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Vacinação de grupos de risco é principal desafio no combate à covid-19

Repro­dução: © Rove­na Rosa/Agencia Brasil

Vacina contra a doença foi aplicada pela 1ª vez no Brasil há três anos


Pub­li­ca­do em 17/01/2024 — 07:28 Por Cami­la Boehm e Cami­la Maciel – Repórteres da Agên­cia Brasil — São Paulo

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Há três anos, no dia 17 de janeiro de 2021, foi vaci­na­da a primeira brasileira con­tra a covid-19. A enfer­meira Môni­ca Calazans rece­beu a dose da Coro­n­avac, imu­nizante pro­duzi­do pelo Insti­tu­to Butan­tan em parce­ria com a far­ma­cêu­ti­ca chi­ne­sa Sino­vac. Atual­mente, o desafio é aumen­tar a cober­tu­ra vaci­nal do públi­co con­sid­er­a­do de risco para a doença, con­forme avaliam espe­cial­is­tas ouvi­dos pela Agên­cia Brasil.

O médi­co infec­tol­o­gista Gon­za­lo Veci­na Neto, ex-pres­i­dente da Agên­cia Nacional de Vig­ilân­cia San­itária (Anvisa), ressaltou que, emb­o­ra a pan­demia de covid-19 ten­ha sido “debe­la­da”, o vírus con­tin­ua cir­cu­lan­do e ain­da há mortes pela doença. “Con­tin­u­am acon­te­cen­do mortes pela covid-19. Então uma questão impor­tante é atu­alizar o cal­endário vaci­nal”, aler­tou.

Durante a pan­demia, segun­do avali­ação do médi­co, o país pas­sou por momen­tos muito críti­cos, como o com­por­ta­men­to do ex-pres­i­dente Jair Bol­sonaro e rep­re­sen­tantes do gov­er­no fed­er­al, que se posi­cionavam de for­ma nega­cionista e anti­vaci­na. Por out­ro lado, Veci­na apon­tou como pos­i­ti­va a atu­ação por parte da rede per­iféri­ca de serviços de saúde públi­ca para con­seguir avançar na imu­niza­ção da pop­u­lação.

“Prin­ci­pal­mente a atenção primária [de saúde], que se dis­pôs e con­seguiu avançar muito den­tro da pos­si­bil­i­dade de vaci­nação. Ape­sar da cam­pan­ha con­tra, ape­sar dos nega­cionistas, nós con­seguimos con­tro­lar a pan­demia graças à expan­são da vaci­nação”, disse.

Primeira pes­soa vaci­na­da con­tra a covid-19 no Brasil, a enfer­meira Môni­ca Calazans con­tou à Agên­cia Brasil que aque­le momen­to não sai de sua mente. “Eu lem­bro do momen­to com mui­ta emoção, me traz a memória [de que] naque­le momen­to a gente esta­va sain­do de uma situ­ação por con­ta da vaci­na. Então me traz tam­bém mui­ta ale­gria porque eu esta­va mostran­do para os brasileiros que o que nós temos de seguro para enfrentar a covid-19 é a vaci­na”, disse.

“Eu enten­do que esta­va rep­re­sen­tan­do os brasileiros, a gente não tin­ha esper­ança de nada. E, no dia 17 de janeiro de 2021, eu con­segui traz­er um pouco de esper­ança no coração brasileiro. Foi uma questão de mui­ta ale­gria, emoção mis­tu­ra­da com esper­ança. Foi um fervil­hão de sen­ti­men­tos naque­le dia”, acres­cen­tou a enfer­meira.

Ela lem­bra de situ­ações no trans­porte públi­co ao com­parar o perío­do mais críti­co da pan­demia com o momen­to atu­al. “Naque­le momen­to tão cru­cial, tão traumáti­co, as pes­soas tin­ham medo até de sen­tar ao seu lado [no trans­porte], as pes­soas não se aprox­i­mavam. E hoje não”.

“Hoje você con­segue andar sem más­cara, você con­segue ver o sor­riso das pes­soas, você pega na mão das pes­soas, porque ante­ri­or­mente você não pega­va na mão de ninguém”, com­parou. Ape­sar dis­so, ela desta­ca a importân­cia de se man­ter a vaci­nação con­tra a covid-19 ain­da hoje.

Vacinação infantil

O infec­tol­o­gista Gon­za­lo Veci­na Neto ressaltou que atual­mente há uma baixa cober­tu­ra de vaci­nação de cri­anças. “A mor­tal­i­dade está muito ele­va­da nas cri­anças abaixo de 5 anos por causa da baixa cober­tu­ra”, acres­cen­tou. As vari­antes que estão cir­cu­lan­do atual­mente têm uma grande capaci­dade de dis­sem­i­nação, mas uma mor­tal­i­dade mais baixa. No entan­to, a doença pode ain­da acome­ter de for­ma grave espe­cial­mente os gru­pos que têm menos defe­sas imunológ­i­cas.

Tais gru­pos são os idosos, cri­anças peque­nas, ges­tantes e por­ta­dores de comor­bidades. “Ess­es gru­pos têm uma frag­ili­dade do pon­to de vista de enfrentar imuno­logi­ca­mente o inva­sor no cor­po, por isso eles se ben­e­fi­ci­am da vaci­na. Par­tic­u­lar­mente ess­es mais frágeis, ao terem a doença, tem uma maior pos­si­bil­i­dade de hos­pi­tal­iza­ção e de morte”, expli­cou Veci­na.

