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Veja o que se sabe sobre suposto ataque cibernético contra a Venezuela

© Reuters/Nathalia Angarita/Proibida repro­dução

Argumento é usado para justificar atraso sobre dados da eleição


Publicado em 14/08/2024 — 08:02 Por Lucas Pordeus León — Repórter da Agência Brasil — Brasília

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As autori­dades venezue­lanas afir­mam que um ataque cibernéti­co real­iza­do do exte­ri­or prej­u­di­cou os tra­bal­hos do Con­sel­ho Nacional Eleitoral (CNE), que segue com a pági­na ofi­cial na inter­net fora do ar. Essa tem sido a prin­ci­pal jus­ti­fica­ti­va do CNE — e do gov­er­no da Venezuela — para o atra­so na pub­li­cação dos dados detal­ha­dos da eleição de 28 de jul­ho.

Mas, afi­nal, o que se sabe sobre esse supos­to ataque? Segun­do autori­dades do país, os ataques foram feitos prin­ci­pal­mente da Macedô­nia do Norte, país do leste europeu, e chegaram a 30 mil­hões por min­u­to. Além dis­so, con­tin­uar­i­am ocor­ren­do até o últi­mo domin­go (11).

Na segun­da-feira (12), a min­is­tra da Ciên­cia e Tec­nolo­gia da Venezuela, Gabriela Jiménez, apre­sen­tou bal­anço sobre o supos­to ataque hack­er. Ela disse que 25 insti­tu­ições do país foram prej­u­di­cadas, incluin­do des­de a estatal petrolífera (PDVSA), pas­san­do por empre­sas de comu­ni­cação e de tele­co­mu­ni­cações, até o sis­tema eleitoral.

“Os ataques aumen­tam 24 horas por dia. Todas as platafor­mas do Esta­do foram ata­cadas de múlti­plas maneiras”, expli­cou Jiménez, acres­cen­tan­do que 65% dos ataques foram para der­rubar serviços na inter­net e 17% para roubo de infor­mações.

O CNE entre­gou ao Tri­bunal Supre­mo de Justiça (STJ) os dados que com­pro­vari­am o ataque cibernéti­co depois que o TSJ ini­ciou inves­ti­gação sobre o tema, a pedi­do do gov­er­no Maduro. A pres­i­dente do Supre­mo, a mag­istra­da Carys­lia Rodríguez, afir­mou que revis­ará todos os dados sobre o ataque.

“[O TSJ] fará perí­cia sobre o ataque cibernéti­co mas­si­vo do qual foi obje­to o sis­tema eleitoral venezue­lano, para a qual a Sala [do Tri­bunal] con­tará com pes­soal alta­mente qual­i­fi­ca­do e idô­neo que fará uso dos mais altos padrões téc­ni­cos”, disse a juíza da Corte máx­i­ma do país.

O CNE infor­mou ain­da que os ataques não pud­er­am alter­ar os votos, que são pro­te­gi­dos por sis­tema próprio, sem conexão com a inter­net. Além dis­so, Maduro acu­sou o multi­bil­ionário Elon Musk, dono da platafor­ma X, anti­go Twit­ter, de estar envolvi­do no caso.

Netscout X Carter

A ver­são do gov­er­no foi par­cial­mente cor­rob­o­ra­da por impor­tante empre­sa de segu­rança da infor­mação dos Esta­dos Unidos — a Netscout Sys­tems. A com­pan­hia afir­ma que, um dia após a eleição — 29 de jul­ho — os ataques DDoS con­tra alvos na Venezuela aumen­taram em dez vezes. Esse tipo de ataque é uti­liza­do geral­mente para der­rubar sites e sis­temas.

“Mes­mo uma peque­na quan­ti­dade de tráfego, se envi­a­da na hora cer­ta para um alvo desprepara­do, pode resul­tar em inter­rupções de rede”, diz a Netscout, acres­cen­tan­do que “quase todos os ataques con­tra a Venezuela nos dias em questão tiver­am como alvo um úni­co Prove­dor de Tele­co­mu­ni­cações”. Porém, a análise da Netscout não incluiu os dias após 29 do mês pas­sa­do.

Por out­ro lado, a chefe da mis­são de obser­vação do Cen­tro Carter, Jen­nie Lin­coln — que par­ticipou da mis­são de obser­vação das eleições na Venezuela -, afir­mou que não há evidên­cias desse ataque cibernéti­co.

“Há empre­sas que mon­i­toram e sabem quan­do há negações de serviço [ataques cibernéti­cos] e não hou­ve um no dia da eleição ou naque­la noite”, expli­cou Lin­coln em entre­vista exclu­si­va à agên­cia france­sa AFP, sem, con­tu­do, infor­mar quais empre­sas ela con­sul­tou.

Especialistas

Espe­cial­is­tas de tec­nolo­gia da infor­mação entre­vis­ta­dos pela Agên­cia Brasil destacaram que exis­tem diver­sas empre­sas que mon­i­toram os ataques cibernéti­cos em tem­po real e podem con­sul­tar o históri­co do trá­fi­co de ataques mali­ciosos de dias e meses ante­ri­ores, com­pro­van­do ou não a tese do gov­er­no venezue­lano.

