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Sesc transforma Palácio Quitandinha em centro cultural

Repro­dução: © Tomaz Silva/Agência Brasil

Espaço terá exposições e atividades culturais gratuitas


Pub­li­ca­do em 15/04/2023 — 11:50 Por Viní­cius Lis­boa — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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Inau­gu­ra­do na déca­da de 1940 para ser um hotel-cassi­no sun­tu­oso, o Palá­cio Qui­tand­in­ha, em Petrópo­lis, pas­sa abri­gar a par­tir deste sába­do (15) o Cen­tro Cul­tur­al Sesc Qui­tand­in­ha em seu térreo, com exposições e ativi­dades cul­tur­ais gra­tu­itas para a pop­u­lação da cidade e tur­is­tas.

Petrópolis (RJ), 14/04/2023 – Exposição Um oceano para lavar as mãos inaugura o Centro Cultural Sesc Quitandinha. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Repro­dução: Exposição Um Oceano para Lavar as Mãos, no Cen­tro Cul­tur­al Sesc Qui­tand­in­ha — Tomaz Silva/Agência Brasil

Com uma arquite­tu­ra mar­ca­da pela mon­u­men­tal­i­dade, o pré­dio é um icôni­co pon­to turís­ti­co da cidade ser­rana, com facha­da em esti­lo nor­man­do-francês, e o inte­ri­or dec­o­ra­do com base em cenários da Hol­ly­wood anti­ga. O jardim do palá­cio, que con­ta com lago e amp­lo gra­ma­do, é um pon­to tradi­cional de vis­i­tação e laz­er para quem está na região.

Em uma cidade que cos­tu­ma ser resum­i­da a seu pas­sa­do impe­r­i­al e imi­gração europeia, o Sesc pro­gra­mou uma exposição de lon­ga duração que propõe uma revisão da história do país e de Petrópo­lis. Doze artis­tas e dois curadores, cada um a sua maneira, abor­dam os laços atlân­ti­cos entre Brasil e África, o perío­do das nave­g­ações e o sofri­men­to provo­ca­do pelo trá­fi­co de africanos escrav­iza­dos.

Petrópolis (RJ), 14/04/2023 – O curador, Marcelo Campos durante inauguração do Centro Cultural Sesc Quitandinha, que apresenta a exposição Um oceano para lavar as mãos. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
pro­dução: O curador Marce­lo Cam­pos desta­ca que os artis­tas bus­cam rel­er a história de Petrópo­lis — Tomaz Silva/Agência Brasil

O títu­lo Um Oceano para Lavar as Mãos con­vi­da o públi­co a pen­sar na diás­po­ra negra provo­ca­da pela escravidão, e o obje­ti­vo dos artis­tas tam­bém é rel­er a história de Petrópo­lis, cidade que antes de rece­ber imi­grantes alemães já era ter­ritório de resistên­cia quilom­bo­la. O próprio nome Qui­tand­in­ha, lem­bra o curador Marce­lo Cam­pos, vem da palavra qui­tan­da, que é de origem africana.

“Faz­er cul­tura e arte no Brasil não pode nun­ca estar dis­so­ci­a­do do ele­men­to da respon­s­abil­i­dade social. Isso, para nós, é fun­da­men­tal, para ter um espaço com uma hor­i­zon­tal­i­dade que nem sem­pre acon­te­ceu e traz­er artis­tas negros, negras e negres para esse palá­cio em que sem­pre estive­mos, mas talvez ocupásse­mos áreas invis­i­bi­lizadas. Isso faz com que a gente enten­da cul­tura e arte como lugar de respon­s­abil­i­dade em que a gente não pode mais recuar.”

Fazem parte da exposição 40 obras dos artis­tas Aline Mot­ta, Arjan Mar­tins, Ayr­son Herá­cli­to, Azizi Cypri­ano, Cipri­ano, Juliana dos San­tos, Lidia Lis­bôa, Moisés Patrí­cio, Nádia Taquary, Rosana Pauli­no, Thi­a­go Cos­ta e Tia­go San­t’ana.

Petrópolis (RJ), 14/04/2023 – Os curadores e os artistas presente na exposição Um oceano para lavar as mãos que inaugura o Centro Cultural Sesc Quitandinha. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
~Repro­dução: Curadores e artis­tas da exposição Um Oceano para Lavar as Mãos — Tomaz Silva/Agência Brasil

Ide­al­izador do Museu de Memória Negra de Petrópo­lis e coor­de­nador de Pro­moção da Igual­dade Racial da cidade, Fil­ipe Gra­ciano assi­na a curado­ria  da exposição com Marce­lo Cam­pos e con­ta que o oceano é o lugar do trau­ma da diás­po­ra, mas tam­bém é lugar em que se ban­ha bus­can­do a cura.

Petrópolis (RJ), 14/04/2023 – O curador, Filipe Graciano durante inauguração do Centro Cultural Sesc Quitandinha, que apresenta a exposição Um oceano para lavar as mãos. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Repro­dução: Fil­ipe Gra­ciano assi­na a curado­ria da exposição jun­to com Marce­lo Cam­pos — Tomaz Silva/Agência Brasil

“A cura está no proces­so de reen­con­tro com esse out­ro atlân­ti­co que é negro”, con­ta ele. “Falar da história de Petropólis inevi­tavel­mente é se aprox­i­mar de um pas­sa­do diaspóri­co que invis­i­bi­liza essas pre­senças negras. A gente reivin­di­ca essas memórias e essas pre­senças negras que se der­am e se dão no pre­sente. Se con­ta uma história de que Petropólis começou com a chega­da dos colonos [europeus], só que, antes, há 166 anos em que Petrópo­lis se fez pela mão de obra e int­elec­tu­al­i­dade africana. Essa exposição pen­sa e rein­vidi­ca o que foi feito por essas mãos que fiz­er­am não só Petropólis, mas tam­bém o Brasil.”

