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Usado para recomeço, auxílio não foi acessado por todos os atingidos

Repro­dução: © Bruno Peres/Agência Brasil

Para alguns, dinheiro é insuficiente. Para outros, ajuda a recomeçar


Publicado em 25/06/2024 — 07:18 Por Lucas Pordeus León — Enviado especial — Porto Alegre

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O auxílio recon­strução de R$ 5,1 mil reais, disponi­bi­liza­do pelo gov­er­no fed­er­al para as famílias atingi­das pelas enchentes no Rio Grande do Sul, tem sido usa­do para recomeçar a roti­na destruí­da pelas águas. Porém, muitas famílias ain­da não aces­saram o recur­so por erro no cadas­tro, pelo não envio de dados ou por fal­ta de infor­mação.

Quan­do o din­heiro é aces­sa­do, ele é gas­to na com­pra de imóveis e eletrodomés­ti­cos bási­cos, como cama, fogão e geladeira; para refor­ma e limpeza da residên­cia e, em alguns casos, guarda­do para gas­tos futur­os.

A morado­ra do bair­ro Saran­di, de Por­to Ale­gre (RS), Lisiane Cor­reia, está desem­pre­ga­da e voltou para casa na últi­ma sex­ta-feira (21), quase 50 dias após as enchentes. O auxílio foi usa­do para com­prar um fogão e uma geladeira.

“Foi muito impor­tante. A gente con­seguiu com­prar bas­tante coisa de brique [de segun­da mão, usa­do], né? Fogão, geladeira de brique, com­prei uns pal­lets, que nem cama a gente tem porque foi tudo emb­o­ra. O resto a gente vai deixar para faz­er as refor­mas que pre­cisa porque sem esse val­or a gente nem tem como”, ressaltou.

Sarandi (RS), 24/06/2024 - Lisiane Correia e o seu marido Fábio Junior Quintera mostram fogão e geladeira dentro da sua casa que compraram com o auxílio do governo, após enchente que atingiu toda a região. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil
Repro­dução: Saran­di (RS) — Lisiane Cor­reia e o mari­do Fábio Junior Quin­tera mostram fogão e geladeira que com­praram com o auxílio do gov­er­no — Foto Bruno Peres/Agência Brasil

Por out­ro lado, Lisiane acres­cen­tou que o din­heiro é insu­fi­ciente para repor as per­das. A água chegou ao teto da sua residên­cia e estragou todos os eletrodomés­ti­cos.

A morado­ra Ângela Már­cia Dreissg Cori­no, de 60 anos, tin­ha um pet shop nos fun­dos da casa. Ela ain­da ten­ta limpar a residên­cia para voltar, pois segue na casa da sogra.

“Aju­da muito o auxílio porque tu com­pra uma geladeira ou out­ra coisa. Para min­ha irmã, que perdeu tudo mes­mo, é essen­cial. Eu ain­da con­segui sal­var parte dos móveis e eletrodomés­ti­cos”, expli­cou Ângela.

Sarandi (RS), 24/06/2024 - Ângela Márcia Dreissg Corino em frente a sua casa, após enchente que atingiu toda a região. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil
Repro­dução: Saran­di (RS) — Ângela Már­cia Dreissg Cori­no em frente a sua casa, após enchente que atingiu toda a região — Foto Bruno Peres/Agência Brasil

Out­ra morado­ra do Saran­di, a aposen­ta­da Elione da Sil­va Cane­do, de 59 anos, disse que o recur­so é pouco se com­para­do com o que acon­te­ceu. “Pouquís­si­mo. Pre­ciso de din­heiro para pagar uma pes­soa para me aju­dar a limpar, gas­ta com gasoli­na, a caixa d’água está toda con­t­a­m­i­na­da e tem que tro­car. O din­heiro não dá”, reclam­ou.

Sarandi (RS), 24/06/2024 - Elione da Silva Canedo em frente a sua casa, após enchente que atingiu toda a região. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil
Repro­dução: Saran­di (RS) — Elione da Sil­va Cane­do em frente a sua casa, após enchente que atingiu toda a região — Foto Bruno Peres/Agência Brasil

A aux­il­iar de coz­in­ha Suzete San­tos de Lima, de 40 anos, está há 50 dias viven­do em um abri­go de Muçum (RS), municí­pio do Vale do Taquari. “Aju­da para com­prar os móveis que eu per­di. Pre­ciso de máquina de lavar roupa e uma tele­visão para as cri­anças. Não é mui­ta coisa, mas já aju­da”, disse.

O pescador arte­sanal Luiz Antônio de Albu­querque, de 53 anos, decid­iu guardar o din­heiro para com­prar algo que lhe dê ren­da. “Mui­ta gente recla­ma do val­or, que não é com­patív­el com o que perdeu, mas pelos menos é um recomeço. Quero com­prar uma máquina de fran­go ou de sorvete para ter uma ren­da até recu­per­ar meu bar­co”, disse.

Sem auxílio

Ape­sar de o auxílio ser para todos os atingi­dos, muitos moradores relatam que não con­seguem o din­heiro. A Agên­cia Brasil entrou em um grupo de aplica­ti­vo de men­sagens de atingi­dos das chamadas ilhas de Por­to Ale­gre, comu­nidades às mar­gens dos rios da cidade.

A espera pelo auxílio é um dos prin­ci­pais temas das dis­cussões. “Eu fiz meu cadas­tro dia 22, enviaram dia 29 e tem gente que fez depois e já rece­beu”, diz um dos mem­bros do grupo. “Pois é. Eu con­heço uma pes­soa que fez dia 05/06 e já gan­hou, o meu está des­de o dia 28/05 e até ago­ra nada”, recla­ma out­ro inte­grante.

