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Transformação digital em relações de trabalho é acelerada por pandemia

Teletrabalho, home office ou trabalho remoto.
Tele­tra­bal­ho, home office ou tra­bal­ho remo­to. © Marce­lo Camargo/Agência Brasil (Repro­dução)

Tendência ao teletrabalho deve continuar após covid-19


Publicado em 26/12/2020 — 12:37 Por Ludmilla Souza — Repórter da Agência Brasil — São Paulo

Até março, a con­sul­to­ra de sis­temas Iana de Oliveira Leite, de 33 anos, via­ja­va fre­quente­mente a tra­bal­ho e pas­sa­va um perío­do na empre­sa para o qual presta­va con­sul­to­ria. Des­de março, porém, pre­cisou ado­tar de vez o home office dev­i­do ao iso­la­men­to social ado­ta­do para con­ter o novo coro­n­avírus.

“Tive­mos que nos adap­tar do tra­bal­ho pres­en­cial para o remo­to e apren­der a usar as fer­ra­men­tas de con­fer­ence call para adap­tar a comu­ni­cação em tem­po real, tra­bal­har com agen­da e adap­tar os móveis e equipa­men­tos da casa para bom desem­pen­ho das ativi­dades”.

Para Iana, o home office (tele­tra­bal­ho) pode­ria con­tin­uar. “Após alguns meses tra­bal­han­do remo­to me sin­to adap­ta­da a esse modo. Para min­ha ativi­dade é pos­sív­el con­tin­uar des­ta for­ma”.

Com a adoção do chama­do novo nor­mal, ou seja, novos hábitos de segu­rança san­itária e dis­tan­ci­a­men­to social, muitos tra­bal­hadores que estavam em casa tiver­am que voltar, mes­mo que em esque­ma de reveza­men­to, para seus locais de tra­bal­ho.

“Com a que­da dos casos volta­mos a tra­bal­har pres­en­cial­mente, tive que tomar os cuida­dos de usar más­caras e dis­tan­ci­a­men­to, com cuida­dos que não tín­hamos antes como uso de álcool gel e afer­ição da tem­per­atu­ra. Porém, os casos começaram a subir nova­mente e volta­mos para o tra­bal­ho remo­to”, disse a con­sul­to­ra de uma com­pan­hia em Man­aus (AM).

Com boa parte das empre­sas adotan­do o home office (tele­tra­bal­ho) de for­ma inte­gral ou híbri­da (dias em casa e dias na empre­sa), é pre­ciso seguir medi­das para que empre­gadores e tra­bal­hadores sejam ben­e­fi­ci­a­dos.

“O tra­bal­hador deve ter uma boa gestão de tem­po e com­pro­mis­so na entre­ga dos resul­ta­dos. Afi­nal, ele não terá seu tem­po fis­cal­iza­do à semel­hança de estar pres­en­cial­mente na empre­sa. Este tipo de fis­cal­iza­ção, para ver se a pes­soa está na sala, não con­diz com as empre­sas do sécu­lo XXI, tam­pouco com a ger­ação mil­len­ni­als em diante, que tem como relevân­cia o enga­ja­men­to com propósi­to no tra­bal­ho”, desta­ca a advo­ga­da Eliana Saad Castel­lo Bran­co”, espe­cial­ista em dire­ito cole­ti­vo do tra­bal­ho.

Para a advo­ga­da, a lid­er­ança deve se adap­tar para enga­jar e dis­tribuir tare­fas  de for­ma dis­rup­ti­va. “Del­e­gar e super­vi­sion­ar o tra­bal­ho com o uso de fer­ra­men­tas dig­i­tais e ter um viés com­por­ta­men­tal para con­hecer o tele­tra­bal­hador. A empre­sa deve mudar a cul­tura orga­ni­za­cional para sobre­viv­er e ser ágil nas suas delib­er­ações e ino­vações”, afir­mou.

Segun­do Eliane, o tele­tra­bal­hador deve ter respeita­do os horários de des­can­so e laz­er, muito emb­o­ra este­ja conec­ta­do com a empre­sa. O gestor deve ter preparo para saber que sua equipe não está disponív­el a qual­quer tem­po, sob pena de vir a empre­sa respon­der por danos à saúde do tra­bal­hador, em espe­cial as doenças men­tais, como sín­drome de Burnout, depressão e dano exis­ten­cial.

