...
sábado ,18 janeiro 2025
Home / Direitos Humanos / Trabalho doméstico afeta mais meninas em 9 países, mostra pesquisa

Trabalho doméstico afeta mais meninas em 9 países, mostra pesquisa

Elas ficam mais de cinco horas diárias dedicadas às atividades da casa

Gilber­to Cos­ta — Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 13/11/2024 — 08:28
Brasília
Ver­são em áudio
Repro­dução: @Agência Brasil

Pesquisa em nove país­es da Améri­ca Lati­na, África e do sud­este asiáti­co mostra que as meni­nas, nas três regiões, sofrem maior impacto que os meni­nos na real­iza­ção de tra­bal­hos domés­ti­cos e tare­fas de cuida­do. Elas ficam mais de cin­co horas ded­i­cadas às ativi­dades da casa e de suporte à família, como cuidar de irmãos mais novos e assi­s­tir os avós.

De acor­do com o lev­an­ta­men­to, as meni­nas se sen­tem sobre­car­regadas na divisão de tra­bal­ho den­tro dos lares. Con­forme relatos col­hi­dos, o exces­so de tare­fas mal divi­di­das afe­ta o desem­pen­ho esco­lar, ocu­pa o tem­po de laz­er e reduz o con­vívio comu­nitário; além de causar estresse, diminuir as horas de sono, provo­car iso­la­men­to social e solidão.

“Se elas não tiverem tem­po sufi­ciente para estu­dar e se dedicar a ativi­dades fun­da­men­tais para a con­strução de seu futuro, per­manecerão em cic­los de pobreza e desigual­dade”, afir­ma, em nota, Cyn­thia Bet­ti, CEO da Plan Inter­na­tion­al Brasil, orga­ni­za­ção human­itária não gov­er­na­men­tal respon­sáv­el pelo estu­do.

O lev­an­ta­men­to foi feito entre fevereiro e abril deste ano pela ONG, que col­heu depoi­men­tos de 92 meni­nas no Brasil, Benin, Cam­bo­ja, em El Sal­vador, nas Fil­ip­inas, na Repúbli­ca Domini­cana, no Togo, em Ugan­da e no Viet­nã.

Con­forme a cien­tista social Ana Nery Lima, espe­cial­ista em gênero e inclusão da ONG, o quadro con­stata­do ness­es nove país­es se repro­duz em out­ras partes do mun­do. “Não é só ness­es nove país­es, mas nos mais de 80 país­es onde a Plan Inter­na­tion­al está, a desigual­dade de gênero é uma con­stante, infe­liz­mente.”

Fora da sala de aula

As entre­vis­tas com as meni­nas reg­is­tram que a ded­i­cação à família e aos afaz­eres domés­ti­cos afe­ta o desem­pen­ho esco­lar e até pode levar ao aban­dono dos estu­dos. Vinte das 92 meni­nas entre­vis­tadas dis­ser­am que saíram do colé­gio.

“A edu­cação é essen­cial para romper o ciclo de pobreza e desigual­dade de gênero, mas a pesa­da respon­s­abil­i­dade do tra­bal­ho de cuida­do não remu­ner­a­do está impedin­do muitas meni­nas de fre­quen­tar e ter suces­so na esco­la”, aler­ta Kit Cat­ter­son, ger­ente de pesquisa da Plan Inter­na­tion­al.

A evasão esco­lar com­pro­m­ete a aquisição de con­hec­i­men­to, o desen­volvi­men­to de habil­i­dades, a pro­du­tivi­dade e a empre­ga­bil­i­dade futu­ra das meni­nas quan­do adul­tas, agra­van­do os riscos de viverem na pobreza, o que traz con­se­quên­cias econômi­cas para os país­es.

“Futu­ra­mente, essas meni­nas não estarão em uma posição eco­nomi­ca­mente ati­va. Isso prej­u­di­ca o PIB [Pro­du­to Inter­no Bru­to]”, salien­ta Ana Nery Lima. Segun­do ela, além da baixa par­tic­i­pação econômi­ca, há baixa par­tic­i­pação políti­ca e são reduzi­das as pos­si­bil­i­dades de emer­girem lid­er­anças fem­i­ni­nas.

Dentro de casa

A rever­são do quadro envolve políti­cas públi­cas que asse­gurem o dire­ito à esco­lar­i­dade das meni­nas, mas há tam­bém o com­po­nente famil­iar para tornar mais jus­ta a divisão sex­u­al das ativi­dades domés­ti­cas.

“Não adi­anta nada a gente falar com a cri­ança e as pes­soas adul­tas repro­duzirem a vel­ha lóg­i­ca. Não tem essa história de diz­er que ‘a meni­na é mais jeitosa’ para o tra­bal­ho domés­ti­co”, pon­dera Ana Nery Lima con­tra as “nor­mas prej­u­di­ci­ais de gênero”.

Des­de as brin­cadeiras de infân­cia, há divisão sex­u­al do tra­bal­ho basea­da “em per­spec­ti­va equiv­o­ca­da de gênero”, lem­bra a espe­cial­ista, comen­tan­do que os meni­nos gan­ham de pre­sente car­rin­hos para imag­i­nar pas­seios e cor­ri­das enquan­to as meni­nas são pre­sen­teadas com bonecas para cuidar.

“É essen­cial incen­ti­var a par­tic­i­pação de home­ns e meni­nos [nos afaz­eres de casa] e redis­tribuir as respon­s­abil­i­dades de cuida­do para garan­tir não ape­nas uma vida e um futuro mel­hores para as meni­nas, mas tam­bém pro­mover uma dinâmi­ca famil­iar mais saudáv­el, em que papéis e respon­s­abil­i­dades sejam mais igual­mente divi­di­dos”, afir­ma Kit Cat­ter­son.

G20 e ODS

Ape­sar de fun­da­men­tais para ger­ar con­for­to físi­co, mate­r­i­al e emo­cional aos famil­iares, as ativi­dades domés­ti­cas e as tare­fas de cuida­do não são val­orizadas social­mente e não recebem qual­quer remu­ner­ação.

Plan Inter­na­cional e out­ras orga­ni­za­ções têm expec­ta­ti­va de que resulte da reunião de cúpu­la dos 20 país­es mais ricos e emer­gentes, o G20, o recon­hec­i­men­to da expec­ta­ti­va desigual impos­ta às meni­nas e a neces­si­dade de ações urgentes para alcançar a igual­dade de gênero.

A ONG ain­da ressalta os Obje­tivos de Desen­volvi­men­to Sus­ten­táv­el (ODS) das Nações Unidas, que pre­veem o recon­hec­i­men­to e a val­oriza­ção do tra­bal­ho de assistên­cia e domés­ti­co não remu­ner­a­do,” por meio da disponi­bi­liza­ção de serviços públi­cos, infraestru­tu­ra e políti­cas de pro­teção social, bem como a pro­moção da respon­s­abil­i­dade com­par­til­ha­da den­tro do lar e da família, con­forme os con­tex­tos nacionais”, de acor­do com o descrito no ODS 5, meta 5.4.

 

https://radios.ebc.com.br/nacional-jovem/2024/10/plan-internacional-brasil-lanca-edital-para-projetos-sociais-focados-na-igualdade-de-genero

https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2024–05/campanha-quer-mobilizar-populacao-contra-violencia-sexual-infantil

 

LOGO AG BRASIL

Você pode Gostar de:

Por enquanto, fim de checagem de fatos é limitado aos EUA, diz Meta

Companhia defende permitir ofensas em nome da liberdade de expressão Lucas Pordeus León — Repórter …