador João Bosco da Sil­va, 57 anos, disse que a que­da nas ven­das será com­pen­sa­da, mais adi­ante, com a retoma­da das ativi­dades em rit­mo “nor­mal”. À Agên­cia Brasil, o pescador disse viv­er com a “vida do peixe.

Manaus (AM), 20/11/2023, João Bosco Saraiva de Souza, Pescador, vende peixes na região do Porto de Manaus. Manaus sofrre com a maior seca em 121 anos. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
Repro­dução: Man­aus — João Bosco Sarai­va de Souza vende peix­es na região do Por­to de Man­aus — Foto Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

“A gente vive a vida com o peixe. Ninguém nun­ca se baseia no fato de que ele vai aumen­tar, vai crescer. A gente já sabe que um dia ele vai dar din­heiro. E uma hora vai baratear. Para nós, é nor­mal, para quem é peix­eiro é nor­mal. Ninguém igno­ra esse preço. O impor­tante é ter algum peix­in­ho”, afir­mou.

A situ­ação de seca tam­bém pre­ocu­pa quem tra­bal­ha nas feiras venden­do pro­du­tos con­sum­i­dos pelos ama­zo­nens­es, como far­in­ha, banana, pesca­dos, entre out­ros. Tra­bal­hador de um box no Mer­ca­do Munic­i­pal Adolpho Lis­boa, que atende tur­is­tas e a pop­u­lação local, o feirante Wan­der­son Dias da Sil­va, 28 anos, lem­brou que a seca já causa impacto nas plan­tações de man­dio­ca, uti­liza­da para a pro­dução de far­in­ha.

Segun­do ele, o cenário já indi­ca alta dos preços do pro­du­to, muito con­sum­i­do na Região Norte.

“Eu acred­i­to que a far­in­ha vai ter aumen­to a par­tir de janeiro. Tem um plan­tio todo dia, e o pes­soal, a maio­r­ia que tra­bal­hou na roça, teve mui­ta per­da porque depende da água, não depende só da ter­ra. Então, tudo isso agre­gou e quan­do vier ago­ra a nova safra, vai ter alter­ação”, esti­mou.

Manaus (AM), 20/11/2023, Wanderson Dias da Silva, Feirante, em sua barraca no Mercado Municipal Adolpho Lisboa. Manaus passa por sua maior seca em 121 anos. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
Repro­dução: Man­aus — Wan­der­son Dias da Sil­va, feirante, em sua bar­ra­ca no Mer­ca­do Munic­i­pal Adolpho Lis­boa — Foto Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Para min­i­mizar esse impacto, Sil­va con­tou que alguns feirantes ain­da não repas­saram o aumen­to porque ain­da tra­bal­ham com esto­ques guarda­dos logo após o iní­cio do perío­do de seca sev­era.

“Na cheia pas­sa­da, é quase o estoque nos­so, aí a gente tem pal­let [usa­do para armazenar far­in­ha] guarda­do. Esta­mos tra­bal­han­do hoje com, mais ou menos, quase 16 pal­lets. Acabaram os 16, acabou tudo”, disse Sil­va, acres­cen­tan­do que essa ini­cia­ti­va vem retar­dan­do, no caso dele, o repasse no preço do aumen­to da far­in­ha.

“Nós esta­mos tra­bal­han­do com o nos­so estoque. O preço desse estoque, a gente não pode se basear no que você vê em out­ros mer­ca­dos. Out­ros locais têm preço agre­ga­do mais caro. Por quê? Porque o nos­so é guarda­do, é estoque. A far­in­ha é guarda­da, então tende a ter preço mais baixo. Out­ros têm que agre­gar tudo em cima dis­so, senão vão só tro­car din­heiro”.

A expec­ta­ti­va com a retoma­da das ativi­dades tam­bém pode ser obser­va­da no Lago do Aleixo, local­iza­do na divisa entre os bair­ros Colô­nia Antônio Aleixo e Comu­nidade Bela Vista, em Man­aus. Com a seca, quem visi­ta o lago, que fica há cer­ca de 15 min­u­tos de bar­co do encon­tro das águas dos rios Negro e Solimões, con­sid­er­a­do o cartão postal mais famoso da cidade, encon­tra ago­ra um cenário de lama com plan­tas rasteiras onde, antes, havia abundân­cia de água.

A com­er­ciante Jocil­da Mar­ques, 46 anos, con­heci­da como dona Jô, disse que a seca fez com que o movi­men­to de pes­soas que procu­ram o lago como opção de laz­er diminuiu dras­ti­ca­mente. Dona de um pequeno comér­cio na desci­da para o lago há pouco mais de um ano e meio, ela comen­tou que, ago­ra, pouquís­si­mas pes­soas apare­cem nos fins de sem­ana.

