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Mostra de Cinema Árabe Feminino chega à região metropolitana do Rio

Evento conta com exibição de longas-metragens e debates

Anna Kari­na de Car­val­ho — repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 22/08/2025 — 07:38
Rio de Janeiro
São Paulo (SP), 15.08.2024 - Cena do filme Crianças de Shatila, da Mostra Cine Árabe. Foto: Mostra Cine Árabe/Divulgação
Repro­dução: © Mostra Cine Árabe/Divulgação

A Região Met­ro­pol­i­tana do Rio de Janeiro rece­berá até o fim do mês de agos­to a 5ª Mostra de Cin­e­ma Árabe Fem­i­ni­no, com a exibição de dezenas de filmes no Rio de Janeiro, Duque de Cax­i­as e Niterói. Entre os destaques da pro­gra­mação deste ano está a libane­sa Rania Stephan, que realizará uma mas­ter­class online sobre o uso de ima­gens de arqui­vo em obras como seu filme Os três desa­parec­i­men­tos de Soad Hos­ni, que res­ga­ta a história da estrela do cin­e­ma egíp­cio Soad Hos­ni.

A mostra começa nes­ta sex­ta-feira (22), no Cen­tro Cul­tur­al Ban­co do Brasil do Rio de Janeiro (CCBB-RJ), onde se estende até o dia 30 de agos­to. O Cine Arte UFF, em Niterói, recebe a pro­gra­mação entre 25 e 27 de agos­to, e a Fac­ul­dade de Edu­cação da Baix­a­da Flu­mi­nense (FEBF/Uerj), em Duque de Cax­i­as, terá exibições em 28 de agos­to.

Entre as novi­dades anun­ci­adas para a edição deste ano está o pro­je­to “Sol­i­dariedade Brasil-Árabe”, que aprox­i­ma pro­duções brasileiras e árabes, exibindo-as em sessões con­jun­tas. Entre os pares apre­sen­ta­dos estarão os filmes palesti­nos Sling­shot Hip Hop  e O Protesto Silen­cioso: Jerusalém 1929, que serão exibidos em con­jun­to com os brasileiros Sua Majes­tade, o Pass­in­ho e O Can­to das Mar­gari­das.

A curado­ria é assi­na­da pela egipcía Alia Ayman, a mineira Analu Bam­bir­ra e a per­nam­bu­cana Car­ol Almei­da, que des­de 2019 apre­sen­tam um panora­ma do cin­e­ma árabe con­tem­porâ­neo pro­duzi­do por mul­heres. As orga­ni­zado­ras ressaltam que a mostra dialo­ga com temas urgentes, como o genocí­dio palesti­no, a resistên­cia cul­tur­al e a preser­vação da memória em con­tex­tos de vio­lên­cia.

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Filmes inédi­tos no Brasil com­põem a seleção, como Rain­has. Out­ros destaques incluem A Canção da BestaDançan­do a Palesti­na e Neo Nah­da, que abor­dam iden­ti­dade, diás­po­ra e resistên­cia.

 

São Paulo (SP), 15.08.2024 - Cena do filme Fronteira entre sonhos e medos, da Mostra Cine Árabe. Foto: Mostra Cine Árabe/Divulgação
Repro­dução:  Cena do filme Fron­teira entre son­hos e medos, na Mostra Cine Árabe Fem­i­ni­no. Mostra Cine Árabe/Divulgação

Cinema de arquivo

Com mas­ter­class mar­ca­da para o dia 24 de agos­to, Rania Stephan con­ta em entre­vista à Agên­cia Brasil que a for­mação vai abor­dar sua exper­iên­cia com ima­gens de arqui­vo ao lon­go de toda a sua car­reira, incluin­do seu mais novo filme, Os três desa­parec­i­men­tos de Soad Hos­ni. Sobre o lon­ga-metragem, ela define:

“É uma ver­são arrebata­do­ra de uma era rica e ver­sátil da pro­dução cin­e­matográ­fi­ca egíp­cia. Soad Hos­ni, do iní­cio dos anos 1960 até os anos 90, per­son­ifi­cou a mul­her árabe mod­er­na em sua com­plex­i­dade e para­dox­os”.

Com­pos­to exclu­si­va­mente por fil­ma­gens em VHS de filmes egíp­cios estre­la­dos por Soad Hos­ni, o filme é con­struí­do como uma tragé­dia em três atos, em que a atriz con­ta a história de sua vida, son­ha­da na primeira pes­soa do sin­gu­lar.

