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Trabalho invisível das mulheres é tema do Caminhos da Reportagem

Repro­dução: © Frame/TV Brasil

Programa vai ao ar neste domingo (21), às 22h, na TV Brasil


Publicado em 21/04/2024 — 10:21 Por TV Brasil — Brasília

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Um estu­do do Insti­tu­to de Pesquisa Econômi­ca Apli­ca­da (Ipea) real­iza­do em 2014 esti­mou que o tra­bal­ho exer­ci­do gra­tuita­mente de cuida­dos com idosos depen­dentes, caso fos­se remu­ner­a­do, ger­aria cer­ca de R$ 1 bil­hão ao ano. Nes­sa mes­ma lin­ha, uma pesquisa da Fun­dação Getúlio Var­gas (FGV), no ano pas­sa­do, mostrou que o tra­bal­ho de cuida­do, exer­ci­do majori­tari­a­mente por mul­heres, caso remu­ner­a­do, somaria 13% ao Pro­du­to Inter­no Bru­to (PIB) brasileiro.

O Cam­in­hos da Reportagem des­ta sem­ana traz à tona questões históri­c­as, raci­ais e soci­ais, que per­pet­u­am essa lóg­i­ca de que o tra­bal­ho do cuida­do deve ser exer­ci­do de for­ma gra­tui­ta por mul­heres, majori­tari­a­mente negras. Ana Amélia Cama­ra­no, pesquisado­ra do Ipea, afir­ma que essa situ­ação é resquí­cio dos tem­pos de escravidão.

O pro­gra­ma com o tema “O Tra­bal­ho Invisív­el de Cuidar” vai ao ar neste domin­go (21), às 22h, na TV Brasil.

Quan­to à vari­ante históri­ca, Maíra Liguori, dire­to­ra das orga­ni­za­ções Think Olga e Think Eva, lem­bra que as mul­heres negras cuidam des­de a fun­dação do Brasil colo­nial. “Elas estavam ali como pes­soas que cui­davam da casa grande, dos fil­hos dos seus sen­hores, dos seus próprios fil­hos — quan­do isso não lhes era nega­do. Elas eram as parteiras, as ben­zedeiras, as curan­deiras. Todas essas ativi­dades foram colo­cadas como uma atribuição das mul­heres negras e impos­si­bil­i­tou, inclu­sive, que essa parcela da pop­u­lação pudesse ser inseri­da na econo­mia for­mal e ascen­der profis­sion­al­mente”.

Liguori afir­ma ain­da que as mul­heres negras têm pouco aces­so a vagas de emprego, que nor­mal­mente exigem muitas horas de ded­i­cação. Como elas pre­cisam, muitas vezes, se dedicar aos tra­bal­hos de cuida­do, não con­seguem que­brar o ciclo de pobreza. “Quan­do a gente fala sobre mul­heres negras, tem um agra­vante do racis­mo porque, muitas vezes, as posições de mel­hor remu­ner­ação são negadas a essas pes­soas”.

Cuidados

O trabalho invisível das mulheres é tema do Caminhos da Reportagem - Cossette Castro é coordenadora do coletivo Filhas da Mãe, criado em desembro de 2019 por cuidadoras familiares de pessoas com demência. Foto: Frame/TV Brasil
Repro­dução: Cos­sette Cas­tro é coor­de­nado­ra do cole­ti­vo Fil­has da Mãe Foto: Frame/TV Brasil

O tra­bal­ho do cuida­do abrange múlti­plas funções na nos­sa sociedade e, como expli­cam as espe­cial­is­tas, é um tra­bal­ho essen­cial para a per­pet­u­ação da vida no plan­e­ta. Não se tra­ta ape­nas do cuida­do com fil­hos pequenos ou idosos depen­dentes.

“Tra­bal­ho domés­ti­co é limpeza, faz­er comi­da, cuidar de doentes, cuidar de famil­iares idosos com demên­cias ou qual­quer out­ro tipo de defi­ciên­cia, cuidar de cri­ança, ado­les­cente, levar para esco­la, tirar da esco­la, levar para o médi­co, pen­sar o laz­er, plane­jar férias, acom­pan­har a cri­ança em estu­do, admin­is­trar o orça­men­to da casa para poder pagar os remé­dios, etc. Então as mul­heres fazem um tra­bal­ho invisív­el gigan­tesco. E muitas vezes nem têm noção do con­hec­i­men­to que pos­suem”, afir­ma Cosette Cas­tro, psi­canal­ista e pesquisado­ra.

