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Viúva e amigos criam instituto em homenagem a Dom Phillips

Repro­dução: © Tomaz Silva/Agência Brasil

Objetivo é disseminar saberes tradicionais da Amazônia


Publicado em 05/06/2024 — 07:04 Por Alex Rodrigues – Repórter da Agência Brasil — Brasília

Na sem­ana em que o assas­si­na­to do indi­genista Bruno Pereira e do jor­nal­ista britâni­co Dom Phillips com­ple­ta dois anos, profis­sion­ais e ami­gos do ex-cor­re­spon­dente inter­na­cional de influ­entes veícu­los de impren­sa, como o britâni­co The Guardian, inau­gu­raram um insti­tu­to sem fins lucra­tivos para hom­e­nageá-lo.

Mais que o nome do jor­nal­ista, o Insti­tu­to Dom Phillips bus­ca per­pet­u­ar a paixão dele pela Amazô­nia, bio­ma que o britâni­co vis­i­tou a tra­bal­ho, pela primeira vez, em 2015. Segun­do Alessan­dra Sam­paio, viú­va de Dom e dire­to­ra-pres­i­dente da enti­dade, a ini­cia­ti­va bus­ca “ecoar as vozes da Amazô­nia” por meio de pro­je­tos que dis­sem­inem os saberes tradi­cionais da pop­u­lação amazôni­da.

“É uma orga­ni­za­ção que se propõe a tra­bal­har com pro­je­tos edu­ca­cionais, com o obje­ti­vo de ecoar as vozes da Amazô­nia e os saberes dos povos e das pes­soas que cuidam do bio­ma, trazen­do a nar­ra­ti­va deles”, comen­tou Alessan­dra em entre­vista à jor­nal­ista Cín­tia Var­gas, da TV Brasil. “O Dom enten­dia que há um grande prob­le­ma social e econômi­co na Amazô­nia, com mui­ta gente exercendo ativi­dades crim­i­nosas por fal­ta de opções, e que há várias questões sobre as quais temos que falar, não só a sus­tentabil­i­dade e a pro­teção [à flo­ra e à fau­na], mas tam­bém às pes­soas, que são muito desas­sis­ti­das”, afir­mou.

No tex­to de apre­sen­tação da enti­dade, os respon­sáveis pela ini­cia­ti­va sus­ten­tam que “hon­rar o lega­do de Dom é recon­hecer a dor e ir além dela, enten­den­do que sua relação com a Amazô­nia não se resume ao seu assas­si­na­to. Pelo con­trário, ele mer­gul­hou na exu­berân­cia da flo­res­ta e escutou seus povos a fim de mostrar ao mun­do toda a diver­si­dade humana, ambi­en­tal e cul­tur­al da região”.

Quan­do foi mor­to, a tiros, o jor­nal­ista esta­va a cam­in­ho do entorno da Ter­ra Indí­ge­na Vale do Javari, onde pre­tendia entre­vis­tar líderes indí­ge­nas e ribeir­in­hos para escr­ev­er um livro-reportagem que seria inti­t­u­la­do Como Sal­var a Amazô­nia. A ter­ra indí­ge­na é a segun­da maior área da União des­ti­na­da ao usufru­to exclu­si­vo indí­ge­na e a que abri­ga a maior con­cen­tração de povos iso­la­dos em todo o mun­do.

Dom via­ja­va na com­pan­hia de Bruno Pereira, servi­dor de car­reira da Fun­dação Nacional dos Povos Indí­ge­nas (Funai), da qual tin­ha se licen­ci­a­do em fevereiro de 2020, por dis­cor­dar das novas ori­en­tações quan­to à exe­cução da políti­ca nacional indi­genista durante o gov­er­no de Jair Bol­sonaro. Na época, Pereira atu­a­va como con­sul­tor téc­ni­co da União dos Povos Indí­ge­nas do Vale do Javari (Uni­va­ja).

“Sem­pre que volta­va das suas via­gens à Amazô­nia, o Dom volta­va muito mobi­liza­do. Pelas vivên­cias, pelos con­tatos que tin­ha com as pes­soas e com a flo­res­ta. Ele dizia: “Ale, se as pes­soas con­hecessem e enten­dessem a Amazô­nia, se elas soubessem [de] todas as belezas, toda a poten­cial­i­dade [da região], se enga­jari­am na pro­teção da flo­res­ta”, acres­cen­tou Alessan­dra.

