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Sem redes sociais não haveria tentativa de golpe, avalia especialista

Repro­dução: © Mar­cel­lo Casal Jr./Agência Brasil

Diretora de ONG de educação midiática defende regulamentação da mídia


Pub­li­ca­do em 08/01/2024 — 11:23 Por Gilber­to Cos­ta – Repórter da Agên­cia Brasil — Brasília

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Em 8 de janeiro de 2023, dia do ataque golpista da extrema dire­i­ta às sedes dos Três Poderes da Repúbli­ca, na cap­i­tal fed­er­al, a jor­nal­ista mineira Tereza Cru­vinel viveu uma exper­iên­cia inédi­ta em seus 43 anos de profis­são: foi hos­tiliza­da, agre­di­da e xin­ga­da por difer­entes gru­pos de agi­ta­dores.

À Agên­cia Brasil, ela con­ta que, ao faz­er a cober­tu­ra da des­ocu­pação do Con­gres­so Nacional, ouviu ameaças e rece­beu chutes de bol­sonar­is­tas. Além dis­so, ela teve de entre­gar seu celu­lar de tra­bal­ho aos extrem­is­tas para que eles apa­gassem ima­gens que fez diante da destru­ição da sede do Leg­isla­ti­vo.

Segun­do Tereza, que pre­sid­iu a Empre­sa Brasil de Comu­ni­cação (EBC) entre 2007 e 2011, os vân­da­los a acusavam de tirar fotos de man­i­fes­tantes “para entre­gar à polí­cia.” Quan­do ela se se iden­ti­fi­cou como jor­nal­ista, o medo aumen­tou. Um dos home­ns que a intim­i­da­va chegou a diz­er: “vamos dar uma aula de jor­nal­is­mo para ela atrás do Min­istério da Defe­sa.”

Para a sorte de Tereza, uma man­i­fes­tante a con­hecia do tra­bal­ho no Con­gres­so e disse que ela era “jor­nal­ista sim”, e que mora­va per­to de sua casa. Essa mul­her a lev­ou até seu car­ro, esta­ciona­do próx­i­mo à Cat­e­dral de Brasília. Lá a mul­her disse para a jor­nal­ista que fos­se emb­o­ra, “antes que coisa pior acon­te­cesse.”

Tereza deixou a Esplana­da dos Min­istérios intri­ga­da sobre porque estaria sendo iden­ti­fi­ca­da por diver­sas pes­soas como alguém tra­bal­han­do para a polí­cia. A razão ela foi saber no dia seguinte, ao rece­ber um meme: cir­cula­va nas redes soci­ais uma foto sua tira­da durante os atos golpis­tas, com uma fake news: “essa mul­her está fazen­do fotos dos man­i­fes­tantes para a polí­cia”. A roupa que Tereza ves­tia facil­i­tou sua iden­ti­fi­cação.

A breve história do inci­dente ilus­tra como a comu­ni­cação dig­i­tal instan­tânea em rede é uti­liza­da para enga­nar as pes­soas, propa­gar men­ti­ras e des­per­tar o ódio.

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Redes Cordiais

Gabriela de Almeida Pereira, diretora de relações institucionais da ONG “Redes Cordiais”. Foto: Linkedin/Gabriela Pereira
Repro­dução: Gabriela de Almei­da Pereira defende reg­u­la­men­tação das mídias soci­ais e punição de quem espal­ha fake news — Linkedin/Gabriela Pereira

Sem a tec­nolo­gia de comu­ni­cação instan­tânea e a má fé dos bol­sonar­is­tas, não teria ocor­ri­do a destru­ição par­cial do Con­gres­so Nacional, do Palá­cio do Planal­to e do Supre­mo Tri­bunal Fed­er­al. A avali­ação é de Gabriela de Almei­da Pereira, dire­to­ra de relações insti­tu­cionais da ONG Redes Cor­diais.

