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Três suspeitos da morte de Mãe Bernadete são presos na Bahia

Repro­dução: © Arte sobre foto de Walis­son Braga/Conaq

Provas e relatos ainda serão confrontados


Pub­li­ca­do em 04/09/2023 — 17:14 Por Daniel­la Almei­da — Repórter da Agên­cia Brasil — Brasília

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Três home­ns foram pre­sos na Bahia pelo envolvi­men­to na morte da líder quilom­bo­la e ialorixá Mãe Bernadete, de 72 anos. O assas­si­na­to ocor­reu na noite de 17 de agos­to, no Quilom­bo Pitan­ga dos Pal­mares, no municí­pio de Simões Fil­ho, região met­ro­pol­i­tana de Sal­vador (BA). Mãe Bernadete era tam­bém gesto­ra da Coor­de­nação Nacional de Artic­u­lação de Quilom­bos (Conaq).  

O anún­cio das prisões foi feito pelo secretário de Segu­rança Públi­ca da Bahia (SSP/BA), Marce­lo Wern­er, nes­ta segun­da-feira (4), em entre­vista cole­ti­va à impren­sa, na sede do Depar­ta­men­to Estad­ual de Homicí­dios e de Pro­teção a Pes­soas da Polí­cia Civ­il (DHPP), em Sal­vador.

O secretário Marce­lo Wern­er ressalta que a Polí­cia Civ­il da Bahia ain­da não pode rev­e­lar a moti­vação do crime.

“Se a gente falar em moti­vação ago­ra, uma moti­vação A, B ou C, pode e vai prej­u­dicar, infe­liz­mente, as inves­ti­gações. O proces­so está sob sig­i­lo. Então, a gente repor­ta gener­i­ca­mente para que, tam­bém, a gente não que­bre essa reser­va de sig­i­lo”.

O secretário de Segu­rança Públi­ca da Bahia, Marce­lo Wern­er, diz que a polí­cia vai faz­er o con­fron­to com out­ras provas col­hi­das na inves­ti­gação. “Então, é pre­cip­i­ta­do a gente falar em moti­vação”, rela­tou o secretário, sobre a supos­ta moti­vação da exe­cução ale­ga­da por um dos sus­peitos pre­sos.

A del­e­ga­da-ger­al da Polí­cia Civ­il da Bahia, Heloísa Brito, rat­i­fi­ca que é pre­ciso apu­rar a ver­são con­ta­da pelo pre­so que con­fes­sou o homicí­dio.  “Ele fala o moti­vo, mas pre­cisamos saber se isso con­diz com a ver­dade. Qual­quer infor­mação pas­sa­da ago­ra pode não ser a ver­dade”, jus­ti­fi­cou a del­e­ga­da-ger­al.

Presos

As inves­ti­gações da Sec­re­taria de Segu­rança Públi­ca da Bahia apon­tam que os envolvi­dos podem ser inte­grantes de um grupo crim­i­noso respon­sáv­el pelo trá­fi­co de dro­gas e homicí­dios na região de Simões Fil­ho.

Con­forme as averiguações poli­ci­ais, os três pre­sos têm difer­entes par­tic­i­pações no crime con­tra Mãe Bernadete. As iden­ti­dades dos sus­peitos de par­tic­i­pação no assas­si­na­to não foram rev­e­ladas para não com­pro­m­e­ter as inves­ti­gações poli­ci­ais. Um quar­to sus­peito iden­ti­fi­ca­do está sendo procu­ra­do pelos agentes de segu­rança públi­ca e as equipes de inves­ti­gação ten­tam iden­ti­ficar out­ras pes­soas dire­ta­mente envolvi­das no caso.

De acor­do com secretário de Segu­rança Públi­ca da Bahia, Marce­lo Wern­er, um dos sus­peitos deti­dos foi pre­so na cidade de Araçás, a 105 km de Sal­vador, na sex­ta-feira (1º). Ele con­fes­sou ser o execu­tor da víti­ma. O sus­peito já tem antecedentes crim­i­nais.

O segun­do sus­peito, deti­do em 25 de agos­to, esta­va com os celu­lares da víti­ma e de famil­iares dela, rou­ba­dos na data do crime. Já o ter­ceiro deti­do, um mecâni­co, guardou duas armas de cal­i­bres com­patíveis com os de pro­jéteis recol­hi­dos no local do crime, segun­do a SSP. O mecâni­co que guar­da­va o arma­men­to foi autu­a­do em fla­grante por porte ile­gal de arma de fogo.

Estes dois últi­mos sus­peitos de envolvi­men­to no crime foram pre­sos na zona rur­al de Simões Fil­ho, mes­ma região onde fica o Quilom­bo Pitan­ga dos Pal­mares. Os dois não tin­ham pas­sagem pela polí­cia por out­ros deli­tos.

Ações

A del­e­ga­da-ger­al da Polí­cia Civ­il da Bahia, Heloísa Brito, fez um bal­anço das inves­ti­gações, até o momen­to. “Já real­izamos 64 oiti­vas, foram 21 apar­el­hos tele­fôni­cos apreen­di­dos, 19 medi­das caute­lares foram solic­i­tadas. Con­seguimos avançar bem numa artic­u­lação com todos os depar­ta­men­tos da Polí­cia Civ­il e, prin­ci­pal­mente, uma parce­ria com o poder judi­ciário e com o Min­istério Públi­co, por meio do Grupo Espe­cial de Com­bate às Orga­ni­za­ções Crim­i­nosas e Inves­ti­gações Crim­i­nais (Gae­co)”, detal­hou.

