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Empreendedorismo feminino: informalidade desafia políticas públicas

Tema foi debatido em painel promovido nessa terça pelo governo

Luiz Clau­dio Fer­reira — Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 19/03/2025 — 08:02
Brasília
Brasília (DF), 18/03/2025 - Mulheres durante o painel
Repro­dução: © Antônio Cruz/Agência Brasil

Na vend­in­ha de fru­tas na por­ta de casa, no car­rin­ho de pipoca em frente à igre­ja, com as  roupas e per­fumes no por­ta-malas do car­ro, no salão de cabeleireiro que abriu no quin­tal. Na roti­na, mul­heres empreende­do­ras infor­mais estão com um olho no futuro, de como faz­er mel­ho­rar o negó­cio que criou para si, e com o out­ro aten­tas ao reló­gio para não atrasar no horário em que a cri­ança sai da esco­la.

De acor­do com pesquisado­ras e gestores públi­cos, o empreende­doris­mo fem­i­ni­no é toca­do por mães (70%), tem fat­u­ra­men­to médio de aprox­i­mada­mente R$ 2 mil  e uma situ­ação de infor­mal­i­dade que desafia as políti­cas públi­cas no país. Nes­sa terça (18), o gov­er­no pro­moveu o painel “Vozes do Empreende­doris­mo Fem­i­ni­no: Conectan­do Saberes e Ações” e ouviu de espe­cial­is­tas e autori­dades que o cam­in­ho de facil­i­tar lin­has de crédi­to e pos­si­bil­i­tar capac­i­tação são fun­da­men­tais para efe­ti­va­mente mel­ho­rar o cenário. 

Mazelas

A pro­fes­so­ra Daiane Batista, da Uni­ver­si­dade Fed­er­al da Bahia (UFBA), é pesquisado­ra do tema “Tra­jetórias de vida e negó­cios das pes­soas negras no Brasil”. Ela foi uma das con­fer­encis­tas do even­to. “A gente iden­ti­fi­ca todas essas maze­las no proces­so de empreen­der das mul­heres”. Para Daiane, uma das prin­ci­pais moti­vações é que a maio­r­ia das mul­heres bus­ca empreen­der porque foi oprim­i­da no tra­bal­ho for­mal.

As mul­heres empreen­dem tam­bém, segun­do a pesquisado­ra, porque são mães e pre­cisam de mais tem­po para cuidar dos fil­hos. “Elas têm essa per­cepção de que a flex­i­bil­i­dade do empreen­der vai pos­si­bil­i­tar mais cuida­do com os fil­hos”.

Brasília (DF), 18/03/2025 - Ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, participa do painel
Repro­dução: Min­is­tra das Mul­heres, Cida Gonçalves, par­tic­i­pa do painel “Vozes do Empreende­doris­mo Fem­i­ni­no: Conectan­do Saberes e Ações”, como parte das cel­e­brações do Dia Inter­na­cional da Mul­her, Foto Antônio Cruz/Agência Brasil

Entre as con­sid­er­ações, Daiane Batista lem­bra que as mul­heres negras, que são a maio­r­ia da pop­u­lação do Brasil, em ter­mos per­centu­ais, estão em mais condições de infor­mal­i­dade e com negó­cios que são aber­tos nas próprias residên­cias.

“As empreende­do­ras pre­cisam, o tem­po todo, acionar a própria cria­tivi­dade e con­stru­ir soluções para con­seguir via­bi­lizar a sua ini­cia­ti­va sem din­heiro”.

Motivações

Out­ra pesquisado­ra, Car­o­line Mor­eira de Aguiar, líder das áreas de edu­cação e pro­je­tos do Insti­tu­to da Rede Mul­her Empreende­do­ra, apre­sen­tou, nes­sa terça, uma pesquisa nacional que mostra alguns dos desafios pelos quais pas­sam mul­heres para empreen­der. Aces­so a crédi­to e gestão finan­ceira con­tin­u­am sendo os desafios prin­ci­pais de gestão desse negó­cio que a pesquisa iden­ti­fi­cou.

A difi­cul­dade de equi­li­brar a vida pes­soal e profis­sion­al tam­bém impacta os negó­cios. Um dado é que, den­tro da amostra pesquisa­da (de 2.010 pes­soas), mais de 70% eram mães. 

“Elas começam a empreen­der moti­vadas pela pós-mater­nidade, ou porque saíram do mer­ca­do de tra­bal­ho, ou porque veem no empreende­doris­mo uma for­ma de ter flex­i­bil­i­dade de horário”, expli­ca

Out­ro fator que a pesquisa indi­cou é que mul­heres, inde­pen­den­te­mente de serem mães, tam­bém são as pes­soas que cuidam tan­to de idosos, de out­ras pes­soas, cuidam da casa.

