...
terça-feira ,19 março 2024
Home / Meio Ambiente / Tüv Süd reservou 28,5 mi de euros para lidar com processos de tragédia

Tüv Süd reservou 28,5 mi de euros para lidar com processos de tragédia

Residents are seen in an area next to a dam owned by Brazilian miner Vale SA that burst, in Brumadinho, Brazil January 25, 2019. REUTERS/Washington Alves
© REUTERS/Washington Alves/Direitos Reser­va­dos (Repro­du­ção)

Empresa assinou laudo de estabilidade da barragem de Brumadinho


Publi­ca­do em 25/01/2021 — 06:02 Por Léo Rodri­gues — Repór­ter da Agên­cia Bra­sil — Rio de Janei­ro

A Tüv Süd, empre­sa ale­mã que assi­nou o lau­do de esta­bi­li­da­de da bar­ra­gem da Vale que se rom­peu em Bru­ma­di­nho (MG), reser­vou 28,5 milhões de euros em pro­vi­sões para cus­tos de defe­sa e con­sul­to­ri­as judi­ci­ais em pro­ces­sos envol­ven­do a tra­gé­dia. Esse é um dos pou­cos dados sobre o epi­só­dio que cons­tam em seu últi­mo balan­ço finan­cei­ro, publi­ca­do em inglês e ale­mão. Dife­ren­te da Vale, a Tüv Süd não tem divul­ga­do rela­tó­ri­os sobre inde­ni­za­ções e gas­tos com a repa­ra­ção e não se sabe qual a fatia de sua con­tri­bui­ção no pro­ces­so de repa­ra­ção.

Ques­ti­o­na­da sobre essas infor­ma­ções, a empre­sa se nega a dar deta­lhes. “A Tüv Süd con­ti­nua ofe­re­cen­do sua coo­pe­ra­ção às auto­ri­da­des e ins­ti­tui­ções no Bra­sil e na Ale­ma­nha no con­tex­to das inves­ti­ga­ções em anda­men­to. Enquan­to os pro­ces­sos legais e ofi­ci­ais ain­da esti­ve­rem em cur­so, a Tüv Süd não pode­rá for­ne­cer mais infor­ma­ções sobre o caso”, diz em nota.

O rom­pi­men­to da bar­ra­gem, que dei­xou 270 mor­tos e cau­sou impac­tos em diver­sos muni­cí­pi­os, com­ple­ta hoje (25) dois anos. O Minis­té­rio Públi­co de Minas Gerais (MPMG) sus­ten­ta que a Tüv Süd é cor­res­pon­sá­vel pela tra­gé­dia. A denún­cia apre­sen­ta­da à Jus­ti­ça minei­ra apon­tou um con­luio entre a Vale e a Tüv Süd. Ambas as empre­sas foram acu­sa­das de assu­mi­rem os ris­cos de rom­pi­men­to por­que teri­am conhe­ci­men­to da situ­a­ção crí­ti­ca da bar­ra­gem, mas não com­par­ti­lha­ram as infor­ma­ções com o poder públi­co e com a soci­e­da­de.

denún­cia foi acei­ta pela Jus­ti­ça minei­ra em feve­rei­ro de 2020, trans­for­man­do 16 pes­so­as em réus: 11 fun­ci­o­ná­ri­os da Vale e cin­co da Tüv Süd. Entre eles, está o exe­cu­ti­vo ale­mão Chris-Peter Mei­er. Ele tra­ba­lha na Ale­ma­nha e já infor­mou que não pre­ten­de vir ao Bra­sil para pres­tar depoi­men­to. De acor­do com a denún­cia do MPMG, Mei­er desem­pe­nhou papel impor­tan­te na deci­são de assi­nar o lau­do de esta­bi­li­da­de que dava res­pal­do para a ope­ra­ção da bar­ra­gem que se rom­peu. Sem esse docu­men­to, a Vale seria obri­ga­da a para­li­sar a estru­tu­ra.

Após tra­gé­dia, não ape­nas a Tüv Süd como outras empre­sas de con­sul­to­ria con­tra­ta­das pela Vale pas­sa­ram a revi­sar seus estu­dos e colo­ca­ram em dúvi­da a esta­bi­li­da­de de outras bar­ra­gens no esta­do de Minas Gerais. Em algu­mas cida­des, essa rea­va­li­a­ção cons­ta­tou a exis­tên­cia de ris­cos de rup­tu­ra em algu­mas estru­tu­ras, tor­nan­do neces­sá­ria a rea­li­za­ção de eva­cu­a­ções pre­ven­ti­vas. Em maio de 2019, a Tüv Süd foi proi­bi­da pela Jus­ti­ça de emi­tir novos lau­dos.