A orga­ni­za­ção não gov­er­na­men­tal é uma ini­cia­ti­va de edu­cação midiáti­ca, defini­da pela própria ONG como um con­jun­to de habil­i­dades que per­mite lidar, de maneira respon­sáv­el e críti­ca, com as mídias – do jor­nal impres­so a vídeos de aplica­tivos.

Con­forme a espe­cial­ista, o 8 de janeiro foi uma “situ­ação gravís­si­ma” impul­sion­a­da durante sem­anas, em redes soci­ais dis­tin­tas, que con­tribuiu de for­ma sig­ni­fica­ti­va para infla­mar o cli­ma. Na per­cepção de Gabriela, “as redes soci­ais, em espe­cial aque­las que nos colo­cam em gru­pos menos per­me­áveis – seja pela crip­tografia de pon­ta a pon­ta ou pela própria con­fig­u­ração de fóruns fecha­dos de dis­cussão –, são ter­renos férteis para a dis­sem­i­nação de dis­cur­sos de ódio e desin­for­mação.”

As lim­i­tações de ras­trea­men­to favore­cem a impunidade de quem usa os novos meios de comu­ni­cação para come­ter crimes. “Em algu­mas dessas redes soci­ais você não sabe, por exem­p­lo, quem foi a primeira pes­soa a com­par­til­har a men­sagem, nem quan­tas pes­soas já foram impactadas por ela, se já foi tira­da de con­tex­to etc. A gente fica saben­do quan­do ela retor­na para nós ou quan­do vemos ela sendo repro­duzi­da em out­ros ambi­entes vir­tu­ais, mas não dá para ter uma dimen­são do impacto.”

Emoção e engajamento

Gabriela Pereira assi­nala que as novas mídias mobi­lizam os usuários por meio da emoção para con­seguir mais enga­ja­men­to e, assim, audiên­cia e tem­po de exposição.

“Estu­dos da psi­colo­gia da desin­for­mação mostram que cos­tu­mamos com­par­til­har com mais veemên­cia con­teú­dos que nos causam rai­va, indig­nação, deses­per­ança. É como se quisésse­mos com­par­til­har com o mun­do aqui­lo que nos afe­tou, como for­ma de aler­tar nos­sos pares. Saben­do dis­so, as platafor­mas enten­der­am como esse enga­ja­men­to causa lucro, deixan­do as pes­soas cada vez mais pre­sas den­tro das redes soci­ais, ten­do mudanças cog­ni­ti­vas con­sid­eráveis.”

“E aí temos esse cenário para lá de perigoso, que soma nos­sa for­ma de se rela­cionar com a infor­mação, por meio da emoção, mais um cenário de baixís­si­mo letra­men­to dig­i­tal, em que não sabe­mos muitas vezes dis­tin­guir infor­mações reais, ver­i­fi­cadas, de con­teú­dos enganosos, com algo­rit­mos que enga­jam con­teú­dos de ódio e colo­cam os sujeitos em bol­has, e redes soci­ais que per­mitem que este­jamos cada dia mais vul­neráveis”, acres­cen­ta.

Para a dire­to­ra da ONG, a ten­ta­ti­va de golpe no dia 8 de janeiro de 2023 ilus­tra a neces­si­dade de se reg­u­la­men­tar as redes soci­ais no Brasil.

“A reg­u­la­men­tação pre­cisa acon­te­cer para que este­jamos mais seguros on e off-line. Para que essas ameaças do mun­do atu­al ten­ham menos impactos e todos ten­ham mais con­sciên­cia do que, de fato, é uma ação nos­sa, o que é uma medi­ação algo­rít­mi­ca. É impor­tante que as pes­soas sejam respon­s­abi­lizadas pelas suas ati­tudes, seja o emis­sor do con­teú­do que inci­ta a vio­lên­cia, como tam­bém a platafor­ma que hospe­da esse tipo de con­teú­do, que per­mite que ele exista e seja difun­di­do.”

Edição: Denise Griesinger

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