...
segunda-feira ,10 fevereiro 2025
Home / Educação / Saiba como redes de ensino que proíbem celulares aplicam as regras

Saiba como redes de ensino que proíbem celulares aplicam as regras

Agência Brasil ouviu representantes das secretarias de Educação

Mar­i­ana Tokar­nia – Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 18/01/2025 — 12:31
Rio de Janeiro
Ver­são em áudio
 Uso contínuo de celular com a cabeça inclinada para baixo pode gerar problemas na cervical.
Repro­dução: © Rove­na Rosa/Agência Brasil

Após a aprovação pelo Con­gres­so Nacional, a lei que proíbe o uso dos celu­lares nas esco­las públi­cas e pri­vadas, tan­to nas salas de aula quan­to no recreio e nos inter­va­l­os, foi san­ciona­da esta sem­ana pelo pres­i­dente Luiz Iná­cio Lula da Sil­va. Os apar­el­hos seguem sendo per­mi­ti­dos para o uso pedagógi­co, ou seja, quan­do autor­iza­do pelos pro­fes­sores como instru­men­to para a aula.

As regras não são novi­dade para a cidade do Rio de Janeiro, que des­de agos­to de 2023 um decre­to proíbe o uso dos apar­el­hos nas esco­las. Tam­bém não é novi­dade no Ceará, que des­de 2008 tem leg­is­lação que restringe o uso do apar­el­ho em salas de aula.

Agên­cia Brasil con­ver­sou com rep­re­sen­tantes da respec­ti­vas sec­re­tarias de Edu­cação para saber como tem sido a apli­cação das regras nas redes de ensi­no.

No Rio de Janeiro, segun­do o secretário de Edu­cação do municí­pio, Renan Fer­reir­in­ha, a proibição do uso dos apar­el­hos já mostra resul­ta­dos nas esco­las. “Tem uma per­cepção dos dire­tores dizen­do para a gente como os recreios voltaram a ficar mais barul­hen­tos, como voltaram a ter mais pega­da de esco­la. O que se esta­va obser­van­do era que os recreios estavam fican­do com as cri­anças iso­ladas nas suas próprias telas sem ter uma inter­ação uns com os out­ros. Isso é muito sério. A gente voltou a ter essa maior inter­ação na hora do recreio”, disse.

Rio de Janeiro (RJ) 18/01/2025 - Renan Ferreirinha, redes de ensino que já proíbem celulares compartilham experiênciasFoto: PSD/Brasília/Divulgação
Repro­dução: Secretário de Edu­cação, Renan Fer­reir­in­ha, diz que proibição do uso dos apar­el­hos já mostra resul­ta­dos nas esco­las do Rio — Foto: PSD/Brasília/Divulgação

O secretário expli­ca que as esco­las têm autono­mia para definir a mel­hor maneira para colo­car as medi­das em práti­ca. “Ou [o estu­dante] chega na esco­la e guar­da o celu­lar na sua mochi­la, o que tem fun­ciona­do super bem através de um proces­so de con­sci­en­ti­za­ção, de um proces­so muito forte de diál­o­go tam­bém com toda a comu­nidade esco­lar. Ou algu­mas esco­las tam­bém recol­hem os celu­lares e devolvem depois. A gente apoia essas medi­das, mas isso varia do que cada esco­la con­segue faz­er den­tro do seu com­bi­na­do”.

Em relação às sanções a quem des­cumpre a regra, Fer­reir­in­ha diz que as esco­las con­tam com instru­men­tos e pro­to­co­los. “Imag­i­na um aluno que está falan­do na sala de aula, que não para qui­eto, ou out­ro que está dor­min­do, o que você faz? O pro­fes­sor não chama atenção? Se for de novo, adverte o aluno, se for pela ter­ceira vez, man­da para a direção esco­lar. A direção esco­lar chama o respon­sáv­el. Na ver­dade, as esco­las estão muito mais preparadas para lidar com essas situ­ações do que a gente imag­i­na. O que a gente pre­cisa é de um grande com­bi­na­do social, que diga que isso aqui não pode acon­te­cer e que dê o respal­do para as esco­las poderem imple­men­tar e chamar as famílias para nos apoiarem nis­so”.

Fer­reir­in­ha, que como dep­uta­do fed­er­al foi rela­tor na Comis­são de Con­sti­tu­ição e Justiça e de Cidada­nia da Câmara dos Dep­uta­dos do pro­je­to de lei que orig­i­nou a lei san­ciona­da esta sem­ana, expli­ca que a intenção não é afas­tar a tec­nolo­gia da esco­la, mas estim­u­lar que ela seja usa­da para fins de apren­diza­gem.

“A gente acha que a tec­nolo­gia pode ter um papel fun­da­men­tal na edu­cação. Ago­ra, ela tem que ser usa­da de for­ma con­sciente e respon­sáv­el. Tem que ter hora para tudo, porque senão, em vez de ser uma ali­a­da, ela pas­sa a ser uma inimi­ga do proces­so edu­ca­cional”, defende.

