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Violência afeta saúde mental de moradores da Maré, mostra estudo

Repro­dução: © Fer­nan­do Frazão/Agência Brasil

Primeira Semana de Saúde Mental da Maré começa hoje


Pub­li­ca­do em 23/08/2021 — 07:00 Por Viní­cius Lis­boa — Repórter da Agên­cia Brasil — Rio de Janeiro

Sete em cada dez moradores do Com­plexo da Maré, entre­vis­ta­dos em uma pesquisa sobre saúde men­tal dis­ser­am ter medo fre­quente de que uma pes­soa queri­da seja atingi­da por um tiro. O estu­do das orga­ni­za­ções não gov­er­na­men­tais (ONGs) People’s Palace Projects e Redes da Maré sobre saúde men­tal mostra que o receio está rela­ciona­do à fre­quên­cia com que ess­es moradores se veem expos­tos à vio­lên­cia: 44% relataram que estiver­am em meio a um tiroteio nos 12 meses ante­ri­ores à entre­vista, e 32% pas­saram por isso mais de uma vez.

Além de pres­en­ciar tiroteios, os moradores tam­bém con­taram com fre­quên­cia que viram pes­soas feri­das pela vio­lên­cia. Chega a 17% a pro­porção de entre­vis­ta­dos que teste­munharam alguém ser balea­do ou assas­si­na­do no ano ante­ri­or à pesquisa, e um quar­to dos moradores disse ter pres­en­ci­a­do um espan­ca­men­to ou agressão físi­ca.

A pesquisa foi real­iza­da entre 2018 e 2020 e ouviu 1.411 moradores da Maré aci­ma de 18 anos. As respostas dos entre­vis­ta­dos indicam que a vio­lên­cia já atingiu seu cír­cu­lo social, uma vez que um em cada qua­tro rela­tou que alguém próx­i­mo já foi balea­do ou assas­si­na­do. No caso de 13% dos entre­vis­ta­dos, mais de uma pes­soa próx­i­ma foi feri­da ou mor­ta pela vio­lên­cia arma­da.

Os pesquisadores avaliam que essas exper­iên­cias pro­duzem trau­mas, afe­tam a saúde men­tal e reduzem a con­fi­ança dos moradores nas insti­tu­ições. Segun­do o estu­do, 55,6% dos moradores estão sem­pre com medo de alguém próx­i­mo ser atingi­do por uma bala per­di­da, 15,3% sen­tem esse medo muitas vezes, e 14,1%, algu­mas vezes. Somente 8,7% dis­ser­am não ter esse medo, e 6,3%, rara­mente.

Quan­do per­gun­ta­dos sobre si mes­mos, metade dos moradores (50,2%) afir­mou que sem­pre tem medo de ser atingi­do por um tiro. Ape­sar de 67,3% diz­erem que não têm medo de cir­cu­lar na Maré, 55,1% afir­mam já ter sen­ti­do medo de falar o que pen­sam ou sen­tem no com­plexo de fave­las.

“A dis­cussão sobre saúde men­tal de moradores de fave­las e per­ife­rias, no con­tex­to da vio­lên­cia a que ess­es ter­ritórios são sub­meti­dos, é urgente e fun­da­men­tal” avalia Eliana Sil­va, dire­to­ra da Redes da Maré. A ONG pro­move, a par­tir de hoje (23), a 1ª Sem­ana de Saúde Men­tal da Maré, a Rema Maré, que vai até 28 de agos­to. Entre as ações pre­vis­tas estão a dis­tribuição do Guia de Saúde Men­tal da Maré e inter­venções artís­ti­cas.

Depressão e ansiedade

A pesquisa mostra que um terço dos moradores enfrenta impactos da vio­lên­cia em sua saúde men­tal. Os prob­le­mas mais comuns são episó­dios depres­sivos (26,6%) e ansiedade (25,5%). Entre as pes­soas que estiver­am em meio a tiroteios, 12% relatam pen­sa­men­tos sui­ci­das.

Os efeitos da exposição à vio­lên­cia tam­bém são fre­quente­mente físi­cos, já que há relatos de sin­tomas como difi­cul­dade para dormir (44%), per­da de apetite (33%), von­tade de vom­i­tar e mal-estar no estô­ma­go (28%) e calafrios ou indi­gestão (21,5%). Tam­bém há impactos relata­dos em doenças crôni­cas, como hiperten­são arte­r­i­al.

O cotid­i­ano de vio­lên­cia se traduz ain­da em pre­juí­zos às ativi­dades dos moradores e no aces­so a serviços públi­cos. Segun­do a pesquisa, 26,5% da pop­u­lação tiver­am algum prob­le­ma no tra­bal­ho, esco­la ou uni­ver­si­dade, dev­i­do a situ­ações de vio­lên­cia na Maré nos 12 meses ante­ri­ores à entre­vista.

Bem-estar

A pesquisa sobre saúde men­tal tam­bém bus­cou enten­der que ativi­dades os entre­vis­ta­dos procu­ram para o seu bem-estar. Os pesquisadores con­stataram per­centu­ais aci­ma de 80% para a sat­is­fação dos moradores com as relações famil­iares e amizades. Para os respon­sáveis pelo estu­do, redes de apoio for­madas por pes­soas como famil­iares e viz­in­hos são fun­da­men­tais para lidar com adver­si­dades, incluin­do a vio­lên­cia.

A práti­ca reli­giosa foi relata­da por 71% dos moradores, sendo os católi­cos (30%) e os evangéli­cos pen­te­costais (28,5%) os maiores gru­pos. Já o esporte faz parte da vida de 46% dos adul­tos da Maré, desta­can­do-se a cam­in­ha­da (28,4%), o fute­bol (23,6%) e a ginás­ti­ca e/ou mus­cu­lação (18,7%).

Sete em cada dez entre­vis­ta­dos afir­maram con­hecer ao menos um espaço cul­tur­al no com­plexo de fave­las, mas só 18% afir­maram fre­quen­tar algum deles ao menos uma vez por mês.

Den­tro de casa, as for­mas de cul­tura mais con­sum­i­das (ao menos uma vez na sem­ana) são tele­visão (92,5%), músi­ca na inter­net (67,2%), vídeos na inter­net (64,3%), músi­ca por out­ros meios (46,3%), filmes ou séries na inter­net (44,8%), filmes ou séries em out­ros meios (44%), escri­ta (26,7%), leitu­ra de livros de papel (25,6%), leitu­ra de livros dig­i­tais (9,1%) e pin­tar (3,2%).

Fora de casa, os moradores relataram com mais fre­quên­cia que fotogra­faram (27,9%), ouvi­ram músi­ca ao vivo (15,8%), dançaram (15,7%) e cantaram/tocaram instru­men­tos (10,3%).

Edição: Graça Adju­to

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