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Melhorar a educação: veja histórias de professores que fazem a PND

Estudantes e docentes buscam contratação no magistério público

Daniel­la Almei­da — Repórter da Agên­cia Brasil
Pub­li­ca­do em 26/10/2025 — 16:57
Brasília
Brasília (DF), 26/10/2025 - Candidatos comparecem a local de provas na Asa Norte para realização da Prova Nacional Docente. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Repro­dução: © Marce­lo Camargo/Agência Brasil

Mais de 1,08 mil­hão de inscritos par­tic­i­pam, des­de as 13h30 deste domin­go (26), da primeira edição da Pro­va Nacional Docente (PND) em todo o país. A pro­va é eta­pa obri­gatória para quem con­clui um cur­so de licen­ciatu­ra em 2025 e tam­bém para os pro­fes­sores que querem usar a nota do exame em um proces­so sele­ti­vo de docentes, feito por esta­dos e municí­pios que aderi­ram ao chama­do CNU dos Pro­fes­sores.

A pro­va tem a duração de 5 horas e 30 min­u­tos e ter­mi­nará às 19h, no horário de Brasília. Os can­didatos, no entan­to, podem deixar a sala de apli­cação do exame após duas horas do iní­cio.

No Dis­tri­to Fed­er­al, um dos can­didatos da PND é Fran­cis­co Gilvar Pereira da Sil­va, fil­ho de um casal de anal­fa­betos do Piauí. Aos 56 anos, ele con­cluirá o cur­so de letras — por­tuguês em dezem­bro, sua segun­da grad­u­ação. A vida nun­ca foi fácil para Fran­cis­co, que começou a tra­bal­har aos 7 anos como aux­il­iar no car­rega­men­to de areia e madeira de cam­in­hões em Ama­rante (PI). A vin­da para Brasília foi moti­va­da pelo serviço mil­i­tar. Mas, foi como aux­il­iar de limpeza, em uma esco­la pri­va­da de Brasília, e a prox­im­i­dade com o meio acadêmi­co que a von­tade de ser pro­fes­sor foi des­per­ta­da em Fran­cis­co.

Brasília (DF), 26/10/2025 - Francisco Gilvan aguarda a abertura dos portões para realização da Prova Nacional Docente. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Repro­dução: Fran­cis­co Gilvar aguar­da a aber­tu­ra dos portões para real­iza­ção da Pro­va Nacional Docente — Foto: Marce­lo Camargo/Agência Brasil

Den­tro da insti­tu­ição de ensi­no, ele gal­gou posições até o car­go de aux­il­iar admin­is­tra­ti­vo, o que o influ­en­ciou na escol­ha do primeiro cur­so, o de admin­is­tração. Ele foi o primeiro inte­grante da família a ter um cur­so supe­ri­or, mas fal­ta­va algo para realizar o son­ho. Então, con­quis­tou uma bol­sa de estu­dos e cor­reu atrás do son­ho de cur­sar a licen­ciatu­ra que mais tem famil­iari­dade com as letras, aque­las que seus par­entes não con­heci­am. Os pais fale­ci­dos não terão a opor­tu­nidade de ver o fil­ho com diplo­ma na mão. Mas é para a ter­ra natal que ele quer voltar para faz­er a difer­ença na edu­cação de out­ros “Fran­cis­cos e Fran­cis­cas”, como foi um dia em Ama­rante.

“Sin­to uma emoção grande porque ten­ho von­tade de retornar para o meu esta­do para dar opor­tu­nidade àque­les que não têm condições [de estu­dar], como eu não tive. E para ensi­nar, pas­sar o meu con­hec­i­men­to e um pouco da min­ha exper­iên­cia para a frente. Será grat­i­f­i­cante.”

Um sonho

Out­ro can­dida­to no Dis­tri­to Fed­er­al, o indí­ge­na Ediná­cio Sil­va Var­gas, de 32 anos, da etnia Marubo, aguar­da­va o momen­to de cruzar o portão do Cen­tro de Ensi­no Médio Paulo Freire, na Asa Norte, cen­tro da cap­i­tal fed­er­al, para faz­er a Pro­va Nacional Docente. Ele con­tou à reportagem da Agên­cia Brasil que des­de que saiu da Ter­ra Indí­ge­na (TI) Vale do Javari, em Cruzeiro do Sul (AC), tin­ha o son­ho de ser pro­fes­sor de lín­gua ingle­sa.

