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Votação de emenda que pedia eleições diretas completa 40 anos

Repro­dução: © CPDDoc/JB

Mesmo após a derrota no Congresso, sentimento no país era de esperança

Publicado em 25/04/2024 — 07:28 Por Sabrina Craide — Repórter da Agência Brasil * — Brasília

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Há 40 anos, no dia 25 de abril de 1984, uma votação no Plenário da Câmara dos Dep­uta­dos frus­trou a expec­ta­ti­va de grande parte da pop­u­lação brasileira, que esper­a­va poder votar para pres­i­dente por meio de eleições dire­tas. Nesse dia, uma pro­pos­ta de emen­da à Con­sti­tu­ição para restau­rar a eleição dire­ta para pres­i­dente a par­tir de 1985, depois de 20 anos de ditadu­ra mil­i­tar, foi rejeita­da pelos par­la­mentares.

A emen­da, apre­sen­ta­da pelo então dep­uta­do fed­er­al Dante de Oliveira (PMDB-MT), teve 298 votos a favor, 65 con­tra, três abstenções e 113 ausên­cias. Por ser uma emen­da, era pre­ciso 320 votos favoráveis para ser encam­in­ha­da ao Sena­do Fed­er­al.

“Ess­es 22 votos que a emen­da não teve para ser aprova­da foram deci­sivos para jog­ar a pop­u­lação numa tremen­da depressão, que a gente via pelas ruas”, lem­bra a his­to­ri­ado­ra Vania Cury. Ape­sar do cli­ma de “velório” após a rejeição da emen­da, o sen­ti­men­to era de esper­ança, segun­do ela.

Brasília (DF) 16/04/2024 - Comício Diretas JáFoto: Vidal da Trindade/CPDoc JB
Repro­dução: Comí­cio Dire­tas Já — Foto: Vidal da Trindade/CPDoc JB

“A con­ver­sa entre os líderes ali, entre as pes­soas que par­tic­i­param da cam­pan­ha, era ‘não vamos deixar cair a pete­ca, vamos con­tin­uar lutan­do por eleições dire­tas’. Mas num primeiro momen­to acabaram con­cor­dan­do que o Tan­cre­do [Neves] fos­se o can­dida­to para o colé­gio eleitoral”, lem­bra.

O jor­nal­ista Ricar­do Kotscho, que acom­pan­hou a votação, disse que, ape­sar da der­ro­ta da emen­da, o assun­to mexeu com o país. “De qual­quer maneira, o movi­men­to já era vito­rioso, porque mobi­li­zou o Brasil inteiro, inclu­sive a impren­sa, que aos poucos foi entran­do na cober­tu­ra”, disse, lem­bran­do dos grandes atos públi­cos que acon­te­ce­r­am antes da votação.

Com a der­ro­ta da Emen­da Dante de Oliveira, a primeira eleição de um pres­i­dente civ­il após a ditadu­ra mil­i­tar acon­te­ceu no Colé­gio Eleitoral, for­ma­do pelos mem­bros do Con­gres­so Nacional e por  del­e­ga­dos eleitos nas assem­bleias leg­isla­ti­vas dos esta­dos. O então líder da oposição, Tan­cre­do Neves, super­ou o então dep­uta­do Paulo Maluf, apoia­do pelo regime mil­i­tar, por 480 votos con­tra 180.

Após a morte de Tan­cre­do Neves, ain­da antes da posse, o vice-pres­i­dente eleito José Sar­ney assum­iu a Presidên­cia do Brasil. Após a pro­mul­gação da Con­sti­tu­ição, em 1988, o Brasil voltou a ter eleições dire­tas para pres­i­dente, com a eleição de Fer­nan­do Col­lor, em dezem­bro de 1989.

A der­ro­ta da Emen­da Dante de Oliveira e o movi­men­to pelas Dire­tas Já no país são tema do pro­gra­ma Cam­in­hos da Reportagem, que será trans­mi­ti­do neste domin­go (28), às 22h, na TV Brasil.

