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Um em cada cem nascidos tem cardiopatia congênita em todo o mundo

Repro­du­ção: © Arquivo/Agência Bra­sil

Diagnóstico precoce é fundamental para um tratamento adequado


Publi­ca­do em 06/08/2022 — 13:08 Por Heloí­sa Cris­tal­do — Repór­ter da Agên­cia Bra­sil — Bra­sí­lia

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Em todo o mun­do, um em cada cem nas­ci­dos tem car­di­o­pa­tia con­gê­ni­ta, segun­do a Ame­ri­can Heart Asso­ci­a­ti­on, che­gan­do a 1,35 milhão de doen­tes por ano. O acom­pa­nha­men­to pré-natal e o diag­nós­ti­co pre­co­ce são fun­da­men­tais para o tra­ta­men­to ade­qua­do de bebês com o pro­ble­ma.

Segun­do o dire­tor aca­dê­mi­co da Esco­la Bra­si­lei­ra de Medi­ci­na (Ebra­med), Leo­nar­do Jor­ge Cor­dei­ro, a car­di­o­pa­tia con­gê­ni­ta é uma mal­for­ma­ção ou incom­ple­ta for­ma­ção do cora­ção e do sis­te­ma cir­cu­la­tó­rio, que pode ocor­rer nas pri­mei­ras oito sema­nas de ges­ta­ção, fase do desen­vol­vi­men­to embri­o­ná­rio car­día­co.

“Com a com­ple­xi­da­de do sis­te­ma car­di­o­cir­cu­la­tó­rio, as alte­ra­ções podem ser as mais diver­sas, pois podem se dar pela for­ma­ção errá­ti­ca ou mes­mo não desen­vol­vi­men­to tan­to de cavi­da­des do cora­ção, como pro­ble­mas nas vál­vu­las, vei­as e arté­ri­as rela­ci­o­na­dos com o cora­ção”, expli­cou.

As car­di­o­pa­ti­as con­gê­ni­tas são divi­di­das em cia­nó­ti­cas e aci­a­nó­ti­cas. Assim como os demais tipos de doen­ças car­día­cas, há dife­ren­tes graus de com­pro­me­ti­men­to. Assim como há dife­ren­tes tipos de tra­ta­men­tos, pro­ce­di­men­tos e cirur­gi­as. Para des­co­brir se um bebê já desen­vol­ve o pro­ble­ma, o diag­nós­ti­co é fei­to por um eco­car­di­o­gra­ma trans­to­rá­ci­co, com dop­pler colo­ri­do, pre­fe­ren­ci­al­men­te por um médi­co espe­ci­a­li­za­do em pato­lo­gi­as con­gê­ni­tas.

O cora­ção de um bebê já está com a for­ma­ção com­ple­ta por vol­ta de 20 sema­nas de gra­vi­dez, momen­to no qual cos­tu­ma ser rea­li­za­do o ultras­som mor­fo­ló­gi­co pelo pré-natal. De acor­do com o car­di­o­lo­gis­ta, soci­e­da­des liga­das à obs­te­trí­cia e car­di­o­lo­gia pediá­tri­ca e con­gê­ni­ta são favo­rá­veis a rea­li­za­ção de eco­car­di­o­gra­ma fetal, ou seja, com a cri­an­ça den­tro do úte­ro, de for­ma roti­nei­ra nas ges­ta­ções em geral, mes­mo quan­do não há uma sus­pei­ta for­te de pro­ble­mas car­día­cos duran­te o ultras­som mor­fo­ló­gi­co.

Fatores

Segun­do Cor­dei­ro, não há um fator espe­cí­fi­co asso­ci­a­do ao desen­vol­vi­men­to de uma car­di­o­pa­tia con­gê­ni­ta. Há fato­res que aumen­tam a chan­ce de pro­ble­mas de desen­vol­vi­men­to car­día­co, como doen­ças crô­ni­cas mater­nas, como dia­be­tes mel­li­tus e lúpus eri­te­ma­to­so sis­tê­mi­co, assim como a infec­ção por rubéo­la, podem afe­tar o desen­vol­vi­men­to do cora­ção fetal nes­sas pri­mei­ras oito sema­nas do feto. Tam­bém medi­ca­ções como o lítio, cer­tos anti­con­vul­si­van­tes e mes­mo dro­gas ilí­ci­tas podem levar a mal for­ma­ção.

