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Uma a cada três crianças tem perfil aberto em redes, alerta pesquisa

Dados foram divulgados nesta terça pela Unico e Instituto Locomotiva

Luiz Clau­dio Fer­reira – Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 28/01/2025 — 11:01
Brasília
Brasília (DF) 28/01/2025 - Os irmãos Clara Santana (10) e Pedro Santana (13), são vistos com celular na mão embaixo de um cobertor. Uma a cada 3 crianças tem perfil aberto em redes, alerta pesquisa Dados foram divulgados nesta terça pela Unico e Instituto Locomotiva Foto: Joédson Alves/Agência Brasil
Repro­dução: © Joéd­son Alves/Agência Brasil

Aos 12 anos, a meni­na não tira os olhos das inter­ações que chegam pela janelin­ha que car­rega nas mãos. Para ficar feliz, bas­ta o tele­fone celu­lar vibrar com algu­ma inter­ação ou novo seguidor. É por isso que a garo­ta, que mora em São Paulo (SP), mes­mo tão jovem, deixou o per­fil aber­to em redes como Insta­gram e Snapchat.

Isso quer diz­er que não é necessária autor­iza­ção para que qual­quer pes­soa pos­sa visu­alizar as posta­gens dela. Esse com­por­ta­men­to da meni­na, que é à rev­elia da família, deixa a mãe, a pub­lic­itária Suzana Oliveira, de 41, muito pre­ocu­pa­da.

Um lev­an­ta­men­to da empre­sa Uni­co, espe­cial­iza­da em iden­ti­dade dig­i­tal, e do Insti­tu­to de Pesquisas Loco­mo­ti­va, divul­ga­da nes­ta terça (28), Dia Inter­na­cional da Pro­teção de Dados, mostra que o caso dessa meni­na está longe de ser uma rari­dade.  Segun­do a pesquisa, pelo menos uma a cada três con­tas atribuí­das a cri­anças e ado­les­centes de 7 a 17 anos de idade em redes soci­ais no Brasil têm per­fil “total­mente aber­to”.

A pesquisa divul­ga­da pelas enti­dades foi real­iza­da com a par­tic­i­pação de 2.006 respon­sáveis por cri­anças e ado­les­centes em todo o Brasil. O lev­an­ta­men­to ocor­reu entre os dias 9 e 24 de out­ubro de 2024, com uma margem de erro de 2,2 pon­tos per­centu­ais.

“Sem controle”

Entre out­ros dados que deix­am as famílias em aler­ta é que quase metade (47%) desse públi­co não con­tro­la os seguidores nas redes soci­ais (jovens que adi­cionam qual­quer pes­soa à con­ta e inter­agem com descon­heci­dos). Isso tem tira­do o sono de Suzana, a mãe da cri­ança paulis­tana.

Ela diz que tem mon­i­tora­do, via aplica­ti­vo, as ações da fil­ha e que restringe o tem­po na frente da tela peque­na. Só que a pressão tem sido moti­vo de lon­gos embat­es e estresse den­tro de casa.

“O hábito no celu­lar ger­ou crises de ansiedade, choro e mau humor. Min­ha fil­ha prat­i­ca ativi­dades esporti­vas com reg­u­lar­i­dade, mas, mes­mo assim, as redes soci­ais têm provo­ca­do danos à saúde dela”, con­ta a mãe.

Para a dire­to­ra de pro­teção de dados da Uni­co, Diana Trop­er, o per­centu­al de cri­anças com per­fil aber­to é assus­ta­dor: “essas infor­mações que estão pub­li­ca­mente acessíveis ou com facil­i­dade de aces­so são de pes­soas mais vul­neráveis e uti­lizadas para come­ti­men­to de novos crimes e fraudes”, afir­ma a espe­cial­ista.

O lev­an­ta­men­to rev­ela, por exem­p­lo, que 89% dos pais e mães acred­i­tam estar prepara­dos para garan­tir a pri­vaci­dade de dados, mas 73% descon­hecem ações que podem provo­car vaza­men­tos. O cenário, con­forme con­tex­tu­al­iza a pesquisa, é que 75% das cri­anças e ado­les­centes brasileiros têm um per­fil próprio em algu­ma rede social.

Ain­da sobre o com­por­ta­men­to, 61% dos fil­hos das pes­soas que respon­der­am a pesquisa têm práti­cas de exposição, como com­par­til­har fotos pes­soais e de famil­iares, mar­car local­iza­ções e iden­ti­ficar mem­bros da família nas platafor­mas.

Essa exposição inclui postar fotos em ambi­entes que fre­quen­tam (40% dos pesquisa­dos) e até usan­do uni­forme ou mar­can­do a esco­la que fre­quen­tam (33%).