“O que a gente tem perce­bido é que a gestão do negó­cio se soma a todas essas out­ras jor­nadas de cuida­do”. Por isso, tem pou­cas horas do dia para admin­is­trar “todas essas jor­nadas de tra­bal­ho, que a gente chama de jor­na­da dupla e tripla”.

Ela diz que as mul­heres começam a empreen­der sem nen­hum inves­ti­men­to finan­ceiro. “Muitas vezes, com recur­sos próprios e até mes­mo den­tro da rede de apoio que têm”.

Out­ro dado que a pesquisa mostra é que ess­es fat­u­ra­men­tos não ultra­pas­sam muito os R$ 2 mil. “Ela aca­ba fican­do naque­la situ­ação onde tudo que fatu­ra, basi­ca­mente, colo­ca de novo no negó­cio, fazen­do com que essa ini­cia­ti­va não cresça. Então, ela se man­tém quase estag­na­da”.

A pesquisa ain­da mostra que as difi­cul­dades são maiores para mul­heres pre­tas e par­das. “Em ger­al, elas se sen­tem mais sobre­car­regadas”.

“É para sobreviver”

A min­is­tra das Mul­heres, Cida Gonçalves, diz que as empreende­do­ras cri­am negó­cios para sobre­viv­er.

“Pre­cisamos faz­er com que as mul­heres empreende­do­ras ten­ham aces­so às finanças e a todos os recur­sos, e ain­da pos­sam vender os pro­du­tos delas nos mer­ca­dos (inter­nos e até exter­nos).

Brasília (DF), 18/03/2025 - Ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, participa do painel
Repro­dução: Min­is­tra das Mul­heres, Cida Gonçalves, par­tic­i­pa do painel “Vozes do Empreende­doris­mo Fem­i­ni­no: Conectan­do Saberes e Ações”, como parte das cel­e­brações do Dia Inter­na­cional da Mul­her. Foto Antônio Cruz/Agência Brasil

Segun­do Cida, o gov­er­no fed­er­al tem investi­do recur­sos para que as mul­heres pos­sam cri­ar seus próprios negó­cios e ter qual­i­fi­cação com diver­sos par­ceiros nos esta­dos, nos municí­pios e com apoio do Exec­u­ti­vo.

Para ela, as desigual­dades esta­b­ele­ci­das no país são os grandes desafios. “As mul­heres da região amazôni­ca têm um desafio, do Nordeste têm out­ro. Quilom­bo­las e indí­ge­nas, out­ros Onde hou­ver desigual­dade, é o lugar que pre­cisamos inve­stir”, acres­cen­tou.

Crédito federal

O secretário exec­u­ti­vo do Min­istério do Empreende­doris­mo, da Microem­pre­sa e da Empre­sa de Pequeno Porte, Tadeu Alen­car, con­sid­era que o decre­to com a Estraté­gia Nacional do Empreende­doris­mo Fem­i­ni­no foi um pas­so impor­tante para facil­i­tar o aces­so de mul­heres empreende­do­ras. Con­fi­ra a leg­is­lação.

Alen­car citou o finan­cia­men­to Pro­cred 360, que faz parte do pro­gra­ma Acred­i­ta. Tra­ta-se de uma lin­ha de crédi­to ofer­e­ci­da pelos ban­cos públi­cos, pelas coop­er­a­ti­vas e por insti­tu­ições finan­ceiras pri­vadas  que ofer­e­cem a pos­si­bil­i­dade de finan­cia­men­to de 30% do fat­u­ra­men­to no exer­cí­cio ante­ri­or.

Ofertas para mulheres

“Quan­do se tra­ta de empre­sas dirigi­das por mul­heres, lid­er­adas por mul­heres, esse per­centu­al aumen­ta para 50%, o que per­mite que tam­bém as ofer­tas de finan­cia­men­to de crédi­to às mul­heres pos­sam ser pres­ti­giadas”, diz o secretário.

Esse val­or é apli­ca­do a empre­sas microem­preende­do­ras indi­vid­u­ais e microem­pre­sas que têm fat­u­ra­men­to de até R$ 360 mil. Para ele, gru­pos minoritários pre­cisam de atenção, como as mul­heres quilom­bo­las, indí­ge­nas, da zona rur­al, da agri­cul­tura famil­iar, e das per­ife­rias pos­sam ter aces­so.

O min­istro chamou a atenção para o fato de que, em ger­al, a ofer­ta de crédi­to para as mul­heres é sem­pre muito menor.

“Quan­do se vai faz­er a avali­ação de risco de crédi­to, geral­mente se pen­sa que as mul­heres têm menos pro­teção para hon­rar os seus paga­men­tos. O que a gente vê na práti­ca é que as mul­heres são muito mel­hor pagado­ras do que os home­ns”, afir­mou.

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