...
domingo ,13 outubro 2024
Home / Noticias / Tupinambás e artistas circenses fazem ritual de troca de saberes no RJ

Tupinambás e artistas circenses fazem ritual de troca de saberes no RJ

Repro­dução: © Fer­nan­do Frazão/Agência Brasil

Indígenas vão participar da celebração de retorno de manto sagrado


Publicado em 12/09/2024 — 08:28 Por Rafael Cardoso — Repórter da Agência Brasil — Rio de Janeiro

ouvir:

Indí­ge­nas tupinam­bás e artis­tas circens­es. Aparente­mente, pouco em comum. Um encon­tro na Quin­ta da Boa Vista, par­que munic­i­pal do Rio de Janeiro, mostrou que há muitas con­vergên­cias. A arte, o lúdi­co, o lugar da ances­tral­i­dade e da família, o peso da cul­tura oral são alguns exem­p­los. Para apro­fun­dar relações e inter­seções, eles fiz­er­am nes­sa quar­ta-feira (11) apre­sen­tações recíp­ro­cas, um tipo de rit­u­al para com­par­til­har saberes.

O cir­co se tornou, durante alguns dias, a casa de cen­te­nas de indí­ge­nas. Uma car­a­vana com tupinam­bás veio de Olivença, litoral cen­tral da Bahia, para o Rio de Janeiro na sem­ana pas­sa­da, para cel­e­brar o retorno do man­to sagra­do ao Brasil. E encon­traram nos arredores das lonas col­ori­das um espaço para dormir, com­er e cuidar da higiene pes­soal. O even­to foi um agradec­i­men­to e uma des­pe­di­da. Nes­ta quin­ta-feira (12), depois da cer­imô­nia final de recepção do man­to no Museu Nacional, os indí­ge­nas vão retornar para a ter­ra natal.

“Nos­sos antepas­sa­dos eram lev­a­dos daqui para a Europa e eram colo­ca­dos em praças públi­cas. Eu não sei se em lugares semel­hantes a cir­cos tam­bém, mas para serem exibidos como obje­tos. E hoje, nós esta­mos no cir­co, mas em irman­dade. Porque enten­demos que os artis­tas tran­scen­dem. E nós somos povos que tran­scen­demos tam­bém. E vocês nos rece­ber­am aqui, abri­ram as por­tas e os corações”, agrade­ceu Yakuy, uma das lid­er­anças tupinam­bás, durante o even­to.

Na primeira apre­sen­tação da noite, trapezis­tas saltaram e giraram no ar, uma meni­na fez mal­abaris­mo com bam­bolês e um grupo fem­i­ni­no subiu e desli­zou por lenços no pic­a­deiro. A plateia alternou entre aplau­sos, expressões de espan­to e o sacud­ir de maracás.

Rio de Janeiro (RJ) 11/09/2024 – Artistas circenses do Unicirco fazem apresentação no picadeiro para indígenas do povo tupinambá que vieram receber o Manto Tupinambá no Museu Nacional. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Repro­dução: Rio de Janeiro – Artis­tas circens­es do Uni­cir­co fazem apre­sen­tação no pic­a­deiro para indí­ge­nas do povo tupinam­bá no Museu Nacional — Foto Fer­nan­do Frazão/Agência Brasil

“Nós ficamos muito felizes com a apre­sen­tação, muito mar­avil­hoso. A gente tem difi­cul­dade na nos­sa região de ir ao cir­co. É muito longe para sair da nos­sa aldeia e ir até Ilhéus. A gente não vê e quase não leva nos­sas cri­anças. Às vezes, não temos din­heiro para pagar. Ficamos felizes com esse momen­to”, disse a líder tupinam­bá, a caci­ca Jamopo­ty.

Na segun­da apre­sen­tação, dezenas de tupinam­bás subi­ram no pic­a­deiro para entoar danças e cân­ti­cos reli­giosos, con­vi­dan­do os demais a par­tic­i­parem do rit­u­al. Luís Fro­ta, uma das lid­er­anças do pro­je­to social Uni­cir­co, se emo­cio­nou com o que viu.

Para ele, além da inter­ação afe­ti­va e artís­ti­ca, hou­ve muito apren­diza­do durante o perío­do de acol­hi­men­to aos indí­ge­nas.

Rio de Janeiro (RJ) 11/09/2024 – Cacica Jamopoty Tupinambá, que veio receber o Manto Tupinambá no Museu Nacional, assiste apresentação de artistas circenses do Unicirco e os convida para ritual no picadeiro. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Repro­dução: Rio de Janeiro – Caci­ca Jamopo­ty Tupinam­bá e rep­re­sen­tantes do seu povo assis­tem apre­sen­tação de artis­tas circens­es do Uni­cir­co — Foto Fernan­do Frazão/Agência Brasil

“Esse diál­o­go, que usa a arte e a edu­cação como platafor­ma, é muito potente e muito necessário no momen­to que a humanidade está viven­do”, disse Luís.