Participação popular

Brasília (DF) 16/04/2024 - Comício Diretas JáFoto: EBC
Repro­duçã­so: Comí­cio Dire­tas Já — Foto: EBC

A votação da pro­pos­ta de eleições dire­tas para pres­i­dente foi pre­ce­di­da de uma série de atos públi­cos, que ficaram con­heci­dos como a Cam­pan­ha pelas Dire­tas Já. Em 25 de janeiro de 1984, mais de 300 mil pes­soas se reuni­ram na Praça da Sé, em São Paulo, com mobi­liza­ção de políti­cos, artis­tas, esportis­tas e tra­bal­hadores de diver­sas cat­e­go­rias.

Um dos par­tic­i­pantes foi o met­alúr­gi­co aposen­ta­do João Paulo Oliveira, que tam­bém aju­dou a levar out­ras pes­soas para o comí­cio. “A gente vin­ha de ônibus, vin­ha de táxi, tin­ha gente que não tin­ha din­heiro para vir até a praça, e nós fazíamos vaquin­ha para essas pes­soas virem aqui tam­bém”, lem­bra.

Com a prox­im­i­dade da votação da emen­da no Con­gres­so Nacional, as man­i­fes­tações pop­u­lares ficaram mais lotadas. No dia 10 de abril de 1984, cer­ca de 1 mil­hão de pes­soas par­tic­i­param de um comí­cio na Can­delária, no cen­tro do Rio de Janeiro, em um dos prin­ci­pais atos do movi­men­to das Dire­tas Já.

A atriz Lucélia San­tos, mil­i­tante pela anis­tia dos pre­sos políti­cos, tam­bém foi à Can­delária naque­le dia. “Todo o Brasil esta­va lá na Can­delária naque­le pôr do sol. Foi uma con­fluên­cia de ener­gias pos­i­ti­vas, onde a arte, os artis­tas, eram parte efe­ti­va­mente”, lem­bra a atriz, que tin­ha fica­do con­heci­da pelo papel da pro­tag­o­nista da nov­ela A Escra­va Isaura, de 1976.

O últi­mo e maior comí­cio das Dire­tas Já acon­te­ceu no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, e con­tou com 1,5 mil­hão de par­tic­i­pantes. O even­to foi no dia 16 de abril de 1984, a nove dias da votação da emen­da no Con­gres­so.

“O comí­cio do Anhangabaú, eu acho que foi o grande divi­sor de águas na história brasileira entre a ditadu­ra e a democ­ra­cia. Foi a par­tir daque­le dia que o Brasil esta­va voltan­do para a democ­ra­cia”, avalia o jor­nal­ista Ricar­do Kotscho, então repórter do jor­nal Fol­ha de S.Paulo em 1984 e rodou o país cobrindo as man­i­fes­tações pelas eleições dire­tas.

Brasília (DF) 16/04/2024 - Comício Diretas JáFoto: PSB
Repro­dução: Comí­cio Dire­tas Já — Foto: PSB

Entre os par­tic­i­pantes no ato tam­bém esta­va o então jogador do Corinthi­ans Wal­ter Casagrande Júnior, um dos prin­ci­pais nomes da chama­da Democ­ra­cia Cor­in­tiana, movi­men­to no qual jogadores e out­ros profis­sion­ais do time decidi­am, no voto, questões como as regras da con­cen­tração e até a con­tratação de atle­tas. Ele con­ta a emoção que sen­tiu ao ir com out­ros jogadores ao comí­cio e, mes­mo sendo recon­heci­dos, o foco não era o time ou o fute­bol.

“Eu fiquei bas­tante emo­ciona­do já den­tro do metrô, porque as pes­soas recon­hece­r­am a gente e não falaram de fute­bol, e eu perce­bi que o foco e o pen­sa­men­to de todos era o mes­mo, pouco impor­ta­va se eu, o Magrão [apeli­do do ex-jogador Sócrates], o Wladimir [ex-jogador], jogá­va­mos no Corinthi­ans, se o cara era gari, se o out­ro ali era secretário, se o out­ro tra­bal­ha­va na padaria, se o out­ro é office boy. Ali den­tro daque­le metrô está­va­mos todos iguais, com o mes­mo pen­sa­men­to, com foco na nas dire­tas, na Emen­da Dante de Oliveira”, lem­bra Casagrande.

* Colab­o­raram Thi­a­go Padovan e Ana Pas­sos, da TV Brasil

Edição: Fer­nan­do Fra­ga

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