...
domingo ,16 fevereiro 2025
Home / Noticias / Três em cada dez crianças e adolescentes foram ofendidos na internet

Três em cada dez crianças e adolescentes foram ofendidos na internet

Dados foram divulgados pela pesquisa TIC Kids Online Brasil 2024

Elaine Patri­cia Cruz – Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 23/10/2024 — 15:54
São Paulo
Registros de casos de compartilhamento de fotos íntimas aumentam 120% em um ano
Repro­dução: © Val­ter Campanato/Agência Brasil

Três em cada dez cri­anças e ado­les­centes entre 9 e 17 anos de todo o país (29% do total) já enfrentaram situ­ações ofen­si­vas ou dis­crim­i­natórias na inter­net e que as deixaram chateadas. Além dis­so, 30% dessas cri­anças e ado­les­centes já tiver­am con­ta­to com algum descon­heci­do na inter­net. Estes são alguns dos riscos apon­ta­dos pela pesquisa TIC Kids Online Brasil 2024, do Comitê Gestor da Inter­net no Brasil (CGI.br), que foi divul­ga­da hoje (23) na cap­i­tal paulista.

“Essa pro­porção [de con­ta­to com pes­soas descon­heci­das] é maior para os mais vel­hos [entre as cri­anças e ado­les­centes]. Os mais vel­hos são mais assí­du­os, eles estão mais expos­tos aos riscos na inter­net. E os meios em que esse con­ta­to acon­tece é prin­ci­pal­mente pelas redes soci­ais, por tro­cas de men­sagens instan­tâneas. Isso reforça a importân­cia para a medi­ação, para o uso e a par­tic­i­pação dessas platafor­mas”, disse hoje (23) Luísa Adib, coor­de­nado­ra da pesquisa TIC Kids Online Brasil.

Out­ro dado pre­ocu­pante apon­ta­do pela pesquisa é para o uso exces­si­vo da inter­net. Cer­ca de 24% do total de cri­anças e ado­les­centes que foram ouvi­dos neste estu­do rev­e­laram que gostari­am de pas­sar menos tem­po aces­san­do a rede, mas não con­seguiram fazê-lo. Out­ros 22% dis­ser­am que se viram nave­gan­do na inter­net sem real­mente estar inter­es­sa­do em nada. A mes­ma quan­ti­dade de cri­anças e ado­les­centes (22%) tam­bém afir­mou que ficou muito tem­po nave­gan­do, o que a impediu de faz­er a lição de casa ou de pas­sar mais tem­po com a família e os ami­gos.

“Ess­es são dados impor­tantes porque é uma pau­ta que está muito pre­sente no debate atual­mente sobre a qual­i­dade e o tem­po de uso de telas por cri­anças e ado­les­centes. Troux­e­mos essa per­cepção para ali­men­tar esse debate e, a par­tir dessas evidên­cias, cri­ar ori­en­tações e regras que mel­horem a qual­i­dade, o aproveita­men­to e o bene­fí­cio do uso da inter­net por cri­anças e ado­les­centes”, falou a coor­de­nado­ra da pesquisa, em entre­vista à Agên­cia Brasil.

Um out­ro estu­do divul­ga­do recen­te­mente pelo Insti­tu­to Alana, real­iza­do pelo Datafol­ha, já apon­ta­va para uma per­cepção sobre o uso exces­si­vo da inter­net entre as cri­anças e ado­les­centes. Segun­do este estu­do, 93% dos entre­vis­ta­dos con­cor­da­va que as cri­anças e ado­les­centes estão fican­do vici­adas em redes soci­ais; 92% con­cor­dam que é muito difí­cil para cri­anças e ado­les­centes se defend­erem soz­in­has de vio­lên­cias e de con­teú­dos inad­e­qua­dos para sua idade; 87% con­cor­dam que a exibição de pro­pa­gan­das e com­er­ci­ais para cri­anças e ado­les­centes nas redes soci­ais incen­ti­va o con­sumo em exces­so; e 86% con­cor­dam que os con­teú­dos mais aces­sa­dos atual­mente por cri­anças e ado­les­centes não são ade­qua­dos para a idade deles.

