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Setor cultural tem mais emprego informal que o conjunto da economia

Repro­dução: © Tânia Rêgo/Agência Brasil

Pesquisa do IBGE mostra, no entanto, que salários são maiores


Pub­li­ca­do em 01/12/2023 — 10:02 Por Bruno de Fre­itas Moura — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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O setor cul­tur­al no país tem pro­porção maior de empre­gos infor­mais, se com­para­do ao total das ativi­dades econômi­cas. No entan­to, é com­pos­to por tra­bal­hadores mais qual­i­fi­ca­dos e paga maiores salários. A con­statação está na pesquisa Sis­tema de Infor­mações e Indi­cadores Cul­tur­ais, divul­ga­da nes­ta sex­ta-feira (1º) pelo Insti­tu­to Brasileiro de Geografia e Estatís­ti­ca (IBGE).

O lev­an­ta­men­to faz uma radi­ografia de empre­sas e ocu­pações lig­adas ao ramo cul­tur­al, como com­pan­hias de teatro, cin­e­ma, casas de espetácu­los, museus, edi­toras, empre­sas de design e de comu­ni­cação.

Entram no cam­po de análise profis­sões que vão des­de per­cus­sion­ista até o porteiro que tra­bal­ha em um museu, pas­san­do por uma bib­liotecária, por exem­p­lo.

De acor­do com o estu­do, em 2022 o setor cul­tur­al ocu­pa­va 5,4 mil­hões de pes­soas no país. Isso rep­re­sen­ta 5,6% do total de ocu­pa­dos em todas as ativi­dades econômi­cas. Esse pata­mar é muito próx­i­mo do reg­istra­do em 2019, perío­do pré-pan­demia. No ano seguinte, 2020, o iso­la­men­to social e os lock­downs levaram o número de ocu­pa­dos para 4,8 mil­hões.

Qualificação e informalidade

Dos tra­bal­hadores do setor cul­tur­al, 30,6% tin­ham ensi­no supe­ri­or com­ple­to. Esse nív­el de esco­lar­i­dade fica aci­ma da média do total das ativi­dades, 22,6%. Ape­sar de mais qual­i­fi­ca­dos, ess­es profis­sion­ais lidavam com maior nív­el de infor­mal­i­dade. Enquan­to no total da econo­mia a taxa de infor­mal­i­dade era de 40,9%, na área cul­tur­al alcança­va 43,2%.

Out­ra car­ac­terís­ti­ca é a grande par­tic­i­pação de tra­bal­hadores por con­ta própria, 42,1%, aci­ma dos 26,1% do total da econo­mia.

“Ter mais con­ta própria é um indica­ti­vo de mais infor­mal­i­dade porque, de maneira ger­al, nor­mal­mente está mais lig­a­da à não con­tribuição prev­i­den­ciária”, expli­ca o pesquisador Leonar­do Athias.

Brasília (DF) 30/11/2023 – Setor cultural tem mais emprego informal que conjunto da economia Arte Agência Brasil
Repro­dução: Setor cul­tur­al tem mais emprego infor­mal que con­jun­to da econo­mia — Arte Agên­cia Brasil

Remuneração

A pesquisa iden­ti­fi­cou que ter maior pro­porção de infor­mal­i­dade não sig­nifi­cou menores salários para o setor cul­tur­al. Pelo con­trário. Enquan­to no país o rendi­men­to médio ficou em R$ 2.582, entre os tra­bal­hadores dos setores rela­ciona­dos à cul­tura a cifra era de R$ 2.815.

A desigual­dade entre os salários de home­ns e mul­heres na econo­mia como um todo se repro­duz tam­bém no uni­ver­so cul­tur­al. Elas rece­ber­am, em média, R$ 2.510, enquan­to eles, R$ 3.087, uma difer­ença de 23%.

Menos inflação

O IBGE tam­bém anal­isou o peso e com­por­ta­men­to dos gas­tos com ativi­dades, pro­du­tos e serviços cul­tur­ais no bol­so das famílias brasileiras. Para isso, foi cri­a­do o Índice de Preços da Cul­tura (IPCult).

