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Três em cada 10 brasileiros são analfabetos funcionais

Pesquisa mostra que nível é o mesmo de 2018

Mar­i­ana Tokar­nia — Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 05/05/2025 — 08:32
Rio de Janeiro
02/04/2024 - Com menor taxa de analfabetismo do país, DF é referência em educação O Distrito Federal é a unidade da Federação com a menor taxa de analfabetismo do país (1,7%), segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua mais recente. Adultos sendo alfabetizados na escola. Foto: Geovana Albuquerque/Agência Brasília
Repro­dução: © Geo­vana Albuquerque/Agência Brasília

Três em cada dez brasileiros com idade entre 15 e 64 anos ou não sabem ler e escr­ev­er ou sabem muito pouco a pon­to de não con­seguir com­preen­der peque­nas fras­es ou iden­ti­ficar números de tele­fones ou preços. São os chama­dos anal­fa­betos fun­cionais. Esse grupo cor­re­sponde a 29% da pop­u­lação, o mes­mo per­centu­al de 2018.

Os dados são do Indi­cador de Alfa­betismo Fun­cional (Inaf), divul­ga­do nes­ta segun­da-feira (5), e acen­dem um aler­ta sobre a neces­si­dade e importân­cia de políti­cas públi­cas voltadas para reduzir essa desigual­dade entre a pop­u­lação.

O Inaf traz ain­da out­ro dado pre­ocu­pante. Entre os jovens, o anal­fa­betismo fun­cional aumen­tou. Enquan­to em 2018, 14% dos jovens de 15 a 29 anos estavam na condição de anal­fa­betos fun­cionais, em 2024, esse índice subiu para 16%. Segun­do os pesquisadores respon­sáveis pelo estu­do, o aumen­to pode ter ocor­ri­do por causa da pan­demia, perío­do em que as esco­las fecharam e muitos jovens ficaram sem aulas.

Teste

O indi­cador clas­si­fi­ca as pes­soas con­forme o nív­el de alfa­betismo com base em um teste apli­ca­do a uma amostra rep­re­sen­ta­ti­va da pop­u­lação. Os níveis mais baixos, anal­fa­beto e rudi­men­tar, cor­re­spon­dem jun­tos ao anal­fa­betismo fun­cional. O nív­el ele­men­tar é, soz­in­ho, o alfa­betismo ele­men­tar e, os níveis mais ele­va­dos, que são o inter­mediário e o pro­fi­ciente cor­re­spon­dem ao alfa­betismo con­sol­i­da­do.

Seguin­do a clas­si­fi­cação, a maior parcela da pop­u­lação, 36%, está no nív­el ele­men­tar, o que sig­nifi­ca que com­preende tex­tos de exten­são média, real­izan­do peque­nas inter­fer­ên­cias e resolve prob­le­mas envol­ven­do oper­ações matemáti­cas bási­cas como soma, sub­tração, divisão e mul­ti­pli­cação.

Out­ras 35% estão no pata­mar do alfa­betismo con­sol­i­da­do, mas ape­nas 10% de toda a pop­u­lação brasileira estão no topo, no nív­el pro­fi­ciente.

Limitação grave

Segun­do o coor­de­nador da área de edu­cação de jovens e adul­tos da Ação Educa­ti­va, uma das orga­ni­za­ções respon­sáveis pelo indi­cador, Rober­to Catel­li, não ter domínio da leitu­ra e escri­ta gera uma série de difi­cul­dades e é “uma lim­i­tação muito grave”.

Ele defende que são necessárias políti­cas públi­cas para garan­tir maior igual­dade entre a pop­u­lação.

“Um resul­ta­do mel­hor só pode ser alcança­do com políti­cas públi­cas sig­ni­fica­ti­vas no cam­po da edu­cação e não só da edu­cação, tam­bém na redução das desigual­dades e nas condições de vida da pop­u­lação. Porque a gente vê que quan­do essa pop­u­lação con­tin­ua nesse lugar, ela per­manece numa exclusão que vai se man­ten­do e se repro­duzin­do ao lon­go dos anos”.