“A Baía de Gua­n­abara era dom­i­na­da pelos tupinam­bás antes da chega­da dos ibéri­cos. Se os ibéri­cos não tivessem naque­le momen­to, o Brasil pode­ria ser uma grande nação tupinam­bá. Lúdi­ca, brin­cal­hona, que val­oriza muito a cul­tura, a cri­ança que existe em cada um, guer­reira, afir­ma­ti­va, lid­er­a­da por grandes caciques”.

Celebração oficial

A cer­imô­nia des­ta quin­ta-feira (12) vai cel­e­brar, em frente ao Museu Nacional, o retorno do Man­to Tupinam­bá. O even­to vai ter a pre­sença do pres­i­dente Luiz Iná­cio Lula da Sil­va. Ele foi orga­ni­za­do pelos min­istérios dos Povos Indí­ge­nas, da Edu­cação e da Cul­tura, com a colab­o­ração do Min­istério das Relações Exte­ri­ores e par­tic­i­pação de lid­er­anças do povo Tupinam­bá.

Rio de Janeiro (RJ) 11/09/2024 – Indígenas do povo tupinambá que vieram receber o Manto Tupinambá no Museu Nacional assistem apresentação de artistas circenses do Unicirco e os convidam para ritual no picadeiro. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Repro­dução: Rio de Janeiro – Indí­ge­nas do povo tupinam­bá que vier­am rece­ber o Man­to Tupinam­bá no Museu Nacional assis­tem apre­sen­tação de artis­tas circens­es do Uni­cir­co — Foto Fer­nan­do Frazão/Agência Brasil

O man­to retornou do Museu Nacional da Dina­mar­ca no dia 11 de jul­ho. E está insta­l­a­do na Bib­liote­ca Cen­tral do Museu Nacional. A devolução teve artic­u­lações entre insti­tu­ições de Brasil e Dina­mar­ca, como o Min­istério das Relações Exte­ri­ores, por meio da Embaix­a­da do Brasil na Dina­mar­ca, museus dos dois país­es e rep­re­sen­tantes tupinam­bás.

Manto tupinambá

O man­to tupinam­bá tem 1,80m de altura e mil­hares de penas ver­mel­has de pás­saros guará. Esta­va guarda­do ao lado de out­ros qua­tro man­tos no Museu Nacional da Dina­mar­ca. Chegou a Copen­h­ague em 1689, mas foi provavel­mente pro­duzi­do quase um sécu­lo antes.

Artefatos tupis foram lev­a­dos à Europa des­de a primeira viagem por­tugue­sa ao Brasil e o proces­so con­tin­u­ou ao lon­go das décadas seguintes, como evidên­cias da “descober­ta” do novo ter­ritório e como itens valiosos para coleções europeias.

Manto Tupinambá. Foto: Museu Nacional da Dinamarca
Repro­dução: Man­to Tupinam­bá. Divulgação/Museu Nacional da Dina­mar­ca

Além do val­or estéti­co e históri­co para o Brasil, a doação da peça rep­re­sen­ta o res­gate de uma memória tran­scen­den­tal para o povo tupinam­bá, já que eles con­sid­er­am o man­to um mate­r­i­al vivo, capaz de conec­tá-los dire­ta­mente com os ances­trais e as práti­cas cul­tur­ais do pas­sa­do.

Acred­i­ta-se que o povo tupinam­bá não con­fec­cione esse man­to há alguns sécu­los, já que ele só aparece nas ima­gens dos cro­nistas do sécu­lo 16.

Instituto Unicirco

O Insti­tu­to Uni­cir­co foi fun­da­do em 1995 pelo ator Mar­cos Fro­ta, pen­sa­do como um lugar para desen­volver as artes circens­es e ofer­e­cer opor­tu­nidades para pes­soas em situ­ação de vul­ner­a­bil­i­dade social. Por isso, se con­sid­era tam­bém um sis­tema aber­to de edu­cação para cri­anças, ado­les­centes e jovens.

A orga­ni­za­ção defende o cir­co como instru­men­to de pro­moção de cidada­nia. Nesse sen­ti­do, ofer­ece pro­je­tos de capac­i­tação, profis­sion­al­iza­ção, pesquisa e pro­dução de espetácu­los. A sede do Uni­cir­co fica no Par­que Munic­i­pal da Quin­ta da Boa Vista des­de 2010.

Edição: Car­oli­na Pimentel

LOGO AG BRASIL

Você pode Gostar de:

Central de atendimento telefônico do INSS não funciona neste sábado

Feriado nacional suspende atendimento pelo canal 135 Agên­cia Brasil Pub­li­ca­do em 12/10/2024 — 08:33 Brasília …