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Rocinha ganha centro de coleta seletiva com metodologia inovadora

Repro­dução: © Pho­to: Mar­tine Perret/ONU Meio Ambi­ente

Principal meta é a coleta de plástico flutuante


Pub­li­ca­do em 08/06/2022 — 08:11 Por Alana Gan­dra — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

A comu­nidade da Rocin­ha, na zona sul do Rio, con­sid­er­a­da uma das maiores da Améri­ca Lati­na, inau­gu­ra hoje (8), às 10h, o cen­tro de cole­ta sele­ti­va Rocin­ha Reci­cla, que vai usar metodolo­gia inter­na­cional ino­vado­ra para garan­tir a despoluição ambi­en­tal na região. A prin­ci­pal meta do novo cen­tro é a cole­ta de plás­ti­co flu­tu­ante, impedin­do o mate­r­i­al de acabar no mar de São Con­ra­do, poluin­do o oceano. O cen­tro vai fun­cionar no Com­plexo Esporti­vo da Rocin­ha.

O pres­i­dente da Asso­ci­ação de Reci­cladores do Esta­do do Rio (Arerj), Edson Fre­itas, comem­o­rou o obje­ti­vo do novo cen­tro de cole­ta, que é a ger­ação de tra­bal­ho e ren­da “para mil­hares de pes­soas”. Segun­do Fre­itas, com a pan­demia do novo coro­n­avírus e o desem­prego, muitas pes­soas pas­saram a cole­tar esse tipo de mate­r­i­al. De 2017 a 2019, eram mais de 300 mil pes­soas catan­do mate­ri­ais na rua, no Rio. “Com a pan­demia, pas­sou de 650 mil. As pes­soas viram na cole­ta uma alter­na­ti­va de ger­ar ren­da. Para muitas, a cole­ta deu o úni­co ali­men­to do dia. Por isso, a importân­cia da reci­clagem para mil­hares de pes­soas”.

O pres­i­dente da Arerj não tra­ta mate­ri­ais reci­cláveis como lixo. “Eu tra­to de matéria-pri­ma”. E vai mais longe: “Eu tra­to isso como se fos­se dólar. E dólar eu não jogo fora porque tem valor”.Ele expli­cou que da mes­ma for­ma que a pes­soa procu­ra uma casa de câm­bio para tro­car por reais, “você pode pegar qual­quer mate­r­i­al reci­cláv­el e, na casa de câm­bio da reci­clagem, que é essa agên­cia de cole­ta sele­ti­va, tro­car pelos mes­mos reais que tro­ca o dólar. Só que tem um difer­en­cial nes­sa ati­tude ini­cial. Ela vai ger­ar mais tra­bal­ho, mais ren­da e vai preser­var o meio ambi­ente. O dólar, que é a nos­sa matéria-pri­ma, vaie mais que o dólar norte-amer­i­cano, porque cui­da do plan­e­ta e de mil­hares de pes­soas. Porque para cada tonela­da de plás­ti­co reci­cla­do, são ger­a­dos dez empre­gos”.

A Arerj cui­da da cadeia pro­du­ti­va da reci­clagem. Edson Fre­itas começou sua história como cata­dor não pela questão ambi­en­tal, mas por neces­si­dade. “Ninguém estu­da para ser cata­dor. Eu con­segui san­ear a min­ha neces­si­dade catan­do mate­r­i­al na rua. O mes­mo acon­tece hoje com 650 mil pes­soas”. Diante do ele­va­do desem­prego no país, Fre­itas desta­cou a neces­si­dade de inve­stir mais na ativi­dade. Lem­brou que tam­bém hoje (8), a Assem­bleia Leg­isla­ti­va do Rio (Alerj) vota a Lei 5.923 que visa a recon­hecer a ativi­dade do cata­dor no esta­do.

