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Ilhas brasileiras: estudo revela presença de espécies exclusivas

Pesquisa foi publicada pela plataforma Peer Community Journal

Fabío­la Sin­im­bú — Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 10/09/2025 — 06:00
Brasília
Fernando de Noronha (PE)
Repro­dução: © Arquivo/Agência Brasil

Por muitos anos, Galá­pa­gos, no Oceano Pací­fi­co, foi con­heci­da por ser um ver­dadeiro san­tuários de espé­cies úni­cas, como as tar­taru­gas-gigantes e as igua­nas-mar­in­has. Isso ago­ra pode mudar e ilhas oceâni­cas brasileiras, como Fer­nan­do de Noron­ha, São Pedro e São Paulo e Trindade, podem pas­sar a dividir o títu­lo de mais diver­sas do plan­e­ta.

O estu­do Escalas de Endemis­mo Mar­in­ho em Ilhas Oceâni­cas e o Endemis­mo Provin­cial-Insu­lar, pub­li­ca­do nes­ta quar­ta-feira (10) pela platafor­ma cien­tí­fi­ca Peer Com­mu­ni­ty Jour­nal, desta­ca a pre­sença mas­si­va de espé­cies exclu­si­vas e de grande relevân­cia para a ciên­cia nas ilhas oceâni­cas brasileiras.

“O tra­bal­ho de cam­po tem con­tribuí­do para um lev­an­ta­men­to mais apu­ra­do da nos­sa bio­di­ver­si­dade. Temos encon­tra­do e descritos muitas novas espé­cies que são endêmi­cas, exclu­si­vas das nos­sas ilhas. E, com isso, a gente obser­va que as ilhas brasileiras têm uma importân­cia mundi­al muito grande em relação à pro­porção dessas espé­cies endêmi­cas”, expli­ca o pesquisador da Rede de Espe­cial­is­tas em Con­ser­vação da Natureza (RECN), Hud­son Pin­heiro, que lid­er­ou o estu­do.

Jun­to com a equipe, que con­ta com diver­sos pesquisadores do mun­do, Pin­heiro anal­isou mais de 7 mil espé­cies de peix­es reci­fais em 87 ilhas do mun­do. E entre as con­clusões os pesquisadores rev­e­laram que 40% das espé­cies são pre­sentes em mais de uma ilha da mes­ma região, mas não col­o­nizam áreas con­ti­nen­tais próx­i­mas.

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A par­tir dessa descober­ta, o grupo propõe um novo con­ceito cien­tí­fi­co de Endemis­mo Provin­cial-Insu­lar, que levaria essas espé­cies a serem con­sid­er­adas endêmi­cas. Segun­do Pin­heiro, o ter­mo traria mais inter­esse às local­i­dades que não gan­haram a fama de serem cen­tros de endemis­mo e, por­tan­to, atraem menos estu­dos e ini­cia­ti­vas de con­ser­vação.

O pesquisador expli­ca que o mes­mo com­por­ta­men­to é trata­do pela ciên­cia de for­ma desigual.

“Por exem­p­lo, a Ilha de Fer­nan­do de Noron­ha tem algu­mas espé­cies que só ocor­rem ali, mas tam­bém tem muitas espé­cies que ocor­rem ali e na Ilha do Atol das Rocas. Ou somente em Fer­nan­do de Noron­ha e na Ilha de São Pedro e São Paulo. Então, elas com­par­til­ham algu­mas espé­cies que não estavam sendo con­tadas como endêmi­cas”, diz.

Vulnerabilidade

Para Pin­heiro, esse olhar mais detal­ha­do da ciên­cia sobre as espé­cies que habitam as ilhas oceâni­cas, além de per­mi­tir uma maior com­preen­são dos proces­sos evo­lu­tivos e ecológi­cos em ambi­entes reci­fais, tam­bém per­mite a descober­ta de mais espé­cies endêmi­cas.

“As Ilhas oceâni­cas são locais muito mais difí­ceis de serem estu­dadas do que a cos­ta con­ti­nen­tal, que está aqui mais per­to da gente. As Ilhas Oceâni­cas depen­dem de expe­dições cien­tí­fi­cas e con­se­quente­mente acabam ten­do menos opor­tu­nidades de estu­dos. Então, corre o risco de algu­mas espé­cies já terem sido até mes­mo extin­tas antes de serem descober­tas”, afir­ma.

As mudanças climáti­cas oca­sion­adas pelo aque­c­i­men­to glob­al reforçam a urgên­cia do avanço dess­es estu­dos, diz o cien­tista.

“No con­ti­nente, com o aque­c­i­men­to mais inten­so ocor­ren­do nos trópi­cos, muitas espé­cies são capazes de migrar para regiões de lat­i­tudes mais altas, e, por­tan­to, mais frias. Ou seja, é pos­sív­el ocor­rer uma tran­sição dos ambi­entes mar­in­hos, ou espé­cies que con­seguem migrar. Mas em ilhas oceâni­cas, isso não ocorre”, expli­ca.

Cooperação

Para o cien­tista, essa vul­ner­a­bil­i­dade das espé­cies que habitam as ilhas oceâni­cas exigem um esforço cole­ti­vo que via­bi­lize ini­cia­ti­vas de apoio à pesquisa nes­sas regiões. Ele expli­ca que os resul­ta­dos apre­sen­ta­dos pelo grupo de cien­tista só foram pos­síveis pelo empen­ho da Mar­in­ha do Brasil, com o Con­sel­ho Nacional de Desen­volvi­men­to Cien­tí­fi­co e Tec­nológi­co (CNPQ) e orga­ni­za­ções soci­ais que apoiam as pesquisas.

“Ao rev­e­lar a riqueza do endemis­mo nas ilhas brasileiras, reforçamos a urgên­cia de pro­te­ger esse patrimônio. Não se tra­ta ape­nas de evi­tar que a bio­di­ver­si­dade desa­pareça, mas de asse­gu­rar que o oceano con­tin­ue a fornecer recur­sos, reg­u­lar o cli­ma e inspi­rar novas soluções para o futuro”, afir­ma Mar­i­on Sil­va, ger­ente de Con­ser­vação da Bio­di­ver­si­dade da Fun­dação Grupo Boticário.

Out­ra ini­cia­ti­va que lev­ou ao avanço das pesquisas nas ilhas brasileiras foi a cri­ação da primeira estação de mer­gul­ho cien­tí­fi­co mesofóti­co da Améri­ca Lati­na, pelo Cen­tro de Biolo­gia Mar­in­ha da Uni­ver­si­dade de São Paulo (Cebi­mar USP), que preparou os pesquisadores para a cole­ta de dados e a obser­vação de ambi­entes com até 150 met­ros de pro­fun­di­dade.

“Nos­so apoio se baseia na crença de que a ciên­cia, quan­do apli­ca­da, gera bene­fí­cios con­cre­tos para a sociedade. As expe­dições que apoiamos nas ilhas brasileiras nos últi­mos anos já atu­alizaram lis­tas de espé­cies e rev­e­laram novos reg­istros para a ciên­cia”, con­clui Mar­i­on Sil­va.

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