“Enquan­to insti­tu­to, nos enraizamos no mes­mo propósi­to: ecoar as vozes da Amazô­nia e os saberes dos seus povos e cuidadores, impul­sio­n­an­do movi­men­tos de edu­cação pela preser­vação da vida”, com­ple­men­ta o tex­to em que é apre­sen­ta­da a nova insti­tu­ição. “Escol­he­mos a edu­cação como fer­ra­men­ta para pro­mover um con­hec­i­men­to des­col­o­niza­do sobre e para a Amazô­nia. Quer­e­mos desen­volver pro­je­tos educa­tivos que partem do ter­ritório para o ter­ritório e tam­bém para o mun­do, pro­moven­do espaços de con­strução cole­ti­va e artic­u­lação em rede dos diver­sos saberes e cuidadores da flo­res­ta.”

Banner Bruno e Dom

Impul­sion­a­dos por uma vio­lên­cia que sabem “que não foi a primeira, nem será a últi­ma”, os respon­sáveis pelo Insti­tu­to Dom Phillips enfa­ti­zam a urgên­cia de ações conc­re­tas pela preser­vação da vida, não só no sen­ti­do mais amp­lo, de pro­teção do bio­ma, mas tam­bém de pro­teção de seus defen­sores.

“A questão das pes­soas ameaçadas, da segu­rança, da vio­lên­cia e da destru­ição na região nos causa mui­ta angús­tia”, desta­cou Alessan­dra. “As pes­soas con­tin­u­am lá, na lin­ha de frente, defend­en­do o Vale do Javari, uma área úni­ca, com 16 povos [indí­ge­nas] iso­la­dos e uma inte­gri­dade ter­ri­to­r­i­al muito grande. O tra­bal­ho de mon­i­tora­men­to que essas pes­soas ameaçadas fazem é muito impor­tante e deve­mos cobrar das autori­dades que elas ten­ham segu­rança”, acres­cen­tou a viú­va de Dom, ao falar sobre a importân­cia da atu­ação de enti­dades da sociedade civ­il orga­ni­za­da que cobram justiça para o jor­nal­ista e o indi­genista.

Em 23 de jul­ho de 2022, o Min­istério Públi­co Fed­er­al (MPF) denun­ciou Amar­il­do da Cos­ta Oliveira, (con­heci­do como “Pela­do”), Oseney da Cos­ta de Oliveira (“Dos San­tos”) e Jef­fer­son da Sil­va Lima (“Pela­do da Din­ha”) por dup­lo homicí­dio qual­i­fi­ca­do e ocul­tação dos cor­pos de Bruno e Dom.

Tam­bém foram deti­dos e indi­ci­a­dos pela Polí­cia Fed­er­al (PF) Ruben Dário da Sil­va Vil­lar (“Colôm­bia”) e Jânio Fre­itas de Souza.

O proces­so judi­cial está em anda­men­to, mas a Sub­seção Judi­ciária Fed­er­al de Tabatin­ga, no Ama­zonas, ain­da não mar­cou a data do jul­ga­men­to dos três prin­ci­pais acu­sa­dos. Por ori­en­tação de seus advo­ga­dos, Alessan­dra evi­ta comen­tar o trâmite proces­su­al, lim­i­tan­do-se a diz­er que ele vem avançan­do.

“Este foi um caso trági­co, que tocou mui­ta gente. Até hoje, há pes­soas que falam comi­go a respeito dis­so em um tom muito emo­ciona­do. Os nomes do Dom e do Bruno cor­reram o mun­do, e eu acho que este seria um caso exem­plar para a Justiça brasileira mostrar às redes crim­i­nosas que a Justiça é fei­ta no país. E o que sei, por meio da Uni­va­ja, é que, pas­sa­dos dois anos, eles pre­cisam de mais suporte, de mais pro­teção.”, con­cluiu Alessan­dra.

A entre­vista com Alessan­dra Sam­paio, viú­va de Dom, vai ao ar nes­ta quar­ta-feira (5), no pro­gra­ma Repórter Brasil, que começa às 19h.

Edição: Nádia Fran­co

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