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Rio Paraguai registra mínima histórica em ano mais seco no Pantanal

Nível do rio atingiu marca de 62 cm abaixo da cota de referência

Guil­herme Jerony­mo — Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 13/10/2024 — 17:01
São Paulo
Brasília (DF) 12/10/2024 - Rio Paraguai chega a -62 cm em Ladário (MS) e registra a cota mais baixa em 124 anos Foto: Ministério de Minas e Energia
Repro­dução: © Min­istério de Minas e Ener­gia

O Rio Paraguai chegou ao seu nív­el mais baixo já medi­do, segun­do o Serviço Geológi­co Brasileiro (SGB), atingin­do a mar­ca de 62 cen­tímet­ros abaixo da cota de refer­ên­cia. A série de medições foi ini­ci­a­da pela Mar­in­ha em 1900, no pos­to de Ladário, jun­to à cidade de Corum­bá (MS), na fron­teira com Por­to Qui­jar­ro (Bolívia). A mín­i­ma ante­ri­or, reg­istra­da em 1964, foi de 61 cen­tímet­ros abaixo da cota.A cota padrão é de 5 met­ros (m) de pro­fun­di­dade média, segun­do o Insti­tu­to de Meio Ambi­ente de Mato Grosso do Sul (Ima­sul), que já havia feito um aler­ta sobre o menor nív­el históri­co do rio na últi­ma quar­ta-feira (9), a par­tir de medições próprias. A estação serve como refer­ên­cia para a Mar­in­ha na análise das condições para nave­g­ação e definição de medi­das de restrições.

O Rio Paraguai corre pelos esta­dos de Mato Grosso, onde nasce, e Mato Grosso do Sul, de onde segue para o Paraguai e a Argenti­na. Suas nascentes são ali­men­tadas por águas que vêm da Amazô­nia, como as do Rio Negro. A região tam­bém pas­sa por seca históri­ca. Segun­do a Agên­cia Nacional de Águas (ANA) a Região Hidro­grá­fi­ca Paraguai ocu­pa 4,3% do ter­ritório brasileiro, abrangen­do parte dos esta­dos de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, o que inclui a maior parte do Pan­tanal mato-grossense, a maior área úmi­da con­tínua do plan­e­ta.

Para o SGB, a situ­ação era esper­a­da des­de fevereiro, quan­do os pesquisadores aler­taram sobre a pos­si­bil­i­dade de se chegar a uma mín­i­ma históri­ca na região. “Essa seca vem sendo obser­va­da em razão das chu­vas abaixo do nor­mal durante toda estação chu­vosa, des­de out­ubro de 2023. Por isso, temos aler­ta­do sobre esse proces­so que se desen­ha­va na bacia”, expli­ca o pesquisador Mar­cus Suas­suna na nota da insti­tu­ição.

Segun­do o Ima­sul, a que­da no nív­el do Paraguai tem impli­cações dire­tas para a econo­mia e para o meio ambi­ente, afe­tan­do tur­is­mo e pesca, além do abastec­i­men­to de comu­nidades ribeir­in­has. ˜Espe­cial­is­tas asso­ci­am essa redução drás­ti­ca à vari­abil­i­dade climáti­ca e à escassez de chu­vas na bacia hidro­grá­fi­ca. O Pan­tanal, um dos bio­mas mais frágeis e impor­tantes do plan­e­ta, está par­tic­u­lar­mente vul­neráv­el a essas mudanças, que afe­tam tan­to a bio­di­ver­si­dade quan­to as comu­nidades humanas”, desta­ca o insti­tu­to em nota.

Recuperação lenta

De acor­do com as pro­jeções do SGB, a recu­per­ação dos níveis na Bacia do Rio Paraguai será lenta. O nív­el em Ladário (MS) deve ficar abaixo da cota até a segun­da quinzena de novem­bro. “Obser­va­mos que o rit­mo de desci­da do rio tem dimin­uí­do con­sid­er­av­el­mente e esta­va esta­bi­liza­do des­de a últi­ma segun­da-feira (7) em razão dessas primeiras chu­vas da estação chu­vosa. As pre­cip­i­tações devem con­tin­uar, mas não em rit­mo muito forte que vá con­tribuir para subidas ráp­i­das neste tre­cho e em toda a bacia”, anal­isa Suas­suna na nota.

