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Tribunal especial aprova impeachment de Witzel

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Repro­du­ção: © Brun­no Dantas/TJRJ

Witzel se diz inocente das acusações


Publi­ca­do em 30/04/2021 — 19:25 Por  Ake­mi Nitaha­ra e Viní­cius Lis­boa – Repór­te­res da Agên­cia Bra­sil — Rio de Janei­ro
Atu­a­li­za­do em 30/04/2021 — 20:30

O Tri­bu­nal Espe­ci­al Mis­to (TEM) apro­vou hoje (30) o impe­a­ch­ment do gover­na­dor do Rio de Janei­ro, Wil­son Wit­zel (PSC), que já esta­va afas­ta­do e per­deu o car­go de for­ma defi­ni­ti­va com a deci­são. Como con­sequên­cia, o gover­na­dor em exer­cí­cio, Cláu­dio Cas­tro, se tor­na­rá o gover­na­dor de fato.

Foram 10 votos a favor do impe­di­men­to e nenhum con­tra. O tri­bu­nal mis­to deci­diu tam­bém que o ex-gover­na­dor do Rio de Janei­ro fica­rá ine­le­gí­vel por cin­co anos.

Wit­zel está afas­ta­do do car­go des­de agos­to do ano pas­sa­do e foi denun­ci­a­do pelo Minis­té­rio Públi­co Fede­ral por par­ti­ci­pa­ção em um esque­ma de des­vi­os de recur­sos na área da saú­de, que seri­am apli­ca­dos no com­ba­te à pan­de­mia de covid-19.

No pro­ces­so de impe­a­ch­ment, Wit­zel foi con­de­na­do por cri­mes de res­pon­sa­bi­li­da­de na res­pos­ta do gover­no do esta­do à pan­de­mia, e, espe­ci­fi­ca­men­te, pela requa­li­fi­ca­ção da orga­ni­za­ção soci­al (OS) Ins­ti­tu­to Unir Saú­de ao assu­mir con­tra­tos com a admi­nis­tra­ção públi­ca e a con­tra­ta­ção da OS Ins­ti­tu­to de Aten­ção Bási­ca e Avan­ça­da à Saú­de (Iabas) para a cons­tru­ção e ges­tão de hos­pi­tais de cam­pa­nha no ano pas­sa­do.

Para ser con­de­na­do, Wit­zel pre­ci­sa­va rece­ber sete dos dez votos no tri­bu­nal mis­to, que era com­pos­to pelos desem­bar­ga­do­res Tere­sa Cas­tro Neves, Maria da Gló­ria Ban­dei­ra de Mel­lo, Inês da Trin­da­de, José Car­los Mal­do­na­do e Fer­nan­do Foch e pelos depu­ta­dos esta­du­ais Wal­deck Car­nei­ro (PT), rela­tor do pro­ces­so, Ale­xan­dre Frei­tas (Novo), Chi­co Macha­do (PSD), Dani Mon­tei­ro (PSol) e Car­los Mace­do (REP).

Acusação

O jul­ga­men­to pelo Tri­bu­nal Espe­ci­al Mis­to (TEM) teve iní­cio às 9h33, com a mani­fes­ta­ção da acu­sa­ção, fei­ta pelo depu­ta­do esta­du­al Luiz Pau­lo (Cida­da­nia), co-autor da denún­cia fei­ta na Assem­bleia Legis­la­ti­va do Rio de Janei­ro (Alerj), jun­to com a depu­ta­da Luci­nha (PSDB). Segun­do ele, foi com­pro­va­do que Wit­zel come­teu cri­me de res­pon­sa­bi­li­da­de puní­vel, “vis­to a exis­tên­cia de atos ímpro­bos come­ti­dos con­tra a admi­nis­tra­ção públi­ca esta­du­al e a tipi­fi­ca­ção dos mes­mos con­for­me pres­cre­ve a lei fede­ral 1.079/50”.

As acu­sa­ções são a res­pei­to da con­tra­ta­ção das OSs Unir e Iabas para a pres­ta­ção de ser­vi­ços de saú­de no âmbi­to das ações de com­ba­te à pan­de­mia de covid-19 com a cri­a­ção de uma “cai­xi­nha da pro­pi­na” de 20% dos valo­res dos con­tra­tos.

Segun­do o depu­ta­do Luiz Pau­lo, os for­tes indí­ci­os de frau­des leva­ram a três ope­ra­ções do Minis­té­rio Públi­co Fede­ral: Pla­ce­bo, Favo­ri­to e Filho­te de Cuco. Sobre a OS Unir, o depu­ta­do des­ta­cou que ela foi des­qua­li­fi­ca­da em outu­bro de 2019 e teve os con­tra­tos res­cin­di­dos. Porém, no dia 24 de mar­ço de 2020, depois da decre­ta­ção da emer­gên­cia sani­tá­ria no esta­do, a des­qua­li­fi­ca­ção foi revo­ga­da, sen­do nova­men­te des­qua­li­fi­ca­da no dia 15 de maio, após a Ope­ra­ção Favo­ri­to”.

