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Vacina da hepatite B foi primeira a prevenir contra um tipo de câncer

Repro­dução: © Dênio Simões/Agência Brasil

Vírus da hepatite B é principal causador de câncer de fígado


Pub­li­ca­do em 12/09/2023 — 07:32 Por Viní­cius Lis­boa — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

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O vírus HBV, cau­sador da hepatite B, é um antígeno silen­cioso, que pode demor­ar anos até ser nota­do pelo hos­pedeiro. Quan­do isso acon­tece, entre­tan­to, muitas vezes o estra­go provo­ca­do já resul­tou em uma cir­rose ou um câncer de fíga­do. Disponív­el no Sis­tema Úni­co de Saúde (SUS) para cri­anças, ado­les­centes e adul­tos, a vaci­na con­tra a hepatite B é a prin­ci­pal for­ma de pre­venir essa doença, que pode ser trans­mi­ti­da sex­ual­mente, pelo con­ta­to com o sangue e durante a ges­tação, da mãe para o bebê.

11/09/2023, Raquel Stucchi é infectologista e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia. Foto: Arquivo Pessoal
Repro­dução: Infec­tol­o­gista Raquel Stuc­chi diz que respos­ta de cri­anças à vaci­na con­tra hepatite B é de 100% — Arqui­vo pes­soal

Infec­tol­o­gista da Uni­ver­si­dade Estad­ual de Camp­inas (Uni­camp) e con­sul­to­ra da Sociedade Brasileira de Infec­tolo­gia, Raquel Stuc­chi desta­ca que a vaci­na con­tra a hepatite B foi a primeira vaci­na con­tra algum tipo de câncer a ser disponi­bi­liza­da, porque o vírus da hepatite B é o prin­ci­pal cau­sador de câncer de fíga­do.

“A vaci­nação diminuiu dras­ti­ca­mente os casos de hepatite B e o risco de cir­rose e câncer de fíga­do. Por isso, a vaci­na é impor­tante. E por que na infân­cia? Primeiro, a adesão na infân­cia é mais fácil. Ela é fei­ta com out­ras vaci­nas nos primeiros meses de vida e pode ser fei­ta no berçário, assim que a cri­ança nasce. E a respos­ta das cri­anças con­tra a hepatite B é de 100%, e, com a cri­ança se man­ten­do saudáv­el depois, essa pro­teção é para a vida toda.”

Vacinação desde o nascimento

A hepatite B é fre­quente­mente lem­bra­da como infecção sex­ual­mente trans­mis­sív­el (IST), mas a vaci­nação con­tra a doença após o par­to é con­sid­er­a­da fun­da­men­tal para garan­tir que não haja trans­mis­são do vírus da mãe para o bebê, o que é chama­do na med­i­c­i­na de trans­mis­são ver­ti­cal.

Inte­grante do cal­endário do adul­to e da ges­tante, a vaci­na con­tra a hepatite B deve ser admin­istra­da tam­bém nos bebês logo após o nasci­men­to. O Pro­gra­ma Nacional de Imu­niza­ções, que com­ple­ta 50 anos em 2023, recomen­da que os recém-nasci­dos rece­bam essa vaci­na nas primeiras 24 horas de vida, e, pref­er­en­cial­mente, nas primeiras 12 horas, ain­da na mater­nidade.

O pediatra Renato Kfouri, presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). Foto: SBIm/Divulgação
Repro­dução: Médi­co Rena­to Kfouri desta­ca importân­cia de cri­anças serem vaci­nadas con­tra hepatite B logo após o nasci­men­to — SBIm/Divulgação

O pedi­atra Rena­to Kfouri, pres­i­dente do Depar­ta­men­to Cien­tí­fi­co de Imu­niza­ções da Sociedade Brasileira de Pedi­a­tria (SBP) e vice-pres­i­dente da Sociedade Brasileira de Imu­niza­ções (SBIm), expli­ca que essa agili­dade garante que o bebê não seja con­t­a­m­i­na­do pelo vírus da hepatite B, caso sua mãe viva com a infecção.

“Ao vaci­nar logo ao nascer, a gente elim­i­na essa pos­si­bil­i­dade, e, con­se­quente­mente, a de ter­mos no futuro por­ta­dores crôni­cos deste vírus. Essa é a razão de se vaci­nar ao nascer”, expli­ca Rena­to Kfouri.

Ele acres­cen­ta que impedir a for­mação de um quadro crôni­co é tam­bém con­tribuir para o blo­queio do vírus.

O cal­endário vaci­nal da cri­ança pre­vê que a pro­teção con­tra a hepatite B tam­bém se dá por meio da vaci­na pen­tava­lente, que deve ser apli­ca­da aos 2 meses, aos 4 meses e aos 6 meses. Além dessa for­ma de hepatite, a vaci­na previne con­tra dif­te­ria, tétano, coqueluche, e Haemophilus influen­zae B, cau­sador de um tipo de menin­gite.

