...
quarta-feira ,14 maio 2025
Home / Noticias / Sambódromo do Rio completa 40 anos com evolução de desfiles

Sambódromo do Rio completa 40 anos com evolução de desfiles

Repro­dução: © Rafael Catarcione/RioTur

Novo palco acabou com incertezas de sambistas e melhorou espetáculo


Pub­li­ca­do em 10/02/2024 — 09:02 Por Cristi­na Índio do Brasil – Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

ouvir:

banner carnaval 2024

 

O Sam­bó­dro­mo do Rio com­ple­ta 40 anos em 2024, e o pal­co de apre­sen­tação das esco­las de sam­ba tem mui­ta história que rev­ela a alma de sam­bis­tas. Antes da con­strução da Pas­sarela do Sam­ba, os com­po­nentes das esco­las con­vivi­am com incertezas até saber onde seria o local dos des­files.

A estreia da dis­pu­ta pelo campe­ona­to foi na Praça Onze, no cen­tro, em 1932. A escol­ha do local não foi por aca­so. Lá se reu­nia a comu­nidade negra para for­t­ale­cer a cul­tura africana. Depois, nas diver­sas mudanças, os des­files pas­saram pela Can­delária, pelas avenidas Rio Bran­co, Pres­i­dente Var­gas e Antônio Car­los, além da Rua Mar­quês de Sapu­caí, onde está atual­mente. Em comum, todos ess­es locais tin­ham o cen­tro da cidade.

A escol­ha da área que rece­be­ria as agremi­ações ao lon­go dos anos não era o úni­co prob­le­ma. Super­a­da essa eta­pa, ain­da havia o transtorno de todo ano com a mon­tagem das arquiban­cadas metáli­cas, acresci­da da ansiedade para ver se seria con­cluí­da a tem­po do car­naval. Out­ro fator em comum era o tumul­to no trân­si­to já prob­lemáti­co da cap­i­tal. Os motoris­tas pre­cisavam ter paciên­cia porque os tra­je­tos eram alter­ados, e tudo só se resolvia quan­do, final­mente, as estru­turas eram desmon­tadas.

Passarela definitiva

Brasília (DF) 20/11/2023 sessão solene em homenagem ao Dia da Consciência Negra na Câmara dos Deputados. Porta-Bandeira, Vilma Nascimento, batizada como o
Repro­dução: Vil­ma Nasci­men­to diz que pediu ao gov­er­nador Brizo­la um local defin­i­ti­vo para os des­files — Lula Marques/Agência Brasil

Ape­sar do cenário um tan­to caóti­co, as esco­las com­pen­savam o públi­co com grandes apre­sen­tações. Toda essa con­fusão ter­mi­nou em 1984, quan­do final­mente os sam­bis­tas pud­er­am ter um lugar para chamar de seu. O pedi­do ao gov­er­no da época para a con­strução par­tiu de um casal de sam­bis­tas bem con­heci­dos: a lendária por­ta-ban­deira da Portela Vil­ma Nasci­men­to e seu mari­do, Maz­in­ho, que mais tarde teve seu tra­bal­ho de plane­ja­men­to dos des­files recon­heci­do pela Liga Inde­pen­dente das Esco­las de Sam­ba do Rio de Janeiro (Liesa), respon­sáv­el pelo Grupo Espe­cial, con­sid­er­a­do a elite do car­naval car­i­o­ca.

“Todo ano a gente fica­va na dúvi­da: tava chegan­do o car­naval, e a gente não sabia onde ia ser o des­file. Era muito pre­ocu­pante. Arma­va e desar­ma­va a arquiban­ca­da. Era hor­rív­el”, comen­tou a por­ta-ban­deira em entre­vista à Agên­cia Brasil.