O tele­tra­bal­ho requer uma respon­s­abil­i­dade extra do empre­ga­do, aler­ta Eliana. “Out­ro pon­to impor­tante será que empre­sa e o empre­ga­do devem ter uma  leal­dade e con­fi­den­cial­i­dade, porque as infor­mações estão na “nuvem” (dig­i­tal­izadas) e o aces­so deve ser lim­i­ta­do entre ele e empre­sa”.

Direito à privacidade

De acor­do com a advo­ga­da, para o home office se dar de for­ma segu­ra é pre­ciso que haja a dev­i­da ade­quação à Lei Ger­al de Pro­teção de Dados Pes­soais, que começou a vig­o­rar em setem­bro deste ano.

“A lei dis­ci­plina a pro­teção de dados pes­soais e a sal­va­guar­da dos dire­itos fun­da­men­tais de liber­dade e de pri­vaci­dade, de modo que as empre­sas não poderão ter dis­pos­i­tivos para ras­trear o indi­ví­duo inclu­sive nos momen­tos em que este­jam no seu laz­er e pri­vaci­dade. As reuniões devem ser com­patíveis com horários de intim­i­dade e horários ded­i­ca­dos à família, por­tan­to, o diál­o­go, treina­men­to e ori­en­tações são salutares para todos.”

Isolamento

No iní­cio do iso­la­men­to social, a anal­ista de Desen­volvi­men­to de Pro­du­to Mayara Ruda Sil­veira se sen­tia vigia­da no home office. “No começo foi difí­cil, eu tin­ha a sen­sação de estar sendo vigia­da e que tin­ha que mostrar serviço. Mas, depois me acos­tumei e ten­tei aproveitar esse perío­do que gas­taria com o trans­porte com out­ras ativi­dades, o que é menos des­gas­tante”, disse. Ago­ra, ela segue tra­bal­han­do alguns dias em casa e out­ro na empre­sa.

“Meu setor na empre­sa tem uti­liza­do o mod­e­lo híbri­do. Antes eu ia uma vez e ago­ra pas­sarei a ir duas vezes por sem­ana para a empre­sa e o dias restantes, em casa. Acho que o mod­e­lo fun­ciona. Mas tem coisas que são mais fáceis de resolver pes­soal­mente e é bom ter algum con­ta­to com out­ras pes­soas e não ficar tão iso­la­da. Podemos resolver por e‑mail ou através do com­puta­dor, não tem a neces­si­dade de estar pres­en­cial­mente todos os dias, pelo menos no meu caso, que é um tra­bal­ho mais admin­is­tra­ti­vo. Se fos­se um serviço mais opera­cional, enten­do que não seria pos­sív­el”.

Tendência acelerada pela pandemia

Na opinião da advo­ga­da Eliana Saad Castel­lo Bran­co, a trans­for­mação dig­i­tal nas relações de tra­bal­ho veio para mudar par­a­dig­mas. “O que fun­cio­nou nos últi­mos 50 anos, não irá fun­cionar pelos próx­i­mos dez anos. Com este novo panora­ma socioe­conômi­co, não são ape­nas pro­du­tos e serviços que se mod­i­fi­cam, inclu­sive indús­trias inteiras estão sendo desafi­adas por novos mod­e­los de negó­cios”, aler­tou a espe­cial­ista.

Segun­do estu­do da Cushmam&Wakefield Con­sul­to­ria Imo­bil­iária,  40,2% das empre­sas que não ado­tavam o home office antes da pan­demia e que o fiz­er­am para cumprir a deter­mi­nação de iso­la­men­to social, vão adotá-lo de for­ma defin­i­ti­va quan­do esse perío­do pas­sar. O mes­mo estu­do apon­tou que 45% das empre­sas entre­vis­tadas reduzirão o espaço físi­co pós-crise e 30% delas o farão pelo suces­so do tele­tra­bal­ho empre­ga­do. Os 15% restantes se darão dev­i­do aos efeitos econômi­cos da pan­demia.

