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Surto de Marburg na Tanzânia coloca OMS em alerta; entenda doença

Das seis pessoas infectadas, cinco morreram

Paula Labois­sière – Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 17/01/2025 — 09:04
Brasília
Etiópia, 02/10/2024 - Prevenção da doença de Marburg. Foto: AfricaCDC/Divulgação
Repro­dução: © AfricaCDC/Divulgação

No iní­cio da sem­ana, a Orga­ni­za­ção Mundi­al da Saúde (OMS) infor­mou a seus Esta­dos-mem­bros sobre um pos­sív­el sur­to de infecção pelo vírus Mar­burg na região de Kagera, na Tanzâ­nia. No dia 10 de janeiro, os primeiros casos sus­peitos da doença no país foram repor­ta­dos à enti­dade – seis pes­soas infec­tadas, sendo que cin­co delas mor­reram.

“Todos os casos apre­sen­tavam sin­tomas semel­hantes, incluin­do dor de cabeça, febre alta, dores nas costas, diar­reia, hematêmese (vômi­tos com sangue), mal-estar (fraque­za cor­po­ral) e, numa fase mais avança­da da doença, hemor­ra­gia exter­na (san­gra­men­to pelos orifí­cios)”, desta­cou a OMS em nota.

No dia seguinte, nove casos sus­peitos já havi­am sido con­tabi­liza­dos em pelo menos dois dis­tri­tos, Bihara­mu­lo e Mule­ba, incluin­do oito mortes – uma taxa de letal­i­dade de 89%. Amostras de dois pacientes foram cole­tadas e restadas pelo Lab­o­ratório Nacional de Saúde Públi­ca do país e os resul­ta­dos seguem pen­dentes.

“Pes­soas próx­i­mas, incluin­do profis­sion­ais de saúde, foram iden­ti­fi­ca­dos e estão sendo mon­i­tora­dos em ambos os dis­tri­tos”, acres­cen­tou a OMS. O dis­tri­to de Buko­ba, tam­bém na Tanzâ­nia, já havia reg­istra­do um sur­to de infecção pelo vírus Mar­burg em março de 2023 que durou dois meses, total­izan­do nove casos e seis mortes.

A enti­dade define a doença de Mar­burg como alta­mente vir­u­len­ta e com taxa de mor­tal­i­dade ele­va­da, depen­den­do da cepa e do geren­ci­a­men­to de casos. Per­ten­cente à mes­ma família do Ebo­la, o vírus provo­ca sin­tomas que começam de for­ma abrup­ta, incluin­do febre alta, dor de cabeça e forte mal-estar. Muitos pacientes desen­volvem sin­tomas hemor­rági­cos graves em poucos dias.

» Confira as principais perguntas e respostas sobre o Marburg (informações da OMS e do Centro de Controle e Prevenção de Doenças no Continente Africano — Africa CDC, na sigla em inglês):

O que é a doença do vírus Marburg?

É clas­si­fi­ca­da como uma enfer­mi­dade grave e, muitas vezes, fatal, cau­sa­da pelo vírus Mar­burg. A infecção leva a um quadro de febre hemor­rág­i­ca viral grave em humanos, car­ac­ter­i­za­da por febre, dor de cabeça sev­era, dor nas costas, dores mus­cu­lares inten­sas, dor abdom­i­nal, vômi­to, con­fusão men­tal, diar­reia e, em está­gios muito avança­dos, san­gra­men­tos.

A doença foi iden­ti­fi­ca­da pela primeira vez no municí­pio de Mar­burg, na Ale­man­ha, em 1967. Des­de então, há um número lim­i­ta­do de sur­tos, noti­fi­ca­dos em Ango­la, na Repúbli­ca Democráti­ca do Con­go, no Quê­nia, na África do Sul, na Ugan­da e, ago­ra, em Ruan­da.

Em 2023, foram iden­ti­fi­ca­dos dois sur­tos dis­tin­tos de Mar­burg em dois país­es: Guiné Equa­to­r­i­al e Tanzâ­nia. De acor­do com a OMS, a doença figu­ra como uma grave ameaça à saúde públi­ca em razão de sua ele­va­da taxa de mor­tal­i­dade, além da ausên­cia de um trata­men­to antivi­ral ou mes­mo de uma vaci­na capaz de con­ter a dis­sem­i­nação do vírus.

Como é a infecção pelo vírus?

