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Saúde mental é principal problema para os professores, aponta pesquisa

Repro­dução: © Paulo Pinto/Agência Brasil

Distúrbios com a voz e os musculares vêm em seguida


Pub­li­ca­do em 15/10/2023 — 06:43 Por Elaine Patri­cia Cruz – Repórter da Agên­cia Brasil — São Paulo

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A saúde dos pro­fes­sores não vai bem no Brasil. É o que apon­ta o livro Pre­cariza­ção, Adoec­i­men­to & Cam­in­hos para a Mudança. Tra­bal­ho e saúde dos Pro­fes­sores, lança­do nes­ta sem­ana pela Fun­dação Jorge Duprat Figueire­do de Segu­rança e Med­i­c­i­na do Tra­bal­ho (Fun­da­cen­tro).

livro foi lança­do durante o V Sem­i­nário: Tra­bal­ho e Saúde dos Pro­fes­sores — Pre­cariza­ção, Adoec­i­men­to e Cam­in­hos para a Mudança. Durante o sem­i­nário, os pesquisadores apon­taram que, seja na rede públi­ca ou na rede pri­va­da, os pro­fes­sores sofrem de um mes­mo con­jun­to de males ou doenças, em que há pre­domínio dos dis­túr­bios men­tais tais como sín­drome de burnout, estresse e depressão. Depois deles apare­cem os dis­túr­bios de voz e os dis­túr­bios osteo­mus­cu­lares (lesões nos mús­cu­los, tendões ou artic­u­lações).

“Os estu­dos têm mostra­do que as prin­ci­pais neces­si­dades de afas­ta­men­to para trata­men­to de saúde dos pro­fes­sores são os transtornos men­tais. Quan­do olhá­va­mos ess­es estu­dos há cin­co anos, eles apon­tavam prevalên­cia maior de adoec­i­men­to vocal. Mas isso está mudan­do. Hoje os transtornos men­tais já têm assum­i­do a primeira posição em causa de afas­ta­men­to de pro­fes­sores das salas de aula”, disse Jef­fer­son Peixo­to da Sil­va, tec­nol­o­gista da Fun­da­cen­tro.

Segun­do Fri­da Fis­ch­er, pro­fes­so­ra do Depar­ta­men­to de Saúde Ambi­en­tal da Fac­ul­dade de Saúde Públi­ca da Uni­ver­si­dade de São Paulo (USP), entre os prin­ci­pais prob­le­mas enfrenta­dos por docentes no tra­bal­ho está a per­da de voz, a per­da audi­ti­va, os dis­túr­bios osteo­mus­cu­lares e, mais recen­te­mente, as doenças men­tais. “Essas são as prin­ci­pais causas de afas­ta­men­to dos pro­fes­sores”, disse, em entre­vista cole­ti­va.

Uma pesquisa real­iza­da e divul­ga­da recen­te­mente pelo Sindi­ca­to dos Pro­fes­sores do Ensi­no Ofi­cial do Esta­do de São Paulo (Apeoe­sp) já havia apon­ta­do que muitos pro­fes­sores estão enfrentan­do prob­le­mas rela­ciona­dos à saúde men­tal e que isso pode ter se agrava­do com a pan­demia do novo coro­n­avírus.

Violência

Out­ro prob­le­ma que agravou a saúde dos pro­fes­sores é a vio­lên­cia, apon­ta Rena­ta Papar­el­li, psicólo­ga e pro­fes­so­ra da Pon­tif­í­cia Uni­ver­si­dade Católi­ca (PUC) de São Paulo. Segun­do ela, o adoec­i­men­to dos pro­fes­sores pode ser resul­ta­do de três tipos de vio­lên­cia: a físi­ca, como as agressões e tapas; as ameaças; e tam­bém as resul­tantes de uma ativi­dade psi­cos­so­cial cotid­i­ana, como os assé­dios, por exem­p­lo, rela­ciona­dos à gestão esco­lar. Além dis­so, desta­ca, há tam­bém os episó­dios de ataques con­tra as esco­las.

As con­se­quên­cias dessas vio­lên­cias, diz Rena­ta, podem resul­tar tan­to em um prob­le­ma físi­co, tais como uma lom­bal­gia ou lesão, quan­to em uma doença rela­ciona­da a um transtorno de estresse pós-traumáti­co.

“A esco­la não é uma ilha sep­a­ra­da de gente. A esco­la está den­tro de uma comu­nidade, está na sociedade e todos os prob­le­mas da sociedade vão bater lá na por­ta da esco­la. O tem­po todo a esco­la reflete os prob­le­mas que exis­tem na sociedade”, ressaltou Wil­son Teix­eira, super­vi­sor esco­lar da Sec­re­taria Munic­i­pal de Edu­cação da prefeitu­ra de São Paulo. “Então, a esco­la tam­bém pode ser pro­mo­to­ra de vio­lên­cia. Uma gestão autoritária, por exem­p­lo, pode causar sim adoec­i­men­to dos pro­fes­sores”, desta­cou.

Além da vio­lên­cia, a fal­ta de recur­sos ou de condições apro­pri­adas tam­bém con­tribui para que o pro­fes­sor adoeça. Isso, por exem­p­lo, está rela­ciona­do não só à infraestru­tu­ra da esco­la como tam­bém aos baixos salários, jor­nadas exces­si­vas e até a quan­ti­dade de alunos por salas de aula. “As doenças rela­cionadas ao tra­bal­ho estão dire­ta­mente rela­cionadas às condições de tra­bal­ho, aos recur­sos que os pro­fes­sores têm para a admin­is­tração de seu cotid­i­ano. Quan­do as condições de tra­bal­ho são precárias, tan­to em infraestru­tu­ra quan­to em recur­sos ou exigên­cias, e quan­do existe um dese­qui­líbrio entre o que o pro­fes­sor tem de faz­er e aqui­lo que é pos­sív­el ser feito den­tro daque­las condições, as pes­soas vão adoe­cer”, disse Fri­da Fis­ch­er.

Para Solange Apare­ci­da Benede­ti Pen­ha, secretária de assun­tos rel­a­tivos à saúde do tra­bal­hador da Apeoe­sp, parte dess­es prob­le­mas podem ser resolvi­dos com o for­t­alec­i­men­to das denún­cias e tam­bém por meio de nego­ci­ações entre os sindi­catos e os gov­er­nos. “Defend­emos menos alunos nas salas de aula, pro­fes­sores val­oriza­dos e, con­se­quente­mente, isso vai traz­er uma mel­ho­ria para a edu­cação”, disse.

Para Jeffe­son Peixo­to da Sil­va, todas essas questões demon­stram que é necessário que sejam pen­sadas políti­cas públi­cas voltadas tam­bém para o bem-estar dos pro­fes­sores. “A prin­ci­pal con­clusão do livro é a questão das políti­cas públi­cas, a importân­cia de ter­mos políti­cas públi­cas e que sejam favoráveis às mel­ho­rias das condições de saúde e de tra­bal­ho dos pro­fes­sores. Medi­das pon­tu­ais podem ben­e­fi­ciar alguns, mas temos no Brasil um número muito grande de pro­fes­sores, mais de 2 mil­hões, que vivem em regiões e situ­ações difer­entes, então as políti­cas públi­cas são aque­las capazes de abranger toda essa neces­si­dade”, disse Sil­va.

Edição: Aline Leal

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