“O que a gente não pode achar nor­mal é o aluno estar com o seu celu­lar no meio da aula, usan­do, ven­do um videoz­in­ho no Tik Tok, jogan­do o jogo do tigrin­ho, enquan­to o pro­fes­sor está ten­tan­do dar aula. Isso não pode ser con­sid­er­a­do nor­mal”, acres­cen­ta.

Fer­reir­in­ha ressalta que a nova lei “colo­ca o Brasil no grupo sele­to dos país­es que já con­seguiram ter leg­is­lações nacionais e enfrentam esse desafio”.

A França, Espan­ha, Gré­cia, Dina­mar­ca, Itália e Holan­da já têm leg­is­lações que restringem o uso de celu­lar em esco­las. “Esse é um assun­to que começa e tem o pro­tag­o­nis­mo da edu­cação públi­ca, demon­stran­do que dá para ter edu­cação públi­ca na van­guar­da, de qual­i­dade”, elo­gia.

Lei antiga

No Ceará, a Lei 14.146, de 2008, proíbe tan­to a uti­liza­ção de celu­lares nas esco­las durante os horários de aulas quan­to de apar­el­hos já ultra­pas­sa­dos, como walk­man, dis­c­man, MP3 play­er, MP4 play­er, iPod, bip, pager.

De acor­do com a secretária exec­u­ti­va do Ensi­no Médio e Profis­sion­al da Sec­re­taria de Edu­cação do Esta­do do Ceará, Jucinei­de Fer­nan­des, nem todas as esco­las con­seguiram cumprir a medi­da, “que acabou sendo deix­a­da de lado”.

Após o decre­to do Rio de Janeiro, em 2024, o Min­istério Públi­co do Esta­do do Ceará (MPCE) recomen­dou que a lei fos­se cumpri­da, que esco­las públi­cas e par­tic­u­lares ori­en­tassem os dire­tores das unidades de ensi­no para impedir o uso de apar­el­hos celu­lares e out­ros equipa­men­tos semel­hantes durante as aulas.

Rio de Janeiro (RJ) 18/01/2025 - Jucineide Fernandes, redes de ensino que já proíbem celulares compartilham experiências Foto: Seduc/Divulgação
Repro­dução: Secretária exec­u­ti­va do Ensi­no Médio e Profis­sion­al do Ceará, Jucinei­de Fer­nan­des, con­sid­era impor­tante a proibição do uso de celu­lar nas esco­las — Foto: Seduc/Divulgação

“Nós envi­amos, então, uma recomen­dação às esco­las para que proibis­sem o uso do celu­lar em sala de aula”, disse Jucinei­de Fer­nan­des. E após a sanção da nova lei fed­er­al esta sem­ana, ela disse que foi envi­a­da uma nova ori­en­tação aos cen­tros de ensi­no. “Ago­ra ori­en­tan­do que se con­voque a comu­nidade esco­lar para a mudança no reg­i­men­to da esco­la, e que essa proibição seja acom­pan­ha­da pela esco­la den­tro das nor­mas de seu reg­i­men­to e que tam­bém se pense como vai se usar nos momen­tos de uso pedagógi­co ess­es recur­sos porque, na nos­sa rede, a gente dis­tribui tablets e chips para os estu­dantes”.

Tam­bém no Ceará, cabe às esco­las definir a mel­hor maneira de imple­men­tar as medi­das. Caixas para guardar celu­lares e per­da de pon­tos em avali­ações são algu­mas das estraté­gias usadas para que estu­dantes não se dis­tra­iam nas salas de aula com os celu­lares.

Segun­do a secretária, para que a nova lei não acabe sendo des­cumpri­da como ocor­reu com a anti­ga, é pre­ciso um acom­pan­hamen­to de per­to por parte da sec­re­taria e tam­bém que seja fei­ta uma con­sci­en­ti­za­ção, como está pre­vis­to na nova lei. “Pre­cisamos pen­sar não só na proibição, mas tam­bém no que a própria lei pre­vê, como palestras, ori­en­tações, pen­sar na questão da desin­for­mação, da cul­tura dig­i­tal, que inclu­sive faz parte do nos­so cur­rícu­lo das esco­las do tem­po inte­gral”, expli­ca.

Para Jucinei­de Fer­nan­des, a proibição do uso dos celu­lares na esco­la, exce­to para fins pedagógi­cos, é uma medi­da impor­tante. “O uso de telas está muito gen­er­al­iza­do, inclu­sive por nós, adul­tos. A gente acha que a proibição é impor­tante para o aluno se con­cen­trar mais, para que o estu­dante pos­sa tam­bém socializar com os demais, con­ver­sar. Então, a gente acred­i­ta que a proibição vai traz­er mes­mo maior atenção, foco aos estu­dantes no perío­do das aulas”, defende.

