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“Um marco na minha vida”, diz Alcione sobre exposição em São Luís

Cantora contou um pouco da trajetória dela em entrevista à ABr

Luciano Nasci­men­to — Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 15/02/2025 — 11:40
São Luís
Brasília (DF) 13/02/2025 - Exposição 50 anos Alcione. Frame Alcione/Instagram
Repro­dução: © Alcione Insta­gram

“Essa exposição e um luxo! Acho que artista nen­hum merece mor­rer sem ter uma exposição des­ta”. É assim que a can­to­ra maran­hense Alcione resume o sen­ti­men­to por ser tema de uma mostra em comem­o­ração aos mais de 50 anos de car­reira. E com 42 álbuns lança­dos e e uma tra­jetória de suces­so, ela con­ta em entre­vista à Agên­cia Brasil que prepara um dis­co para ser lança­do no primeiro semes­tre de 2025.

Bati­za­da de Com amor, Alcione, a exposição está disponív­el no Cen­tro Cul­tur­al Vale Maran­hão, no cen­tro históri­co de São Luís, cidade natal da Mar­rom, com reg­istros de apre­sen­tações da can­to­ra em mais de 30 país­es, do cotid­i­ano, das parce­rias e rende uma jus­ta hom­e­nagem à obra de uma das maiores vozes brasileiras.

Brasília (DF) 13/02/2025 - Exposição 50 anos Alcione. Frame Alcione/Instagram
Repro­dução: Vis­i­tantes poderão ver fig­uri­nos usa­dos pela Mar­rom — Alcione Insta­gram

“Sou muito feliz pelo tra­bal­ho dessa exposição, ain­da mais por ter sido real­iza­da em São Luís”, cele­brou a can­to­ra durante entre­vista na aber­tu­ra

O roteiro leva o vis­i­tante a várias ver­sões da can­to­ra: os pas­sos da sam­bista nas ladeiras do Mor­ro de Mangueira, a amizade com os mais diver­sos artis­tas, as via­gens ao redor do mun­do e a amante da cul­tura maran­hense que gira ao som das matra­cas do bum­ba meu boi.

A Mar­rom se tornou con­heci­da do grande públi­co com a músi­ca Não deixe o sam­ba mor­rer (Edson Con­ceição e Aloí­sio Sil­va) , lança­da no dis­co de estreia A Voz do Sam­ba, em 1975. O álbum tam­bém traz out­ros suces­sos mar­cantes na car­reira de Alcione: O Sur­do (Toton­ho e Paulin­ho Rezende), e A Voz do Morro (Zé Két­ti), que inspirou o nome do dis­co.

A cidade de São Luís foi onde a can­to­ra cresceu e apren­deu valiosas lições com o pai, João Car­los Dias Nazareth. “São Luís foi muito impor­tante na min­ha vida. Porque aqui eu apren­di a con­viv­er com meus ami­gos, a con­vivên­cia que meu pai me ensi­nou, que a min­ha mãe me ensi­nou. Apren­di a ser, a repar­tir e tam­bém a me unir com meus irmãos”, con­tou.

Brasília (DF) 13/02/2025 - Exposição 50 anos Alcione. Frame Alcione/Instagram
Repro­dução: Alcione pas­seia pela exposição que a hom­e­nageia– Alcione Insta­gram

Aliás, foi com o pai, mestre da ban­da da Polí­cia Mil­i­tar do Maran­hão e pro­fes­sor de músi­ca, que a Mar­rom deu os primeiros pas­sos no mun­do da músi­ca. Essa cam­in­ha­da resul­tou em uma rica tra­jetória da maran­hens­es que gravou 42 álbuns, gan­hou 26 dis­cos de ouro, 7 de plati­na e dois de plati­na dupla, além de DVDs. Alcione tam­bém foi hom­e­nagea­da com vários prêmios durante a car­reira, um deles, o Gram­my Lati­no, em 2003 na cat­e­go­ria Mel­hor Álbum.

O fã que quis­er con­hecer mais a vida da Mar­rom poderá vis­i­tar a exposição até o dia 30 de agos­to. A hom­e­nagem ecoa as palavras do mestre Nel­son Cavaquin­ho, em Quan­do eu me chamar saudadePor isso é que eu pen­so assim: se alguém quis­er faz­er por mim, que faça ago­ra!

Brasília (DF) 13/02/2025 - Exposição 50 anos Alcione. Foto: Aydan Souza/Divulgação
Repro­dução: Can­to­ra con­cede entre­vista exclu­si­va à Agên­cia Brasil. Aydan Souza/Divulgação

Com difi­cul­dades de loco­moção dev­i­do a uma espondilolis­tese, doença que afe­ta a col­u­na, provo­can­do grande difi­cul­dade de movi­men­tação das per­nas, Alcione con­cedeu a entre­vista em uma cadeira de rodas. O “recur­so” foi uti­liza­do pela can­to­ra para des­cansar após cam­in­har por todo o espaço da exposição.

