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Traficantes recorrem a portos do Nordeste para distribuição de cocaína

Repro­dução: © Polí­cia Fed­er­al

Ponto de partida virou alternativa à fiscalização do Porto de Santos


Pub­li­ca­do em 03/07/2022 — 08:33 Por Vitor Abdala — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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San­tos é con­sid­er­a­do um dos prin­ci­pais pon­tos de dis­tribuição de cocaí­na, por via marí­ti­ma, no mun­do. Local­iza­do no litoral paulista, o por­to aparece em uma lista de qua­tro locais que se desta­cam no comér­cio marí­ti­mo glob­al da dro­ga, jun­to com Bue­naven­tu­ra e Carta­ge­na, na Colôm­bia, e com Guayaquil, no Equador.

A infor­mação está no relatório glob­al do Escritório das Nações Unidas para Dro­gas e Crime (UNODC), divul­ga­do nes­ta sem­ana.

O mes­mo doc­u­men­to rev­ela, no entan­to, que por­tos menores, local­iza­dos na parte norte do ter­ritório brasileiro estão assu­min­do papel cada vez mais impor­tante como entre­pos­tos para o comér­cio transatlân­ti­co de cocaí­na, prin­ci­pal­mente para os car­rega­men­tos des­ti­na­dos à Europa.

Alternativa

O relatório não indi­ca quais são ess­es por­tos e nem esclarece em que esta­dos do Norte/Nordeste estão local­iza­dos, mas infor­ma que os traf­i­cantes estão recor­ren­do a essas alter­na­ti­vas dev­i­do ao aumen­to da fis­cal­iza­ção no por­to de San­tos.

Para o pesquisador Thi­a­go Mor­eira de Souza Rodrigues, do Pro­gra­ma de Pós-Grad­u­ação em Estu­dos Estratégi­cos de Defe­sa e Segu­rança da Uni­ver­si­dade Fed­er­al Flu­mi­nense (PPGEST/UFF), alguns por­tos do Nordeste têm se desta­ca­do como entre­pos­tos.

“O Brasil tem uma pro­jeção atlân­ti­ca em direção à África e à Europa. Os por­tos do Norte e prin­ci­pal­mente do Nordeste – Recife, Maceió, For­t­aleza – têm uma pro­jeção em relação à Europa. O Nordeste é a parte da Améri­ca do Sul mais próx­i­ma da Europa e da África”, afir­ma o pesquisador.

Em abril deste ano, a Polí­cia Fed­er­al (PF) fez oper­ação con­tra uma orga­ni­za­ção crim­i­nosa que usa­va o por­to de Sal­vador para enviar a dro­ga para a Europa. De 2019 a 2021, mais de 3,5 toneladas de cocaí­na trafi­cadas pelo grupo foram apreen­di­das.

Em dezem­bro de 2021, quase meia tonela­da de cocaí­na foi apreen­di­da no por­to de Mucuripe, em For­t­aleza, pela Recei­ta Fed­er­al. A car­ga, esti­ma­da em R$ 250 mil­hões, tin­ha como des­ti­no o por­to de Roter­dã, na Holan­da.

Em novem­bro daque­le ano, foi encon­tra­da, no por­to de Natal (RN), 1,6 tonela­da da dro­ga, camu­fla­da em uma car­ga de gen­gi­bre. No mês ante­ri­or, no por­to de Vila de Conde, em Bar­care­na (PA), foi apreen­di­da uma tonela­da de cocaí­na, mis­tu­ra­da com um car­rega­men­to de man­ganês. Em ambos os casos, o des­ti­no era a mes­ma cidade por­tuária holan­desa.

“O trá­fi­co de dro­gas é uma econo­mia muito dinâmi­ca. O fato de ela oper­ar na ile­gal­i­dade faz com que os canais de dis­tribuição sejam muito flexíveis. Existe algo chama­do ‘efeito balão’, ou seja, quan­do se aper­ta uma pon­ta, infla a out­ra. Se San­tos é o prin­ci­pal canal e a repressão opera ali, isso deslo­ca o trá­fi­co de dro­gas para out­ras regiões. Se estran­gu­la de um lado, ele vai encon­trar vias alter­na­ti­vas”, expli­ca Rodrigues.