Pedido atendido

O des­file no ano de inau­gu­ração do sam­bó­dro­mo teve um gos­to espe­cial. “Para mim, foi uma glória. Eu disse: ‘estou real­iza­da’. Eu e meu mari­do ped­i­mos ao [então gov­er­nador do esta­do, Leonel] Brizo­la, e ele fez. Cada ano que eu entro ali, agradeço a Deus, ao papai do céu. Cada vez que eu boto o pé na aveni­da, para mim, é uma ale­gria muito grande. Des­de os 7 anos eu lido com sam­ba”, comen­tou a por­ta-ban­deira, tam­bém con­heci­da como Cisne da Pas­sarela.

Vil­ma con­tou que, por meio do ami­go Pedro Valente, fez o pedi­do para a con­strução de um local úni­co para os des­files chegar ao gov­er­nador Brizo­la, que gos­tou da ideia e incumbiu o vice, o antropól­o­go e edu­cador Dar­cy Ribeiro, de levar a tare­fa adi­ante. O resul­ta­do foi um pro­je­to do arquite­to Oscar Niemey­er, inau­gu­ra­do com capaci­dade para rece­ber 60 mil pes­soas. “Ped­i­mos ao Pedro Valente que falasse com o Brizo­la, que era o gov­er­nador na época. O Brizo­la achou bom, e o Dar­cy fez ali onde é a pas­sarela, mas foi a pedi­do meu e do Maz­in­ho”, rev­el­ou.

Para Vil­ma, out­ra van­tagem do Sam­bó­dro­mo são os ensaios téc­ni­cos que pre­ce­dem os des­files ofi­ci­ais no car­naval. “Isso é óti­mo. As esco­las começam a se armar no ensaio téc­ni­co. Ali é que dá para ver o que vai dar cer­to ou não. É uma exper­iên­cia. Eu adoro o ensaio téc­ni­co. A gente tem muito con­ta­to com o públi­co. O sam­bista ver­dadeiro ado­ra ensaio téc­ni­co”, afir­mou a sam­bista, que, per­to de com­ple­tar 86 anos em jun­ho, não se apre­sen­ta mais como por­ta-ban­deira, mas não perde um ensaio e muito menos um des­file.

Empol­ga­do com a pro­pos­ta, Niemey­er foi logo aler­ta­do de que pre­cis­aria faz­er alter­ações no traça­do para incluir algu­mas car­ac­terís­ti­cas das apre­sen­tações das esco­las, como, por exem­p­lo, recu­os para a bate­ria. São dois, um logo no iní­cio da pista, antes do Setor 2 o out­ro entre os setores 9 e 11. Ao se preparar para a esco­la pis­ar na aveni­da, primeiro entram os com­po­nentes da bate­ria, que já fazem a ale­gria do públi­co do Setor 1, um dos setores pop­u­lares do Sam­bó­dro­mo.

Significado

A memória mais anti­ga que o car­navale­sco da Imper­a­triz Leopoldinense, Lean­dro Vieira, tem do Sam­bó­dro­mo é sua estru­tu­ra arquitetôni­ca como pal­co para o car­naval que, ain­da cri­ança, via da TV de casa no sub­úr­bio do Rio. “Pro­por algo que des­fi­lar­ia naque­le lugar foi algo mági­co. Eu estaria com meu tra­bal­ho, min­ha gente, min­has ideias, no mes­mo pal­co onde dezenas de artis­tas de quem sou fã estiver­am e seguem estando”, con­tou por meio de men­sagem à Agên­cia Brasil.

Para Lean­dro Vieira, estar à frente do enre­do de uma esco­la e ain­da ser cole­cionador de títu­los é se jun­tar a tan­tos out­ros artis­tas que con­tam histórias do Brasil. “Ser campeão ali é somar um pouco da min­ha tra­jetória à tra­jetória de tan­tos out­ros artis­tas que fiz­er­am daque­le pal­co o pal­co de suas pro­postas para pen­sar, traduzir e inven­tar um Brasil que nos red­i­ma das feri­das e nos orgul­he enquan­to nação”, afir­mou o car­navale­sco,

Lean­dro tem no Grupo Espe­cial tem dois campe­onatos pela Mangueira e um na Imper­a­triz e, ain­da na mes­ma esco­la, gan­hou o títu­lo na Série Ouro, o que per­mi­tiu o retorno da Imper­a­triz à elite do car­naval car­i­o­ca.