Desafios de estrutura

A nova lei rece­beu elo­gios, mas tam­bém foram lev­an­ta­dos desafios enfrenta­dos nas esco­las que podem difi­cul­tar com que seja colo­ca­da em práti­ca.

No Rio de Janeiro, quem já lida com a questão expli­ca as difi­cul­dades enfrentadas ao lon­go do últi­mo ano.

Rio de Janeiro (RJ) 18/01/2025 - Professor Diogo de Andrade, redes de ensino que já proíbem celulares compartilham experiências Foto: Diogo de Andrade/Arquivo pessoal
Repro­dução: Pro­fes­sor Dio­go de Andrade defende defende que nor­ma deve ser acom­pan­hado de medi­das efe­ti­vas para que seja de fato imple­men­ta­da — Foto: Arqui­vo Pes­soal

Segun­do o coor­de­nador ger­al do Sindi­ca­to Estad­ual dos Profis­sion­ais de Edu­cação do Esta­do do Rio de Janeiro (Sepe), Dio­go de Andrade, tam­bém pro­fes­sor da rede munic­i­pal, a imple­men­tação esbar­ra tam­bém nas condições encon­tradas nas esco­las, onde muitas vezes fal­ta estru­tu­ra e os pro­fes­sores pre­cisam lidar com tur­mas lotadas.

“Os desafios são, prin­ci­pal­mente, a estru­tu­ra para você garan­tir que os alunos não usarão o celu­lar em sala de aula. Isso sig­nifi­ca que não adi­anta nós ter­mos uma lei que proí­ba o uso do tele­fone, se nós tiver­mos salas de aula lotadas em que o pro­fes­sor não con­segue ter aces­so ao que está acon­te­cen­do, por exem­p­lo, no fun­do da sala de aula. Então, quan­to mais alunos por tur­ma, menor é a capaci­dade de o pro­fes­sor ver­i­ficar se a lei está sendo cumpri­da”, aler­ta.

Para ele, o esforço para o cumpri­men­to da lei deve envolver toda a estru­tu­ra edu­ca­cional, des­de a Sec­re­taria Munic­i­pal de Edu­cação, da Sec­re­taria Estad­ual de Edu­cação, às esco­las.

“A min­ha práti­ca é avis­ar sem­pre no iní­cio da aula que não pode usar o celu­lar. E aque­les alunos que insis­tem em fazê-lo, a gente encam­in­ha para a coor­de­nação pedagóg­i­ca, a gente encam­in­ha para a direção, para que seja reg­istra­do, para que os pais sejam chama­dos. Mas é muitas vezes um enx­u­gar gelo, porque os ado­les­centes, e cada vez mais cedo as cri­anças chegam à esco­la já com uma situ­ação de vício pelas redes soci­ais, vícios por jogos, até mes­mo por apos­tas, por sites de apos­tas, que a atenção deles no apar­el­ho, no vir­tu­al, a gente já percebe que eles não olham para frente, eles olham para baixo o tem­po todo”.

Dio­go de Andrade diz que ago­ra, com a lei fed­er­al, as esco­las terão mais um argu­men­to para usar com os estu­dantes, mas defende que deve ser acom­pan­hado de medi­das efe­ti­vas para que a nor­ma seja de fato imple­men­ta­da.

“Nós ain­da temos uma difi­cul­dade muito grande, que é, a par­tir do momen­to que a gente diz ‘você não pode usar o celu­lar’, o profis­sion­al em sala de aula não se sente à von­tade em pegar o celu­lar do aluno, porque se o profis­sion­al pega o celu­lar do aluno e aí o celu­lar cai no chão e o aluno diz ‘o meu celu­lar não esta­va com a tela trin­ca­da’. E aí? Quem paga por esse pre­juí­zo? De maneira muito obje­ti­va, fal­ta estru­tu­ra ain­da para que haja a garan­tia de que o celu­lar não seja usa­do na sala de aula”, reforça.

A lei

A lei san­ciona­da pelo pres­i­dente Lula restringe o uso do celu­lar em sala de aula e nos inter­va­l­os, para fins pes­soais, mas há exceções, como o uso para final­i­dade pedagóg­i­ca, sob super­visão dos pro­fes­sores, ou em casos de pes­soas que neces­sitem de apoio do apar­el­ho para aces­si­bil­i­dade tec­nológ­i­ca ou por algu­ma neces­si­dade de saúde.

Um decre­to pres­i­den­cial, pre­vis­to para daqui a 30 dias, vai reg­u­la­men­tar a nova leg­is­lação, para que passe a valer já no iní­cio do ano leti­vo, em fevereiro.

LOGO AG BRASIL

Você pode Gostar de:

Prefeitos irão se reunir em Brasília a partir de amanhã

Meta é aproximar prefeituras e órgãos governamentais Luciano Nasci­men­to — Repórter da Agên­cia Brasil Pub­li­ca­do …