“Era um son­ho anti­go de quer­er falar out­ra lín­gua. Ain­da não estou flu­ente, mas fal­ta pouco. Tam­bém pen­so nas per­spec­ti­vas profis­sion­ais que o inglês pode pro­por­cionar.”

Em sua tra­jetória de estu­dante, Ediná­cio se for­mou em gestão públi­ca pela Uni­ver­si­dade Estad­ual do Ama­zonas. Hoje, ele quer unir as duas for­mações supe­ri­ores em bene­fí­cio de seus futur­os alunos.

“Com base nos últi­mos está­gios obri­gatórios que eu fiz, na licen­ciatu­ra, eu quero dar apoio, medi­ar o con­hec­i­men­to. Quero, com a min­ha profis­são, ensi­nar, aju­dar as pes­soas, o que con­tribui na for­mação para a vida dos alunos. Eu gostei mes­mo dessa ‘coisa’ de aju­dar”, admite.

O exemplo arrasta

O futuro pro­fes­sor de edu­cação físi­ca Diego Lima decid­iu pelo exem­p­lo. Como atle­ta par­alímpi­co, o jovem con­ta que teve grandes mestres que lhe der­am incen­ti­vo para com­pe­tir. A ded­i­cação dess­es pro­fes­sores o inspirou a ser um deles.

“Para mim, estar aqui, hoje, nes­sa últi­ma eta­pa, é muito grat­i­f­i­cante, porque estou seguin­do os grandes exem­p­los que tive.” Tam­bém é um orgul­ho para eles ver um aluno se for­man­do e queren­do ser um profis­sion­al assim como eles foram.”

Brasília (DF), 26/10/2025 - Diego Lima aguarda a abertura dos portões para realização da Prova Nacional Docente. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Reprodução: Diego Lima aguarda para fazer a Prova Nacional Docente em Brasília. Foto Marcelo Camargo/Agência Brasil

Diego Lima nasceu com par­al­isia cere­bral. Atual­mente, além de estu­dante do últi­mo ano da grad­u­ação, ele é velocista cadeirante, depois de ter prat­i­ca­do atletismo, tênis e bas­quete de cadeira de rodas. A vira­da de chave na cabeça e no coração, que o fez escol­her a docên­cia, foi há dez anos.

Porém, a fal­ta de recur­sos finan­ceiros quase o fez aban­donar a fac­ul­dade no meio do cur­so. Pelo Pro­gra­ma Atle­ta Cidadão, do Comitê Par­alímpi­co Brasileiro (CPB), que tem o obje­ti­vo de estim­u­lar o desen­volvi­men­to pes­soal e profis­sion­al, Diego Lima voltou a estu­dar e quer alçar novos voos após se for­mar.

“Ago­ra, estou na fase de quer­er faz­er a difer­ença na vida de out­ros atle­tas. Quan­do estiv­er na car­reira de pro­fes­sor, quero dar sequên­cia, pas­sar o que apren­di para os futur­os alunos e dar o con­hec­i­men­to que eles pre­cisam.”

Para Maíra Araújo dos San­tos, de 23 anos, morado­ra da cidade de Itapoã, no Dis­tri­to Fed­er­al, os com­por­ta­men­tos de uma pro­fes­so­ra de quími­ca chama­da Mari­na, no ensi­no médio, a influ­en­cia­ram a decidir pelo cur­so.

 “Se a gente parar para pen­sar, tudo ao nos­so redor é quími­ca. Eu quero mostrar para os estu­dantes que essa área é muito mais do que uma matéria que vai dar medo, como a pro­fes­so­ra Mari­na me ensi­nou.

Muni­da de cane­ta pre­ta para faz­er a pro­va, Maíra con­fes­sa que antes mes­mo de pen­sar em ser pro­fes­so­ra, ela faz a pro­va neste domin­go porque pre­cisa com­pro­var a pre­sença para, enfim, ter o aguarda­do diplo­ma. “Essa pro­va é do Enade das Licen­ciat­uras. Então, para a fac­ul­dade lib­er­ar meu diplo­ma, pre­ciso faz­er a PND.”

