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Saiba mais sobre câncer que acomete filho de Bruno Pereira

Repro­dução: © Arte/Isa Matos

Neuroblastoma é terceiro tipo de câncer mais comum em crianças


Pub­li­ca­do em 05/01/2024 — 16:03 Por Luiz Clau­dio Fer­reira e Paula Labois­sière — Brasília

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A antropólo­ga e dire­to­ra do Min­istério dos Povos Indí­ge­nas (MPI), Beat­riz Matos, lançou esta sem­ana uma cam­pan­ha para arrecadar recur­sos em prol do trata­men­to de Pedro, de cin­co anos, fil­ho dela com o indi­genista Bruno Pereira, assas­si­na­do em 2022. Pedro foi diag­nos­ti­ca­do com neu­rob­las­toma, está­gio 4 e dev­erá ser sub­meti­do a um trans­plante de medu­la óssea. Após o trans­plante, neces­si­tará do medica­men­to betad­in­u­tux­imabe, que tem de ser impor­ta­do e ain­da não é ofer­e­ci­do pelo SUS.

A mobi­liza­ção em favor da vida de Pedro rev­ela um dra­ma de muitas famílias, já que esse tipo de câncer é o ter­ceiro mais recor­rente entre cri­anças, depois da leucemia e de tumores cere­brais. É o tumor sóli­do extracra­ni­ano mais comum entre a pop­u­lação pediátri­ca, rep­re­sen­tan­do 8% a 10% de todos os tumores infan­tis.

O aumen­to do vol­ume abdom­i­nal é um dos pos­síveis sin­tomas do neu­rob­las­toma. Por isso, segun­do espe­cial­is­tas, o tumor pode ser descober­to a par­tir da queixa de uma cri­ança com dor na bar­ri­ga ou até com incô­mo­do no tórax. É mais comum, para os pesquisadores, que o prob­le­ma ocor­ra até os cin­co anos de idade, incluin­do os recém-nasci­dos.

Segun­do a médi­ca Aris­sa Ike­da, que é oncol­o­gista pediátri­ca do Insti­tu­to Nacional do Câncer (Inca), sem­pre que os respon­sáveis pela cri­ança iden­ti­fi­carem sinais como a pre­sença de mas­sa no abdô­men, devem procu­rar atendi­men­to.

“Quan­do não há alter­ação do quadro, é sem­pre bom levar cri­anças para uma avali­ação por profis­sion­ais de saúde para ser sub­meti­da a um exame físi­co e asso­ci­a­do, quan­do necessário, a exam­es de imagem”, afir­ma.

A espe­cial­ista expli­ca que, além do prob­le­ma ser iden­ti­fi­ca­do por um incô­mo­do abdom­i­nal, pode haver  tam­bém, nos casos em que há metás­tase, uma dor óssea. É con­sid­er­a­do de alto risco o neu­rob­las­toma que se man­i­fes­ta em um está­gio tar­dio da doença e está espal­ha­do pelo cor­po, poden­do haver febre, palidez, ema­grec­i­men­to, dor e irri­tabil­i­dade.

O neu­ro­cirurgião pediátri­co Már­cio Marceli­no, do Hos­pi­tal da Cri­ança de Brasília José Alen­car, acres­cen­ta que é raro ele acon­te­cer em idades mais vel­has e que a cri­ança pode nascer com esse tumor.

“Eu já tive casos, inclu­sive, em que cri­anças nasce­r­am com um tumor que inva­dia a col­u­na e com seque­las neu­rológ­i­cas”. Ele expli­ca que pode tam­bém se propa­gar para a região mais pos­te­ri­or do tron­co da cri­ança e aí envolver a col­u­na.

Neuroblastoma - infográfico sintomas e destaque. Foto: Arte/EBC
Repro­dução: Arte/EBC

Cirurgia

Entre os sinais, o médi­co recor­da a neces­si­dade de atenção a uma per­da de peso sem uma razão especí­fi­ca, enfraque­c­i­men­to e fadi­ga. “Se estiv­er no tórax, pode causar tam­bém sin­tomas de com­pressão nes­sa região. Na col­u­na, pode com­prim­ir ner­vos e a medu­la. Muitas vezes, pode pre­cis­ar, no caso da neu­ro­cirur­gia, que pos­samos faz­er algu­ma inter­venção. No fíga­do, pode causar alter­ações de função hep­áti­ca”.

Os espe­cial­is­tas chamam a atenção que os primeiros sin­tomas podem ser leves e que podem até con­fundir os respon­sáveis pela cri­ança. No entan­to, como se tra­ta de uma doença agres­si­va, a evolução é ráp­i­da, segun­do o médi­co Már­cio Marceli­no. Seria improváv­el, por isso, que uma cri­ança demore muito a ter neces­si­dade de atendi­men­to espe­cial­iza­do des­de o momen­to que apareçam os primeiros sin­tomas.

A médi­ca Aris­sa Ike­da pon­dera que a história famil­iar dos pacientes rep­re­sen­ta ape­nas 1% a 2% dos casos da doença. “O neu­rob­las­toma pode estar asso­ci­a­do a algu­mas sín­dromes genéti­cas”, afir­ma.