Mudanças

Sambódromo do Rio de Janeiro. Foto: Rafael Catarcione/Riotur

Repro­dução: Evolução do som e da ilu­mi­nação dão mais bril­ho aos des­files da noite até o raiar do dia — Rafael Catarcione/RioTur

O maior espetácu­lo da ter­ra, como são chama­dos os des­files das esco­las de sam­ba do Rio de Janeiro, foi evoluin­do com o pas­sar dos anos. O esque­ma de som foi fican­do cada vez mais potente para per­mi­tir que toda a esco­la acom­pan­has­se o sam­ba de qual­quer setor do enre­do. Jun­to com o som, hou­ve o avanço da ilu­mi­nação para dar mais bril­ho aos des­files da noite até o raiar do dia.

“Nen­hu­ma esco­la ter­mi­na [o des­file] depois das 5h30 da man­hã. Dia escuro para todas elas, sem exceção. Todas elas obe­de­cem ao reg­u­la­men­to, e tem penal­i­dades tam­bém. Se tiv­er um car­ro que­bra­do é out­ra coisa, aci­dente de per­cur­so, mas, den­tro da nor­mal­i­dade, os des­files começam e ter­mi­nam na hora cer­ta todos os anos”, infor­mou o pres­i­dente da Liesa, Jorge Per­lingeiro, à Agên­cia Brasil.

Camarotes

Com o tem­po, foi aumen­tan­do o número de camarotes e tam­bém os preços de cada um. Grandes mar­cas pas­saram a pagar pelos espaços para realizar even­tos que se dis­tan­ci­am dos des­files. É comum atual­mente ter shows de artis­tas fora do uni­ver­so dos des­files e enquan­to as esco­las se apre­sen­tam na aveni­da.

“Os camarotes são muito lux­u­osos. É uma out­ra vida lá den­tro. Uma out­ra fes­ta. Não per­mite a todos ficar no para­peito para assi­s­tir a esco­la pas­sar”, disse o radi­al­ista e apre­sen­ta­dor da Rádio Nacional Rubem Con­fete, sam­bista e espe­cial­ista em esco­las de sam­ba.

“O des­file sofreu uma trans­for­mação incrív­el. Vejo hoje como uma grande fes­ta social. As esco­las gan­haram vis­i­bil­i­dade e foi bom para o com­po­nente que faz a sua fes­ta par­tic­u­lar”, com­ple­tou, assi­na­lan­do que o Grupo Espe­cial se trans­for­mou em uma indús­tria com grande fat­u­ra­men­to. Atual­mente, os recur­sos são obti­dos, entre out­ras fontes, com a ven­da da trans­mis­são, de ingres­sos e con­tratos com patroci­nadores, além dos recur­sos repas­sa­dos pela prefeitu­ra do Rio e pelo gov­er­no do esta­do.

O tem­po tam­bém tem mostra­do que, com a evolução dos des­files e das dimen­sões dos car­ros alegóri­cos, cada vez mais com­pri­dos, altos e com novas tec­nolo­gias de movi­men­tação, há neces­si­dade de alter­ações no plane­ja­men­to.

Para os car­navale­scos, esta é uma pre­ocu­pação. Alexan­dre Louza­da, campeão seis vezes no Rio, com a Mangueira, a Vila Isabel, a Bei­ja-Flor e a Moci­dade Inde­pen­dente e duas em São Paulo, com a Vai-Vai, este ano está à frente do enre­do Unidos da Tiju­ca, O Con­to de Fados. Ele disse que, emb­o­ra o Sam­bó­dro­mo ten­ha sido de relevân­cia indis­cutív­el para as esco­las de sam­ba, por ser um espaço per­ma­nente que per­mite ensaios mais per­to da real­i­dade, o espetácu­lo evoluiu. As agremi­ações tiver­am que se adap­tar, mas pre­cisam de mais.