Cosette é tam­bém uma das coor­de­nado­ras do Cole­ti­vo Fil­has da Mãe, uma orga­ni­za­ção cri­a­da em dezem­bro de 2019 por cuidado­ras famil­iares de pes­soas com demên­cias. Ela é fil­ha úni­ca e cuidou de sua mãe, que teve Alzheimer, e defende a importân­cia do recon­hec­i­men­to e do paga­men­to do tra­bal­ho do cuida­do.

Essencial

Ana Amélia Cama­ra­no expli­ca que a sociedade pre­cisa enten­der que, sem esse tra­bal­ho, a vida não acon­tece. “Se você não cui­da de um idoso, de um doente, de um defi­ciente aca­ma­do, por exem­p­lo, não dá comi­da, não faz a higiene, essa pes­soa morre. Então é fun­da­men­tal para a repro­dução da vida. E esse cuida­do envolve um val­or econômi­co, um cus­to. Envolve afe­to, envolve rec­i­pro­ci­dade, envolve cul­pas, obri­gações”.

O ter­mo “Ger­ação San­duíche” vem sendo uti­liza­do para descr­ev­er pes­soas que estão entre duas ger­ações que pre­cisam de cuida­dos. Maíra Liguori expli­ca que é uma ger­ação de mul­heres que estão ten­do fil­hos mais tarde, enquan­to os pais já estão pre­cisan­do de cuida­dos. “Então é um momen­to da vida dessas pes­soas com uma dupla car­ga de cuida­do, por estar estarem sus­ten­tan­do os cuida­dos de duas ger­ações, a ante­ri­or e a de seus descen­dentes”.

É o caso de Maíla Silene Fer­reira de Menezes. Aos 35 anos, ela se divide entre os cuida­dos com a mãe, que tem 65 anos e está aca­ma­da após um aci­dente vas­cu­lar cere­bral (AVC), e com seus dois fil­hos. Sem recur­sos finan­ceiros para pagar uma cuidado­ra, Maíla se viu obri­ga­da a sair do mer­ca­do de tra­bal­ho e aban­donar os estu­dos. “Eu esta­va fazen­do um cur­so no IFB (Insti­tu­to Fed­er­al de Brasília) e desisti porque, real­mente, pra mim não dava. Eu pen­sei que ela pode­ria mel­ho­rar logo, então eu voltaria. Mas até hoje eu não con­segui. Quem sabe uma hora eu con­si­ga voltar a estu­dar”, con­ta Maíla.

O trabalho invisível das mulheres é tema do Caminhos da Reportagem - Maíla Silene Ferreira de Menezes se divide entre os cuidados com a mãe, que tem 65 anos e esta acamada. Foto: Frame/TV Brasil
Repro­dução: Maíla Silene Fer­reira de Menezes se divide entre os cuida­dos com a mãe, que tem 65 anos e esta aca­ma­da. Foto: Frame/TV Brasil

Política Nacional de Cuidados

Laís Abramo, secretária nacional de Cuida­dos e Família, expli­ca que o atu­al gov­er­no está desen­vol­ven­do uma Políti­ca Nacional de Cuida­dos (PNC), tan­to para quem pre­cisa ser cuida­do, quan­to para quem cui­da. O cuida­do é vis­to como uma neces­si­dade de todas as pes­soas, como um dire­ito e como um tra­bal­ho feito cotid­i­ana­mente no país.

“O pres­i­dente (Luiz Iná­cio Lula da Sil­va) avaliou que fal­ta uma políti­ca mais integra­da e que, inclu­sive, os serviços hoje exis­tentes não são capazes de respon­der a uma cres­cente deman­da por cuida­dos que está asso­ci­a­da, em parte, ao proces­so de envel­hec­i­men­to da pop­u­lação”, afir­ma Abramo.

Maíra Liguori aler­ta que, ape­sar da elab­o­ração dessa políti­ca, existe a pre­ocu­pação com a urgên­cia do assun­to. “Eu não sei se a gente vai ter tem­po (de imple­men­tar a PNC) porque essa evolução da pirâmide etária do Brasil está sendo muito ráp­i­da. Na próx­i­ma ger­ação, vamos ter uma inver­são da pirâmide. Muito mais pes­soas idosas do que jovens e isso impli­ca nec­es­sari­a­mente uma crise de cuida­do. A gente não tem um con­tin­gente para dar con­ta das neces­si­dades de cuida­do dessas pes­soas mais vel­has”.

Edição: Sab­ri­na Craide

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