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Saúde dos olhos de alunos pede atenção na volta às aulas

Médico alerta: visão é responsável por 80% do aprendizado na infância

Paula Labois­sière — Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 10/02/2025 — 07:02
Brasília
Brasília (DF), 07/02/2025 - Saúde ocular de alunos pede atenção na volta às aulas. Óculos em cima de gramática com lápis, borracha e apontador. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil
Repro­dução: © Bruno Peres/Agência Brasil

Com retorno das aulas em esco­las de boa parte do país, a saúde ocu­lar dos alunos entra em foco no começo do ano. Dados do Con­sel­ho Brasileiro de Oftal­molo­gia (CBO) rev­e­lam que cer­ca de 20% das cri­anças em idade esco­lar apre­sen­tam prob­le­mas de visão. Den­tre as alter­ações visuais mais comuns nes­sa faixa etária estão miopia, hiper­me­tropia e astig­ma­tismo.

Em entre­vista à Agên­cia Brasil, o oftal­mol­o­gista Álvaro Dan­tas aler­ta que prob­le­mas no apren­diza­do ou desin­ter­esse em deter­mi­nadas ativi­dades esco­lares podem ser sinais de com­pli­cações ocu­lares.

“Alter­ações visuais são bas­tante comuns na infân­cia e podem impactar dire­ta­mente no apren­diza­do. Se a cri­ança enx­er­ga mal, ela absorve mal o con­hec­i­men­to que é pas­sa­do e isso pode traz­er reper­cussões impor­tantes.”

Brasília (DF), 07/02/2025 - Saúde ocular de alunos pede atenção na volta às aulas. Doutor Álvaro Dantas. Foto: Álvaro Dantas/Arquivo Pessoal
Repro­dução: Álvaro Dan­tas ressalta que a fal­ta de trata­men­to pode prej­u­dicar o desen­volvi­men­to da cri­ança — Álvaro Dantas/Arquivo Pes­soal

Segun­do Dan­tas, o estra­bis­mo, pop­u­lar­mente con­heci­do como olho desvi­a­do, tam­bém figu­ra como um quadro comum na infân­cia e mais fácil de perce­ber. “É um sinal de aler­ta muito impor­tante porque pode haver um prob­le­ma sério em um dos olhos que pre­cisa de trata­men­to ime­di­a­to para evi­tar out­ra doença que esta­mos sem­pre muito aten­tos: a ambliopia ou olho preguiçoso.”

“Se a cri­ança tem uma defi­ciên­cia em um dos olhos e isso não é detec­ta­do a tem­po, a fal­ta de trata­men­to faz com que aque­le olho não desen­vol­va sua capaci­dade visu­al e isso só tem solução até os 8 anos de idade. Se não for feito nes­sa época, essa cri­ança pode se tornar um adul­to com uma defi­ciên­cia eter­na em um dos olhos. Por causa de diag­nós­ti­co e trata­men­to a tem­po.”

O oftal­mol­o­gista desta­ca que a visão desem­pen­ha papel fun­da­men­tal no proces­so de apren­diza­gem e que, quan­do a cri­ança tem difi­cul­dade para enx­er­gar, pode perder infor­mações impor­tantes em sala de aula, ficar desmo­ti­va­da ou mes­mo apre­sen­tar fal­ta de con­cen­tração. “Isso pode levar a uma que­da no rendi­men­to esco­lar e, em alguns casos, ser con­fun­di­do com alguns transtornos de apren­diza­do ou déficit de atenção”.

“Essas cri­anças tam­bém podem ficar estigma­ti­zadas e podem ser víti­mas de bul­ly­ing. É algo que pode acon­te­cer. Tudo isso provo­ca­do por uma defi­ciên­cia visu­al. O estra­bis­mo e a ambliopia podem afe­tar a coor­de­nação visu­al e ela pode ter mui­ta difi­cul­dade nas práti­cas esporti­vas. Por isso, iden­ti­ficar e tratar pre­co­ce­mente ess­es prob­le­mas é essen­cial para garan­tir um apren­diza­do pleno e sem difi­cul­dades desnecessárias.”