“São necessários ajustes no espaço de con­cen­tração, algu­mas coisas dev­e­ri­am mel­ho­rar, tais como a reti­ra­da ou a sus­pen­são daque­la pas­sarela de pedestres para que as esco­las con­sigam mon­tar suas ale­go­rias com segu­rança e em tem­po hábil”, ressaltou, em men­sagem pedi­da pela Agên­cia Brasil, referindo-se à impos­si­bil­i­dade da mon­tagem total das ale­go­rias mais altas por causa da pas­sarela, o que só pode ser con­cluí­do depois os car­ros pas­sam por ela.

Louza­da propôs ain­da um estu­do para per­mi­tir que todas as esco­las se con­cen­trem ape­nas do lado chama­do de Cor­reios, por estar próx­i­mo da sede da empre­sa no Rio. Em ger­al, os prob­le­mas de entra­da dos car­ros na aveni­da ocor­rem na con­cen­tração do out­ro lado, chama­do de Bal­ança, por ser per­to do edifí­cio que tem esse nome. “Se solu­cionar a con­cen­tração, dimin­uem bas­tante ess­es aci­dentes de per­cur­so.”

De acor­do com o car­navale­sco, até ago­ra, as mudanças ficaram ape­nas no for­ma­to dos des­files, que tiver­am o tem­po reduzi­do. Louza­da criti­cou ain­da o reg­u­la­men­to, que, para ele, a cada ano se tor­na mais rígi­do e dis­tante do con­jun­to que antes era o fator difer­en­cial das esco­las.

“Hoje o jul­ga­men­to é um caça-erros ou defeitos, pequenos detal­h­es que acabam por reti­rar uma esco­la da com­petição. Vale o critério de cada jul­gador avaliar o que real­mente é rel­e­vante para reti­rar um ou mais déci­mos”, afir­mou.

Para o pres­i­dente da Liesa, o tem­po tam­bém trouxe a orga­ni­za­ção dos des­files, que antes não eram cronome­tra­dos. Eram comuns os atra­sos das esco­las.

Segun­do Per­lingeiro, a redução no número de com­po­nentes con­tribuiu para a orga­ni­za­ção dos des­files com um plane­ja­men­to mel­hor. “Hoje as esco­las têm de 3.200 a 3.500 com­po­nentes porque não dá para colo­car mais pelo taman­ho dos car­ros [ale­go­rias] e das fan­tasias, pelas paradas para apre­sen­tação de comis­são de frente; de mestre-sala e por­ta-ban­deira; bate­ria. A gente não pode aumen­tar mais o tem­po: 70 min­u­tos é um tem­po exce­lente. Esta foi a evolução do car­naval”, pon­tu­ou.

Torcidas

Jorge Per­lingeiro disse que a pre­sença das tor­ci­das não deter­mi­na mais o vol­ume de ven­das de ingres­sos. “Eu vejo hoje que não é mais a tor­ci­da da esco­la que aumen­ta ou diminui públi­co. O exem­p­lo maior é o Sába­do das Campeãs. Até uns 10 anos atrás, só vendíamos ingres­sos para o des­file das campeãs depois da apu­ração de quar­ta-feira. O inte­grante esper­a­va para ver se sua esco­la gan­haria, ou se viria entre as seis, para depois com­prar o ingres­so”, afir­mou.

Para o pres­i­dente da Liesa, o suces­so na ven­da de ingres­sos neste ano, tan­to para os dias dos des­files ofi­ci­ais quan­to para o Sába­do das Campeãs, com­pro­va que o públi­co gos­ta mes­mo é do espetácu­lo, sem se impor­tar com quais esco­las vão se apre­sen­tar.

Edição: Nádia Fran­co

LOGO AG BRASIL

Você pode Gostar de:

AGU pede bloqueio de bens de mais 14 investigados por fraude no INSS

Suspeitos teriam repassado R$ 23,8 milhões a agentes públicos Well­ton Máx­i­mo – Repórter da Agên­cia …