Já a par­tir dos 7 anos com­ple­tos, quan­do não hou­ver com­pro­vação vaci­nal con­tra a hepatite B ou quan­do o esque­ma vaci­nal estiv­er incom­ple­to, a recomen­dação é com­ple­tar três dos­es com a vaci­na especí­fi­ca da hepatite B, com inter­va­lo de 30 dias da primeira para a segun­da dose, e de 6 meses entre a primeira e a ter­ceira. Essa recomen­dação inclui ado­les­centes, adul­tos e, espe­cial­mente, ges­tantes.

Efeitos e eventos adversos

A Sociedade Brasileira de Imu­niza­ções infor­ma que, em 3% a 29% dos vaci­na­dos, pode ocor­rer dor no local da apli­cação. Já endurec­i­men­to, inchaço e ver­mel­hidão acome­tem de 0,2% a 17% das pes­soas.

O pós-vaci­nação tam­bém pode ter febre bem tol­er­a­da e autolim­i­ta­da nas primeiras 24 horas após a apli­cação, para de 1% a 6% dos vaci­na­dos. Cansaço, ton­tu­ra, dor de cabeça, irri­tabil­i­dade e descon­for­to gas­trin­testi­nal são relata­dos por 1% a 20%.

Even­tos adver­sos mais graves que isso são con­sid­er­a­dos raros ou muito raros. Púr­pu­ra trom­boc­i­topêni­ca idiopáti­ca foi reg­istra­da em menos de 0,01% dos vaci­na­dos, de modo que não foi pos­sív­el esta­b­ele­cer se foi coin­cidên­cia ou de se fato tin­ha relação com a vaci­nação.

A bula da vaci­na con­tra a hepatite B tam­bém pre­vê uma fre­quên­cia muito rara de anafi­lax­ia em ado­les­centes e adul­tos vaci­na­dos, na pro­porção de um caso a cada 600 mil. Essa ocor­rên­cia é ain­da mais rara ain­da em cri­anças.

São Paulo - Paciente faz teste rápidos para HIV, hepatite B, hepatite C e sífilis no Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod), em Bom Retiro, na região central (Rovena Rosa/Agência Brasil)
Repro­dução: Teste para diag­nós­ti­co de hepatite B — Rove­na Rosa/Arquivo/Agência Brasil

Um quinto das mortes por hepatite

O Min­istério da Saúde mostra que o vírus HBV chega a causar um terço dos casos de hepatite noti­fi­ca­dos no Brasil e esta­va rela­ciona­do a um quin­to das mortes por hepatite entre 2000 e 2017. Na maio­r­ia dos casos, a pes­soa infec­ta­da não apre­sen­ta sin­tomas e é diag­nos­ti­ca­da décadas após a infecção, com sinais rela­ciona­dos a out­ras doenças do fíga­do, como cansaço, ton­tu­ra, enjoo/vômitos, febre, dor abdom­i­nal, pele e olhos amare­la­dos.

A hepatite B ain­da é con­sid­er­a­da uma doença sem cura, e o trata­men­to disponi­bi­liza­do no SUS visa a reduzir o risco de pro­gressão da doença, que pode causar cir­rose, câncer hep­áti­co e morte. Raquel Stuc­chi expli­ca que o trata­men­to, com antivi­rais, se estende por toda a vida.

“Se não fiz­er o teste, a pes­soa só vai desco­brir que tem o vírus quan­do já tem uma cir­rose avança­da ou quan­do desen­volve o câncer de fíga­do. O diag­nós­ti­co é feito facil­mente, até em testes rápi­dos”, afir­ma.

“Até o momen­to, não temos med­icação que elim­ine o vírus da hepatite B. Hoje, podemos diz­er que não tem cura, mas a vaci­na impede esse adoec­i­men­to e a neces­si­dade de faz­er trata­men­to para o resto da vida.”

Após a infecção, a doença pode se desen­volver de duas for­mas, a agu­da e a crôni­ca. A agu­da se dá quan­do a infecção tem cur­ta duração, e a for­ma é crôni­ca quan­do a doença dura mais de seis meses. O risco de a doença tornar-se crôni­ca depende da idade na qual ocorre a infecção, e os bebês estão mais sujeitos a ter uma hepatite crôni­ca no futuro.

As for­mas mais impor­tantes de trans­mis­são da hepatite B são o con­ta­to com o sangue e o con­ta­to sex­u­al sem preser­v­a­ti­vo. A infec­tol­o­gista expli­ca que con­ta­to com o sangue inclui a real­iza­ção de pro­ced­i­men­tos e com­par­til­hamen­to de uten­sílios sem a higiene necessária.

“Na trans­fusão de sangue esse risco prati­ca­mente não existe mais, pela triagem que é fei­ta nos doadores, mas o con­ta­to com o sangue inclui pro­ced­i­men­tos médi­cos, odon­tológi­cos ou estéti­cos sem a higi­en­iza­ção ade­qua­da. E tam­bém man­i­cures, ali­cates de unha sem ester­il­iza­ção, tat­u­a­gens, pierc­ings.” 

arte hepatite b

Edição: Juliana Andrade

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