Brasília (DF), 26/10/2025 - Maíra Santos aguarda a abertura dos portões para realização da Prova Nacional Docente. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Reprodução: Maíra Santos conta que o comportamento de uma professora de química, no ensino médio, a influenciou para fazer o curso — Foto Marcelo Camargo/Agência Brasil

Os can­didatos respon­dem às questões da PND neste domin­go, que têm o con­teú­do basea­do na mes­ma matriz da avali­ação teóri­ca do Exame Nacional de Desem­pen­ho dos Estu­dantes (Enade) das Licen­ciat­uras, que, des­de a sua primeira edição em 2024, tem foco nos cur­sos de for­mação docente,

Carreira do cuidado

Se Maíra quer, com urgên­cia, con­cluir o cur­so de quími­ca, o obje­ti­vo de Solange Oliveira Bra­ga, for­ma­da em ped­a­gogia, é ser aprova­da no con­cur­so da Sec­re­taria de Edu­cação do Dis­tri­to Fed­er­al, autor­iza­do neste mês e que vai ser real­iza­do em 2026.

“Já estou estu­dan­do, porque no ano que vem já vai ter con­cur­so da Sec­re­taria de Edu­cação do DF. Estou nesse propósi­to. Pre­tendo dar aulas a cri­anças menores 5 anos.”

A vocação para a edu­cação infan­til ela diz ter perce­bido ao cuidar dos irmãos pequenos, na cidade mineira de São Fran­cis­co.  “Você lem­bra da sua infân­cia, do cuida­do com os irmãos e de como é bom aque­le con­ta­to com cri­anças. É o amor ver­dadeiro.”

O pon­tapé que fal­ta­va para lecionar veio da própria família. “Ten­ho par­entes que atu­am nes­sa área. Então, fui me espel­han­do neles. Por isso, a vida toda eu sem­pre falei: quan­do eu estu­dar, quero ser pro­fes­so­ra”

Profissão que forma todas as outras

A estu­dante Marcela Sil­va Vaz, de 31 anos, tam­bém con­cluirá o cur­so de licen­ciatu­ra em 2025. Ao mirar na esta­bil­i­dade do serviço públi­co e no salário cer­to todo iní­cio de mês, Marcela pen­sa ain­da nas cri­anças em situ­ação de vul­ner­a­bil­i­dade econômi­ca e social.

“Há muitas cri­anças car­entes e algu­mas esco­las deix­am muito a dese­jar. Quero ser um difer­en­cial nis­so tudo, tra­bal­han­do no primeiro ano do ensi­no fun­da­men­tal, onde o saber começa com o ensi­no para ler e escr­ev­er.”

Brasília (DF), 26/10/2025 - Marcela Silva Vaz aguarda a abertura dos portões para realização da Prova Nacional Docente. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Reprodução: Marcela Silva Vaz quer trabalhar com crianças, no ensino fundamental — Foto Marcelo Camargo/Agência Brasil

Marcela expli­ca que o pro­fes­sor da edu­cação bási­ca é o profis­sion­al que for­ma todos os out­ros.

Sobre a real­i­dade den­tro de sala de aula, ela defende que as redes de ensi­no devem se adap­tar mel­hor para o atendi­men­to de estu­dantes neu­ro­di­ver­gentes e com out­ras neces­si­dades espe­ci­ais. “Hoje em dia, há um número maior de cri­anças espe­ci­ais nas esco­las. Enten­do que pro­fes­sores têm difi­cul­dades e muitos não con­seguem atin­gir bem o obje­ti­vo de ensi­nar, por diver­sos fatores. Mas apren­di a dar o meu máx­i­mo. Na esco­la, quero ser uma pro­fes­so­ra que dá a direção, em con­jun­to com a família. O pro­fes­sor tem que ter essa ded­i­cação”.

Participantes

Segun­do o Min­istério da Edu­cação (MEC), Brasília e demais cidades do DF apare­cem na ter­ceira posição entre as que têm maior número de inscritos (18.754), entre 1,08 mil­hão de inscritos. As primeiras colo­cações são do municí­pio de São Paulo (84.633), segui­do pelo municí­pio do Rio de Janeiro (28.765). O esta­do com maior número de inscritos con­fir­ma­dos é São Paulo (253.895), segui­do por Minas Gerais (97.113) e o Rio de Janeiro (72.230).

Em relação às 17 áreas da licen­ciatu­ra avali­adas neste domin­go, a ped­a­gogia lid­er­ou as inscrições na PND, com 560.576 pes­soas con­fir­madas. Em segun­do lugar, figu­ra a área de letras – por­tuguês, com 73.187 con­fir­mações; segui­da de matemáti­ca (72.530) e de edu­cação físi­ca (65.911).

A PND

A PND será apli­ca­da anual­mente. A pro­va faz parte do pro­gra­ma Mais Pro­fes­sores para o Brasil, que reúne ações de recon­hec­i­men­to e qual­i­fi­cação do mag­istério da edu­cação bási­ca e de incen­ti­vo à docên­cia no país. 

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