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Uma bossa-nova de fazer música: estilo musical é celebrado hoje

Repro­dução: © Tomaz Silva/Agência Brasil

Publicado em 25/01/2022 — 06:46 Por Fabíola Sinimbú — Repórter da Agência Brasil — Brasília


A gíria do momen­to deu nome ao jeito novo de faz­er músi­ca na déca­da de 50, quan­do o ter­mo “bossa” era usa­do entre os jovens car­i­o­cas da zona sul, para diz­er que alguém lev­a­va jeito pra aqui­lo. Mas, emb­o­ra pos­sa pare­cer uma ideia pen­sa­da e elab­o­ra­da, o ter­mo foi cri­a­do quase que por aca­so. É o que con­ta o músi­co Rober­to Menescal: “A Sylv­in­ha Teles nos con­vi­dou pra dar uma can­ja na Hebraica, no Rio, e quan­do cheg­amos tin­ha um car­taz que dizia: ‘hoje, Sylvia Telles e o grupo Bossa Nova’. Eu achei que era um grupo que esta­va tocan­do para as pes­soas dançarem”, lem­bra.

Foi quan­do o jor­nal­ista que orga­ni­za­va o even­to, Moisés Fux, expli­cou que, como não sabia o nome pelo qual os músi­cos gostavam de ser chama­dos, havia escol­hi­do aque­le para por no car­taz. Rober­to lem­bra que, na mes­ma hora, con­cor­dou com a sug­estão do orga­ni­zador — ain­da mais depois que Ronal­do Bôs­coli, que esta­va no grupo, gos­tou da ideia. “Ele veio por trás e disse assim: ‘Beto, esse nome já é nos­so’”.

Leia tam­bém: 60 anos da bossa nova: reve­ja o espe­cial pub­li­ca­do pela Agên­cia Brasil em 2018

Naque­le dia, Bôs­coli subiu ao pal­co antes da apre­sen­tação e chamou o grupo: “Hoje eu quero apre­sen­tar a vocês, em primeira mão, o grupo Bossa Nova. Então, a gente já saiu de lá bossa nova”, diz Rober­to. Assim, o movi­men­to que começa­va entre os jovens artis­tas, inqui­etos com o sofri­men­to do sam­ba-canção que domi­na­va o cenário musi­cal da época, gan­ha­va um nome.

“A gente não sabia que era um movi­men­to. A gente se reu­nia e as pes­soas per­gun­tavam que tipo de músi­ca fazíamos. A gente faz um sam­ba, mas um sam­ba mais mod­er­no, com as har­mo­nias mais cur­tidas”, expli­ca Menescal (con­fi­ra na entre­vista em vídeo).

O rit­mo novo logo gan­hou o mun­do, com letras mais esper­ançosas que as do sam­ba-canção, a sofisti­cação do jazz e uma bati­da úni­ca e total­mente brasileira. Sobre este jeito de tocar, Menescal detal­ha uma con­ver­sa que teve com João Gilber­to, que rev­el­ou de onde vin­ha aque­le rit­mo encan­ta­dor. “Eu per­gun­tei para o João, uma vez: ‘de onde vem a tua bati­da?’. Do sam­ba, ele disse. ‘Mas essa tua difer­ente?’. ‘Rapaz, sabe o que, que é? Vocês querem tocar o sam­ba, tudo no vio­lão. O agogô, reco-reco, tombador, tudo jun­to, mas vocês têm que escol­her um’. Eu digo: ‘o que você escol­heu?’. ‘Eu escol­hi o tam­borim’”.

Neste vídeo, o pro­fes­sor de vio­lão do Depar­ta­men­to de Músi­ca da Uni­ver­si­dade de Brasília (UnB), Alessan­dro Borges, expli­ca como a bati­da do vio­lão de João Gilber­to foi ino­vado­ra. Assista:

A nova bossa da música

Suingue, har­mo­nia, melo­dia e letra inspi­ram as novas ger­ações de músi­cos até os dias de hoje. Um exem­p­lo dis­so é a jovem can­to­ra Analu Sam­paio, que, aos 13 anos, can­ta bossa nova com uma inter­pre­tação que extrap­o­la tudo isso e gan­ha mais vida ain­da em suas expressões cor­po­rais. “É um assom­bro (ela) can­tan­do bossa nova”, elo­gia Menescal.

Analu começou a car­reira cedo: aos cin­co anos de idade, já fre­quen­ta­va pro­gra­mas tele­vi­sivos, e logo for­mou uma legião de seguidores nas redes soci­ais, onde a maior parte do seu públi­co é for­ma­da por jovens de sua faixa etária. “Eu sem­pre gostei muito de can­tar. Meus pais sem­pre me influ­en­cia­ram a escu­tar músi­ca boa, a escu­tar bossa nova, e eu acho que daí que vem essa von­tade de com­par­til­har essa musi­cal­i­dade, de levar essa músi­ca, prin­ci­pal­mente para as pes­soas da min­ha idade”, diz Analu.