Como parte dessa memória, a cidade ain­da con­ser­va o Quilom­bo da Tapera, no Vale das Videiras, recon­heci­do pela Fun­dação Pal­mares em 2011. Há reg­istro tam­bém de out­ras comu­nidades quilom­bo­las que exi­s­ti­ram em Petrópo­lis, como o Quilom­bo Manoel Con­go, o Quilom­bo Maria Com­pri­da e o Quilom­bo da Vargem Grande.

Um dos artis­tas con­vi­da­dos é Ayr­son Herá­cli­to que propõe com seu tra­bal­ho um “sacud­i­men­to”, um rit­u­al de limpeza reg­istra­do em foto e vídeo para exor­cizar as ener­gias de dois por­tos lig­a­dos ao trá­fi­co de africanos escrav­iza­dos, a Casa da Torre, em Sal­vador, e a Casa dos Escravos, na Ilha de Goré, no Sene­gal.

“Traz­er esse rit­u­al para um palá­cio que, de cer­ta for­ma, restringiu durante muito tem­po a existên­cia e a vis­i­bil­i­dade da pop­u­lação negra em car­gos de sub­serviên­cia é muito impor­tante, porque é uma for­ma de limpar. A gente pre­cisa limpar ess­es fan­tas­mas colo­ni­ais, porque limpan­do a gente con­segue pro­duzir proces­sos de cura e de super­ação. É uma obra que reivin­di­ca e ofer­ece uma saí­da para essa crise que fere a história moral do Brasil e do plan­e­ta.”

Ao lon­go do perío­do de seis meses em que a exposição estará mon­ta­da no Qui­tand­in­ha, o palá­cio rece­berá tam­bém uma pro­gra­mação para­lela que vai com­ple­men­tar a dis­cussão pro­pos­ta. O Café Con­cer­to do Cen­tro Cul­tur­al Sesc Qui­tand­in­ha, com capaci­dade para 270 pes­soas, vai sedi­ar uma pro­gra­mação de músi­ca e de cin­e­ma, toda ela assi­na­da por curadores negros. Tam­bém haverá ativi­dades literárias e ofic­i­nas.

Além da exposição, a pro­gra­mação de inau­gu­ração terá, neste sába­do, show gra­tu­ito da can­to­ra Juçara Marçal, às 19h. A can­to­ra apre­sen­tará o repertório de seu pre­mi­a­do álbum Delta Está­cio Blues, com músi­ca eletrôni­ca em diál­o­go com o pop e a músi­ca brasileira. No domin­go (16), às 16h, o públi­co infan­til poderá con­ferir o espetácu­lo Lasan­ha e Ravi­o­li em Cin­derela, sele­ciona­do pelo Edi­tal de Cul­tur­al Sesc RJ Pul­sar.

Para o futuro, o Sesc plane­ja ain­da a inau­gu­ração de um cin­e­ma no Salão Roo­sevelt e de um mer­ca­do gas­tronômi­co na imen­sa Coz­in­ha, pro­je­ta­da para servir até 10 mil refeições em uma noite. O pres­i­dente do Sesc, Senac e Fecomér­cio, Antônio Florên­cio, espera que o número de vis­i­tantes na exposição chegue a 300 mil ao lon­go de um ano. A pro­pos­ta da atração de públi­co tam­bém é fomen­tar o desen­volvi­men­to turís­ti­co da cidade, para ger­ar emprego e ren­da.

Petrópolis (RJ), 14/04/2023 – O presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (Fecomercio-RJ), Antônio Queiroz durante inauguração do Centro Cultural Sesc Quitandinha, que apresenta a exposição Um oceano para lavar as mãos. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Repro­dução: Pres­i­dente do Sesc, Antônio Florên­cio diz que o obje­ti­vo é atrair cada vez mais vis­i­tantes ao Cen­tro Cul­tur­al Sesc Qui­tand­in­ha — Tomaz Silva/Agência Brasil

“O Qui­tand­in­ha é uma joia não só do esta­do do Rio de Janeiro, mas do Brasil todo. A beleza do Qui­tand­in­ha é inigualáv­el, mas esta­va fal­tan­do vida nes­sa área. Opta­mos por faz­er um cen­tro cul­tur­al para que ten­ha ativi­dades diari­a­mente e pos­sa atrair cada vez mais vis­i­tantes”, afir­ma ele, que adi­anta que o palá­cio será cen­tral no Fes­ti­val Sesc de Inver­no deste ano.

“O foco maior é o Qui­tand­in­ha, não só em Petrópo­lis, mas em todo o fes­ti­val de inver­no, val­orizan­do, mostran­do e uti­lizan­do cada vez mais esse espaço.”

O novo momen­to do Palá­cio Qui­tand­in­ha tam­bém vai con­tar com o Q Bistrô, um local ded­i­ca­do à gas­trono­mia trop­i­cal com cardá­pio assi­na­do por Andres­sa Cabral, chef car­i­o­ca for­ma­da pela Alain Ducasse For­ma­tion, esco­la inter­na­cional de gas­trono­mia. O restau­rante fun­cionará das 10h às 17h no espaço do anti­go Bar Cen­tral, local que rece­beu os primeiros vis­i­tantes do palá­cio quan­do ele ain­da esta­va em con­strução no iní­cio dos anos 1940.

Edição: Juliana Andrade

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