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Saiba o que é importante ao abordar diversidade religiosa nas escolas

Repro­dução: © Tânia Rêgo/Agência Brasil

Dia de Combate à Intolerância Religiosa é celebrado neste domingo


Pub­li­ca­do em 21/01/2024 — 10:40 Por Eduar­do Reina – Repórter da Agên­cia Brasil — São Paulo

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Na teo­ria parece fácil. A grande questão é como ocorre na práti­ca. Como lidar com a intol­erân­cia reli­giosa e como ori­en­tar o ensi­no reli­gioso nas esco­las, com o obje­ti­vo de evi­tar o pre­con­ceito e a vio­lên­cia? Neste 21 de janeiro, Dia Nacional de Com­bate à Intol­erân­cia Reli­giosa, a Agên­cia Brasil con­ver­sou com espe­cial­ista que dá dicas de como tratar o tema den­tro da sala de aula. 

“É pre­ciso pen­sar em difer­entes dimen­sões, na questão históri­ca, social, cul­tur­al, legal e éti­ca-cidadã para tratar o tema religião”, apon­ta o pro­fes­sor Alex San­tana França, da Uni­ver­si­dade Estad­ual de San­ta Cruz, na Bahia.

O espe­cial­ista desta­ca que a ori­en­tação dada pela imen­sa maio­r­ia das esco­las é cor­re­ta, usan­do o pon­to de vista legal e o bom sen­so. “Mas o prob­le­ma maior tem origem na edu­cação, na ori­en­tação dada den­tro da família do aluno, que nem sem­pre com­par­til­ha com as ideias que a leg­is­lação e a esco­la apre­sen­tam”, afir­ma.

O pro­fes­sor reforça que é necessário con­hecer e aplicar as deter­mi­nações da Base Nacional Comum Cur­ric­u­lar (BNCC), que tem ori­en­tações de como deve ser o ensi­no reli­gioso em cada série, des­de a edu­cação infan­til até o nív­el médio. A Con­sti­tu­ição Fed­er­al define que o Brasil é um esta­do laico, que per­mite, respei­ta, pro­tege e tra­ta de for­ma igual todos os tipos de religiões, ou mes­mo quem não pro­fes­sa nen­hu­ma crença.

França delimi­ta cin­co dimen­sões que devem ser obser­vadas na abor­dagem da diver­si­dade reli­giosa den­tro da sala de aula:

Questão histórica

É impor­tante traz­er infor­mações sobre o uni­ver­so da for­mação históri­ca do Brasil que aju­dam a enten­der porque ain­da existe o racis­mo reli­gioso, que cul­mi­na na vio­lên­cia sobre deter­mi­na­dos seg­men­tos da sociedade. França desta­ca que os fatos históri­cos aju­dam a enten­der o iní­cio e as causas do prob­le­ma. É pre­ciso com­preen­der a con­sti­tu­ição históri­ca do Brasil, o mul­ti­cul­tur­al­is­mo. São difer­entes pos­si­bil­i­dades reli­giosas pre­sentes des­de sem­pre no país, des­de práti­cas espirituais/religiosas já desen­volvi­das pelos povos orig­inários, pas­san­do pelo cristianismo/catolicismo pre­ga­dos pelos povos col­o­nizadores, e pelas reli­giosi­dades trazi­das pelos povos africanos, povos ciganos, judeus, ori­en­tais.

Questão social

Muitas vezes a cri­ança, o jovem, já vai para a esco­la seguin­do uma deter­mi­na­da ver­tente reli­giosa, prat­i­ca­da pelos famil­iares, e vive de acor­do com os dog­mas dessa religião prat­i­ca­da no seu núcleo famil­iar, o que pode for­mar dis­cur­sos pre­con­ceitu­osos que deter­mi­nadas religiões têm em relação a out­ras. Mas, ao mes­mo tem­po em que a sociedade aju­da a for­mar o pre­con­ceito, ela aju­da a descon­tru­ir esse pre­con­ceito. A esco­la pode ser muito impor­tante neste sen­ti­do, como local onde o estu­dante terá diver­sas infor­mações, assim como tam­bém os ami­gos e os meios de comu­ni­cação têm papel semel­hante. Todo mate­r­i­al, como reporta­gens, livros, entre­vis­tas, filmes, palestras, debates, todo mate­r­i­al sobre o assun­to pode ser uti­liza­do para com­bat­er o pre­con­ceito.

Questão cultural

Tem uma relação com a questão históri­ca, que aca­ba con­tribuin­do com a for­mação históri­ca e cul­tur­al do aluno. Como o país é for­ma­do por difer­entes gru­pos soci­ais com difer­entes man­i­fes­tações cul­tur­ais, a religião — que tam­bém é cul­tura — vai se con­fig­u­rar de maneiras difer­entes. Teori­ca­mente não existe hier­ar­quia na cul­tura. Não há uma cul­tura supe­ri­or a out­ra. Assim, não existe uma religião supe­ri­or a out­ra, não há uma religião mel­hor que out­ra.  Exis­tem várias opções de cre­do e cada pes­soa tem dire­ito, tem o livre arbítrio de escol­her a for­ma como vai man­i­fes­tar a própria fé. É a pes­soa que deve definir qual o deus que vai cel­e­brar, hom­e­nagear, con­tem­plar. Na sala de aula, é impor­tante colo­car essa diver­si­dade cul­tur­al que for­ma o Brasil. Por con­ta dessa diver­si­dade, o país não pode eleger uma só religião e deixar as out­ras de fora. O Brasil é um esta­do laico.

Questão da cidadania

A Con­sti­tu­ição Fed­er­al defende os dire­itos de qual­quer cidadão brasileiro, de qual­quer pes­soa, garan­ti­n­do o dire­ito à liber­dade de escol­ha reli­giosa. Por isso, nen­hu­ma pes­soa pode ser persegui­da, sofr­er pre­con­ceito por causa de suas escol­has. As leis deter­mi­nam que todos devem respeito às difer­enças. Essas difer­enças não podem ser descar­tadas, rejeitadas e não devem inter­ferir na vida em sociedade.

Questão da ética

Cada pes­soa tem o dire­ito de ter a devoção que dese­jar, que mel­hor lhe faz bem. A for­ma como um indi­ví­duo proces­sa a própria fé não pode inter­ferir como o out­ro proces­sa a dele. Na sala de aula, deve-se faz­er essa dis­cussão sobre cidada­nia, sobre éti­ca, falar sobre leg­is­lação, de for­ma que aten­da aos inter­ess­es de cada faixa etária do alu­na­do.

A per­cepção é que os jovens têm pouco espaço para debater o tema e não se sen­tem con­fortáveis den­tro das próprias insti­tu­ições reli­giosas. Um lev­an­ta­men­to real­iza­do pelo Espro (Ensi­no Social Profis­sion­al­izante) no fim do ano pas­sa­do cap­tou as per­cepções dos jovens com idade entre 14 e 23 anos aten­di­dos pela orga­ni­za­ção em todo país. Com relação à religião, a pesquisa mostra que 34% dos jovens entre­vis­ta­dos já deixaram de fre­quen­tar espaços reli­giosos por não se sen­tirem con­fortáveis.

Edição: Aline Leal

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