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Um ano após morte de Dom e Bruno, indígenas pedem investigação ampla

Repro­dução: © Arte/Agência Brasil

Univaja cobra políticas para garantir segurança no Vale do Javari


Pub­li­ca­do em 05/06/2023 — 06:30 Por Well­ton Máx­i­mo – Repórter da Agên­cia Brasil* — Brasília

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No aniver­sário de um ano do assas­si­na­to do indi­genista Bruno Pereira e do jor­nal­ista britâni­co Dom Phillips, no Vale do Javari (AM), as reivin­di­cações prin­ci­pais da pop­u­lação indí­ge­na não mudaram. Os pedi­dos de inves­ti­gação mais apu­ra­da sobre o crime e de políti­cas públi­cas que garan­tam a segu­rança na região con­tin­u­am na ordem do dia.

Segun­da maior ter­ra indí­ge­na do brasil, o Vale do Javari fica nos municí­pios de Ata­la­ia do Norte e Gua­jará, no Ama­zonas. A região abri­ga a maior con­cen­tração de povos iso­la­dos em todo o mun­do, com 64 aldeias de 26 povos e cer­ca de 6,3 mil pes­soas, mas enfrenta prob­le­mas como a pesca ile­gal, a reti­ra­da de madeira e o nar­cotrá­fi­co.

O procu­rador jurídi­co da União dos Povos Indí­ge­nas do Vale do Javari (Uni­va­ja), Eliesio Marubo, diz que a inves­ti­gação deve ser abrangente e não se con­cen­trar ape­nas nos autores do crime, mas nos agentes que apoiam ativi­dades pre­datórias no Vale do Javari.

“A questão da inves­ti­gação em cima do grupo que dá sus­ten­tação políti­ca àquele con­jun­to de ativi­dades ile­gais que fun­cionam na região. Um out­ro pon­to que tam­bém é necessário que se inves­tigue é o cam­in­ho do crime na região. É necessário que essa inves­ti­gação anal­isan­do ess­es dois pon­tos acon­teça jus­ta­mente para que a gente garan­ta a segu­rança da região, não só para ter­ra indí­ge­na como tam­bém para a pop­u­lação do entorno”, diz Marubo.

O rep­re­sen­tante da Uni­va­ja tam­bém pede mais artic­u­lação entre as políti­cas de Esta­do para pro­por­cionar, de for­ma per­ma­nente, segu­rança para as pop­u­lações nati­vas do Vale do Javari. Ele se queixa de que medi­das sug­eri­das durante a tran­sição para o atu­al gov­er­no ain­da não saíram do papel.

“O poli­ci­a­men­to osten­si­vo nos moldes que nós pro­puse­mos ao gov­er­no, ao atu­al gov­er­no, na comis­são de tran­sição, a pri­or­i­dade que nós indicamos den­tro dos 100 dias de gov­er­no tam­bém não acon­te­ce­r­am e isso faz com que a região fique mais vul­neráv­el”, declara.

Providências

Para a pres­i­den­ta da Fun­dação Nacional dos Povos Indí­ge­nas (Funai), Joe­nia Wapichana, é pre­ciso reforçar as estru­turas e garan­tir uma políti­ca mais per­ma­nente na região. Para isso, o órgão ajus­ta um ter­mo de coop­er­ação entre orga­ni­za­ções indí­ge­nas e con­ta com a aju­da de todo o gov­er­no.

“É necessário inve­stir para que haja pri­or­i­dade para faz­er o for­t­alec­i­men­to dessas fas­es, em que os out­ros órgãos dos min­istérios pos­sam tam­bém com­par­til­har a respon­s­abil­i­dade de uma políti­ca de pro­teção mais per­ma­nente. E que pos­sa ter tam­bém respeito a ess­es dire­itos por parte do próprio Esta­do nas ter­ras indí­ge­nas”, diz Wapichana.

Na últi­ma sex­ta-feira (2), o Min­istério dos Povos Indí­ge­nas criou um grupo de tra­bal­ho para com­bat­er a crim­i­nal­i­dade na região. O grupo será for­ma­do por dez min­istérios, Funai, Insti­tu­to Brasileiro do Meio Ambi­ente e dos Recur­sos Nat­u­rais Ren­ováveis (Iba­ma) e terá rep­re­sen­tantes do Min­istério Públi­co Fed­er­al, da Defen­so­ria Públi­ca da União, da Artic­u­lação dos Povos Indí­ge­nas do Brasil e da própria Uni­va­ja.