Mes­mo empre­sas que já tin­ham a tec­nolo­gia em seu mod­e­lo de negó­cio pre­ten­dem avançar mais ain­da para novas relações de tra­bal­ho. É o caso da empre­sa de Gestão de Lat­icínios Lac­teus, do inte­ri­or de Minas Gerais. O CEO da empre­sa, Leonar­do Iná­cio, afir­ma que no princí­pio o home office cau­sou estran­heza pela fal­ta de con­ta­to físi­co com os cole­gas do tra­bal­ho. “Mas, em ter­mos práti­cos, pela nos­sa ativi­dade tec­nológ­i­ca, o impacto foi zero. Usamos fer­ra­men­tas que já está­va­mos acos­tu­ma­dos, com reuniões e atendi­men­tos remo­tos, já que essa é a nos­sa real­i­dade, aten­demos clientes do país inteiro.”

Ele ressaltou que o tra­bal­ho em casa foi pos­i­ti­vo. “O iso­la­men­to cau­sou até um aumen­to de per­for­mance, como diminui esse momen­to de estar com o cole­ga [pres­en­cial­mente], a pes­soa con­cen­trou mais e pro­duz­iu mais. Nes­sa quar­ente­na tive­mos uma pro­dução e desen­volvi­men­to de pro­je­tos muito aci­ma da média”, disse.

A exper­iên­cia aceler­ou a ideia do empresário de ter mais colab­o­radores de for­ma remo­ta. “Vamos con­tin­uar com o modo híbri­do, uma parte da equipe,  que tem algu­mas restrições médi­cas e por con­ta de seus famil­iares, vão con­tin­uar tra­bal­han­do de casa e out­ra parte da equipe está den­tro da empre­sa toman­do todos os cuida­dos.”

Encontros fundamentais

A espe­cial­ista em neu­ro­ciên­cia apli­ca­da à arquite­tu­ra da qual­i­dade cor­po­ra­ti­va, Priscil­la Bencke, afir­ma que as empre­sas devem seguir este mod­e­lo híbri­do, mas os encon­tros pres­en­ci­ais ain­da são fun­da­men­tais. “Nesse mod­e­lo híbri­do, os profis­sion­ais que podem desem­pen­har suas funções em casa even­tual­mente vão ao escritório para out­ras ativi­dades como os encon­tros. É extrema­mente impor­tante que exis­tam ess­es encon­tros físi­cos em alguns momen­tos, já que o ser humano é um ser social, a gente pre­cisa estar em con­ta­to com out­ras pes­soas”, ressaltou.

Na opinião da arquite­ta, uma das con­se­quên­cias neg­a­ti­vas com esse iso­la­men­to é jus­ta­mente essa fal­ta das con­ver­sas entre as pes­soas. “Mes­mo através de reuniões online, as con­ver­sas infor­mais a gente tem difi­cul­dade de ter, então é impor­tante para o próprio desen­volvi­men­to do ser humano essa social­iza­ção”, acres­cen­tou.

A anal­ista de desen­volvi­men­to de pro­du­to Mayara Ruda Sil­veira citou a fal­ta de inter­ação como uma das desvan­ta­gens do home office. “Para mim, as desvan­ta­gens são não ter con­ta­to com out­ras pes­soas, não con­ver­sar, não tro­car exper­iên­cias, às vezes tra­bal­har mais no home office do que na empre­sa e ficar com receio de sair na rua”.

Vantagens x desvantagens

Se a desvan­tagem é a fal­ta de inter­ação, as van­ta­gens lev­am as profis­sion­ais entre­vis­tadas pela Agên­cia Brasil a optar pelo home office. “Se hou­ver neces­si­dade de ir até o local de tra­bal­ho even­tual­mente não vejo prob­le­mas, mas se real­mente não há neces­si­dade o remo­to é mel­hor”, diz a con­sul­to­ra Iana de Oliveira Leite. “Para nós que moramos em São Paulo, o tem­po de deslo­ca­men­to nor­mal­mente é lon­go. No home office a van­tagem é não ter isso e a desvan­tagem é não ter o con­ta­to mais próx­i­mo com os ami­gos do tra­bal­ho.”.

Out­ro pon­to apon­ta­do  é a pro­du­tivi­dade. “Foi um momen­to de adap­tação, muitas incertezas e pes­soas que ficaram doentes, ess­es fatores prej­u­dicam as ativi­dades. Sem  ess­es fatores, sim, o tra­bal­ho dig­i­tal pro­duz mais resul­ta­dos. Con­si­go otimizar mais o meu tem­po, ser mais pro­du­ti­va e tra­bal­har sem o stress e gas­tos com deslo­ca­men­to. E com os ami­gos do tra­bal­ho faze­mos hap­py hour vir­tu­al”.