O médi­co lem­bra que, muitas vezes, a própria cri­ança não é capaz de perce­ber que tem um prob­le­ma de visão, já que nun­ca enx­er­gou as coisas de out­ra for­ma. “Para ela, aque­la per­cepção visu­al é o nor­mal”.

Por esse moti­vo, ele con­sid­era fun­da­men­tal que pais e pro­fes­sores fiquem aten­tos aos seguintes sinais:

- se aprox­i­mar muito de livros, cader­nos e telas;

- difi­cul­dade para enx­er­gar o quadro ou copi­ar con­teú­dos cor­re­ta­mente;

- se queixar fre­quente­mente de dor de cabeça ou cansaço ocu­lar;

- lacrime­ja­men­to exces­si­vo ou sen­si­bil­i­dade à luz;

- desin­ter­esse por ativi­dades que exigem esforço visu­al, como leitu­ra e desen­ho;

- e tendên­cia a pis­car exces­si­va­mente ou esfre­gar os olhos com fre­quên­cia.

Ao notar qual­quer um dess­es sinais, a ori­en­tação é levar a cri­ança o quan­to antes ao oftal­mol­o­gista para uma avali­ação. O ide­al, segun­do o médi­co, é que toda cri­ança passe por um exame oftal­mológi­co com­ple­to ain­da no primeiro ano de vida, quan­do é pos­sív­el diag­nos­ticar prob­le­mas con­gêni­tos, como catara­ta, glau­co­ma e até mes­mo o retinoblas­toma, câncer que atinge a região dos olhos.

“O diag­nós­ti­co tar­dio pode levar à per­da de um olho e, até mes­mo, à morte. É um tipo de câncer que, depen­den­do da fase diag­nós­ti­ca, pode ter alta letal­i­dade. A par­tir da idade esco­lar, o recomen­da­do é man­ter o acom­pan­hamen­to anu­al ou con­forme a ori­en­tação do oftal­mol­o­gista, espe­cial­mente se hou­ver qual­quer históri­co de prob­le­mas de visão na família.”

Na ado­lescên­cia, segun­do Dan­tas, a roti­na de con­sul­tas anu­ais podem ser man­ti­da, mas há tam­bém a pos­si­bil­i­dade de con­sul­tas a cada dois anos, a depen­der da saúde ocu­lar do jovem. “Em casos de miopia pro­gres­si­va que, hoje em dia, está cada vez mais comum – a gente vive uma epi­demia de miopia –, esse acom­pan­hamen­to pode ser mais pre­coce para evi­tar vários prob­le­mas futur­os”.

“A miopia, sem dúvi­da algu­ma, é um dos prob­le­mas que a gente mais tem pre­ocu­pação porque tem solução e tem trata­men­to efi­ciente. Só se con­segue um diag­nós­ti­co pre­ciso indo ao oftal­mol­o­gista. A miopia pro­gres­si­va pode ser con­tro­la­da com medi­das ade­quadas pra evi­tar o aumen­to exager­a­do do grau. Hoje, temos várias ori­en­tações, ócu­los espe­ci­ais e alguns colírios que podem inter­ferir na evolução da miopia”, expli­cou.

“Cri­anças que enx­ergam bem têm mel­hor desen­volvi­men­to acadêmi­co e social. Isso evi­ta frus­trações e difi­cul­dades no apren­diza­do. Por isso, o acom­pan­hamen­to oftal­mológi­co reg­u­lar é um inves­ti­men­to na saúde e no futuro nas cri­anças. É graças a um bom atendi­men­to nes­sa fase da vida que a gente vai ter adul­tos enx­er­gan­do bem e sem graves prob­le­mas.”

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