Bônus

Para cada qui­lo de mate­r­i­al cole­ta­do, o cata­dor rece­berá um bônus para pro­mover a sus­tentabil­i­dade, e esse bônus será acresci­do ao seu gan­ho nor­mal. A ger­ente de Mar­ket­ing da empre­sa canadense Plas­tic Bank, que trouxe a metodolo­gia para o Brasil, Nan­cy Geringer, infor­mou que a com­pan­hia é pio­neira na uti­liza­ção da tec­nolo­gia blockchain para ras­trear toda a cadeia de reci­clagem. As tro­cas são reg­istradas por meio de platafor­ma pro­te­gi­da por blockchain, que per­mite que a cole­ta seja ras­treáv­el, garante a recei­ta e ver­i­fi­ca os relatórios. “Quan­do o cole­tor entre­ga o mate­r­i­al no pon­to de cole­ta, até o momen­to em que o mate­r­i­al vai para o proces­sador, para ser rein­seri­do na cadeia de pro­dução glob­al, é ras­trea­do pela tec­nolo­gia blockchain, disse Nan­cy.

Ela expli­cou que a empre­sa bonifi­ca os cole­tores aci­ma do val­or de mer­ca­do, para que cada qui­lo de mate­r­i­al obti­do incen­tive a cole­ta do plás­ti­co. “Para eles enx­er­garem val­or tam­bém nesse resí­duo”. O bônus tem val­or de R$ 0,35 por qui­lo de mate­r­i­al, o que rep­re­sen­ta pelo menos 40% do val­or angari­a­do com a cole­ta. “É ao menos 40% de aumen­to na ren­da”. A ini­cia­ti­va tem patrocínio da SC John­son. Na eta­pa ini­cial do Rocin­ha Reci­cla, a meta é reti­rar cer­ca de 30 toneladas por mês de plás­ti­co na área, “pelo poten­cial de resí­duo que é descar­ta­do irreg­u­lar­mente na comu­nidade”.

A dire­to­ra da Plas­tic Bank Brasil, Hele­na Pavese, desta­cou a opor­tu­nidade de tra­bal­har na Rocin­ha, con­sideran­do o sim­bolis­mo asso­ci­a­do à poluição de plás­ti­cos na região. “Ima­gens da onda de plás­ti­co chegan­do à Pra­ia de São Con­ra­do, após tem­pes­tades no Rio de Janeiro, são comuns e, ano após ano, reforçam a questão do descarte incor­re­to do resí­duo na região. Isso tor­na essen­cial nos­sa atu­ação nesse local”. Hele­na acred­i­ta que a reci­clagem na comu­nidade vai ger­ar impacto ambi­en­tal pos­i­ti­vo e aumen­tará a ren­da dos cole­tores.

Balanço

Para voltar ao setor pro­du­ti­vo, o mate­r­i­al cole­ta­do é encam­in­hado aos proces­sadores par­ceiros, a fim de retornar como plás­ti­co social, para reuti­liza­ção em pro­du­tos e embal­a­gens.

A Pla­s­tick Bank chegou ao Brasil no fim de 2019, em 2020 pro­moveu o alin­hamen­to da estru­tu­ra do ecos­sis­tema e ago­ra inau­gu­ra o sex­to cen­tro de cole­ta de mate­ri­ais no Rio. “O ecos­sis­tema prin­ci­pal é no Rio”. A com­pan­hia já tem pon­tos de cole­ta em Bertio­ga e São Vicente, em São Paulo, e em Vila Vel­ha, no Espíri­to San­to. Nan­cy Geringer afir­mou que a Plas­tic Bank parte do princí­pio de que é pre­ciso blo­quear o plás­ti­co antes que ele chegue ao oceano. Por isso, a empre­sa atua em áreas costeiras, até 50 quilômet­ros de mar, valões, bacias, para con­seguir reti­rar o plás­ti­co antes que ele atin­ja os eflu­entes e vá parar no oceano. No caso da Rocin­ha, reafir­mou que o obje­ti­vo é estratégi­co — impedir a ida de resí­du­os para as águas de São Con­ra­do.

Com essa tec­nolo­gia, a empre­sa já recol­heu 137 mil­hões de gar­rafas plás­ti­cas no Brasil, com mais de 4 mil cole­tores cadastra­dos em comu­nidades. A com­pan­hia foi fun­da­da em 2013 no Canadá e atua, além do Brasil, na Indonésia, nas Fil­ip­inas, no Egi­to, na Tailân­dia e em Camarões. Em todo o mun­do, a Plas­tic Bank evi­tou que mais de 2,5 bil­hões de gar­rafas Pet, ou o equiv­a­lente a 50 mil­hões de qui­los de plás­ti­co, chegassem aos oceanos.

Edição: Graça Adju­to

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