O tra­bal­ho do Insti­tu­to Alana apon­tou ain­da que nove em dez brasileiros acred­i­tam que as empre­sas de redes soci­ais estão fazen­do menos do que o sufi­ciente para pro­te­ger cri­anças e ado­les­centes na inter­net e que as empre­sas dev­e­ri­am tomar uma das seguintes medi­das para pro­te­ger as cri­anças e ado­les­centes na inter­net: solic­i­tar a com­pro­vação de iden­ti­dade dos usuários; mel­ho­rar o atendi­men­to e apoio ao con­sum­i­dor para denún­cias; proibir a pub­li­ci­dade e ven­da para cri­anças; acabar com a repro­dução automáti­ca e rolagem infini­ta de vídeos, como reels ou shorts; ou lim­i­tar o tem­po de uso dos serviços.

“A pop­u­lação percebe que as empre­sas fazem menos do que dev­e­ri­am aqui no Brasil em relação a essas sal­va­guardas e que é pre­ciso que haja mais leg­is­lação”, falou Maria Mel­lo, coor­de­nado­ra do pro­gra­ma Cri­ança e Con­sumo e líder do Eixo Dig­i­tal no Insti­tu­to Alana. “Estas são questões sur­preen­dentes no sen­ti­do pos­i­ti­vo e indicam que a sociedade está olhan­do para isso e cla­man­do por mudanças. Mas tam­bém demon­stram a per­cepção de que muito pre­cisa ser feito, sobre­tu­do do pon­to de vista reg­u­latório”, acres­cen­tou.

Luisa Adib expli­cou que para evi­tar o exces­so e os riscos asso­ci­a­dos ao uso da inter­net é pre­ciso medi­ação. Os pais, por exem­p­lo, podem esta­b­ele­cer regras como con­t­role e lim­i­tação de tem­po de uso da inter­net e tam­bém ori­en­tar as cri­anças e ado­les­centes sobre como faz­er um uso respon­sáv­el e con­sciente. Luisa aler­ta que essa não é uma tare­fa que cabe somente aos pais ou respon­sáveis. “A gente tem que tomar um cuida­do para não colo­car respon­s­abil­i­dade só sobre o respon­sáv­el, sejam ele os pais, as mães ou os edu­cadores. Eles são sim parte fun­da­men­tal, a gente sabe sobre a cor­re­lação pos­i­ti­va entre a medi­ação e o bene­fí­cio, um uso de qual­i­dade, mas não são os úni­cos respon­sáveis. A gente tem uma série de con­tex­tos que envolve tam­bém as reg­u­la­men­tações”, desta­cou.

Segun­do Maria Mel­lo, os resul­ta­dos obser­va­dos na pesquisa do Insti­tu­to Alana acabam dialo­gan­do com o estu­do TIC Kids porque tam­bém demon­straram que a respon­s­abil­i­dade sobre o uso da inter­net por cri­anças e ado­les­centes não pode decair somente sobre os pais ou respon­sáveis. “Muitos pais e mães ain­da sabem muito pouco sobre como pro­te­ger [seus fil­hos]. E isso não pode ser impli­ca­do, isso não pode estar na con­ta das famílias. Acho que é papel das empre­sas e tam­bém do Esta­do prover algum nív­el de con­sciên­cia e de habil­i­dades para que essa medi­ação parental acon­teça”, reforçou.

“Pre­cisa haver um acor­do cole­ti­vo com­par­til­ha­do, con­forme pre­coniza a nos­sa Con­sti­tu­ição Fed­er­al, para que essa pre­sença se dê de uma maneira pro­te­gi­da. Ago­ra, as famílias podem bus­car, primeiro, se infor­mar sobre o que acon­tece nas redes, que pro­du­tos e serviços são desen­volvi­dos ade­quada­mente para essa pre­sença e sobre os ter­mos de uso, que vão diz­er se aque­le pro­du­to ou serviço é apro­pri­a­do para aque­la idade. Vale a pena estar aten­to para isso e tam­bém bus­car enten­der mais sobre fun­ciona­men­to algo­rít­mi­co, que pode moldar com­por­ta­men­tos e faz­er com que as cri­anças acessem con­teú­dos inad­e­qua­dos do pon­to de vista da vio­lên­cia, de con­teú­do de explo­ração sex­u­al, mas tam­bém do pon­to de vista da explo­ração com­er­cial”, ori­en­tou Maria Mel­lo.