Acom­pan­he abaixo o bate-papo da Agên­cia Brasil com a can­to­ra, na aber­tu­ra da exposição.

Agên­cia Brasil — Você já viu aqui a exposição. O que você achou?

Alcione- É um luxo, é um luxo essa exposição. É um mar­co na min­ha vida. Muito agrade­ci­da, muito feliz por isso, muito. Gostei demais!

ABr - É um pas­seio pela memória…

Alcione - É um pas­seio pela min­ha vida, pas­seio pela memória da gente. Tudo. A min­ha família, meu tra­bal­ho, min­ha vida toda.

ABr - Então, voltan­do à sua car­reira, sua vida, você começou aqui no Grêmio Lítero Recre­ati­vo Por­tuguês. Como foi isso? Está vivo na sua memória?

Alcione - Ain­da está. Eu me lem­bro que a orques­tra do meu pai esta­va tocan­do. E meu irmão tam­bém era da orques­tra, ele era trompetista, Ubi­ratã. Foi quan­do o can­tor da nos­sa orques­tra ficou rouco, não pode can­tar nesse dia. Aí esse irmão disse: “olha, chame Alcione que Alcione can­ta dire­it­in­ho”. E meu pai: “é? É!”. Então eu fui can­tar: (can­taro­la) ‘Ao ver pas­sar por mim pom­bin­has bran­cas’ e eu gosta­va de Ângela Maria, Dal­va [de Oliveira]. Aí, meu Deus, o povo que esta­va dançan­do parou e começou a me aplaudir. E aí virou show. Daí por diante começaram a pedir a orques­tra do meu pai comi­go can­tan­do. Aí peguei gos­to.

ABr - E como foi ser mul­her nesse uni­ver­so? Você rompeu muitas bar­reiras para se afir­mar com a sua potên­cia?

Alcione - É ver­dade. Como eu disse, mul­her não ven­dia dis­co, né? A primeira mul­her a vender bas­tante dis­co foi a Clara Nunes. E aí, na época, ela vendeu 100 mil dis­cos. Depois veio Maria Bethâ­nia, com um mil­hão. E aí eu entrei na joga­da. Eu, Bete Car­val­ho, todas nós. Começamos a faz­er a con­cor­rên­cia na praça. E pron­to, teve o espaço da mul­her.

ABr - Hoje, as novas ger­ações escu­tam mais músi­ca na inter­net, no stream­ing. Antiga­mente, a gente tin­ha o rádio, né?

Alcione - É ver­dade. O rádio sem­pre foi o meio trans­mis­sor mais impor­tante do Brasil. Ain­da acho até hoje. O rádio é muito impor­tante. O rádio leva a notí­cia a qual­quer lugar. Em qual­quer lugar, na mata, não sei onde. Lá na Amazô­nia, o cara tem seu rad­in­ho de pil­ha. E tá escu­tan­do o rádio. O rádio é muito pos­i­ti­vo na vida do brasileiro.

Abr- O Rio de Janeiro se tornou sua casa. Você tem uma relação muito forte com a cidade, com o sam­ba e com a Mangueira. Ano pas­sa­do, inclu­sive, você foi hom­e­nagea­da sendo enre­do. Como foi essa exper­iên­cia de estar ali na aveni­da sendo hom­e­nagea­da?

Alcione - Isso é uma coisa muito forte. Você ser hom­e­nagea­da pela sua esco­la é uma respon­s­abil­i­dade. Fiz­er­am um tra­bal­ho muito boni­to. A Negra Voz do Aman­hã era o nome do enre­do. Foi muito boni­to. Eu me sen­ti super hom­e­nagea­da, super hom­e­nagea­da. Nos­sa Sen­ho­ra! Foi uma exper­iên­cia úni­ca.

ABr - Você tem tam­bém out­ra paixão, que é a Mangueira do Aman­hã.

Alcione - Aque­la eu fun­dei. Eu que criei a Mangueira do Aman­hã. Meus fil­hos. Hoje eles já são da Mangueira grande. Estão todos na bate­ria da Mangueira grande. Out­ros são mestres-sala, out­ros… Até a nos­sa rain­ha de bate­ria, a Eve­lyn, ela era da Mangueira do Aman­hã.

ABr - É impor­tante você con­seguir dar a pos­si­bil­i­dade dos jovens, da juven­tude, desen­volver as suas poten­cial­i­dades…

Alcione - Isso aí. Cri­ar a Mangueira de aman­hã. Que mar­avil­ha!

ABr — Sain­do do Rio e voltan­do para o Maran­hão. Como é São Luís na sua vida?