Manaus (AM), 21/11/2023, Jocilda Marques, proprietaria de uma vendinha no lago do Aleixo, fala sobre a maior seca em 121 anos que Manaus vem sofrendo. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
Repro­dução: Man­aus — Jocil­da Mar­ques, com­er­ciante no lago do Aleixo — Foto Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

“Quan­do [o lago] está cheio é bem mel­hor, né? Até na sem­ana vem gente. Vem na segun­da-feira, na terça, na quar­ta, não vem muito, mas vem na sem­ana. Ago­ra, caiu muito, uns poucos no sába­do e domin­go”, lamen­tou.

Quem tam­bém espera pelo retorno da cheia no lago e no Rio Negro é o pescador Jean Car­los Thi­a­go, 52 anos. Enquan­to trança a sua rede, Thi­a­go diz que des­de antes de out­ubro a pesca no lago já esta­va difí­cil e que quem quer pescar tem que se deslo­car para o iní­cio do igara­pé que abastece o lago.

Manaus (AM), 21/11/2023, Jean Carlos Thiago, pescador que mora próximo ao lago do Aleixo, que está seco, fala sobre a maior seca em 121 anos que Manaus vem sofrendo. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
Repro­dução: Man­aus — O pescador Jean Car­los Thi­a­go fala sobre a seca em Man­aus, a maior em 121 anos — Foto Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

“Está difí­cil de sair, está começan­do a encher de novo, eu acho que há 20 dias começou a encher, não sei se parou que eu não fui lá para a beira do rio, mas acho que está para­do ago­ra”, con­tou Thi­a­go.  Ele rela­tou ain­da que as pes­soas têm que andar até a beira do leito seco do rio para con­seguir pescar.  “A moça­da desce aqui até chegar lá na beira do rio para ficar pes­can­do lá de lin­ha, de tar­rafa. Quan­do está cheio, a gente pesca nos igapós. Enquan­to não fica cheio, a gente vai arru­man­do a rede para quan­do chegar a época de novo”, disse Thi­a­go. Ele espera que até o fim de dezem­bro o rio retorne ao seu leito nor­mal.

No lago, diver­sos flu­tu­antes, um tipo de embar­cação uti­liza­da como bar e mora­dia, estão encal­ha­dos aguardan­do a chega­da das cheias. O dono de flu­tu­ante Tomé Mau­rí­cio da Sil­va, 70 anos, o seu Tomé, é um deles. Enquan­to a cheia não vem, seu Tomé disse que está sobre­viven­do do Bene­fí­cio de Prestação Con­tin­u­a­da (BPC), que recebe do gov­er­no fed­er­al, e de uma cri­ação de gal­in­has.

Há cer­ca de dois meses começou a deslo­car seu flu­tu­ante, onde tra­bal­ha há dez anos, geral­mente posi­ciona­do na beira do lago, para as áreas onde ain­da havia um pouco de água. Com a seca total, a embar­cação, que além de ofer­e­cer bebidas e comi­das, serve tam­bém de mora­dia, está encal­ha­da.

Manaus (AM), 21/11/2023, Tome Maurício da Silva, proprietário de um flutuante no lago do Aleixo, que está seco, fala sobre a maior seca em 121 anos que Manaus vem sofrendo. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil
Repro­dução: Man­aus — Tome Mau­rí­cio da Sil­va, pro­pri­etário de um flu­tu­ante no lago do Aleixo, que está seco — Foto Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Ex-tra­bal­hador da con­strução civ­il, ex-seringueiro e ex-pilo­to de bar­co, ele disse ter difi­cul­dades de sobre­viv­er, mas lamen­ta ain­da mais a situ­ação de out­ras pes­soas, que não recebem nen­hum tipo de bene­fí­cio.

“Aqui está seco faz tem­po. Tem uns três meses ou mais. A gente saía de canoa e ago­ra não dá para sair de jeito nen­hum. O movi­men­to aqui [no flu­tu­ante] só quan­do está cheio que a gente vende algu­ma coisa e ago­ra não dá nem para pescar, ninguém sai não”. Quan­do está cheio, eu ven­do bebi­da, comi­da, essas coisas, faço pas­seio de canoa. Ago­ra quan­do está seco fica ruim, não tem aju­da de nada. Aque­le pes­soal da Pon­ta Negra [uma das pra­ias mais famosas de Man­aus], o pes­soal deu aju­da, o gov­er­no deu aju­da e, para nós não deu nada, não”, reclam­ou.

Seca

O esta­do do Ama­zonas enfrenta seca sev­era. De acor­do com a Defe­sa Civ­il do Ama­zonas, todos os 62 municí­pios do esta­do per­manecem em situ­ação de emergên­cia. Divul­ga­do nes­sa terça-feira (21), o bole­tim infor­ma que são 598 mil pes­soas e 150 mil famílias afe­tadas. A Defe­sa Civ­il infor­mou que, no perío­do de 1º de janeiro a 20 de novem­bro de 2023, foram reg­istra­dos 19.397 focos de calor no esta­do, dos quais 2.802 na região met­ro­pol­i­tana de Man­aus.

Edição: Graça Adju­to

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