Tratamento

Os pesquisadores expli­cam que o trata­men­to varia de acor­do com o risco apre­sen­ta­do para cada paciente. “Para aque­les pacientes de baixo risco ou inter­mediário, basi­ca­mente são necessárias cirur­gia e algu­mas vezes com asso­ci­ação de quimioter­apia. Para aque­les pacientes de alto risco, para a gente garan­tir uma mel­ho­ra, bus­ca-se um um trata­men­to mais inten­si­vo”, afir­ma Aris­sa Ike­da. Ness­es casos, pode haver neces­si­dade da cirur­gia para reti­ra­da do tumor e quimioter­apia e até radioter­apia para evi­tar que o prob­le­ma rea­pareça.

A médi­ca chama a atenção para o fato de que o trata­men­to tem envolvi­do tam­bém a uti­liza­ção de trans­plante de medu­la óssea (com célu­las prove­nientes do próprio paciente). Essas indi­cações são ofer­e­ci­das no sis­tema públi­co de saúde. No entan­to, há pro­ced­i­men­tos de imunoter­apia que são pagos (de alto cus­to, inclu­sive, que pode ir além de R$ 1 mil­hão).

“Para os pacientes que a gente con­sid­era de alto risco, na últi­ma déca­da prin­ci­pal­mente, exis­tiu um grande esforço para a mel­ho­ria dos trata­men­tos dessas cri­anças. Têm surgi­do novas opções ao trata­men­to con­ven­cional, que hoje em dia a gente tem como um grande ali­a­do ao trata­men­to, que é a uti­liza­ção dos anti­cor­pos mon­o­clon­ais”, afir­ma a médi­ca do Inca. O trata­men­to é con­sid­er­a­do pela médi­ca uma evolução impor­tante no trata­men­to con­tra o neu­rob­las­toma. Os trata­men­tos mais lon­gos envolvem perío­dos de oito meses a mais de um ano.

Nes­sas situ­ações espe­ci­ais de atendi­men­to pediátri­cos, os profis­sion­ais veem que há especi­fi­ci­dade no trata­men­to das cri­anças que pas­sam por prob­le­mas como esse. “O profis­sion­al de saúde deve esta­b­ele­cer um rela­ciona­men­to próx­i­mo com a cri­ança, já que haverá a con­vivên­cia por um tem­po impor­tante”, diz a médi­ca do Inca.

Mar­cio Marceli­no lem­bra que cuidar de cri­ança é muito difer­ente do que lidar com adul­tos. “As estru­turas são mais del­i­cadas. As cri­anças em si, pela sua própria inocên­cia e pelo jeito de ser, fazem com que a gente ten­ha uma ener­gia redo­bra­da. Eu pos­so garan­tir uma coisa: eles são muito mais fortes do que mui­ta gente grande”.

SUS

De acor­do com a Agên­cia Nacional de Vig­ilân­cia San­itária (Anvisa), o medica­men­to que a família de Pedro pre­tende adquirir já pos­sui reg­istro do órgão. O betad­in­u­tux­imabe, de nome fan­ta­sia Qarz­i­ba, é indi­ca­do para o trata­men­to de neu­rob­las­toma de alto risco em pacientes a par­tir dos 12 meses, pre­vi­a­mente trata­dos com quimioter­apia de indução e que ten­ham alcança­do pelo menos uma respos­ta par­cial, segui­da de ter­apêu­ti­ca mieloab­la­ti­va e trans­plante de célu­las tron­co, bem como em pacientes com história de recidi­va ou neu­rob­las­toma refratário, com ou sem doença resid­ual.

Para que o remé­dio pos­sa ser uti­liza­do no Sis­tema Úni­co de Saúde (SUS), ele pre­cisa ser avali­a­do e aprova­do pela Comis­são Nacional de Incor­po­ração de Tec­nolo­gias no Sis­tema Úni­co de Saúde (Conitec). O órgão é respon­sáv­el pela análise da efe­tivi­dade da tec­nolo­gia, comparando‑a aos trata­men­tos já incor­po­ra­dos no rede públi­ca.

“Caso a nova tec­nolo­gia demon­stre supe­ri­or­i­dade em relação às já ofer­tadas no SUS, serão avali­a­dos tam­bém a mag­ni­tude dos bene­fí­cios e riscos esper­a­dos, o cus­to de sua incor­po­ração e os impactos orça­men­tário e logís­ti­co que trará ao sis­tema”, infor­mou a Conitec.

Ain­da de acor­do com a comis­são, qual­quer pes­soa ou insti­tu­ição pode solic­i­tar a análise para incor­po­ração de medica­men­tos no elen­co do SUS. Ao pro­to­co­lar a pro­pos­ta, o inter­es­sa­do deve entre­gar for­mulário especí­fi­co inte­gral­mente preenchi­do, de acor­do com o mod­e­lo disponív­el no endereço eletrôni­co da Conitec, jun­ta­mente com os doc­u­men­tos indi­ca­dos no próprio for­mulário.

O pra­zo para análise é de 180 dias, con­ta­dos a par­tir da data do pro­to­co­lo de solic­i­tação do pedi­do. Esse pra­zo pode ser pror­ro­ga­do por mais 90 dias, quan­do as cir­cun­stân­cias exi­girem. Nesse perío­do, está incluí­do o tem­po de con­sul­ta públi­ca e todas as eta­pas da análise do proces­so. A decisão final é pub­li­ca­da no Diário Ofi­cial da União (DOU).

Edição: Juliana Cézar Nunes

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