Acesso à internet

O estu­do TIC Kids Online Brasil 2024, con­duzi­do pelo Cen­tro Region­al de Estu­dos para o Desen­volvi­men­to da Sociedade da Infor­mação (Cetic.br) do Núcleo de Infor­mação e Coor­de­nação do Pon­to BR (NIC.br), lig­a­do ao Comitê Gestor da Inter­net no Brasil (CGI.br), apon­tou ain­da que o número de cri­anças e ado­les­centes com aces­so à inter­net se man­teve com cer­ta esta­bil­i­dade, com um pequeno declínio em 2024 em com­para­ção ao ano pas­sa­do.

Segun­do o estu­do, 93% das cri­anças e ado­les­centes entre 9 e 17 anos de todo o país são usuárias de inter­net no Brasil, pouco abaixo do que a pesquisa apon­tou no ano pas­sa­do (95%). Esse aces­so é maior na região sul, onde a quase total­i­dade das cri­anças e ado­les­centes (98%) declararam ter aces­so à rede. Já a região norte con­cen­tra a menor por­cent­agem de aces­so do país, com 85%.

Essa desigual­dade tam­bém se man­i­fes­ta entre as class­es soci­ais. Se entre as cri­anças e ado­les­centes das class­es A e B o aces­so é prati­ca­mente total (99%), entre as cri­anças das class­es D e E ele fica em torno de 91%. Já na classe C, isso cor­re­sponde a 93%.

Já em relação aos que dis­ser­am nun­ca ter aces­sa­do a inter­net, hou­ve uma que­da: se no ano pas­sa­do, esse públi­co cor­re­spon­dia a 580 mil pes­soas, em 2024 um total de 492.393 pes­soas rev­e­laram nun­ca ter aces­sa­do a rede.

“A par­tic­i­pação [sobre o uso da inter­net por cri­anças e ado­les­centes] con­tin­ua estáv­el. Se a gente con­sid­era a margem de erro, a gente está em um cenário de esta­bil­i­dade. Mas há dis­pari­dades: cer­ca de 2 mil­hões de cri­anças e ado­les­centes na faixa de 9 a 17 anos não é usuária de inter­net ou porque nun­ca aces­sou ou não a aces­sou nos últi­mos 3 meses”, disse Luisa.

Além dis­so, acres­cen­tou ela, o aces­so por dis­pos­i­tivos tam­bém não é igual­itário. “Cri­anças de class­es A e B aces­sam por dis­pos­i­tivos mais vari­a­dos e locais mais vari­a­dos”, falou.

O aces­so à inter­net é feito geral­mente em casa, tan­to pelas cri­anças e ado­les­centes das class­es A e B (100%) quan­to entre as cri­anças das class­es C (100%) e das class­es D e E (97%). Isso apon­ta para uma fal­ta de mel­hor infraestru­tu­ra nas esco­las, já que o aces­so ness­es locais é 56% (entre o públi­co das class­es A e B), 56% (na classe C) e de ape­nas 44% (entre as class­es D e E).

“Quan­do as cri­anças são tiradas do dire­ito de aces­so às tec­nolo­gias de infor­mação e comu­ni­cação, elas tam­bém estão per­den­do a opor­tu­nidade de sofr­er uma série de out­ros dire­itos, a edu­cação, o entreten­i­men­to, a comu­ni­cação, a expressão. Hoje a gente já tem muitas ativi­dades medi­adas pelas tec­nolo­gias de infor­mação e comu­ni­cação, então a gente pre­cisa garan­tir o dire­ito para todas as cri­anças, de for­ma igual­itária, para que elas usufru­am [destes bene­fí­cios]”, falou Luísa.

Para a pesquisa TIC Kids foram ouvi­das 2.424 cri­anças e ado­les­centes de todo o país, com idades entre 9 e 17 anos e 2.424 pais ou respon­sáveis. O estu­do foi real­iza­do entre março e jul­ho deste ano. O TIC Kids Online Brasil é uma pesquisa fei­ta anual­mente des­de 2012 e só não foi real­iza­da em 2020 por causa da pan­demia de covid-19.

LOGO AG BRASIL

Você pode Gostar de:

Anvisa interdita oito clínicas de estética em três estados e no DF

Fiscalização encontrou diversas irregularidades nos locais Agên­cia Brasil Pub­li­ca­do em 15/02/2025 — 18:38 Brasília Ver­são …