A pesquisa mostra ain­da que mes­mo entre as pes­soas que estão tra­bal­han­do, a alfa­bet­i­za­ção é um prob­le­ma: 27% dos tra­bal­hadores do país são anal­fa­betos fun­cionais, 34% atingem o nível ele­men­tar de alfa­betismo e 40% têm níveis con­sol­i­da­dos de alfa­betismo.

Até mes­mo entre aque­les com alto nív­el de esco­lar­i­dade, com ensi­no supe­ri­or ou mais, 12% são anal­fa­betos fun­cionais. Out­ros 61% estão na out­ra pon­ta, no nív­el con­sol­i­da­do de alfa­bet­i­za­ção.

Desigualdades

Há tam­bém difer­enças e desigual­dades entre difer­entes gru­pos da pop­u­lação. Entre os bran­cos, 28% são anal­fa­betos fun­cionais e 41% estão no grupo de alfa­betismo con­sol­i­da­do. Já entre a pop­u­lação negra, essas por­cent­a­gens são, respec­ti­va­mente, 30% e 31%. Entre os amare­los e indí­ge­nas, 47% são anal­fa­betos fun­cionais e a menor por­cent­agem, 19%, tem uma alfa­bet­i­za­ção con­sol­i­da­da.

Segun­do a coor­de­nado­ra do Obser­vatório Fun­dação Itaú, Esmer­al­da Macana, enti­dade par­ceira na pesquisa, é pre­ciso garan­tir edu­cação de qual­i­dade a toda a pop­u­lação para revert­er esse quadro que con­sid­era pre­ocu­pante. Ela defende ain­da o aumen­to do rit­mo e da abrangên­cia das políti­cas públi­cas e ações:

“A gente vai pre­cis­ar mel­ho­rar o rit­mo de como estão acon­te­cen­do as coisas porque esta­mos já em um ambi­ente muito mais acel­er­a­do, em meio a tec­nolo­gias, à inteligên­cia arti­fi­cial”, diz. “E aumen­tar a qual­i­dade. Pre­cisamos garan­tir que as cri­anças, os jovens, os ado­les­centes que estão ain­da, inclu­sive, no ensi­no fun­da­men­tal, pos­sam ter o apren­diza­do ade­qua­do para a sua idade e tudo aqui­lo que é esper­a­do den­tro da edu­cação bási­ca”, acres­cen­ta.

Indicador

O Inaf voltou a ser real­iza­do depois de seis anos de inter­rupção. Esta edição con­tou com a par­tic­i­pação de 2.554 pes­soas de 15 a 64 anos, que realizaram os testes entre dezem­bro de 2024 e fevereiro de 2025, em todas as regiões do país, para mapear as habil­i­dades de leitu­ra, escri­ta e matemáti­ca dos brasileiros. A margem de erro esti­ma­da varia entre dois e três pon­tos per­centu­ais, a depen­der da faixa etária anal­isa­da, con­sideran­do um inter­va­lo de con­fi­ança esti­ma­do de 95%.

Este ano, pela primeira vez, o Inaf traz dados sobre o alfa­betismo no con­tex­to dig­i­tal para com­preen­der como as trans­for­mações tec­nológ­i­cas inter­fer­em no cotid­i­ano. 

O estu­do foi coor­de­na­do pela Ação Educa­ti­va e pela con­sul­to­ria Con­hec­i­men­to Social. A edição de 2024 é cor­re­al­iza­da pela Fun­dação Itaú em parce­ria com a ⁠Fun­dação Rober­to Mar­in­ho, ⁠Insti­tu­to Uni­ban­co, Fun­do das Nações Unidas para a Infân­cia (Unicef) e Orga­ni­za­ção das Nações Unidas para a Edu­cação, Ciên­cia e Cul­tura (Unesco).

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