Alcione - São Luís foi muito impor­tante na min­ha vida. Porque aqui eu apren­di a con­viv­er com meus ami­gos, a con­vivên­cia que meu pai me ensi­nou, que a min­ha mãe me ensi­nou. Apren­di a ser, a repar­tir e tam­bém a me unir com meus irmãos. Meu pai uma vez pegou um cabo de vas­soura e que­brou assim na per­na. Ele falou: ‘vocês estão ven­do esse cabo de vas­soura? Eu pos­so que­brar um’. Pegou dois [pedaços] e não con­seguiu. ‘Se vocês per­manecerem unidos, vai ser como esse cabo de vas­soura. Ninguém vai sep­a­rar vocês’. Meu pai era assim.

ABr - Quan­do você está em São Luís, tem um lugar preferi­do?

Alcione - Aqui em São Luís eu gos­to muito de ir à pra­ia, olhar o mar. Tem coisa muito boa aqui no Maran­hão que é você já olhar o mar. E onde tiv­er um tam­bor de crioula tam­bém. Adoro tam­bor. Tam­bor de crioula.

ABr- O Maran­hão é muito forte, né? Cul­tural­mente.

Alcione - É muito ances­tral, é muito Maran­hão. Ninguém tem esse tam­bor no mun­do, só nós.

ABr- E comi­da? Qual é a comi­da preferi­da daqui?

Alcione - Cuxá. Arroz de cuxá, peixe frito, tor­ta de camarão. Chibé com far­in­ha d’água, chibé com jabá.

ABr- Já se foram cin­co décadas des­de que você deixou São Luís rumo ao Rio de Janeiro. Nesse inter­va­lo você con­stru­iu uma car­reira super vito­riosa e com um públi­co ecléti­co, de todas as faixas etárias. Como você vê isso?

Alcione - Eu acho que é uma questão de repertório tam­bém. Eu sem­pre tive essa lig­ação muito com todo mun­do. Eu sem­pre gostei de con­ver­sar no pal­co. O públi­co gos­ta de saber o que eu ten­ho para diz­er. Sei lá. Essas min­has estrip­u­lias, eles gostam.

ABr - As pes­soas se sen­tem muito próx­i­mas. Essa ener­gia faz com que as pes­soas se sin­tam como se fos­sem da sua casa…

Alcione - Isso. Essa é a intenção. Todo mun­do chegar per­to.

Abr - Que momen­tos da sua car­reira que você acha que são destaque, que foram mar­cantes? O que você destacaria?

Alcione- Para te diz­er a ver­dade, eu acho que foi quan­do eu can­tei ‘Não deixe o sam­ba mor­rer’. Essa músi­ca veio para mar­car. Quan­do eu ouvi essa músi­ca, eu disse: ‘gente, eu vou rachar o Brasil no meio com essa músi­ca’. E Não deixe o sam­ba mor­rer foi prati­ca­mente que mostrou a min­ha car­reira. Dali para adi­ante os com­pos­i­tores todos que­ri­am me dar músi­ca. E eu só que­ria a boa. E foi bom. Graças a Deus, sem­pre tive meus poet­as para me darem a músi­ca boa para can­tar.

ABr- Você tam­bém dá força para as novas ger­ações.

Alcione - Com certeza. É muito impor­tante. É muito impor­tante ter uma ger­ação aí escreven­do bem.

ABr– Tem que ter alguém para falar, né, ser a voz dessas pes­soas…

Alcione - Eu não sou a voz. Tem out­ros artis­tas. O Gilber­to Gil, sei que ele tam­bém engrandece muitos com­pos­i­tores dele. Cae­tano, sabe? Tem muitos artis­tas, can­tores, can­toras, que eles enal­te­cem o com­pos­i­tor. Gostam do bom com­pos­i­tor.

ABr - Recen­te­mente você rela­tou um episó­dio de racis­mo que você sofreu, como você vê essa questão hoje? A importân­cia de falar sobre isso, de a gente com­bat­er o racis­mo?

Alcione - É ver­dade. Essa fal­ta de cul­tura. Tan­to que eu sofri o racis­mo e rebati na hora. Às vezes hoje é difí­cil uma pes­soa ser racista comi­go. Primeiro porque eu ten­ho cara de tam­bor que aman­hece, meu fil­ho. Tá? Então, eu não vou bem ali para man­dar uma pes­soa para aque­le lugar. Eu não vou me obri­gar porque eu sou pre­to para ninguém. Tá cer­to?

ABr - Você já fez um bal­anço dess­es 50 anos de car­reira? O que a Alcione de hoje diria lá para a Mar­rom que esta­va começan­do?

Alcione - O que eu diria para aque­la que está começan­do? Pro­cure estu­dar. Pro­cure con­hecer a fun­do as obras dos com­pos­i­tores. Dê importân­cia a quem está começan­do. Prin­ci­pal­mente tam­bém dê importân­cia às letras das músi­cas. Graças a Deus eu me vi nesse cam­in­ho.

ABr - Ano pas­sa­do foram muitas apre­sen­tações, teatro munic­i­pal, teve DVD. Esse ano você tem algum pro­je­to pre­vis­to?

Alcione - O que eu vou faz­er esse ano? Eu ten­ho pre­vis­to um dis­co para esse ano. No primeiro semes­tre.

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