“A requa­li­fi­ca­ção da Unir foi ato ímpro­bo, que não aten­deu o inte­res­se públi­co e a sua des­qua­li­fi­ca­ção em segui­da foi uma ten­ta­ti­va de se dar uma fal­sa apa­rên­cia de impar­ci­a­li­da­de, quan­do os atos ímpro­bos já havi­am sido des­co­ber­tos pelas ope­ra­ções”, afir­mou a acu­sa­ção.

Sobre o Iabas, Luiz Pau­lo des­ta­cou que a OS tinha 96% dos con­tra­tos com o Esta­do com ava­li­a­ção de desem­pe­nho com con­cei­to C, ou seja, o pior de todos. E, mes­mo assim, cele­brou em abril de 2020 con­tra­to de R$835,8 milhões para a cons­tru­ção e ges­tão de sete hos­pi­tais de cam­pa­nha.

“Não hou­ve jus­ti­fi­ca­ti­va per­ti­nen­te para a sua esco­lha. O mon­tan­te ini­ci­al de R$256,6 milhões foi empe­nha­do e pago, sen­do que foram entre­gues ape­nas dois hos­pi­tais – Mara­ca­nã e São Gon­ça­lo – e ape­nas o do Mara­ca­nã fun­ci­o­nou por bre­ve tem­po e sob mui­tas ile­ga­li­da­des, como sobre­pre­ço e super­fa­tu­ra­men­to”.

Defesa

A defe­sa de Wit­zel teve 30 minu­tos para fazer as con­si­de­ra­ções e negou todas as acu­sa­ções. Os advo­ga­dos Bru­no Alber­naz e Eric de Sá Tro­te afir­ma­ram que o gover­na­dor não foi o res­pon­sá­vel pelas deci­sões de con­tra­ta­ção das orga­ni­za­ções soci­ais toma­das por seus secre­tá­ri­os e sub-secre­tá­ri­os e pedi­ram a anu­la­ção do pro­ces­so.

“Se socor­reu a todo o tem­po de ele­men­tos estra­nhos aos autos, denún­ci­as do MPF que sequer pas­sa­ram pelo cri­vo do con­tra­di­tó­rio no pro­ces­so ori­gi­ná­rio, ele­men­tos ali­e­ní­ge­nas à deman­da. O que foi até difí­cil para o gover­na­dor se defen­der dos atos aos quais estão sen­do impu­ta­dos a ele”, afir­mou a defe­sa.

Os advo­ga­dos fize­ram três ale­ga­ções pre­li­mi­na­res para pedir a nuli­da­de do impe­a­ch­ment. A pri­mei­ra pedia que fos­se decre­ta­da a inép­cia da denún­cia, por “fal­ta de cla­re­za na deli­mi­ta­ção das acu­sa­ções”, além da nuli­da­de abso­lu­ta do pro­ces­so por “fal­ta de apre­sen­ta­ção do libe­lo acu­sa­tó­rio”, que é a deli­mi­ta­ção do fato que está sen­do jul­ga­do.

A segun­da dizia que a Súmu­la Vin­cu­lan­te nº 14 do Supre­mo Tri­bu­nal Fede­ral (STF) não foi res­pei­ta­da, que fala sobre a impres­cin­di­bi­li­da­de de aces­so a todas as pro­vas rele­van­tes. Para a defe­sa, o des­res­pei­to se deu pelo fal­ta de jun­tar ao pro­ces­so a ínte­gra da dela­ção pre­mi­a­da do ex-secre­tá­rio de Saú­de Edmar San­tos. A ter­cei­ra pre­li­mi­nar ale­gou cer­ce­a­men­to de defe­sa por ter sido nega­da a pro­du­ção de pro­va peri­ci­al prá­ti­ca, com rela­ção à con­ta­bi­li­da­de dos paga­men­tos fei­tos à Unir e das obras e ser­vi­ços de hos­pi­tais de cam­pa­nha pelo Iabas.

Todas as pre­li­mi­na­res foram rejei­ta­das por una­ni­mi­da­de, seguin­do o rela­tor.

Witzel

Em sua con­ta no Twit­ter, logo após o iní­cio do jul­ga­men­to pelo TEM, o gover­na­dor afas­ta­do Wil­son Wit­zel afir­mou que não desis­ti­rá do car­go e acu­sou o pro­ces­so de ter moti­va­ção polí­ti­ca.

Relator

O depu­ta­do Wal­deck Car­nei­ro (PT), rela­tor do pro­ces­so de impe­a­ch­ment , votou pela pro­ce­dên­cia das acu­sa­ções. Em seu voto, que durou mais de duas horas, Car­nei­ro aco­lheu inte­gral­men­te os dois eixos da acu­sa­ção e o pedi­do para a con­de­na­ção à per­da do car­go, além da ina­bi­li­ta­ção para o exer­cí­cio de qual­quer fun­ção públi­ca por cin­co anos.

