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Vacina contra dengue: entenda por que idosos precisam de receita

Repro­dução: © Takeda/Divulgação

Geriatra explica que não há estudos de eficácia nessa faixa etária


Pub­li­ca­do em 07/02/2024 — 07:02 Por Paula Labois­sière — Repórter da Agên­cia Brasil — Brasília

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A pop­u­lação idosa con­cen­tra, atual­mente, as maiores taxas de hos­pi­tal­iza­ção por dengue no Brasil. O grupo, entre­tan­to, ficou de fora da faixa etária con­sid­er­a­da pri­or­itária para rece­ber a vaci­na con­tra a dengue por meio do Sis­tema Úni­co de Saúde (SUS). Isso porque a própria bula da Qden­ga estip­u­la que o imu­nizante é indi­ca­do somente para pes­soas com idade entre 4 e 60 anos. Ain­da assim, em lab­o­ratórios par­tic­u­lares, o imu­nizante é apli­ca­do em idosos, des­de que seja apre­sen­ta­do pedi­do médi­co.

A per­gun­ta é: há risco para o idoso que recebe a vaci­na? Em entre­vista à Agên­cia Brasil, o geri­atra Paulo Vil­las Boas expli­cou que a bula da Qden­ga não inclui pes­soas aci­ma de 60 anos porque não foram feitos estu­dos de eficá­cia nes­sa faixa etária. O mem­bro do Comitê de Imu­niza­ção da Sociedade Brasileira de Geri­a­tria e Geron­tolo­gia desta­cou, entre­tan­to, que a dose foi lib­er­a­da para toda a pop­u­lação aci­ma de 4 anos pela Agên­cia Europeia de Medica­men­tos e a Agên­cia Argenti­na de Medica­men­tos.

“Em médio pra­zo, acred­i­to que haverá uma dis­cussão sobre a lib­er­ação da vaci­na con­tra a dengue para a pop­u­lação com mais de 60 anos”, disse. “No pre­sente momen­to, os idosos não são elegíveis. Se a dose for uti­liza­da na pop­u­lação com mais de 60 anos, mes­mo que seja recomen­da­da por um médi­co, é con­sid­er­a­do o que a gente chama de pre­scrição off label, ou seja, que não con­s­ta na lib­er­ação ofi­cial. Alguns medica­men­tos são pre­scritos assim porque há estu­dos que mostram bene­fí­cio.”

“Existe essa pos­si­bil­i­dade da pre­scrição off label. Mas o que está acon­te­cen­do no Brasil hoje em dia? Há uma deman­da muito grande da pop­u­lação idosa com dese­jo de se vaci­nar con­tra a dengue. Porém, mes­mo nas clíni­cas pri­vadas, não se encon­tra mais a vaci­na. Como ela foi lib­er­a­da, o próprio lab­o­ratório não está con­seguin­do suprir a deman­da para o SUS. Temos uma pre­visão, até o final do ano, de um aporte de cer­ca de 6 mil­hões de dos­es. Então o lab­o­ratório provavel­mente não vai con­seguir suprir a deman­da para clíni­cas pri­vadas.”

A melhor forma de combater a dengue é impedir a reprodução do mosquito. Foto: Arte/EBC
Repro­dução: A mel­hor for­ma de com­bat­er a dengue é impedir a repro­dução do mos­qui­to. Foto: Arte/EBC — Arte/EBC

Vil­las Boas lem­brou que os idosos são con­sid­er­a­dos grupo de risco para agravos decor­rentes da infecção pela dengue. O maior número de óbitos, segun­do o geri­atra, acon­tece exata­mente nes­sa faixa etária. Dados da Sec­re­taria de Saúde do Rio Grande do Sul, por exem­p­lo, mostram que, no ano pas­sa­do, das 11 mortes reg­istradas pela doença, oito foram em pes­soas com mais de 60 anos. Em 2022, 79% dos óbitos provo­ca­dos pela dengue no esta­do tam­bém foram entre idosos.

“A gente sabe que os indi­ví­du­os idosos são por­ta­dores de doenças crôni­cas como hiperten­são, dia­betes, doença do coração. Muitos têm esta­do em imunos­su­pressão, ou seja, que­bra da imu­nidade. E ess­es são fatores de risco para com­pli­cações da infecção pela dengue. Por isso, acred­i­to que a médio pra­zo, ou mes­mo a cur­to pra­zo, ter­e­mos dados cien­tifi­ca­mente robus­tos que indiquem a vaci­nação con­tra a dengue para essa pop­u­lação.”

O geri­atra reforçou que não há risco imi­nente para idosos que, com a pre­scrição médi­ca em mãos, recebem a vaci­na con­tra a dengue, mas desta­cou aspec­tos con­sid­er­a­dos impor­tantes quan­do o assun­to é a imu­niza­ção de pes­soas com mais de 60 anos, como um esta­do de per­da de imu­nidade nor­mal da idade, chama­do imunosse­nescên­cia, e a toma­da de med­icações que podem aumen­tar a imun­od­efi­ciên­cia, como o uso crôni­co de cor­ti­coides e out­ros trata­men­to especí­fi­cos.

“Se even­tual­mente esse indi­ví­duo idoso dese­jar ser vaci­na­do, é impor­tante que ele con­verse muito bem com o médi­co que irá pre­scr­ev­er a vaci­na. Um bom con­tex­to de saúde desse indi­ví­duo idoso, para que ele pos­sa rece­ber a vaci­na com total segu­rança. A gente tem que lem­brar que a Qden­ga é uma vaci­na com vírus aten­u­a­do e não com vírus mor­to. Se o indi­ví­duo estiv­er com a imu­nidade mais baixa, pode ter uma respos­ta ou reação vaci­nal maior, desen­vol­ven­do efeitos colat­erais iner­entes à vaci­nação, como mal-estar ger­al e febre. Não vai desen­volver um quadro de dengue clás­si­co. Mas pode ter uma série de efeitos colat­erais, descritos na própria bula da vaci­na.”

Na ausên­cia de uma dose con­tra a dengue for­mal­mente indi­ca­da para idosos, Vil­las Boas ressaltou que a pre­venção da doença nes­sa faixa etária deve ser fei­ta por meio dos cuida­dos já ampla­mente divul­ga­dos para o com­bate ao mos­qui­to Aedes aegyp­ti: impedir o acú­mu­lo de água para­da; usar repe­lentes sobre­tu­do pela man­hã e no final da tarde, horários de maior cir­cu­lação do Aedes aegyp­ti; e uti­lizar roupas de man­ga lon­ga e em tons mais claros.

Medidas de proteção individual para evitar picadas de mosquitos. Foto: Arte/EBC
Repro­dução: Medi­das de pro­teção indi­vid­ual para evi­tar pic­a­das de mos­qui­tos. Foto: Arte/EBC — Arte/EBC

“A pre­venção da dengue para a pop­u­lação idosa é idên­ti­ca à pre­venção da pop­u­lação em ger­al. Não há nada especí­fi­co. São aque­las ori­en­tações que a gente cansa de ouvir e cansa de ver que as pes­soas não fazem”, disse. “Tudo o que pos­sa evi­tar o indi­ví­duo de ser pic­a­do con­tribui”, con­cluiu.

Edição: Graça Adju­to

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