Ini­cial­mente, seres humanos podem ser infec­ta­dos ao entrarem em con­ta­to com morce­gos Rouset­tus, um tipo de morcego frugívoro (que se ali­men­ta de fru­tas) fre­quente­mente encon­tra­do em minas e cav­er­nas. Já a trans­mis­são de pes­soa para pes­soa acon­tece prin­ci­pal­mente por meio do con­ta­to com flu­i­dos cor­po­rais de pes­soas infec­tadas, incluin­do sangue, fezes, vômi­to, sali­va, uri­na, suor, leite mater­no, sêmen e flu­i­dos da gravidez.

A infecção tam­bém ocorre por meio do con­ta­to com super­fí­cies e mate­ri­ais con­t­a­m­i­na­dos com ess­es flu­i­dos cor­po­rais. A doença não se espal­ha pelo ar.

A OMS aler­ta que o vírus, muitas vezes, se espal­ha de um mem­bro da família para out­ro ou ain­da de um paciente para um profis­sion­al de saúde que não uti­lize equipa­men­tos de pro­teção ade­qua­dos.

Pes­soas infec­tadas per­manecem trans­mitin­do o Mar­burg enquan­to hou­ver car­ga viral no sangue, o que sig­nifi­ca que os pacientes devem rece­ber trata­men­to em unidades de saúde especí­fi­cas e aguardar que testes lab­o­ra­to­ri­ais con­firmem o momen­to de retornar ao con­vívio em segu­rança.

Quais os sinais e sintomas?

Os primeiros sin­tomas podem sur­gir logo após a infecção e incluem febre alta, calafrios, dor de cabeça inten­sa e cansaço inten­so. Dores mus­cu­lares tam­bém são sin­tomas ini­ci­ais comuns.

O quadro tende a se agravar com o pas­sar do tem­po, quan­do apare­cem náuse­as, vômi­tos, dores de estô­ma­go e/ou no peito, erupções cutâneas e diar­reia, que podem durar cer­ca de uma sem­ana.

Nas fas­es tar­dias da doença, é comum ocor­rer san­gra­men­to em diver­sos locais do cor­po, como gen­gi­vas, nar­iz e ânus. Os pacientes podem sofr­er choque, delírio e falên­cia de órgãos.

De acor­do com a OMS, os sin­tomas de infecção por Mar­burg mais relata­dos são:

* febre;

* dor nas costas;

* dor mus­cu­lar;

* dor de estô­ma­go;

* per­da de apetite;

* vômi­to;

* letar­gia;

* irri­tação na pele;

* difi­cul­dade em engolir;

* dor de cabeça;

* diar­reia;

* soluço;

* difi­cul­dade para res­pi­rar.

Qual o intervalo de tempo até que os sintomas comecem a aparecer?

A janela de tem­po entre a infecção por Mar­burg e o iní­cio dos sin­tomas varia de dois a 21 dias. Alguns pacientes apre­sen­tam san­gra­men­to entre cin­co e sete dias sendo que a maio­r­ia dos casos fatais geral­mente apre­sen­ta algum tipo de san­gra­men­to – geral­mente, em múlti­plas áreas do cor­po. Quadros de sangue no vômi­to e/ou nas fezes, por exem­p­lo, cos­tu­mam ser acom­pan­hados de san­gra­men­tos no nar­iz, nas gen­gi­vas e na vagi­na.

“A morte pode ocor­rer rap­i­da­mente e, geral­mente, é cau­sa­da por sepse viral, falên­cia múlti­pla de órgãos e san­gra­men­to”, aler­ta a OMS.

Os vírus Marburg e Ebola provocam a mesma doença?

A OMS clas­si­fi­ca as duas infecções como raras e semel­hantes, mas cau­sadas por vírus dis­tin­tos, ambos mem­bros da família dos filovírus e com capaci­dade de causar sur­tos com altas taxas de mor­tal­i­dade.

A doença de Mar­burg pode ser con­fun­di­da com out­ros quadros infec­ciosos como ebo­la, malária, febre tifoide e dengue, em razão da semel­hança dos sin­tomas.

Por esse moti­vo, ape­nas a testagem real­iza­da em lab­o­ratório, uti­lizan­do amostras de sangue, teci­do ou out­ros flu­i­dos cor­po­rais do paciente, pode con­fir­mar a infecção.

O que fazer em caso de sintomas de Marburg?