Wapichana, crit­i­ca a gestão ante­ri­or do órgão. Ela diz que a fis­cal­iza­ção e o diál­o­go com os indí­ge­nas foram deix­a­dos de lado e con­sid­era que a fun­dação teve respon­s­abil­i­dade no crime. “Se eu estou ven­do que há uma ameaça de morte, ameaça a servi­dores, eu ten­ho que cam­in­har para enten­der. Depende de uma força de segu­rança. Dig­amos assim, [uma força] para que dê suporte a essa segu­rança. Então assim, naque­le momen­to é que mais frágil em que se deu a morte de Bruno, não hou­ve condições de pro­teção seu próprio servi­dor”, anal­isa.

Justiça

Foi exata­mente a bus­ca de Dom e de Bruno por provas con­tra crim­i­nosos no Vale do Javari que motivou o assas­si­na­to. Sus­peito de ser o man­dante do crime, o empresário Rubens Vil­lar Pereira foi pos­to em liber­dade pro­visória em out­ubro do ano pas­sa­do medi­ante fiança de R$ 15 mil.

Atual­mente, três pes­soas acu­sadas de par­tic­i­pação nas mortes estão pre­sas, aguardan­do jul­ga­men­to. No mês pas­sa­do, a 4ª Tur­ma do Tri­bunal Region­al Fed­er­al da 1ª Região (TRF1) decid­iu col­her novos depoi­men­tos dos réus Amar­il­do da Cos­ta Oliveira, Oseney da Cos­ta Oliveira e Jef­fer­son da Sil­va Lima, que tiver­am o primeiro depoi­men­to anu­la­do. As autori­dades poli­ci­ais colo­caram sob sus­pei­ta pelo menos oito pes­soas, por pos­sív­el par­tic­i­pação nos homicí­dios e na ocul­tação dos cadáveres.

Há três sem­anas, o ex-pres­i­dente da Funai Marce­lo Xavier foi indi­ci­a­do por omis­são no caso. O ex-vice pres­i­dente Alcir Ama­r­al Teix­eira tam­bém foi indi­ci­a­do. A Polí­cia Fed­er­al con­sid­era que o órgão não tomou providên­cia após saber do risco que o indi­genista cor­ria.

Legados

Como recor­dação, os ami­gos e par­entes guardam as últi­mas fotos dos dois com vida. As ima­gens foram recu­per­adas do celu­lar de Bruno, encon­tra­do por indí­ge­nas do Vale do Javari qua­tro meses após o assas­si­na­to.

Bruno Pereira e Dom Phillips foram mor­tos em 5 de jun­ho do ano pas­sa­do, quan­do via­javam para entre­vis­tar líderes indí­ge­nas e ribeir­in­hos em comu­nidades próx­i­mas ao Vale do Javari. O jor­nal­ista prepar­a­va um livro sobre a Amazô­nia. Licen­ci­a­do da Funai des­de 2020, o expe­ri­ente indi­genista tra­bal­ha­va como con­sul­tor téc­ni­co da Uni­va­ja e acom­pan­ha­va Dom Phillips na mis­são.

Des­de que con­heceu a Amazô­nia, em 1998, Dom se encan­tou pelo local. “Acho que todo mun­do que vai para a Amazô­nia assim fica um pouco impacta­do porque é uma grandiosi­dade de vida ali, né? O Dom se deu con­ta dis­so tan­to que ele fala­va, né? Ele fala­va que via Deus na natureza”, recor­da a viú­va do jor­nal­ista britâni­co, Alessan­dra Sam­paio.

Em relação a Bruno Pereira, Eliesio Marubo lem­bra que o servi­dor licen­ci­a­do da Funai tin­ha uma atu­ação com­ple­ta, que não se restringia ao estu­do das comu­nidades indí­ge­nas. “O Bruno é con­sid­er­a­do um grande nome do indi­genis­mo brasileiro, pois sua atu­ação não esta­va cal­ca­da ape­nas no tra­bal­ho em si. Há toda uma pre­ocu­pação não só com os povos indí­ge­nas, mas tam­bém com as comu­nidades do entorno das ter­ras indí­ge­nas”, ressalta.

Segun­do a viú­va de Dom Phillips, o respeito aos povos indí­ge­nas e da Amazô­nia é um dos lega­dos que o jor­nal­ista e o indi­genista deixaram para o mun­do. “Acho que o Dom e o Bruno viram isso clara­mente. Con­vivi­am com essas pes­soas, com as riquezas que essas pes­soas trazi­am, como apren­der com a natureza. Acho que a gente perdeu a conexão com a natureza e parou de apren­der com ela. O lega­do é a gente voltar a olhar para a natureza e enten­der que somos a natureza tam­bém”, con­clui Alessan­dra.

*Com infor­mações da TV Brasil

Edição: Juliana Andrade

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