Esse é o caso da aposen­ta­da Maria Sir­lei Var­gas, de 64 anos, que vive com um salário mín­i­mo na cidade de Roca Sales (RS), no Vale do Taquari. Ela perdeu a casa na cor­renteza. “O meu ain­da está em análise. O auxílio aju­daria nesse momen­to. Min­ha ideia era com­prar uma cama com esse din­heiro e ir levan­do”, comen­tou.

Há ain­da os casos dos que não aces­sam por fal­ta de infor­mação. O tra­bal­hador autônomo Salomão Bernar­do dos San­tos, de 37 anos, vive em um abri­go de Roca Sales des­de a enchente de maio, mas não con­segue aces­sar o auxílio.

“Tu tem um celu­lar na mão e tu não entende. Para min­ha mãe é com­pli­ca­do tam­bém. A gente não con­segue se inscr­ev­er. Eles falam para entrar no site, mas a gente não con­segue”, lamen­tou.

Os municí­pios têm até esta terça-feira (25) para enviar os dados dos atingi­dos com dire­ito ao auxílio. Ao todo, 182 prefeituras com famílias atingi­das ain­da não havi­am envi­a­do as infor­mações.

Prefeituras

Prefeituras de municí­pios gaú­chos devem cadas­trar dados das famílias na pági­na do Auxílio Recon­strução. Após a análise, o respon­sáv­el famil­iar con­fir­ma infor­mações no mes­mo site. O depósi­to em con­ta é feito pela Caixa.

As prefeituras expli­cam que muitas infor­mações estão erradas ou dupli­cadas, ou out­ra pes­soa da mes­ma família já rece­beu o recur­so. Além dis­so, os dados pre­cisam ser con­fir­ma­dos pelos moradores.

Sarandi (RS), 24/06/2024 - Casa com marcas do nível da água após enchente que atingiu toda a região. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil
Repro­dução: Saran­di (RS) — Casa com mar­cas do nív­el da água após enchente que atingiu a região — Foto Bruno Peres/Agência Brasil

O secretário de plane­ja­men­to de Eldo­ra­do do Sul (RS), Josi­mar Car­doso, con­tou que 13 mil residên­cias do municí­pios foram dan­i­fi­cadas e 10 mil pes­soas já rece­ber­am o recur­so. “Temos out­ras 1,3 mil pes­soas já habil­i­tadas e 17 mil em análise com pos­síveis fraudes de endereços. Por isso fica em análise”, expli­cou.

Nes­sa segun­da-feira (23), a prefeitu­ra de São Leopol­do man­i­festou pre­ocu­pação com a baixa procu­ra. “Até domin­go (23), menos da metade das pes­soas com cadas­tro reprova­do por erros na hora do preenchi­men­to havi­am procu­ra­do o serviço espe­cial cri­a­do para cor­reção e reen­vio dos dados”, afir­mou, em nota.

Os critérios que podem impedir uma pes­soa de rece­ber o recur­so são: endereço fora da man­cha geor­ref­er­en­ci­a­da; endereço não con­fir­ma­do nas bases do gov­er­no; mais de uma família no mes­mo endereço; família com mem­bros comuns já com auxílio; família com mem­bro em out­ra família habil­i­ta­da; família que pediu auxílio em mais de um municí­pio; CPF não reg­u­lar; menor de 16 anos; e indí­cio de óbito nas bases do gov­er­no, segun­do infor­mou a asses­so­ria do Min­istério do Desen­volvi­men­to Region­al.

Equipes do gov­er­no fed­er­al vão per­cor­rer nes­ta sem­ana 30 municí­pios gaú­chos sele­ciona­dos em que há sus­pei­ta de que famílias atingi­das não este­jam nas áreas con­sid­er­adas pelas bases de dados da União.

Comércio

O recur­so do auxílio tam­bém tem aju­da­do o comér­cio ao colo­car din­heiro para cir­cu­lar. A dona de uma loja de roupa infan­til de Muçum (RS), Simone Bao, de 45 anos, comen­tou que o auxílio está aju­dan­do. “Aju­da porque eles vão inve­stir em algu­ma coisa, com­pra um móv­el, ai sobre um pouco para com­prar uma roupa, aí aju­da nos­sa loja”, disse.

O prefeito de Roca Sales, Amil­ton Fontana (MDB), avaliou que o recur­so movi­men­ta os municí­pios. “Esse din­heiro aju­da bas­tante as famílias. Dá para com­prar mui­ta coisa e aju­da o comér­cio local”, disse.

O prefeito de Muçum (RS), Mateus Tro­jan (MDB), avaliou que o auxílio tem efeito lim­i­ta­do. “Aju­dou, mas não resolveu o prob­le­ma, que é muito mais com­plexo porque há muitas indús­trias, empre­sas, comér­cio que foram dire­ta­mente atingi­dos e não con­seguiram retomar as ativi­dades”, pon­der­ou.

Números

O gov­er­no fed­er­al infor­mou que 256,7 mil famílias de 115 cidades já foram aprovadas para rece­ber o bene­fí­cio, sendo que 208 mil encam­in­haram a con­fir­mação dos dados. Entre as que con­fir­maram as infor­mações, 202 mil já estão com os R$ 5,1 mil em con­ta, o que total­iza pouco mais de R$ 1 bil­hão.

A expec­ta­ti­va do gov­er­no fed­er­al é aten­der 375 mil famílias gaúchas, rep­re­sen­tan­do R$ 1,9 bil­hão em bene­fí­cios.

Edição: Graça Adju­to

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