De acor­do com Rosana Richt­mann, infec­tol­o­gista do Insti­tu­to Emílio Ribas, a tendên­cia é que se faça a vaci­nação anu­al espe­cial­mente para os gru­pos de maior risco, uti­lizan­do vaci­nas que con­sigam dar pro­teção con­tra as novas vari­antes do vírus cau­sador da doença.

“O que a gente apren­deu com a covid-19 é que o vírus vai ten­do peque­nas mutações, ele vai mudan­do a sua genéti­ca, vai escapan­do da nos­sa imu­nidade. Isso é um proces­so con­tín­uo. Então, muito mais impor­tante do que você me con­tar quan­tas dos­es de vaci­na de covid-19 você tomou ness­es últi­mos três anos, a min­ha per­gun­ta seria quan­do foi a sua últi­ma dose e qual vaci­na você tomou. Se você tiv­er uma dose atu­al­iza­da, é sufi­ciente”, expli­cou.

A infec­tol­o­gista desta­cou que, nos Esta­dos Unidos, já está disponív­el a vaci­na mais atu­al­iza­da, uma mono­va­lente que com­bate a vari­ante XBB da doença. “O Brasil está usan­do a biva­lente [que com­bate cepas ante­ri­ores], den­tro do país é a mais atu­al, mas não é a mais atu­al­iza­da disponív­el no mun­do. A gente jul­ga que, neste momen­to, seria impor­tante o Brasil adquirir essa vaci­na mono­va­lente atu­al­iza­da no lugar da biva­lente”, defend­eu.

Para Richt­mann, um dos prin­ci­pais desafios a serem enfrenta­dos neste momen­to é jus­ta­mente a vaci­nação de cri­anças peque­nas, a par­tir de seis meses de idade, con­sid­er­a­do grupo de risco para a doença. Ela ressalta que adul­tos e cri­anças maiores chegaram a ter a doença ou tomar a vaci­na, o que garante algu­ma pro­teção con­tra o vírus.

“Há um desafio para vaci­nar essa pop­u­lação, porque é uma pop­u­lação virgem de pro­teção, eles não têm pro­teção nem adquiri­da, nem através da vaci­nação”, disse. Ela reforça a importân­cia de a vaci­nação de cri­anças con­tra a covid-19 faz­er parte do Pro­gra­ma Nacional de Imu­niza­ções (PNI). “No ano pas­sa­do, tive­mos 135 mortes de cri­anças, é um número que pode­ria ter sido pre­venido através de vaci­nação”, acres­cen­tou.

Ministério da Saúde

A Cam­pan­ha Nacional de Vaci­nação con­tra a covid-19 no Brasil começou em 18 de janeiro de 2021, após a aprovação para uso emer­gen­cial das vaci­nas Sinovac/Butantan e AstraZeneca/Fiocruz, no dia ante­ri­or, infor­mou o Min­istério da Saúde (MS), acres­cen­tan­do que o êxi­to da cam­pan­ha foi pos­sív­el medi­ante o envolvi­men­to das três esferas de gov­er­no.

Até o momen­to há cin­co vaci­nas autor­izadas pela Agên­cia Nacional de Vig­ilân­cia San­itária (Anvisa) e em uso no Brasil: duas com autor­iza­ção para uso emer­gen­cial (CoronaVac/Butantan e Comir­naty biva­lente Pfiz­er) e três com reg­istro defin­i­ti­vo (AstraZeneca/Fiocruz, Janssen-Cilag e Comir­naty Pfizer/Wyeth). No país, as vaci­nas covid-19 con­tin­u­am disponíveis e são recomen­dadas para a pop­u­lação ger­al a par­tir dos 6 meses de idade.

“Em fevereiro de 2023, jun­ta­mente com o lança­men­to do Movi­men­to Nacional pela Vaci­nação, foi ini­ci­a­da a estraté­gia de vaci­nação para gru­pos pri­or­itários com a vaci­na biva­lente e com a recomen­dação de dose de reforço para essa pop­u­lação a par­tir de 12 anos. Ain­da em 2023, essa estraté­gia foi incor­po­ra­da ao Cal­endário Nacional a vaci­nação para o públi­co infan­til de 6 meses a menores de 5 anos”, disse a pas­ta, em nota.

Na avali­ação de cober­tu­ra vaci­nal, para o esque­ma primário de duas dos­es, com as vaci­nas mono­va­lentes, o MS reg­is­tra uma cober­tu­ra de 83,86%, des­de o iní­cio da cam­pan­ha em janeiro de 2021 até janeiro de 2024.

“É impor­tante destacar que, à medi­da que forem obti­das novas aprovações reg­u­latórias e as vaci­nas adap­tadas às novas vari­antes, o Min­istério vai ade­quan­do as neces­si­dades assim que os imu­nizantes estiverem disponíveis no país por meio do Pro­gra­ma Nacional de Imu­niza­ções (PNI), seguin­do as recomen­dações e atu­al­izan­do os esque­mas de vaci­nação”, diz a nota.

Edição: Valéria Aguiar

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