Bem-estar

Tra­bal­har de casa exige um local ergonomi­ca­mente ade­qua­do segun­do a arquite­ta Priscil­la Bencke. “Muitas pes­soas, do dia para a noite, tiver­am que tra­bal­har em casa, então a impro­visação esteve muito pre­sente. É muito impor­tante que ess­es espaços de tra­bal­ho sejam ade­qua­dos para que a pes­soa pos­sa estar bem e pro­duzir de for­ma saudáv­el.”.

É necessário escol­her bem o local de tra­bal­ho. “O ide­al é que esse ambi­ente seja exclu­si­vo para a ativi­dade. Quan­do isso não é pos­sív­el, o bom é escol­her locaisem onde ten­ha pos­si­bil­i­dade de evi­tar as demais dis­trações domés­ti­cas.”

Para a espe­cial­ista é essen­cial que a super­fí­cie de tra­bal­ho ten­ha ilu­mi­nação apro­pri­a­da. “A luz nat­ur­al é impor­tante, então o aces­so a uma janela é o ide­al para man­ter o nos­so reló­gio biológi­co, assim como a ren­o­vação do ar e uma clima­ti­za­ção ade­qua­da.”

A escol­ha da cadeira e mesa é out­ro pon­to impre­scindív­el. “Na estação de tra­bal­ho em casa é pre­ciso levar em con­sid­er­ação como é a cadeira e a mesa, exis­tem cadeiras ergonômi­cas que é jus­ta­mente para ter­mos uma pos­tu­ra ade­qua­da”, ori­en­tou a espe­cial­ista.

Adap­tação

Segun­do a advo­ga­da Eliana Saad, o empre­gador deve ser o respon­sáv­el por esta adap­tação do escritório em casa. “O empresário fica respon­sáv­el pelo ambi­ente do tra­bal­ho, inclu­sive no tra­bal­ho remo­to. Os equipa­men­tos e a ergono­mia são impor­tantes para pre­venir doenças ocu­pa­cionais que pos­sam ser adquiri­das, por exem­p­lo Ler/Dort, com ade­quação das nor­mas reg­u­la­men­ta­do­ras”.

De volta à firma

Enquan­to não há vaci­na, as fir­mas vão seguin­do com o mod­e­lo híbri­do e bater pon­to diari­a­mente ain­da deve demor­ar para voltar a ser roti­na dos tra­bal­hadores nos escritórios. No entan­to, os hábitos de higiene, segu­rança e relações devem ser adap­tadas ao “novo nor­mal”, como é chama­do o mun­do pós-pan­demia. Na opinião da arquite­ta Priscil­la Bencke, a pre­ocu­pação com a saúde e a segu­rança das pes­soas vai con­tin­uar.

“Essa é uma pre­ocu­pação que sem­pre dev­e­ria ter exis­ti­do, mas com a exper­iên­cia da covid-19 pas­samos a dar mais val­or para isso. Novos escritórios ado­tam o sis­tema híbri­do, então é prováv­el que as mesas sejam mesas rota­ti­vas, para inter­calar estações de tra­bal­ho com os cole­gas.”

A espe­cial­ista desta­cou ain­da a pre­ocu­pação com a higiene. “Isso influ­en­cia no tipo de mate­r­i­al que a gente está incluin­do ness­es espaços. sofás, tam­pos de mesa e out­ros ele­men­tos do escritório devem ser pen­sa­dos em teci­dos e mate­ri­ais que ten­ham uma limpeza fácil.”

Para a advo­ga­da  espe­cial­ista em dire­ito cole­ti­vo do tra­bal­ho Eliana Saad, além das ade­quações físi­cas e dig­i­tais, os líderes devem ficar aten­tos aos novos mod­e­los de relação de tra­bal­ho. “O sécu­lo XXI traz nova dinâmi­ca social entre empre­sa e tra­bal­hador; cabe aos líderes se atentarem ao cenário dig­i­tal para que pos­sam ino­var e ter alta per­for­mance para equipe e desen­volver a lid­er­ança dis­rup­ti­va.”

Edição: Maria Clau­dia

Agên­cia Brasil / EBC


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