O depu­ta­do con­si­de­rou que Wit­zel “agiu de modo opos­to ao que se espe­ra de um gover­nan­te e líder, no sen­ti­do de pro­te­ger, cui­dar e repre­sen­tar os legí­ti­mos inte­res­ses da popu­la­ção que gover­na e lide­ra”; que ele é “par­ti­cu­lar­men­te conhe­ce­dor da Lei e das obri­ga­ções ine­ren­tes ao ocu­pan­te de car­go públi­co”, já que foi juiz fede­ral por qua­se 18 anos; que os atos pra­ti­ca­dos “têm rela­ção com os núme­ros devas­ta­do­res de mor­tos e infec­ta­dos pelo novo coro­na­ví­rus, no âmbi­to do esta­do do Rio de Janei­ro”; e que os atos “ferem fron­tal­men­te a dig­ni­da­de, a hon­ra e o deco­ro do car­go públi­co que ocu­pa­va”.

Votação

O pri­mei­ro a votar foi o desem­bar­ga­dor José Car­los Mal­do­na­do, que jul­gou que as acu­sa­ções foram demons­tra­das de for­ma inques­ti­o­ná­vel. Em rela­ção à requa­li­fi­ca­ção da OS Unir, o magis­tra­do afir­mou que a pan­de­mia “ser­viu de pano de fun­do para o acu­sa­do tra­zer de vol­ta a orga­ni­za­ção soci­al”, ato que clas­si­fi­cou de “ímpro­bo, imo­ral e desar­ra­zo­a­do”.  “Não hou­ve, como deve­ria, qual­quer aná­li­se téc­ni­ca, finan­cei­ra ou a rea­li­za­ção de uma sim­ples audi­to­ria. Pre­va­le­ceu ape­nas a von­ta­de pes­so­al e polí­ti­ca do gover­na­dor”.

Em segui­da, votou o depu­ta­do esta­du­al Car­los Mace­do (Repu­bli­ca­nos). “Esta­mos, ain­da hoje, viven­ci­an­do os efei­tos des­sa mal­fa­da­da pan­de­mia, que tal­vez não teria cei­fa­do tan­tas vidas no nos­so esta­do, caso o poder públi­co tives­se atu­a­do no momen­to opor­tu­no”, des­ta­cou o par­la­men­tar, que tam­bém acom­pa­nhou o rela­tor.

Ter­cei­ro a votar, o desem­bar­ga­dor Fer­nan­do Foch afir­mou que a admi­nis­tra­ção públi­ca teve seto­res lote­a­dos por outros inves­ti­ga­dos no esque­ma, e que as pro­vas tes­te­mu­nhais “são for­tís­si­mas” no sen­ti­do de que “os con­tra­tos eram mal­fei­tos, ela­bo­ra­dos para não fun­ci­o­nar, tinham exe­cu­ção extre­ma­men­te insu­fi­ci­en­te, não fis­ca­li­za­da pelo poder públi­co, e, aci­ma de tudo, lesi­va aos inte­res­ses e aos cofres públi­cos”.

Os votos seguin­tes, do depu­ta­do Chi­co Macha­do (PSD), da desem­bar­ga­do­ra Tere­sa Andra­de e do depu­ta­do Ale­xan­dre Frei­tas (Novo) tam­bém foram favo­rá­veis ao impe­di­men­to do gover­na­dor. Frei­tas con­si­de­rou que as pro­vas em rela­ção à con­tra­ta­ção da Iabas não eram sufi­ci­en­tes para vin­cu­lar Wit­zel ao esque­ma, e votou a favor da con­de­na­ção con­si­de­ran­do ape­nas a requa­li­fi­ca­ção do Ins­ti­tu­to Unir.

A mai­o­ria neces­sá­ria para o impe­a­ch­ment foi for­ma­da no voto da desem­bar­ga­do­ra Inês Trin­da­de, que afir­mou que, ao con­trá­rio do que pre­gou em sua cam­pa­nha, Wit­zel não era um “out­si­der” da polí­ti­ca antes de ser elei­to e man­ti­nha rela­ções com per­so­na­gens influ­en­tes quan­do ain­da era magis­tra­do. “A apos­ta de nova polí­ti­ca era uma rou­pa­gem dis­far­ça­da para escon­der a velha polí­ti­ca ímpro­ba”, dis­se.

O voto da depu­ta­da Dani Mon­tei­ro (PSOL) foi o oita­vo a favor do impe­a­ch­ment e des­ta­cou que a popu­la­ção flu­mi­nen­se foi dire­ta­men­te afe­ta­da em seu direi­to à saú­de, já que a denún­cia com­pro­va, além do favo­re­ci­men­to das orga­ni­za­ções soci­ais, o des­con­tro­le, a fal­ta de trans­pa­rên­cia e a ausên­cia de cri­té­ri­os téc­ni­cos nes­ses con­tra­tos.

“Não res­tam dúvi­das de que essa prá­ti­ca cus­tou milha­res de vidas de cida­dãos flu­mi­nen­ses”, dis­se Dani Mon­tei­ro, que votou pela inte­gral pro­ce­dên­cia da acu­sa­ção.

Maté­ria alte­ra­da às 20h30 com o resul­ta­do final do jul­ga­men­to.

Edi­ção: Ali­ne Leal

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