Em 2020, ess­es gas­tos — que incluem cus­tos tradi­cionais, como entra­da de cin­e­ma, até con­sumos mais mod­er­nos, como assi­natu­ra de stream­ing – rep­re­sen­tavam 9,1% do peso da inflação ofi­cial do país (IPCA). No ano pas­sa­do, a par­tic­i­pação caiu para 8,4%.

Obser­van­do como cada índice se com­por­tou, os gas­tos com cul­tura subi­ram menos que a inflação ger­al. Nos últi­mos dois anos, o IPCA acu­mu­la­do de 12 meses teve média de 6,8%. Já o IPCult, 3,2%.

Gastos públicos

O ano de 2022 foi o que mais teve gas­tos públi­cos no setor cul­tur­al. Em val­ores cor­rentes foram R$ 13,6 bil­hões, uma expan­são de aprox­i­mada­mente 73% ante os R$ 7,9 bil­hões de 2012.

Obser­van­do por esfera admin­is­tra­ti­va, percebe-se a redução de gas­tos fed­erais em 33,3%, pas­san­do de R$ 1,8 bil­hão para R$ 1,2 bil­hão. Já esta­dos e municí­pios tiver­am aumen­tos. Gov­er­nos estad­u­ais saltaram de R$ 2,4 bil­hões para R$ 4,3 bil­hões (+77%); e prefeituras, de R$ 3,6 bil­hões para R$ 8 bil­hões (+125%).

“Estu­dos mostram, no Brasil e fora, que o gas­to no setor é mul­ti­pli­cador. Se você mexe na cul­tura, isso gera ren­da e emprego na sequên­cia”, anal­isa Leonar­do Athias.

Acesso à cultura

Ao mapear a pre­sença de equipa­men­tos cul­tur­ais pelo país, o IBGE retra­ta a desigual­dade de aces­so. O lev­an­ta­men­to iden­ti­fi­cou que 31,4% da pop­u­lação moram em municí­pios onde não existe museu e 30,6%, onde não há teatros. A situ­ação mais críti­ca é o cin­e­ma,-  42,5% da pop­u­lação vivem em cidades sem salas de exibição.

O IBGE tam­bém cal­cu­lou a pro­porção de cidades que não têm teatros, museus e cin­e­mas nos próprios ter­ritórios e pre­cisam de deslo­ca­men­tos supe­ri­ores a uma hora para alcançar ess­es equipa­men­tos cul­tur­ais.

A Região Norte é a mais des­fa­vore­ci­da — 70% dos municí­pios estão a mais de uma hora de um museu. No Cen­tro-Oeste são 28,5% e no Nordeste, 15,4%. Todas essas regiões estão aci­ma da média nacional, 14,9%.

No Sud­este, 5,3% das cidades estão nes­sa situ­ação. No Sul, ape­nas 1,3%, ou seja, prati­ca­mente todas as cidades estão a menos de uma hora de um museu.

O Norte (65,1%), o Cen­tro-Oeste (39,8) e o Nordeste (19,7%) tam­bém são as regiões mais des­fa­vore­ci­das quan­do se leva em con­ta a pro­porção de municí­pios que pre­cisam de mais de uma hora de deslo­ca­men­to para se chegar em um teatro.

“Onde está a maior riqueza no Brasil, onde está o maior número de pes­soas é na cos­ta, onde há den­si­dade demográ­fi­ca. É onde a gente vê mais equipa­men­tos e menores deslo­ca­men­tos”, diz o pesquisador do IBGE.

O lev­an­ta­men­to não faz a relação per capi­ta das regiões, ou seja, quan­tos equipa­men­tos exis­tem para cada habi­tante.

“A Região Norte tem menos pop­u­lação que as out­ras regiões, por exem­p­lo, mas a gente está falan­do sob a óti­ca do aces­so, do dire­ito à cul­tura”, obser­va.

Brasília (DF) 30/11/2023 – Setor cultural tem mais emprego informal que conjunto da economia Arte Agência Brasil
Repro­dução: Dis­tân­cia entre municí­pios e equipa­men­tos cul­tur­ais mostra desigual­dade region­al Arte Agên­cia Brasil

Edição: Graça Adju­to

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