A déca­da tem sido mar­ca­da por estações chu­vosas insu­fi­cientes para a recu­per­ação das reser­vas. Segun­do o SGB, durante a estação chu­vosa ini­ci­a­da em out­ubro de 2023, foi reg­istra­do um déficit acu­mu­la­do de 395 (milímet­ros) mm de chu­vas. O total esti­ma­do foi de 702 mm, enquan­to a média esper­a­da seria de 1.097 mm. Na déca­da, con­sideran­do o acu­mu­la­do de 2020 a 2024, o déficit foi de aprox­i­mada­mente 1.020 mm, val­or equiv­a­lente ao total de um ano hidrológi­co.

Ain­da segun­do o relatório do SGB, na últi­ma sem­ana, a Bacia do Rio Paraguai reg­istrou um vol­ume de chu­vas de 3 mm. Os rios da região apre­sen­tam níveis abaixo do nor­mal para este perío­do do ano, com exceção do Rio Cuiabá, que apre­sen­ta nív­el den­tro do esper­a­do. A situ­ação do Rio Cuiabá, porém, deve-se à reg­u­lar­iza­ção das vazões oca­sion­a­da pela oper­ação da Usi­na Hidrelétri­ca de Man­so.

Em Bar­ra do Bugres e Por­to Murt­in­ho, o Rio Paraguai alcançou o nív­el mais baixo do históri­co de toda a série de mon­i­tora­men­to das estações. O estu­do expli­ca que as pro­jeções uti­lizadas indicam acu­mu­la­dos de chu­va de 27 mm nas próx­i­mas sem­anas, levan­do ao iní­cio da recu­per­ação dos níveis em Cáceres, Ladário, Forte Coim­bra e Por­to Murt­in­ho, além da esta­bi­liza­ção em out­ros locais.

Segun­do o Oper­ador Nacional do Sis­tema Elétri­co (ONS), con­sideran­do a esti­ma­ti­va para a Ener­gia Nat­ur­al Aflu­ente (ENA), a Região Sul deve atin­gir com 86% da Média de Lon­go Ter­mo (MLT). A medi­da indi­ca a capaci­dade dos sis­temas hidrelétri­cos de ger­ação. Para as demais regiões, os índices são os seguintes: Norte, com 49% da MLT; Sud­este/­Cen­tro-Oeste, com 45%; e Nordeste, com 34%.

Riscos à navegação

A Mar­in­ha man­tém uma série de aler­tas para o Rio Paraguai, boa parte indi­can­do pio­ra nas condições de nave­g­ação. Em um deles, afir­ma a neces­si­dade de pre­caução de segu­rança. “Em vir­tude do rígi­do regime de seca obser­va­do no Rio Paraguai e o con­se­quente aflo­ramen­to de ban­cos de areia e rochas, os nave­g­antes devem redo­brar a atenção, fazen­do uso da car­ta náu­ti­ca em vig­or, aten­tan­do para o bal­iza­men­to e man­ten­do uma veloci­dade segu­ra.”

Além dis­so, antes de ini­ciar a nave­g­ação, devem con­sul­tar o bole­tim diário de avi­sos-rádio náu­ti­cos disponív­el no site do Cen­tro de Hidro­grafia e Nave­g­ação do Oeste, a fim de ver­i­ficar a difer­ença entre o nív­el do rio e o nív­el de refer­ên­cia da car­ta náu­ti­ca (nr), even­tu­ais alter­ações no bal­iza­men­to e out­ros avi­sos para segu­rança do nave­g­ante.

A região tem trân­si­to con­stante de bar­cos des­de ao menos o sécu­lo 18, esta­b­ele­cen­do impor­tante corre­dor de inte­gração com os país­es viz­in­hos. Hoje é uma das seis hidrovias cuja lic­i­tação para con­cessão à ini­cia­ti­va pri­va­da está esta­b­ele­ci­da como pri­or­i­dade pela Agên­cia Nacional de Trans­portes Aqua­viários (Antaq), jun­to com as hidrovias Madeira, Tapa­jós, Tocan­tins, Lagoa Mir­im e Bar­ra Norte. O pro­je­to visa acel­er­ar o trans­porte de car­gas, espe­cial­mente de pro­dução agrí­co­la e min­er­al, para ben­e­fi­ci­a­men­to e expor­tação, o que deve favore­cer o aumen­to da explo­ração dess­es itens na região, ativi­dades que lev­am ao aumen­to do con­sumo de água.

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