Se você ou alguém próx­i­mo a você apre­sen­tar sin­tomas semel­hantes aos da infecção por Mar­burg, a ori­en­tação da OMS é entrar em con­ta­to com um profis­sion­al de saúde local para obter con­sel­hos atu­al­iza­dos e pre­cisos.

Em casos em que há resul­ta­do de teste pos­i­ti­vo para a infecção, o atendi­men­to pre­coce em um cen­tro de trata­men­to especí­fi­co é con­sid­er­a­do essen­cial, além de aumen­tar as chances de sobre­vivên­cia.

Não existe trata­men­to especí­fi­co para a doença. Entre­tan­to, no intu­ito de max­i­mizar as chances de recu­per­ação e ampli­ar a segu­rança de pes­soas próx­i­mas, todos os pacientes devem rece­ber cuida­dos e per­manecer em um cen­tro de trata­men­to des­ig­na­do para esse tipo de caso até que sejam autor­iza­dos a sair. A OMS não recomen­da o trata­men­to em casa.

“Se você ou um ente queri­do tes­tar neg­a­ti­vo para doença de Mar­burg, mas ain­da apre­sen­tar sin­tomas com­patíveis, per­maneça vig­i­lante até que eles desa­pareçam e até que você seja lib­er­a­do pelo seu médi­co”, desta­cou a orga­ni­za­ção.

“Siga sem­pre os con­sel­hos dos profis­sion­ais de saúde, já que podem ser necessárias anális­es lab­o­ra­to­ri­ais adi­cionais em casos de resul­ta­do lab­o­ra­to­r­i­al neg­a­ti­vo mas com paciente sin­tomáti­co”.

Como proteger do vírus?

A mel­hor for­ma de pre­venir a infecção por Mar­burg é evi­tar o con­ta­to com indi­ví­du­os ou ani­mais infec­ta­dos e praticar uma boa higiene, além de seguir out­ras medi­das pos­sivel­mente recomen­dadas por gov­er­nos e autori­dades san­itárias locais.

Caso você more ou este­ja via­jan­do para áreas onde foi relata­da a pre­sença do vírus – ain­da que não apre­sente sin­tomas e que não ten­ha entra­do em con­ta­to com um paciente infec­ta­do –, a ori­en­tação é seguir medi­das pre­ven­ti­vas como:

* procu­rar atendi­men­to caso sur­jam sinais da infecção;

* lavar as mãos reg­u­lar­mente com sabão ou com solução para esfre­gar as mãos à base de álcool;

* evi­tar con­ta­to com flu­i­dos cor­po­rais de pes­soas com sin­tomas de infecção por Mar­burg, além de evi­tar o mane­jo do cor­po de alguém que fale­ceu com sin­tomas da doença;

* ao parar em pon­tos de con­t­role san­itários ofi­ci­ais, aderir a quais­quer medi­das pre­ven­ti­vas em vig­or, incluin­do a triagem de tem­per­atu­ra e o preenchi­men­to de for­mulários de declar­ação de saúde.

Tem tratamento da doença?

Atual­mente, não há trata­men­to disponív­el para pacientes diag­nos­ti­ca­dos com o vírus. Por isso, a OMS con­sid­era essen­cial que pes­soas que apre­sen­tem sin­tomas semel­hantes pro­curem atendi­men­to pre­coce.

Cuida­dos de suporte, incluin­do o fornec­i­men­to de hidratação ade­qua­da, o con­t­role da dor e de out­ros sin­tomas que pos­sam sur­gir deve ser feito por profis­sion­ais de saúde e é con­sid­er­a­do a for­ma mais segu­ra e efi­caz de gerir a infecção.

O trata­men­to de coin­fecções, como por malária, doença bas­tante comum no con­ti­nente africano, tam­bém é definido como cru­cial para os cuida­dos de suporte con­tra o Mar­burg.

Segun­do a OMS, ter­apias em fase de teste e ain­da não aprovadas para o trata­men­to da infecção foram pri­or­izadas para avali­ação da enti­dade por meio de ensaios clíni­cos ran­dom­iza­dos.

Existem vacinas?

Até o momen­to, não exis­tem vaci­nas aprovadas para pre­venir a infecção pelo vírus Mar­burg. Há, entre­tan­to, algu­mas dos­es atual­mente em proces­so de desen­volvi­men­to. “A OMS iden­ti­fi­cou a doença de Mar­burg como uma doença de alta pri­or­i­dade para a qual se faz urgen­te­mente necessária uma vaci­na”, infor­ma a OMS.

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