Tam­bém são con­si­de­ra­dos fato­res de ris­co a gra­vi­dez geme­lar e a fer­ti­li­za­ção in vitro. Além des­sas con­di­ções, his­tó­ri­co de car­di­o­pa­tia con­gê­ni­ta pré­via ou em paren­tes de pri­mei­ro grau, tam­bém se mos­tram como fato­res para mai­or inci­dên­cia de alte­ra­ções car­día­cas nos bebês.

De acor­do com espe­ci­a­lis­ta, qual­quer doen­ça car­día­ca que seja diag­nos­ti­ca­da mais tar­di­a­men­te, e não tenha rela­ção com o desen­vol­vi­men­to embri­o­ná­rio do cora­ção, rece­be o nome de car­di­o­pa­tia adqui­ri­da.

Tratamento

Os sin­to­mas podem ser divi­di­dos de acor­do com a mani­fes­ta­ção da doen­ça no bebê. Em casos de recém-nas­ci­dos, há difi­cul­da­de de mamar, can­sa­ço, cora­ção ace­le­ra­do, suor exces­si­vo na cabe­ça e nos pés. No pri­mei­ro ano de vida, há difi­cul­da­de de ganho de peso, pro­ble­mas com o cres­ci­men­to e apa­re­ci­men­to de sopro no cora­ção, cia­no­se (quan­do a cri­an­ça fica com apa­rên­cia roxa), des­maio, dor no pei­to e pal­pi­ta­ções.

Para o tra­ta­men­to pode não haver a neces­si­da­de de inter­ven­ção cirúr­gi­ca, ou até pre­ci­sar de três ou mais cirur­gi­as para cor­re­ção dos flu­xos san­guí­ne­os do paci­en­te. Além dis­so, há pos­si­bi­li­da­de de as cirur­gi­as serem cura­ti­vas, ou seja, rees­ta­be­le­cem o sis­te­ma car­día­co habi­tu­al, levan­do a cura do indi­ví­duo, ou pali­a­ti­vas.

“A vida de um car­di­o­pa­ta con­gê­ni­to depen­de tan­to do diag­nós­ti­co do tipo de car­di­o­pa­tia, quan­to da pre­co­ci­da­de do diag­nós­ti­co e do tra­ta­men­to rea­li­za­do. Exis­tem algu­mas con­di­ções que sequer neces­si­tam de cirur­gia, de for­ma que a vida segue total­men­te nor­mal, mas temos tam­bém casos de car­di­o­pa­ti­as bas­tan­te com­ple­xas que foram pre­co­ce­men­te diag­nos­ti­ca­das e pas­sa­ram por todos os pro­ce­di­men­tos neces­sá­ri­os nos momen­tos ade­qua­dos”, expli­cou o car­di­o­lo­gis­ta.

Panorama

De acor­do com a Orga­ni­za­ção Mun­di­al da Saú­de (OMS), cer­ca de 130 milhões de cri­an­ças no mun­do têm algum tipo de car­di­o­pa­tia con­gê­ni­ta. No Bra­sil, segun­do o Minis­té­rio da Saú­de, cer­ca de 29 mil cri­an­ças nas­cem com car­di­o­pa­tia con­gê­ni­ta por ano – des­sas, cer­ca de 23 mil pre­ci­sa­rão de cirur­gia para tra­tar o pro­ble­ma. Nas regiões Sul e Sudes­te, apro­xi­ma­da­men­te 80% das cri­an­ças car­di­o­pa­tas são diag­nos­ti­ca­das e tra­ta­das. O cená­rio no Nor­te e Nor­des­te é o opos­to, no qual até 80% des­sas cri­an­ças não con­se­guem diag­nós­ti­co nem tra­ta­men­to.

Em mui­tos casos, as famí­li­as só iden­ti­fi­cam que o bebê tem algum pro­ble­ma no cora­ção após o nas­ci­men­to, quan­do o tes­te do cora­ção­zi­nho é rea­li­za­do. Rea­li­za­do nos pri­mei­ros dias de vida, ain­da na mater­ni­da­de, o exa­me é fei­to com um oxí­me­tro, que mede o nível de oxi­gê­nio no san­gue do bebê e seus bati­men­tos car­día­cos. O tes­te é de bai­xo cus­to, rápi­do, não inva­si­vo, indo­lor e obri­ga­tó­rio, ofe­re­ci­do pelo Sis­te­ma Úni­co de Saú­de (SUS).

Edi­ção: Ali­ne Leal

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