Diana Trop­er adverte que, segun­do a Lei Ger­al de Pro­teção de Dados (LGPD), as infor­mações disponi­bi­lizadas em per­fis aber­tos ao públi­co não dev­e­ri­am ser cole­tadas sem que sejam obser­vadas as dev­i­das bases legais, o que incluiria a neces­si­dade do con­sen­ti­men­to dos usuários.

“Sabe­mos que fotos e infor­mações como locais fre­quen­ta­dos com­par­til­ha­dos nas redes podem cri­ar um mapa de vul­ner­a­bil­i­dades, que pode ser explo­rado por frau­dadores e pes­soas mal inten­cionadas”, afir­ma.

A maio­r­ia dos pais e respon­sáveis por menores de idade (86%), de acor­do com as respostas, con­cor­dam que devem edu­car os fil­hos sobre a pro­teção de dados para evi­tar prob­le­mas futur­os. Mas 73% deles descon­hecem os riscos de ações que podem oca­sion­ar vaza­men­to de dados.

Entenda os riscos

Os riscos, segun­do os orga­ni­zadores da pesquisa, incluem abrir links ou anex­os de e‑mails sem con­fir­mar a pro­cedên­cia, uti­lizar com­puta­dores públi­cos ou com­par­til­ha­dos, usar redes públi­cas de wi-fi, repe­tir as mes­mas sen­has em várias con­tas, baixar e insta­lar aplica­tivos de origem duvi­dosa no celu­lar e uti­lizar as infor­mações dos cartões de crédi­to físi­cos em sites e aplica­tivos (ao invés de ger­ar cartões vir­tu­ais tem­porários).

“A con­sci­en­ti­za­ção e a edu­cação dig­i­tal são os pilares para pro­te­ger as futuras ger­ações no ambi­ente online”, diz Diana Trop­er. Por isso, ela recomen­da que as con­tas ten­ham per­fis fecha­dos para evi­tar exposições que podem ser perigosas.

Receio

Brasília (DF) 28/01/2025 - Keila Santana com seu filhos, Clara Santana (10) e Pedro Santana (13). Uma a cada 3 crianças tem perfil aberto em redes, alerta pesquisa Dados foram divulgados nesta terça pela Unico e Instituto Locomotiva Foto: Keila Santana/Arquivo pessoal
Repro­dução: Keila San­tana com seu fil­hos, Clara San­tana (10) e Pedro San­tana (13). Foto: Keila Santana/Arquivo pes­soal

Na casa da brasiliense Keila San­tana, de 47 anos, nada de per­fil aber­to. O com­por­ta­men­to de Pedro, de 13 anos, é acom­pan­hado de per­to pela mãe e ele só pode nave­g­ar na nas redes duas horas por dia. As redes soci­ais, ele só uti­liza para con­ver­sar com os ami­gos. Sem posta­gens.

O meni­no fica de olho tam­bém no que a irmã caçu­la, Clara, de 10, faz com o celu­lar. “Eu cui­do tam­bém dela”, garante o meni­no. A mãe con­sid­era esse acom­pan­hamen­to um desafio.

Ela se pre­ocu­pa, espe­cial­mente, com os con­teú­dos que podem chegar até eles, incluin­do a repro­dução de padrões estéti­cos, que pode ger­ar ansiedade, por exem­p­lo.

Out­ra brasiliense, Luciana Alen­car, de 43 anos, diz que se pre­ocu­pa tam­bém com os dois fil­hos meni­nos e o sem-número de infor­mações que eles recebem.

“O que eu ten­ho muito medo é, além deles rece­berem con­teú­dos de mis­oginia, homo­fo­bia, entre pre­con­ceitos de raça e gênero de todos os tipos, eles se tornarem repli­cadores dessas infor­mações”.

Brasília (DF), 27/01/2025 - Crianças com perfil aberto em redes sociais. Ian Fernandes de Alencar. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil
Repro­dução: Ian Fer­nan­des de Alen­car — Bruno Peres/Agência Brasil

A família os edu­ca para não repro­duzir dis­cur­sos pre­con­ceitu­osos. “Min­ha luta é para que isso não acon­teça. É muito difí­cil vencer uma luta quan­do você não sabe nem com quem você está guer­re­an­do, porque são muitos cam­in­hos que chegam”.

Ian, o mais vel­ho, garante que a mãe pode ficar tran­quila: ele pre­tende ficar menos tem­po nas redes soci­ais, e mais tem­po jogan­do bola e con­ver­san­do com os ami­gos. Per­fil aber­to só pres­en­cial­mente.

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