Nasci­da no Cairo em 1943, Soad Hos­ni come­teu suicí­dio em Lon­dres em 2001. Entre os 19 e os 49 anos, atu­ou em 83 lon­gas-metra­gens, com 37 dire­tores. Por ter vivi­do uma tra­jetória da mis­éria à riqueza, ela rece­beu o apeli­do de “cin­derela do cin­e­ma árabe”. Soad Hos­ni era fil­ha, irmã, ami­ga, noi­va, amante e esposa de ilus­tres estre­las do cin­e­ma egíp­cio quan­do este era o prin­ci­pal fornece­dor de ficção cin­e­matográ­fi­ca no mun­do árabe.

Confira os principais trechos da entrevista de Rania Stephan

Agên­cia Brasil: O que a lev­ou a se dedicar ao cin­e­ma?

Rania Stephan: No iní­cio, foi o aca­so e a neces­si­dade, mas tudo o que pos­so diz­er hoje é que não con­si­go me imag­i­nar em out­ra profis­são que não seja de cineas­ta ou uma artista que tra­bal­ha com ima­gens.

Agên­cia Brasil: Você fez um doc­u­men­tário sobre Gaza. Sua per­spec­ti­va como mul­her e árabe faz difer­ença no seu tra­bal­ho? Como você deixa essa mar­ca?

Rania Stephan: Meu filme Danos: para Gaza, a ter­ra das laran­jas tristes foi um modesto gesto artís­ti­co con­tra a guer­ra de 2008, lid­er­a­da por Israel con­tra Gaza. Israel lid­er­ou uma série de guer­ras vio­len­tas na Faixa de Gaza, des­de 1967, cul­mi­nan­do no genocí­dio sem prece­dentes que se vive neste ter­ritório.

Meu filme ten­ta encap­su­lar visual­mente os danos que a guer­ra causa aos vivos. É tam­bém uma hom­e­nagem às plan­tações tradi­cionais de fru­tas cítri­c­as de Gaza, ago­ra per­di­das dev­i­do às inúmeras guer­ras e ocu­pações. Tam­bém faz refer­ên­cia ao comovente con­to de Ghas­san Kanafani, A ter­ra das laran­jas tristes, sobre um idoso palesti­no expul­so à força durante a Nak­ba de 1948.

Agên­cia Brasil: O obje­ti­vo da sua mas­ter­class no Brasil é inves­ti­gar maneiras de lidar com ima­gens de arqui­vo. Você tra­bal­hará com seus filmes e os uti­lizará como exem­p­lo?

Rania Stephan: Nes­ta mas­ter­class, desen­vol­vo a maneira como meu tra­bal­ho lida com mate­r­i­al de arqui­vo, des­de a primeira imagem do meu primeiro filme até hoje, com foco prin­ci­pal­mente nos filmes que estão em exibição no Fes­ti­val Mul­heres Brasil.

Agên­cia Brasil: Como você vê o papel das mul­heres no cin­e­ma e no audio­vi­su­al hoje? Qual a importân­cia de um fes­ti­val de cin­e­ma com essa per­spec­ti­va fem­i­ni­na e árabe?

Rania Stephan: Para com­preen­der a com­plex­i­dade do nos­so mun­do, pre­cisamos ampli­ar ao máx­i­mo a mul­ti­pli­ci­dade de vozes, pon­tos de vista, per­spec­ti­vas, pro­postas e abor­da­gens artís­ti­cas difer­entes e mais rad­i­cais no cin­e­ma e no audio­vi­su­al em ger­al. Caso con­trário, ser­e­mos reduzi­dos a ver­sões sim­plis­tas, uni­lat­erais, pouco sofisti­cadas e for­matadas do mun­do e de suas rep­re­sen­tações. Nesse sen­ti­do, as vozes fem­i­ni­nas no cin­e­ma são cru­ci­ais para expres­sar uma parte grande e prodi­giosa das exper­iên­cias humanas.

Devo acres­cen­tar que, com a atu­al decadên­cia políti­ca autoritária, rea­cionária e racista que o mun­do está teste­munhan­do, muitas vozes estão sendo mar­gin­al­izadas, esma­gadas ou suprim­i­das. Por­tan­to, nós, como árabes, mul­heres e cineas­tas, pre­cisamos lutar e encon­trar espaços nos quais pos­samos expres­sar nos­sos pon­tos de vista, con­tar nos­sas histórias e ser ouvi­das.

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