A artista relem­bra que a bossa nova foi defin­i­ti­va para que ela pudesse escol­her a músi­ca como profis­são e dedicar-se à estudá-la. “A bossa nova mudou a min­ha vida de uma for­ma muito grande. Foi através dela que eu abri a min­ha mente para o mun­do musi­cal. Eu tive von­tade de apren­der, de estu­dar músi­ca. Eu sou muito feliz pelos meus pais terem me apre­sen­ta­do a bossa nova des­de quan­do eu era muito mais nova”. Assista:

Mais de 60 anos depois da bossa nova faz­er a cabeça da juven­tude da época, a var­iedade musi­cal e as difer­entes for­mas de divul­gação fazem com que a ger­ação atu­al muitas vezes nem ten­ha con­ta­to com o gênero musi­cal. Por essa razão, Analu tra­bal­ha para que a bossa nova con­tin­ue a chegar a muitos que não tiver­am a mes­ma opor­tu­nidade que ela, de se apaixonar pela músi­ca.

Neto de Tom Jobim, Daniel Jobim é out­ro artista que man­tém o lega­do da bossa nova e que vive nesse uni­ver­so musi­cal des­de muito novo, ao lado do pai Paulo Jobim, tam­bém músi­co. Daniel estará na pro­gra­mação de hoje da Rádio Nacional FM, com entre­vista na pro­gra­mação às 16h. Ao lon­go do dia de hoje, entre 8h e 17h, a Nacional FM cel­e­bra a bossa nova, tocan­do clás­si­cos, nas vozes em que foram eterniza­dos, e regravações feitas por artis­tas de out­ras ger­ações: na lista estão canções como Garo­ta de Ipane­ma (com Tom Jobim e ban­da Melim), Chega de saudade (com João Gilber­to e Vanes­sa da Mata), Água de beber (com Viní­cius de Moraes e Bossacu­cano­va), Só tin­ha que ser com você com (com Tom Jobim e Fer­nan­da Por­to), entre out­ras.

E já estão disponíveis dois pro­gra­mas que prestam hom­e­nagem a Tom Jobim: Memória Musi­cal recu­per­ou uma entre­vista con­ce­di­da pelo com­pos­i­tor ao pro­gra­ma (ouça abaixo), e no Tan­to Mar, Carmin­ho inter­pre­ta clás­si­cos do mae­stro.

Dia de celebrar a bossa nova

São tan­tas histórias que per­me­iam os basti­dores da bossa nova que não há uma data cer­ta para definir quan­do o esti­lo foi cri­a­do. Mas todos con­cor­dam que um mar­co é agos­to de 1958, quan­do chegou às lojas de dis­cos do país, o álbum dup­lo, de 78 rotações, Canção do Amor Demais do selo Odeon. Nele, João Gilber­to inter­pre­ta­va Chega de Saudade, de Viní­cius de Moraes e Tom Jobim.

Tom Jobim foi o primeiro a deixar saudades, em 1994. Logo, foi o escol­hi­do para ser hom­e­nagea­do, quan­do Solange Kfouri, pro­du­to­ra musi­cal da MPB Mar­ket­ing, reuniu artis­tas em uma ini­cia­ti­va para cri­ar o Dia Nacional da Bossa Nova. “Era um papo na casa da can­to­ra Van­da Sá. Está­va­mos Car­lin­hos Lira, Solange, eu e mais uma porção de gente, e a Solange disse assim: ‘todo lugar tem o Dia do Tan­go, o Dia do Jazz e a gente não tem nada. Aliás, no Rio, nós não temos a Casa da Bossa Nova’”, lem­bra Menescal.

Naque­la reunião, em 2017, a data de nasci­men­to de Tom Jobim — 25 de janeiro — foi sug­eri­da por Solange para ser a data que cel­e­braria a bossa nova. E ali, tin­ha iní­cio um proces­so que rece­beu o apoio de Hum­ber­to Bra­ga, então secretário de Músi­ca e Artes Cêni­cas do Min­istério da Cul­tura, e que em 2019, insti­tuiria, por lei, o Dia Nacional da Bossa Nova.


Se vivo fos­se, Tom Jobim estaria com­ple­tan­do 95 anos no dia de hoje. E o pro­gra­ma Bossamod­er­na, da Rádio MEC, apre­sen­ta a car­reira e a obra do com­pos­i­tor na série Tom Jobim 95 anos, com três episó­dios e pro­dução do críti­co musi­cal Tárik de Souza. O primeiro episó­dio, já disponív­el no site das Rádios EBC, lem­bra o começo da car­reira de Jobim. Ouça aqui:

Os demais episó­dios da série Tom Jobim 95 anos vão ao ar em uma mara­tona na Rádio MEC, que começa às 22h de hoje e ter­mi­na à 1h da quar­ta (26), com reprise nas próx­i­mas edições do Bossamod­er­na — sem­pre aos domin­gos, às 22h (ouça a Rádio MEC aqui)Eles tam­bém serão disponi­bi­liza­dos na pági­na do pro­gra­ma.

Ouça out­ras séries espe­ci­ais da Rádio MEC sobre a bossa nova: 

A onda que se ergueu no mar, com Ruy Cas­tro

60 anos da bossa, com Tárik de Souza

Além da série, a Rádio MEC tam­bém exibe nes­ta terça uma série de pro­gra­mas espe­ci­ais para mar­car o Dia da Bossa Nova. Ao 12h, o Con­cer­to MEC toca a obra de Tom Jobim no vio­lão clás­si­co de Arthur Nestro­vs­ki. O Har­mo­nia, que começa às 20h, traz Jobim Sin­fôni­co, com as músi­cas de Tom Jobim inter­pre­tadas pela Orques­tra Sin­fôni­ca do Esta­do de São Paulo (OSESP). E ain­da no Jazz Livre, que vai ao ar às 21h, uma playlist com vários suces­sos da bossa nova.

Edição: Nathália Mendes

 

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