O pró­xi­mo balan­ço da empre­sa deve ser publi­ca­do em mar­ço e tra­zer os dados refe­ren­te ao ano de 2020. No últi­mo rela­tó­rio, publi­ca­do no ano pas­sa­do, a Tüv Süd infor­ma sobre a exis­tên­cia de pro­ces­sos judi­ci­ais plei­te­an­do per­das e danos e diz ser pro­vá­vel que novas ações sejam movi­das. A empre­sa comu­ni­ca tam­bém estar rea­li­zan­do uma inves­ti­ga­ção inter­na e ava­lia que “os fato­res de influên­cia a serem con­si­de­ra­dos em uma dis­pu­ta legal são mul­ti­fa­ce­ta­dos”.

O rela­tó­rio colo­ca em dúvi­da a capa­ci­da­de da sub­si­diá­ria bra­si­lei­ra de con­ti­nu­ar ope­ran­do na hipó­te­se de ser res­pon­sa­bi­li­za­da pelo rom­pi­men­to. “Caso o resul­ta­do dos pro­ces­sos judi­ci­ais seja pre­ju­di­ci­al à Tüv Süd, isso pode resul­tar em danos subs­tan­ci­ais e outros paga­men­tos que podem ter um impac­to nega­ti­vo sig­ni­fi­ca­ti­vo sobre o desem­pe­nho e a posi­ção finan­cei­ra do gru­po”, regis­tra o docu­men­to.

satelite-explicacao-brumadinho

Bru­ma­di­nho, Minas Gerais. — Arte/Agência Bra­sil (Repro­du­ção)

Ação na Alemanha

Além de res­pon­der pela tra­gé­dia nos tri­bu­nais bra­si­lei­ros, a Tüv Süd tam­bém é alvo de uma ação judi­ci­al na Ale­ma­nha. Dois escri­tó­ri­os estão à fren­te des­se pro­ces­so: o anglo-ame­ri­ca­no PGMBM Law e o ale­mão Man­ner Span­gen­berg. Eles repre­sen­tam mais de 1,1 mil cli­en­tes, incluin­do fami­li­a­res de alguns mor­tos e sobre­vi­ven­tes da tra­gé­dia. Além das pes­so­as físi­cas, os muni­cí­pi­os minei­ros de Bru­ma­di­nho e Mario Cam­pos tam­bém ade­ri­ram à ação, bus­can­do inde­ni­za­ção por danos ambi­en­tais e econô­mi­cos.

O valor da cau­sa ain­da será esti­ma­do e deve­rá cobrir tan­to danos morais como mate­ri­ais. O pro­ces­so tra­mi­ta des­de outu­bro de 2019 no Tri­bu­nal Regi­o­nal de Muni­que, cida­de onde está sedi­a­da a Tüv Süd. Está em cur­so uma aná­li­se que deve­rá indi­car se a Tüv Süd teve res­pon­sa­bi­li­da­de na tra­gé­dia, pré-requi­si­to para que a tra­mi­ta­ção pos­sa con­ti­nu­ar.

O PGMBM Law, um dos dois escri­tó­ri­os envol­vi­dos no pro­ces­so, é o mes­mo que está à fren­te de uma ação no Rei­no Uni­do envol­ven­do a tra­gé­dia de Mari­a­na (MG). No epi­só­dio, ocor­ri­do em novem­bro de 2015, 19 pes­so­as mor­re­ram e deze­nas de cida­des na bacia do Rio Doce foram impac­ta­das após o rom­pi­men­to de uma bar­ra­gem da Samar­co. Nes­ta ação, os atin­gi­dos cobram inde­ni­za­ção da empre­sa anglo-aus­tra­li­a­na BHP Bil­li­ton, que tem uma de suas sedes inter­na­ci­o­nais em Lon­dres. Ela é, ao lado da Vale, con­tro­la­do­ra da Samar­co.

Além de enfren­tar um pro­ces­so na esfe­ra cível, a Tüv Süd tam­bém foi alvo de uma quei­xa cri­mi­nal apre­sen­ta­da na Ale­ma­nha em outu­bro de 2019 por inte­gran­tes da Asso­ci­a­ção dos Fami­li­a­res de Víti­mas e Atin­gi­dos pelo Rom­pi­men­to da Bar­ra­gem em Bru­ma­di­nho (Ava­brum). A medi­da foi apoi­a­da por uma coa­li­zão de enti­da­des naci­o­nais e inter­na­ci­o­nais. Entre elas, estão a Arti­cu­la­ção Inter­na­ci­o­nal dos Atin­gi­dos pela Vale, a Asso­ci­a­ção Comu­ni­tá­ria da Jan­ga­da, o Cen­tro Euro­peu para os Direi­tos Huma­nos e Cons­ti­tu­ci­o­nais (ECCHR) e a Mise­re­or, uma orga­ni­za­ção dos bis­pos cató­li­cos ale­mães.

Edi­ção: Fábio Mas­sal­li

LOGO AG BRASIL

Você pode Gostar de:

Baleado na rodoviária do Rio não fará cirurgia: quadro é crítico

Repro­du­ção: © TV Bra­sil Bruno Lima da Costa foi atingido por três tiros Publicado em …