A del­e­ga­da ain­da desta­cou o tra­bal­ho em con­jun­to com out­ras insti­tu­ições para elu­ci­dar o caso. “Pela Coor­de­nação de Con­fli­tos Fundiários, nós estare­mos ouvin­do todos envolvi­dos para ver­i­ficar se temos algu­ma questão que remete ao con­fli­to fundiário. Nós esta­mos fazen­do uma análise tam­bém de todo o trá­fi­co de dro­gas no local, para ver­i­ficar se tem algu­ma influên­cia especí­fi­ca com a crim­i­nal­i­dade, através do nos­so Depar­ta­men­to de Nar­cóti­cos, que já fez inclu­sive uma oper­ação hoje pela man­hã naque­la região. Então, esta­mos obser­van­do todas as lin­has pos­síveis de inves­ti­gação, porque o nos­so obje­ti­vo é exau­rir todas as pos­si­bil­i­dades, deixan­do este crime esclare­ci­do, o modo de como acon­te­ceu a dinâmi­ca e o que motivou”, pon­tu­ou a del­e­ga­da-ger­al da Polí­cia Civ­il da Bahia, Heloísa Brito.

Repercussão

O fil­ho de Mãe Bernadete, Jurandir Welling­ton Pací­fi­co, disse à Agên­cia Brasil que ficou saben­do das prisões pela inter­net. Ele con­fir­mou que a família fará um pro­nun­ci­a­men­to à impren­sa no fim da tarde des­ta segun­da-feira (4), no Fórum Ruy Bar­bosa, do Tri­bunal de Justiça da Bahia.

Já o advo­ga­do respon­sáv­el pela defe­sa da família de Mãe Bernadete e inte­grante do Insti­tu­to Malê de Aces­so à Justiça e Cidada­nia (IMAJ), David Mendes, declar­ou à Agên­cia Brasil que rece­beu com pre­ocu­pação as declar­ações dadas pelo secretário de Segu­rança Públi­ca [Marce­lo Wern­er] “haja vista que foram apre­sen­ta­dos ape­nas parte dos execu­tores do crime, porém nada disse acer­ca dos respec­tivos man­dantes”, cobra o advo­ga­do David Mendes.

O advo­ga­do, que tam­bém defende os dire­itos de out­ras comu­nidades quilom­bo­las do esta­do, relem­brou que a Pitan­ga de Pal­mares nun­ca reg­istrou prob­le­mas rela­ciona­dos ao trá­fi­co de dro­gas ou à pre­sença de facções crim­i­nosas em ter­ritório, mas que as ocor­rên­cias começaram naque­le ter­ritório a par­tir da implan­tação de um presí­dio por parte do gov­er­no estad­ual, inau­gu­ra­do no ano de 2002.

“Somente a par­tir da implan­tação da alu­di­da unidade pri­sion­al foi que a comu­nidade pas­sou a con­viv­er com a pre­sença do trá­fi­co de dro­gas e do crime orga­ni­za­do naque­le ter­ritório — e há inúmeras pesquisas acadêmi­cas que com­pro­vam que onde há a implan­tação de unidades pri­sion­ais inex­o­rav­el­mente há o aumen­to da criminalidade/violência, haja vista a ocu­pação de imóveis ao redor do presí­dio por parte de famil­iares dos pre­sos e mem­bros das facções crim­i­nosas às quais eles per­tencem”, desabafa o advo­ga­do David Mendes.

A pres­i­dente do Supre­mo Tri­bunal Fed­er­al (STF) e do Con­sel­ho Nacional de Justiça (CNJ), min­is­tra Rosa Weber, se referiu, na man­hã des­ta segun­da-feira, à Mãe Bernadete, durante o II Sem­i­nário sobre Questões Raci­ais no Poder Judi­ciário, real­iza­do na sede do CNJ, em Brasília.

“Uma mul­her negra a denun­ciar racis­mo e ameaças sofridas, uma mãe que con­vivia, sem esmore­cer, com a indig­nação e o descon­so­lo infin­do de um fil­ho assas­si­na­do havia seis anos, sem sequer a iden­ti­fi­cação dos crim­i­nosos, execu­tores e even­tu­ais man­dantes e que luta­va com sua voz cora­josa con­tra esta odiosa impunidade, é exem­p­lo can­dente de que o Esta­do brasileiro fal­hou e de que fal­hamos todos nós, cotid­i­ana­mente, na defe­sa da vida, da inte­gri­dade, dos val­ores e dos dire­itos da pop­u­lação negra, em nos­so país”,

Em 30 de agos­to, o CNJ infor­mou que as apu­rações sobre o assas­si­na­to da Mãe Bernadete e do fil­ho dela, Flávio Gabriel Pací­fi­co dos San­tos (Bin­ho do Quilom­bo), ocor­ri­do em 2017, serão acom­pan­hadas pelo Obser­vatório das Causas de Grande Reper­cussão. O cole­gia­do é for­ma­do pelo próprio CNJ e pelo Con­sel­ho Nacional do Min­istério Públi­co (CNMP). O CNJ afir­ma que os dois casos estão, aparente­mente, rela­ciona­dos com a defe­sa da causa quilom­bo­la em ter­ritório ain­da sob con­fli­to fundiário.

Os famil­iares da Mãe Bernadete foram reti­ra­dos da comu­nidade Quilom­bo Pitan­ga do Pal­mares como medi­da de pro­teção, na sem­ana do assas­si­na­to da líder ialorixá.

Edição: Aline Leal

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