O por­to de San­tos, entre­tan­to, como o próprio relatório desta­ca, não perdeu sua importân­cia estratég­i­ca para o negó­cio ilíc­i­to. Na últi­ma quin­ta-feira (30), por exem­p­lo, a Polí­cia e a Recei­ta fed­erais apreen­der­am 500 qui­los de cocaí­na, escon­di­dos em um con­têin­er, em meio a uma car­ga líci­ta de açú­car.

Duas sem­anas antes, uma tonela­da da dro­ga havia sido apreen­di­da no por­to paulista, em duas oper­ações.

Mas não são ape­nas São Paulo e Nordeste. Apreen­sões semel­hantes foram real­izadas neste ano em por­tos como Paranaguá (PR), Rio Grande (RS), em um ter­mi­nal pri­va­do em Vitória (ES) e em Aracruz (ES).

Exportador

O mes­mo relatório mostra que o Brasil é cita­do como o prin­ci­pal expor­ta­dor de cocaí­na para fora do con­ti­nente amer­i­cano, fican­do à frente até mes­mo da Colôm­bia, um dos três grandes pro­du­tores de cocaí­na do mun­do, jun­to com Bolívia e Peru.

Sem con­sid­er­ar os três país­es pro­du­tores, o Brasil é cita­do como um dos três país­es mais impor­tantes no mer­ca­do de cocaí­na mundi­al, jun­to com Equador e Méx­i­co.

Brasil, Colôm­bia e Equador são apon­ta­dos como os prin­ci­pais pon­tos de saí­da da cocaí­na que chega à Europa.

De 2015 a 2021, 70% da cocaí­na apreen­di­da na África e 46% dos car­rega­men­tos apreen­di­dos na Ásia saíram do con­ti­nente amer­i­cano por meio do Brasil. Em 2020 e 2021, o país chegou a respon­der por 72% da cocaí­na encon­tra­da pelas autori­dades asiáti­cas.

“O Brasil já se con­soli­dou nes­sa posição. Já faz mais de dez anos que o relatório tem indi­ca­do o Brasil como um pon­to fun­da­men­tal para o trá­fi­co inter­na­cional em direção à Europa”, expli­ca Thi­a­go Rodrigues.

Segun­do o pesquisador, há várias expli­cações para o fenô­meno. A mais óbvia é a posição geográ­fi­ca do Brasil. Além de ser o úni­co país que faz fron­teira com os três pro­du­tores, o país tem uma posição van­ta­josa no Atlân­ti­co Sul, o que per­mite fácil conexão marí­ti­ma com a África e a Europa.

Out­ros pon­tos apon­ta­dos por Rodrigues são a pre­sença de orga­ni­za­ções crim­i­nosas inter­na­cionais no Brasil, como a máfia ital­iana, há vários anos, e a atu­ação das facções crim­i­nosas brasileiras, como aque­las do Rio e de São Paulo, no trá­fi­co inter­con­ti­nen­tal.

O pesquisador lem­bra ain­da que o Brasil é um impor­tante mer­ca­do con­sum­i­dor de cocaí­na, algo que tam­bém é apon­ta­do no relatório das Nações Unidas. Entre 2016 e 2021, foram apreen­di­das 416 toneladas de cocaí­na em todo o país, segun­do dados da PF.

Fiscalização

A cocaína estava escondida em um compartimento sob o assoalho de um caminhão
Repro­dução: Cocaí­na esta­va escon­di­da em um com­par­ti­men­to sob o assoal­ho de um cam­in­hão — Divul­gação PRF

Por meio de nota, o Min­istério da Justiça e Segu­rança Públi­ca infor­mou que man­tém cer­ca de mil profis­sion­ais de segu­rança em per­ma­nente vig­ilân­cia nos 16,9 mil quilômet­ros de fron­teira ter­restre do país, através da Oper­ação Hórus.

O Min­istério infor­mou ain­da que está investin­do na capac­i­tação e na aquisição de vários tipos de embar­cações para evi­tar a entra­da de dro­gas através dos rios.

“Com a atu­ação integra­da de forças de segu­rança estad­u­ais e fed­erais, de maio de 2019 a maio de 2022, foi pos­sív­el evi­tar um rom­bo de R$ R$ 801,2 mil­hões aos cofres públi­cos e des­fal­car as orga­ni­za­ções crim­i­nosas em R$ 6 bil­hões com a apreen­são de dro­gas (1.515 toneladas), armas (4,4 mil), veícu­los (8,7 mil), embar­cações (659), pro­du­tos con­tra­ban­dea­d­os e prisão de 15,3 mil pes­soas”, infor­ma a nota.

Edição: Aline Leal

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