O espe­cial­ista em segu­rança da infor­mação Breno Borges pon­der­ou que, para mon­i­torar ess­es movi­men­tos cibernéti­cos, as empre­sas pre­cisam ter servi­dores próx­i­mos das infraestru­turas que sofr­eram ess­es ataques.

“É como se eu man­dasse um monte de car­ta para lotar sua caixa de cor­reios e impedir que novas car­tas cheguem à sua casa. Eu só con­si­go desco­brir esse ataque de car­tas se estiv­er na rua ven­do as car­tas chegarem ou se você deixar eu entrar na sua casa e abrir a caixa de cor­reios”, afir­mou.

A for­ma mais pre­cisa de con­fir­mar a veraci­dade e dimen­são do ataque é por meio das próprias insti­tu­ições venezue­lanas, caso elas per­mi­tam um mon­i­tora­men­to do históri­co dos seus sis­temas, acres­cen­tou Borges.

DDoS

O espe­cial­ista em tec­nolo­gia Pedro Markum, da orga­ni­za­ção Transparên­cia Hack­er, expli­cou que os ataques DDoS são comuns, ocor­rem todos os dias e têm pos­si­bil­i­dade de der­rubar pági­nas e sis­temas, mas não de alter­ar os votos, que estão em um sis­tema à parte.

“Ess­es ataques DDoS de maneira nen­hu­ma dev­e­ri­am impactar no resul­ta­do da eleição, mas podem sim provo­car atra­sos na tab­u­lação [dos resul­ta­dos], podem sim ser uma jus­ti­fica­ti­va, tan­to real quan­to uma boa jus­ti­fica­ti­va fic­cional”, pon­der­ou.

Markum afir­mou ain­da que não tem motivos para descon­fi­ar da avali­ação da Netscout, que apon­tou para ataques no dia 29. Porém, anal­isan­do dados da empre­sa rus­sa Kasper­sky, que tam­bém mon­i­to­ra ataques cibernéti­cos, o espe­cial­ista não encon­trou qual­quer anor­mal­i­dade nos últi­mos dias. Para ele, as infor­mações até ago­ra prestadas pelo gov­er­no da Venezuela são escas­sas e pouco detal­hadas.

Transparência

“Os prints [apre­sen­ta­dos pela min­is­tra Jiménez] estão descon­tex­tu­al­iza­dos, não há den­si­dade de infor­mação. Quan­do vamos olhar em out­ros prove­dores que mon­i­toram essas infor­mações — como o caso da Kasper­sky, que é um prove­dor rus­so e, por­tan­to, não tem com­pro­mis­so com o impe­ri­al­is­mo norte-amer­i­cano — não detec­ta­mos nen­hu­ma anom­alia, não nesse vol­ume [de 30 mil­hões por min­u­to]”, afir­mou Pedro Markum.

O espe­cial­ista pon­der­ou, con­tu­do, que ataques local­iza­dos não iden­ti­fi­ca­dos pelos prove­dores pode­ri­am der­rubar pági­nas pouco pro­te­gi­das e que somente o gov­er­no pode acabar com as dúvi­das que cer­cam o supos­to ataque cibernéti­co con­tra a eleição venezue­lana.

“Se eles real­mente quisessem com­pro­var que ess­es ataques estão acon­te­cen­do, não seria difí­cil, qual­quer sis­tema infor­máti­co pode ir lá e ver­i­ficar”, com­ple­tou Markum.

O dire­tor do por­tal de anális­es eleitoral Voto­sco­pio, Euge­nio G. Martínez, chamou atenção para sus­pen­são da audi­to­ria das tele­co­mu­ni­cações do CNE, pre­vista para ocor­rer após a votação de 28 de jul­ho e que pode­ria com­pro­var os ataques cibernéti­cos.

“Essa audi­to­ria era essen­cial para ver­i­ficar os reg­istros de trans­mis­são da máquina. A sua importân­cia ficou ain­da maior depois que o CNE denun­ciou a ten­ta­ti­va de ataque hack­er”, afir­mou Martínez.

Ataques em 2019

Esta não é a primeira vez que o gov­er­no Maduro afir­ma ser víti­ma de ataques real­iza­dos para suposta­mente deses­ta­bi­lizar o país. Em março de 2019, um apagão de dois dias deixou a Venezuela sem ener­gia no con­tex­to da auto­procla­mação do então dep­uta­do Juan Guaidó que, com o apoio de cer­ca de 50 país­es, ten­tou assum­iu o con­t­role do país.

Segun­do o gov­er­no, o sis­tema elétri­co foi alvo de um ataque cibernéti­co que impediu o resta­b­elec­i­men­to da elet­ri­ci­dade. Já a oposição disse que o apagão foi resul­ta­do ape­nas do sucatea­men­to da rede de ener­gia nacional.

Edição: Graça Adju­to

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